O empresário André Dreyfuss, de 31 anos, dono da Sapataria Cometa, levou um susto na manhã do último dia 18, terça-feira, ao atender telefonema de um de seus funcionários: soube que o imóvel onde seu negócio está instalado há apenas um mês, nos Jardins, na zona oeste da capital, estava sem luz.
Em nota, a Enel Distribuição São Paulo informou que normalizou o fornecimento de energia na Rua Augusta durante a madrugada e na manhã desta quarta-feira, 26.
Foram oito dias com o estabelecimento praticamente fechado. "Nós abrimos, porque é possível abrir a porta manualmente, mas sem luz, sem internet, sem computador, sem nada. Não ficamos totalmente fechados, mas com o faturamento tendendo a zero", disse o empresário ao Estadão.
A falta de energia que afetou a Rua Augusta, uma das mais conhecidas da capital, se localizou entre as Alamedas Tietê e Lorena. Cerca de metade do quarteirão ficou sem luz. Entre os locais afetados está um prédio comercial que, segundo os moradores, teve a energia elétrica restabelecida na sexta-feira.
Outro estabelecimento afetado pela falta de energia foi a Galeria Britto, que comercializa as peças do pintor e escultor Romero Britto, um dos artistas mais prestigiados do País. "Ainda não sentei para calcular o prejuízo. Estamos abrindo a galeria pela primeira vez em mais de uma semana", diz Robson Britto, irmão de Romero, em rápido contato telefônico durante a reabertura da galeria.
"Várias lojas foram afetadas, não foi só a galeria. A gente se preocupa com o impacto coletivo de um período tão longo sem energia também. Agora é retomar", completa.
A primeira providência de Dreyfuss, ainda na semana passada, foi tentar abrir a sua sapataria: a porta de enrolar é elétrica, mas não era possível abri-la com o sistema habitual. Restou usar a portinhola, aquela porta pequena dentro da porta principal, e abrir a maior manualmente.
"Algumas lojas vizinhas não têm a portinhola nem algum outro sistema de abertura manual, por isso não conseguiram nem abrir. Uma loja de cereais perdeu o estoque", afirma o empresário.
Lojas sem luz não atraem clientes, mas, a sapataria de Dreyfuss funcionou até o entardecer. "Depois das 16h, 16h30 não adianta mais, o dia vai escurecendo e aí é que ninguém entra numa loja sem luz", constata.
A segunda providência foi pedir à Enel, concessionária de eletricidade da capital, para consertar o problema e restabelecer o fornecimento. "Liguei para a Enel e comecei a registrar protocolos até receber a primeira visita de técnicos. Eles chegaram, analisaram o problema e não conseguiram descobrir o que havia ocorrido. Segui reclamando, sem luz", conta.
No quarto dia com a loja às escuras, uma equipe técnica especializada em ligações subterrâneas foi à rua e finalmente descobriu o problema, segundo o empresário: um cabo de energia em curto-circuito, com risco de explodir ou pegar fogo. "Nesse dia, os técnicos resolveram o problema do prédio comercial vizinho instalando um gerador de eletricidade no imóvel", narra Dreyfuss. "Mas minha loja e as outras continuaram às escuras", lamenta.
"Os técnicos foram atenciosos e nos contaram qual era o problema, mas não conseguiram resolvê-lo. Recomendaram que procurássemos outra equipe da Enel, porque precisava de gente especializada em dois tipos de ligação: subterrânea e aérea", narra o empresário, que diz ter passado o final de semana tentando acionar técnicos da concessionária capazes de resolver o problema. "Se durante a semana já é difícil, imagine aos sábados e domingos", lamenta.
Na segunda-feira, 24, Dreyfuss foi até a subprefeitura de Pinheiros e consultou a Defesa Civil. "Se havia risco de explosão ou incêndio, pensei que seria possível a intervenção deles", argumenta. "Mas disseram que só entra na alçada deles depois que houver algum problema", diz o empresário. "Aí falei com representantes da Enel na própria subprefeitura. Eles foram atenciosos, mas resolver o problema, mesmo, nada. A loja continuou às escuras", conta.
No mesmo dia, a mãe do empresário acionou o Procon (fundação de defesa do consumidor vinculada a uma secretaria do governo estadual paulista) e finalmente, na terça-feira, 25, oitavo dia em que o imóvel estava sem luz, técnicos da Enel capazes de solucionar o problema foram ao local. "Até que enfim duas equipes foram juntas ao local, especialistas em cabos subterrâneos e aéreas", diz Dreyfuss.
Durante os dias úteis em que a loja funcionou no escuro, o movimento caiu bruscamente, como era de se esperar. "Entraram dois ou três clientes por dia, o que não significa que alguém comprou algo. Nem sei calcular quantos clientes a gente recebe num dia comum, com a loja iluminada, mas é muito mais, claro", compara.
Dreyfuss afirma que vai processar a Enel, mas por enquanto o foco é outro: "Agora é hora de fazer a loja voltar a funcionar com eletricidade. Depois vamos cuidar do processo", conclui.
Região central sofre impactos
Também foram relatados casos de falta de luz na Rua José Paulino, no Bom Retiro, na região central. A concessionária cita que as altas temperaturas dos ùltimos dias causaram o aquecimento das galerias, danificando alguns trechos da rede, o que resultou na interrupção no fornecimento de energia.
A distribuidora destaca ainda a complexidade do trabalho em redes subterrâneas, que envolve cuidados extras com segurança devido à atuação de técnicos em espaços confinados. As equipes continuam trabalhando para reforçar a rede elétrica nesse local.
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