Desafios online, como o do desodorante, podem ser classificados como homicídio qualificado?

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Desafios propagados em redes sociais têm se tornado frequentes e gerado resultados trágicos, por vezes fatais. O caso mais recente envolve uma menina de oito anos que morreu no Distrito Federal após sofrer uma parada cardiorrespiratória ao inalar um desodorante aerossol - tal prática é sugerida em vídeos divulgados na internet.

É ao menos o segundo óbito no País somente em 2025: em março, outra menina de 11 anos também sofreu uma parada cardiorrespiratória em uma cidade no interior do Pernambuco por conta do chamado "desafio do desodorante".

Em entrevista à GloboNews, a secretária Direitos Digitais do Ministério da Justiça, Lilian Melo, disse que 56 crianças morreram no ano passado por conta de tais desafios.

Especialistas ouvidos pelo Estadão defendem a necessidade de punições severas tanto para quem propõe e divulga esse tipo de conteúdo quanto das plataformas, que também podem responder criminalmente por não fiscalizar e vetar na urgência exigida. A ausência de punição efetiva, inclusive, tem o efeito colateral de legitimar, por inércia, a repetição de tragédias.

Alexander Coelho, sócio do Godke Advogados e especialista em direito digital e proteção de dados, afirma que o desafio do desodorante, por exemplo, envolve condutas com evidente risco à integridade física, especialmente quando dirigido a menores.

"Esses conteúdos deveriam ser tratados com a mesma severidade que se aplica à incitação ao suicídio ou à automutilação. No entanto, estamos atrasados em criar um marco legal que dê conta dessa nova realidade digital", afirma ele.

Casos como esses exigem uma análise multifacetada que envolva Direito Penal, Direito Digital e responsabilidade das plataformas, de acordo com Alexander Coelho.

"Quando uma criança perde a vida em razão de um 'desafio' veiculado nas redes sociais, não estamos diante de uma simples fatalidade, mas sim de um reflexo da ausência de mecanismos efetivos de proteção digital infantil. A responsabilização pode recair tanto sobre os indivíduos que criaram ou propagaram o conteúdo perigoso, quanto - em certos contextos - sobre as plataformas que falharam em moderá-lo de forma tempestiva", avalia ele.

Segundo o especialista, o ponto central é a previsibilidade do dano, pois ao permitir a viralização de conteúdos que incentivam condutas de risco, "as redes sociais se tornam parte do problema, ainda que indiretamente."

"Infelizmente, na prática, a punição ainda é a exceção. Embora o homicídio qualificado seja juridicamente possível - sobretudo se for comprovado o dolo eventual ou a indução à morte -, a responsabilização criminal direta dos criadores ou replicadores dos desafios encontra obstáculos na apuração da autoria, da intencionalidade e do nexo causal", afirma Coelho.

Desde 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem considerado os "jogos perigosos" (hazardous games, em inglês) como um distúrbio comportamental listado na Classificação Internacional de Doenças (CID). O perigo pode se manifestar tanto pelo excesso do tempo gasto com a "brincadeira" quanto pelos "comportamentos e consequências de risco" associados diretamente às regras do jogo.

"A classificação da OMS é um alerta científico, mas ainda encontra resistência no campo normativo. A compreensão de que "jogos perigosos" são comportamentos com potencial lesivo à saúde mental e física é um avanço, mas no direito brasileiro ainda carecemos de tipificações penais e civis claras para lidar com tais situações", pontua Coelho.

Plataformas têm tecnologia para barrar conteúdos perigosos

O advogado destaca ainda que o posicionamento das plataformas digitais, infelizmente, é marcado por uma lógica reativa, e não preventiva. "A conduta-padrão é aguardar que o dano aconteça, ganhe repercussão e pressione a opinião pública - só então os conteúdos são removidos", critica Coelho.

Segundo Coelho, as plataformas têm tecnologia mais do que suficiente para identificar e barrar conteúdos perigosos antes que viralizem. "Sistemas baseados em inteligência artificial já são capazes de detectar padrões típicos de desafios virais, analisar contextos visuais e linguísticos e bloquear a disseminação desses conteúdos em tempo real."

Legislação no Brasil e no mundo

"No plano internacional, há avanços ainda tímidos. O Digital Services Act (DSA) da União Europeia, em vigor desde 2022, impõe deveres específicos de transparência e segurança, especialmente na proteção de menores", afirma o especialista em direito digital e proteção de dados.

Ele destaca a multa de €345 milhões, aplicada ao TikTok em 2023 por falhas na privacidade infantil, como um marco que sinaliza uma mudança de tom. Procurada pela reportagem, a plataforma não se manifestou.

Coelho lembra que o Brasil conta com ferramentas jurídicas relevantes, dentre elas a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), o Marco Civil da Internet e os princípios já consolidados da moderação responsável.

"Essas normas impõem o dever de diligência contínua das plataformas, especialmente diante de conteúdos que colocam crianças e adolescentes em situação de risco. O grande desafio é operacionalizar esse dever: transformar a letra da lei em vigilância real, com auditorias independentes, penalidades efetivas e responsabilidade solidária em caso de omissão", avalia ele.

Plataformas que lucram com a viralização de conteúdo precisam ser obrigadas a investir na prevenção de tragédias, na análise do especialista. "Porque quando uma criança morre por causa de um vídeo, a omissão deixa de ser tecnológica - e passa a ser ética", afirma ele.

"Por fim, se redes sociais têm algoritmos potentes o suficiente para prever o que você vai comprar amanhã, por que ainda não conseguem prever - e evitar - o que pode matar uma criança hoje?", questiona.

Cuidados que os pais devem adotar

Além de punição dos culpados, o delegado-chefe adjunto da 15ª Delegacia de Polícia, Walber José de Sousa Lima, responsável pela investigação da morte da menina de oitos anos no DF, também reforça o cuidado por parte dos pais, que devem orientar os filhos sobre os perigos de determinados conteúdos.

"Esse caso traz um alerta aos pais e responsáveis sobre o conteúdo que os filhos acessam na internet, mesmo estando na residência, necessitando por parte deles uma maior fiscalização para que essas crianças e adolescentes não acessem conteúdos inadequados e que um caso tão chocante como esse não volte a ocorrer novamente", alerta o delegado.

Confira algumas dicas de como pais e responsáveis podem abordar esse problema e se prevenir contra os "jogos perigosos":

- Alerte sobre os desafios que existem e por que eles são perigosos;

- Converse e alerte sobre a pressão social dos amigos e como não se deixar levar;

- Nunca deixar a criança ou o adolescente sozinho e trancado no quarto jogando videogames online;

- Procure saber e conheça quem está do outro lado da tela;

- Atente-se ao conteúdo disseminado pelos jogos;

- Estabeleça horários e regras para o uso da internet;

- Se necessário, espelhe o conteúdo do celular em uma TV

- Vigilância em tempo integral

"Não tem outro jeito a não ser monitorar o uso da internet pelas crianças e adolescentes e conversar frequentemente numa linguagem condizente com a idade, que vai variar muito com a idade", avalia Nina Ferreira, médica psiquiatra e psicoterapeuta. No geral, as crianças precisam de conversas bem simples e objetivas.

"Olha, quando te fizerem propostas de joguinhos, desafios, conta para mamãe e para o papai antes, tá bom? Que aí a gente ajuda você a avaliar se dá para fazer, se não dá, né? Então, ter esse tom da conversa", exemplifica ela. E quando é pré-adolescente e adolescente, poder falar mais diretamente dos riscos, inclusive falar do risco de morte, para que eles entendam a gravidade da situação.

Segundo ela, mesmo que haja essas conversas, a vigilância é necessária, principalmente até os 16 anos, e voltar sempre nessas conversas e fazer perguntas abertas. "Conta o que você tem visto? E tentar também os adultos se manterem atualizados do que tá acontecendo entre esses grupos de jovens, trocar informações entre os pais, para poder ter o máximo de cuidado possível", reforça a especialista. Ou seja, a vigilância direta do conteúdo que eles estão consumindo é essencial.

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Um grupo de 12 músicos e bandas passou a integrar o Hall da Fama do Rock. A lista de 2025 foi anunciada no sábado, 8, em cerimônia no Peacock Theater, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

O evento trouxe tributos, discursos e performances de artistas como Soundgarden, Outkast, Cindy Louper e Avril Lavigne, além de inúmeros convidados.

Para que pudessem entrar no hall da fama do rock, os músicos tinham de ter lançado seu primeiro hit há, pelo menos, 25 anos.

Veja a seguir quais artistas entraram para a lista de 2025, seus maiores sucessos e quem apresentou cada um deles durante a cerimônia.

Artistas do Hall da Fama do Rock 2025

Outkast

- Duo de rap americano que começou na década de 1990.

- Hits: "Hey Ya", "Ms. Jackson" e "Roses".

- Apresentados no evento por: Donald Glover. A performance teve como convidados Big Boi, Janelle Monáe, JID, Doja Cat, Killer Mike e Sleepy Brown.

Bad Company

- Banda de rock inglesa formada na década de 1970.

- Hits: "Feel Like Makin' Love", "Can't Get Enough" e "Bad Company".

- Apresentados no evento por: Mick Fleetwood. O baterista do Bad Company, Simon Kirke, foi acompanhado por Nancy Wilson, do Heart, e Joe Perry, do Aerosmith, nas guitarras, e pelo vocalista do Black Crowes, Chris Robinson, nos vocais.

Cyndi Lauper

- Cantora e compositora americana cuja carreira solo começou no início dos anos 1980.

- Hits: "Girls Just Wanna Have Fun", "Time After Time" e "True Colors".

- Apresentada no evento por: Chappell Roan. Lauper apresentou uma coletânea de seus sucessos, incluindo duetos com Avril Lavigne, Raye e Salt-N-Pepa.

Soundgarden

- Banda de rock americana formada em 1984.

- Hits: "Black Hole Sun", "Fell on Black Days" e "Outshined".

- Apresentados no evento por: Jim Carrey. Os membros do Soundgarden se apresentaram com Taylor Momsen e Brandi Carlile, que assumiram o papel do falecido vocalista Chris Cornell. A filha de Cornell, Toni, também fez uma performance com Nancy Wilson.

Salt-N-Pepa

- Grupo de rap americano formado na década de 1980.

- Hits: "Push It", "Let's Talk About Sex" e "Shoop".

- Apresentados no evento por: Missy Elliott. O grupo apresentou um apanhado de seus sucessos com uma aparição especial de En Vogue.

Chubby Checker

- Cantor americano que estreou na década de 1950.

- Hits: "The Twist", "Limbo Rock" e "Let's Twist Again".

- Participação no evento: tributo aconteceu em vídeo. Checker entrou remotamente para participar da cerimônia.

Joe Cocker

- Cantor inglês começou a lançar discos na década de 1960 e faleceu em 2014.

- Hits: "You Are So Beautiful", "Up Where We Belong" e "With a Little Help From My Friends."

- Apresentados no evento por: Bryan Adams. Tributo feito por Teddy Swims, Tedeschi Trucks Band, ao lado de Adams, Lauper, Chris Robinson e Nathaniel Rateliff, que subiram ao palco para uma interpretação de "With A Little Help from My Friends."

The White Stripes

- Banda de rock americana formada na década de 1990.

- Hits: "Seven Nation Army", "We're Going to Be Friends" e "Doorbell".

- Apresentados no evento por: Iggy Pop. Homenageados com performance de Olivia Rodrigo, Feist e Twenty One Pilots.

Warren Zevon

- Cantor e compositor americano que estreou com disco solo no início dos anos 1970 e faleceu em 2003.

- Hits: "Lawyers, Guns and Money", "Werewolves of London" e "Keep Me in Your Heart".

- Introduzido por: David Letterman. Homenageado com performance do The Killers.

Participações em vídeo

Carole Kaye

- Baixista americana que participou da gravação de dezenas de sucessos a partir da década de 1950.

- Hits: "Good Vibrations", do The Beach Boys, "These Boots are Made for Walkin'", de Nancy Sinatra, "The Way We Were", de Barbra Streisand.

Thom Bell

- Produtor musical e compositor americano que iniciou carreira nos anos 1960 e faleceu em 2022.

- Hits: "La-La (Means I Love You)", dos Delfonics, "The Rubberband Man", dos Spinners, "You Make Me Feel Brand New", dos Stylistics.

Nicky Hopkins

- Tecladista que gravou em dezenas de sucessos a partir da década de 1960 e faleceu em 1994.

- Hits: "Revolution", dos Beatles, "Sympathy for the Devil", dos Rolling Stones, "You Are So Beautiful", de Cocker.

Lenny Waronker

- Produtor e executivo da indústria da música dos Estados Unidos, com carreira iniciada nos anos 1970.

- Hits de artistas que ele produziu ou contratou: "Chuck E's in Love", de Rickie Lee Jones, "Purple Rain", de Prince, "Losing My Religion", do R.E.M.

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.

Carlinhos de Jesus, que passou os últimos cinco meses tratando uma bursite trocantérica bilateral, doença autoimune, e uma tendinite nos glúteos, ficou de pé, dançou brevemente e se emocionou ao receber uma homenagem de Luciano Huck na Dança dos Famosos deste domingo, 9.

"Hoje é um dia muito especial. Saúde é tudo. A coisa mais dura que a gente enfrentou nesta temporada da Dança dos Famosos foi a gente ter um dos maiores dançarinos deste País numa cadeira de rodas. O Carlinhos falou: 'Eu vou voltar a andar'. E não foi um esforço pequeno", afirmou Huck.

Em seguida, saudou o jurado da atração: "Quando ele não estava aqui, estava na fisioterapia. O que vai acontecer neste palco agora, a gente rezou muito para conhecer. Parabéns, valeu a luta. Agora é só melhorar".

Carlinhos de Jesus chegou a chorar e deu um recado de superação ao público: "Qualquer um pode [superar problemas de saúde]. Desde que tenha foco, se dedique e procure, dentro da sua rotina diária, estabelecer um horário, maneiras e forma de seguir um tratamento.

"Fisioterapia é tudo na vida da gente. A medicina foi importante, com os medicamentos. A fé, agradeço as mensagens em solidariedade à minha situação. Mas a fisioterapia foi fundamental", concluiu.

Na matéria divulgada anteriormente, a frase "Clique aqui para conferir a classificação do campeonato de Fórmula 1" foi incluída por engano no último parágrafo. Segue abaixo o texto correto.

Mike Shinoda e Emily Armstrong, vocalistas do Linkin Park, se encontraram com o cantor Billy Idol nos bastidores do GP de Interlagos da Fórmula 1 neste domingo, 9.

A foto foi divulgada numa postagem feita por Idol em seu Instagram. "Visitei os pits da Mercedes e da Ferrari, mas não pude filmar ou tirar mais fotos porque não querem que os rivais vejam o que estão fazendo. Tive um dia fantástico e nos fizeram sentir realmente bem-vindos!", escreveu.

Joe Hahn, o DJ do grupo norte-americano, também esteve em Interlagos e fez um registro de uma apresentação em ritmo de carnaval no asfalto.

Os artistas fizeram shows na noite do último sábado, 8. Enquanto o Linkin Park se apresentou no Allianz Parque, Billy Idol cantou no Vibra São Paulo. A banda ainda tem mais um compromisso no Brasil, em Brasília, na terça, 11, para depois seguir com a turnê rumo ao México. O cantor, por sua vez, ainda se apresenta em Curitiba na próxima quarta, 12, antes de seguir para a Argentina.

O GP de Interlagos de 2025 teve o britânico Lando Norris (McLaren) como vencedor. Ele dedicou a conquista ao brasileiro Gil de Ferran. Houve recorde de público, com 303,6 mil pessoas presentes englobando os três dias de evento.