Chefes de Polícia querem reduzir participação popular em conselho sobre políticas de Segurança

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Secretários de Segurança Pública dos Estados vêm debatendo uma proposta de reforma do Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (CNSP). O órgão colegiado tem a atribuição de formular e propor ao Ministério da Justiça diretrizes para as políticas de segurança, com foco na prevenção e repressão à violência e à criminalidade.

O lobby dos secretários é para reduzir a participação de representantes da sociedade civil. Há uma percepção de que os profissionais de segurança estão subrepresentados.

O conselho é formado por profissionais de Segurança Pública (11) e representantes do governo federal (13), do sistema de Justiça (6) e da sociedade civil (2). Pesquisadores renomados também têm assento no órgão - são reservadas oito vagas para cidadãos com "notórios conhecimentos" na área.

A composição foi pensada para reunir profissionais com diferentes trajetórias e, com isso, contemplar pontos de vista plurais, agregar conhecimentos e estimular o debate.

Para o delegado de Polícia Federal Sandro Avelar, secretário de Segurança do Distrito Federal e presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Segurança Pública (Consesp), profissionais do setor devem "prevalecer" no conselho.

"Esses profissionais têm a atribuição de combater a criminalidade e, infelizmente, na atual composição do conselho, eles têm um espaço absolutamente dividido com aqueles que não têm o mesmo grau de conhecimento, até porque não são profissionais da área", defende.

Avelar é delegado de carreira da PF e tem bom trânsito no universo político e entre as entidades da segurança pública, inclusive junto a ONGs e acadêmicos. Segundo ele, profissionais da segurança "que dedicam a vida inteira a se especializar nessa matéria" estão sendo "preteridos" no momento de desenhar políticas públicas e diretrizes da área.

"Preteridos por aqueles que não são oriundos da segurança pública e que, às vezes, têm um relacionamento muito distante com essa área. Um relacionamento às vezes muito idealista e muito distante do mundo real. E isso sim pode gerar um distanciamento das boas práticas que devem ser adotadas e que todos os secretários de segurança pública, independente de quem é de esquerda, de direita ou de centro, conhecem", afirma.

O Consesp, que Avelar preside, reúne os secretários de segurança dos 26 Estados e do Distrito Federal.

Veja como o Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social é composto:

- Representantes de cada órgão ou entidade integrante do Sistema Único de Segurança Pública (secretários de segurança, policiais civis, policiais militares, policiais federais, policiais rodoviários, policiais científicos, bombeiros, guardas civis, agentes penitenciários, guardas de trânsito);

- Representantes do Poder Judiciário;

- Representantes do Ministério Público;

- Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);

- Representantes da Defensoria Pública;

- Representantes de entidades e organizações da sociedade civil;

- Representantes de entidades de profissionais de Segurança Pública;

- Cidadãos com notórios conhecimentos na área de políticas de segurança pública e defesa social e com reputação ilibada.

Em outros colegiados, como o Conselho Nacional de Saúde e o Conselho Nacional de Educação, a participação popular é ainda maior. Representantes da sociedade civil e de movimentos sociais ocupam pelo menos metade dos assentos.

Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que ocupa uma das vagas reservadas a pesquisadores no CNSP, é saudável que a sociedade participe da elaboração das políticas públicas.

"Os profissionais de segurança são representantes do Estado, têm um mandato, que é o de fazer a segurança pública, mas enquanto agentes sociais eles estão imbuídos de uma missão, que é servir ao cidadão e o cidadão, em uma democracia, precisa ser ouvido e precisa opinar na forma como as políticas serão implementadas", argumenta a pesquisadora.

Samira afirma que pesquisadores com trajetórias de estudos científicos podem contribuir para a construção de soluções colegiadas. "Achar que os representantes da sociedade civil sabem menos porque têm saberes de outros campos é quase uma visão de que segurança pública é um problema só de polícia", acrescenta.

Além dela, compõem o conselho nomes como Bruno Paes Manso, especialista em crime organizado, o ex-secretário nacional de Segurança Pública Ricardo Brisolla Balestreri e o ex-ministro Raul Jungmann.

Instituído pela Lei nº 13.675, de 2018, o Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social é um órgão colegiado permanente, de natureza consultiva, sugestiva e de acompanhamento social das atividades da área.

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A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, vencedora do prêmio Pulitzer por O Invencível Verão de Liliana (Autêntica), falou sobre a crise na fronteira entre Estados Unidos e México durante a mesa que dividiu com a argentina María Negroni na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025, neste sábado, 2.

A autora nasceu em 1964 no município de Heroica Matamoros, que fica na divisa com o estado do Texas, e atualmente mora em Houston. "Sempre que me perguntam isso eu começo dizendo: é tão horrível quanto parece", disse, em resposta ao mediador Guilherme Freitas.

A escritora considera que o conflito na fronteira e a política contra imigração americana são frutos de um "capitalismo de ódio". Ela contou que conseguiu perceber, ao longo de quase dez anos em Houston, que celebrações mexicanas na cidade foram diminuindo por medo da repressão.

"É preciso lutar cotidianamente, com o corpo, como as feministas dizem. Para mim, trabalhar na universidade é oferecer cursos de escrita criativa e literatura é uma forma de ativismo", completou. Atualmente, ela dirige o programa de doutorado em escrita criativa da Universidade de Houston.

Escrita e memória

A mesa entre Cristina e María Negroni, que contaram que se conhecem há muitos anos, demorou a engatar e teve alguns problemas de tradução. Ainda assim, ambas puderam apresentar seus trabalhos e refletir sobre a criação da literatura a partir de memória e pesquisa.

O Coração do Dano (Poente), da escritora argentina, é uma autoficção sobre a relação complicada com a mãe, um misto de rancor e fascínio. "A escrita de um livro é sempre um mistério para o autor ou autora. Acho que o livro foi se escrevendo, um pouco baseado na perda. Não é um livro de luto, mas de alguma forma, tinha que articular algo que sempre esteve dentro de mim. Essa figura materna, de alguma forma, me configura", disse ela.

O Invencível Verão de Liliana, de Cristina, reconstitui a vida da irmã da escritora, morta em 1990, aos 21 anos, vítima de feminicídio. A mexicana comentou que já havia tentado escrever o livro anteriormente, sem sucesso, e creditou às mobilizações feministas na América Latina que, segundo ela, produziram a linguagem que ela pode usar no livro. Quando Liliana foi morta, o termo 'feminicídio' não fazia parte da esfera pública. "Foram elas que possibilitaram eu pudesse dizer: foi isso que aconteceu", afirmou.

Ela também falou sobre Autobiografia do Algodão, publicado neste ano pela Autêntica, um romance que resgata a história de seus avós na fronteira, em uma plantação de algodão. "O que me moveu foi uma busca pela identidade. Foi uma pesquisa amorosa. Um trabalho de cuidado, um acolhimento que oferecemos aos nossos mortos", disse.

Em outro momento, o mediador pediu que María falasse sobre sua relação com Clarice Lispector. A epígrafe do livro da argentina é uma frase da escritora: "Vou criar o que me aconteceu". Ela disse que Clarice, nesta frase, "faz uma espécie de fenda na distância que existe entre a palavra e o mundo."

"Minha citação da Clarice é para dizer que o que narra esse livro não é algo que ocorreu. Eu não tenho certeza de fato. Dentro do livro, a mãe desmente memórias", disse, completando: "Escrever um livro é como entrar em um poço às escuras. Tenho que acreditar que ele vai me levar para onde eu quero ir."

"Vocês são as pessoas mais carinhosas do mundo", disse, em português, a escritora Rosa Montero, assim que subiu ao palco do Auditório da Matriz na noite deste sábado, 2, na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip 2025. Ela retribuía o amor do público, que lotou o espaço e a aplaudiu de pé.

O retorno de Rosa, hoje um dos grandes nomes da literatura espanhola, ocorre 21 anos depois de sua primeira passagem pelo evento. Em 2004, ela esteve aqui como uma escritora pouco conhecida, mas que ganhou o carinho do público com seu carisma e criatividade do livro que lançava na época: A Louca da Casa, recém reeditado pela Todavia.

Já neste ano, ela é considerada a grande estrela da festa, com outros quatro livros publicados no Brasil, todos pela mesma editora: A Boa Sorte, Nós, Mulheres, A Ridícula Ideia de Nunca Mais te Ver e O Perigo de Estar Lúcida. Este último, que discorre sobre a relação entre loucura e criatividade, deu tom ao início da conversa com o mediador Paulo Roberto Pires.

"Os romancistas são pessoas que não amadureceram totalmente", disse Rosa, completando que pessoas que precisam ler "para aguentar a vida, como acredito que são muitos de vocês" - sinalizou para a plateia - "são pessoas que não têm o cérebro desenvolvido de maneira adequada."

"O meu cérebro está o tempo todo imaginando coisas, que não servem para nada, que eu não controlo", continuou. Essas imagens, disse ela, nascem a partir do inconsciente, de onde vem os sonhos. De repente uma dessas imagens a emociona, a enche de curiosidade. É pela necessidade de saber mais sobre essas imagens que nascem os romances de Rosa.

Após ler um trecho de A Louca da Casa, Rosa discorreu sobre sua relação com a ficção, e como se dedicar mais a ela a ajudou a parar de ter crises de pânico, com os quais ela sofreu até os 30 anos. "A loucura é uma ruptura da narrativa comum. É uma sensação de solidão que não é compreensível, não se pode explicar", disse. "Tem psiquiátricos que dizem que um romance é um delírio controlado."

A escritora, que trabalhou por anos como jornalista e segue sendo colaboradora do El País, lembrou que estudou jornalismo porque pensava que precisava de uma ocupação que não a de romancista para se sustentar. Mas disse que isso acabou sendo importante: "Uma coisa essencial é não viver de literatura criativa porque ela precisa ser o mais livre possível. É preciso achar outra maneira de ganhar a vida."

Por mais que fale da loucura e dos transtornos mentais entre os escritores, Rosa diz que renega o estereótipo do escritor sempre em sofrimento. "Detesto essa ideia de que para ser escritor precisa sofrer muito. É mentira. Não é preciso sofrer muito para nada."

Rosa também discutiu a criação de seu livro A Ridícula Ideia de Nunca Mais Te Ver, em que aborda a morte de seu marido, Pablo Lizcano, em 2009, em diálogo com o diário de luto da cientista Marie Curie, que perdeu o marido, Pierre Curie, em um acidente de carruagem.

A escritora explicou que sua relação com a literatura não é a de escrever sobre a própria vida, mas, dois anos após a morte de Pablo, quando tomou contato com os escritos de Curie, sentiu que podia falar não só do próprio luto, mas do luto de todos.

A escritora também falou sobre a própria obsessão com a morte e o envelhecimento, como sentia medo de chegar à maturidade - algo que ela abordou em entrevista ao Estadão -, e como escrever foi o antídoto, aquilo que a ajudou a não ter medo da morte. Durante a mesa, Rosa ainda lembrou do início de sua formação acadêmica, nos anos 1970, que coincidiu com a transição democrática na Espanha.

A TV Globo confirmou neste sábado, 2, mais dois participantes da edição de 2025 do Dança dos Famosos: o ator David Junior e a atriz Duda Santos.

David Junior tem 39 anos e esteve na novela das nove Mania de Você, no ar entre 2024 e 2025. Ele também foi o vencedor do The Masked Singer Brasil, outro programa da emissora.

"Eu estou muito feliz de integrar este time. Feliz com o convite, ansioso, morrendo de medo, mas sei que vou me divertir bastante", disse em postagem no perfil da TV Globo.

Duda Santos, de 24 anos, foi a protagonista do folhetim Garota do Momento, que também foi finalizada este ano. "Tô muito animada, tô muito feliz, tô muito ansiosa. Eu espero que você me passe a coroa de campeã", disse a Tati Machado, apresentadora da emissora e última campeã do programa de dança.

Quem vai participar da Dança dos Famosos 2025?

Além de David e Duda, a Globo já anunciou outros dois nomes para a edição deste ano. A cantora Wanessa Camargo foi confirmada nesta sexta-feira, 1º, como a primeira participante. Depois, a emissora divulgou a participação do influenciador Álvaro.

A edição de 20 anos do Dança dos Famosos estreia neste domingo, 3.