Artista plástico que morreu em enxurrada tinha SP como inspiração para suas obras

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O artista plástico Rodolpho Tamanini Netto, de 73 anos, morador de Pinheiros, bairro da zona oeste de São Paulo, foi encontrado morto neste sábado, 25, após sua casa ser invadida por uma enxurrada provocada pelos fortes temporais que caíram sobre a capital na última sexta-feira, 25. A vítima residia na Rua Belmiro Braga, próximo ao Beco do Batman, tradicional ponto turístico paulistano que também foi bastante atingido pela tempestade - a terceira maior já registrada na cidade em 64 anos.

No entanto, ter a residência invadida pela água não era uma novidade na vida de Tamamini Netto. O amigo e dono da galeria que o representou durante quase toda sua carreira, Jacques Ardies, disse à reportagem que Rodolpho tinha acabado de instalar um portão de aço antienchente para tentar conter os problemas de inundação, comuns no endereço onde morava.

"A gente sempre ligava para ele para saber se estava tudo bem, se tinha perdido ou danificado alguma coisa", diz Ardies, dono da galeria Jacques Ardies, ao Estadão. "Ele morava em um sobrado, na parte de cima. Então, não costumava ser afetado. Mas, os vizinhos me contaram que ele foi checar algo no portão que tinha sido instalado. Foi quando bateu o carro e a água entrou na casa dele. Se ele tivesse ficado na parte de dentro, isso não teria acontecido", lamentou o amigo.

Nascido em 1951, em São Paulo, o artista plástico Rodolpho Tamanini Netto viveu toda a sua vida na capital paulista, com uma dedicação exclusiva às artes a partir dos 17 anos. Tinha um relacionamento estreito com a cidade, e usava dos principais endereços paulistanos como inspiração para seus quadros.

Na galeria de Tamanini há representações do Aeroporto de Congonhas, da Estação da Luz, do Vale do Anhangabaú, do Museu do Ipiranga e do Parque do Ibirapuera. Até mesmo um nascer do sol visto do Pico do Jaraguá, o ponto mais alto paulistano, foi tema de suas pinturas.

Entretanto, questões que o atingiam diretamente também viraram assunto para seus quadros. Um exemplo são as próprias consequências das chuvas, que foi retratada em uma obra de 2008, chamada "A Enchente". Na tela, Rodolpho Tamanini mostra a água que cai da chuva ganhando espaço na cidade e avançando sobre veículos e pessoas.

"O Rodolpho tinha uma conexão muito forte com a cidade, era uma pessoa bastante engajada e informada sobre os problemas de São Paulo. E pintava muito a realidade que vivia também", diz Jacques Ardies.

Legado como artista urbano

Tamanini era visto como um artista observador e extremamente criativo, com uma estética de pintura inconfundível. "Só de bater o olho no quadro, nós já sabíamos que era assinado por ele", diz o amigo, ao Estadão. "Ele vai ser sempre lembrado como um artista urbano, e terá um legado sensacional. Ele pintou se mostrando, mostrando sua visão sobre a cidade, sempre muito poético e alegórico", acrescenta Ardies.

Em site dedicado a Tamanini Netto, o artista é destacado por produções que privilegiam os céus gigantes, que acabam por proporcionar um contraste com os humanos da obras, muitas vezes representados em tamanhos pequenos e, em alguns casos, até imperceptíveis. Uma estética escolhida para dar maior "serenidade das suas paisagens", descreve o texto da página.

O pintor paulistano também tinha uma predileção por temas associados ao mar, vida litorânea, elementos da natureza e a periferia das cidades. "Ele gostava de representar a favela de uma forma alegre, com as pessoas sorrindo", lembra Ardies.

Rodolpho Manini Netto começou no ofício de artista no final dos anos 1960, antes mesmo de completar 18 anos, e realizou suas primeiras exposições entre 1970 e 1971.

Antes, no entanto, vendia seus quadros na Praça da República. Lá, foi descoberto pelo galerista Hélio Grimber, que passou a representá-lo e expor suas produções na galeria No Sobrado. Por conta do fechamento do espaço, Rodolpho Tamamini Netto passou a ser representado pela galeria de Jacques Ardies, em 1979, entidade da qual não se desvinculou mais.

Nas décadas seguintes, conseguiu trilhar uma carreira dedicada exclusivamente às artes, realizando mais de 30 exposições individuais e dezenas de exposições coletivas, muitas delas em territórios internacionais, como a França, Estados Unidos, Suíça, Alemanha e Holanda.

No Brasil, levou seus trabalhos para diferentes Estado, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, além, também, de chegar à Brasília, no Distrito Federal, todas em exposições feitas para apresentar os seus quadros apenas.

Em reconhecimento pelo talento que tinha, Tamanini Netto recebeu prêmios ao longo da sua trajetória.

Entre as honrarias, destacam-se as medalhas de ouro conquistadas no I Salão Nacional de Arte Popular de Embu, em 1978, e no XXI Salão de Arte de São Bernardo do Campo, em 1979. E levou também as medalhas de bronze no XVIII Salão de Arte de São Bernardo do Campo, em 1975, e no I Salão de Artes Plásticas de Bauru, em 1982.

"Ele teve uma carreira de sucesso, com muito prestígio. Pessoas colecionavam seus quadros", diz o Jacques Ardies, cuja maior admiração que nutria pelo amigo era a criatividade e o jeito único que encontrava para expressar o que via da cidade.

Por problemas de saúde, Rodolpho já não pintava há cerca cinco anos. Ele morava sozinho, na mesma casa em que viveu com os pais durante a vida e onde foi encontrado na manhã deste sábado. Ele não era casado e também não tinha filhos.

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O corpo da cantora Nana Caymmi será velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro nesta sexta-feira, 2, a partir das 8h30. O enterro ocorrerá às 14h, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.

Uma das principais cantoras do Brasil, Nana morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, depois de ficar nove meses internada na Casa de Saúde São José, no Rio, para tratar uma arritmia cardíaca. De acordo com nota divulgada pelo hospital, a causa da morte de Nana foi a disfunção de múltiplos órgãos.

Ao Estadão, o irmão de Nana, o músico e compositor Danilo Caymmi, afirmou que, além da implantação de um marcapasso para corrigir a arritmia cardíaca, Nana apresentava desconforto respiratório e passava por hemodiálise diariamente. Nana também sofria de um quadro de osteomielite, uma infecção nos ossos, que lhe causava muitas dores. Segundo ele, Nana esteve lúcida por todo o tempo, mas, no dia 30 de abril, entrou em choque séptico.

Filha do compositor Dorival Caymmi, Nana começou a carreira no início dos anos 1960, ao lado do pai. Após se afastar da vida artística para se casar - ela teve três filhos, Stella, Denise e João Gilberto -, Nana retomou a carreira ainda na década de 1960, incentivada pelo irmão Dori Caymmi.

Nos anos 1970 e 1980, gravou os principais compositores da música brasileira, como Milton Nascimento, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Sueli Costa, Ivan Lins, João Donato e Dona Ivone Lara.

Em 1998, conheceu a consagração popular ao ter o bolero Resposta ao Tempo, de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, incluído como tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, da TV Globo.

Nana gravou discos regularmente até 2020, quando lançou seu último trabalho, o álbum Nana, Tom, Vinicius, só com canções de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

A cantora Nana Caymmi, que morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, fez aniversário no último dia 29 de abril. Internada desde julho de 2024, Nana recebeu uma mensagem da também cantora Maria Bethânia, de quem era amiga.

Bethânia escreveu: "Nana, quero que receba um abraço muito demorado, cheio de tanto carinho e admiração que tenho por você. Querida, precisamos de você e da sua voz. Queremos você perto e cheia de suas alegrias, dons e águas do mar na sua voz mais linda que há. Amor para você, hoje, seu aniversário, e sempre. Rezo à Nossa Senhora para você vencer esse tempo tão duro e difícil. Peço por sua voz e por sua saúde. Te amo. Sua irmã, Maria Bethânia".

Nana e Bethânia tinham uma longa relação de amizade e gravaram juntas no álbum Brasileirinho, de Bethânia, lançado em 2003. Bethânia afirmou mais de uma vez que Nana era a maior cantora do Brasil.

De acordo com informações divulgadas pela Casa de Saúde São José, onde Nana estava internada há nove meses para tratar de problemas cardíacos, a cantora morreu às 19h10 desta quinta-feira, em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.

Morreu nesta quinta-feira, 1° de maio, Nana Caymmi, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. A morte foi confirmada pelo irmão da artista, o também músico e compositor Danilo Caymmi. Ela estava internada havia nove meses em uma clínica no Rio de Janeiro.

"Eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, lógico, na família, todos muito chocados e tristes, mas ela também passou nove meses sofrendo em um hospital", disse Danilo Caymmi.

"O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Nós estamos, realmente, todos muito tristes, mas ela terminou nove meses de sofrimento intenso dentro de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital", acrescentou o irmão, em um vídeo publicado no Instagram.

Nas redes, amigos e admiradores também prestaram homenagens à cantora.

"Uma perda imensa para a música do Brasil", escreveu o músico João Bosco, com quem Nana dividiu palcos e microfones. Bosco também teve canções interpretadas por Nana Caymmi, como Quando o Amor Acontece.

O cantor Djavan disse que o País perde uma de suas maiores cantoras e ele, particularmente, uma amiga. "Descanse em paz, Nana querida. Vamos sentir muito sua falta, sua voz continuará a tocar nossos corações."

Alcione também diz que perdeu uma amiga e que a intérprete, filha de Dorival Caymmi, tinha "a voz". "Quem poderá esquecer de Nana Caymmi?"

"Longe, longe ouço essa voz que o tempo não vai levar! Nana das maiores, das maiores das maiores", postou a cantora Monica Salmaso, que já tinha prestado uma homenagem para Nana na última terça, quando a artista completou 84 anos. "Voz de catedral", descreveu Monica na ocasião.

O escritor, roteirista e dramaturgo Walcyr Carrasco disse que, nesta quinta, a música brasileira deve ficar em silêncio em respeito à partida da artista. "Que sua voz siga ecoando onde houver saudade. Meus sentimentos à família, amigos e admiradores!"

A deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL-SP) disse que Nana Caymmi tinha umas das vozes "mais marcantes da música popular brasileira" e que a cantora deixa um "legado extraordinário" para o Brasil por meio de interpretações "únicas e carregadas de emoção". "Que sua arte siga viva, e que ela descanse em paz", disse a parlamentar.

A artista Eliana Pittman diz que se despede com tristeza de Nana Caymmi, a quem descreveu com uma das uma "das maiores vozes" que o Brasil já teve, e elogiou a cantora pela irreverência e forte personalidade.

"Nana nunca se curvou a convenções: cantava o que queria, do jeito que queria - e por isso, marcou gerações", disse Eliana, que também fez elogios qualidade técnica da intérprete. "Sua voz grave, seu timbre inconfundível e sua forma tão particular de existir na música deixam um vazio irreparável".

O Grupo MPB4 postou: "Siga em paz, querida Nana Caymmi! Nosso mais fraterno abraço para os amigos Dori Caymmi, Danilo Caymmi (irmãos de Nana Caymmi) e toda a família".