Cientistas analisaram por 2 anos a água da chuva de SP e se surpreenderam com o que encontraram

Geral
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Ao cair do céu, a água da chuva não chega ao solo tão limpa quanto parece. Estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou a presença de substâncias químicas de 14 agrotóxicos na água de chuvas na capital e em outras duas cidades do Estado de São Paulo. Entre elas estão componentes de produtos proibidos no Brasil devido ao risco à saúde, inclusive com potencial para causar câncer.

A coleta de amostras foi feita nas cidades de São Paulo, Campinas e Brotas, com diferentes usos de solo. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo informou que realiza monitoramento constante sobre o uso de agrotóxicos no Estado e fiscaliza o uso dos produtos em áreas agrícolas.

Além dos 14 agrotóxicos, foram encontrados cinco compostos, com destaque para o herbicida atrazina, presente em 100% das amostras, e o fungicida carbendazim que, apesar de proibido no Brasil, estava em 88% do material coletado. O herbicida tebuthiuron foi detectado pela primeira vez na água de chuva, em 75% das amostras.

A detecção desses compostos na chuva é consequência da presença de contaminantes na atmosfera, tanto no material particulado que impregna as gotas em queda, quando na fase gasosa, dispersa na neblina.

O trabalho foi publicado em março na revista científica Chemosphere, com o título (traduzido do inglês) "Pesticidas em águas da chuva: estudo de ocorrência de dois anos em compartimento ambiental inexplorado em regiões com diferentes usos do solo no estado de São Paulo - Brasil". O documento cita que, devido à extensa área agrícola do Brasil, o uso de grandes quantidades de pesticidas impacta diretamente os vários ambientes, incluindo a água da chuva.

De acordo com a pesquisadora Cassiana Montagner, professora da Unicamp que orientou o estudo, os resultados mostram o tamanho da dispersão da contaminação por agrotóxicos em diferentes matrizes ambientais do Estado. Segundo ela, embora não haja um risco imediato, a longo prazo a saúde das pessoas e animais pode ser afetada.

"Se beber um copo de água da chuva, ela vai ter resíduos de agrotóxicos, mas não há dano imediato. O dano maior é decorrente da exposição contínua e prolongada a essas concentrações de agrotóxicos tanto pela água de chuva, como pela água da torneira", diz.

Isso porque, segundo ela, o estudo apontou que essas concentrações são as mesmas que outras pesquisas já identificaram nos rios e na água de abastecimento proveniente de rios contaminados por agrotóxicos, que são vários no Brasil e, principalmente, no Estado de São Paulo.

Cassiana compara a pesquisa a peças de um quebra-cabeça que os pesquisadores vêm montando há mais de dez anos (a água das chuvas foi coletada entre agosto de 2019 e setembro de 2021). "Estudar a água de chuva nos traz como se fosse a impressão digital de como está o uso de agrotóxicos numa determinada região. Por ser uma contaminação atmosférica, não exatamente reflete a contaminação de um local específico. Como o material pode ser transportado para outras regiões, podemos pensar em uma contaminação generalizada", diz.

Ao ser aplicado, às vezes com o uso de aviões, o pesticida pode ser levado pelos ventos e atingir regiões diferentes daquele onde foi aplicado. Isso explica terem sido encontrados contaminantes de uso agrícola em áreas densamente urbanizadas, como a capital paulista. "Claro que a pulverização pode intensificar essa concentração. Já a presença de contaminantes que são proibidos pode indicar que eles continuam sendo usados ou que são persistentes no ambiente e continuam aparecendo na água de chuva", afirma.

O trabalho "Determinação de contaminantes emergentes em água da chuva nas cidades de São Paulo, Campinas e Brotas", foi realizado pelas pesquisadoras Beatriz Saccaro Ferreira e Mariana Amaral Dias, da Unicamp, com orientação da professora Cassiana.

Ao todo, foram feitas 19 amostragens na cidade de São Paulo, 17 em Campinas e 13 em Brotas, cidade que fica em meio a lavouras de cana-de-açúcar. Em todos os pontos de coleta foi observada a presença de pelo menos um dos contaminantes. A detecção desses compostos na chuva indica a presença de contaminantes na atmosfera, tanto como partículas flutuantes, quando na fase gasosa, impregnados na neblina.

No estudo, o herbicida 2,4-D, muito usado em lavouras de cana-de-açúcar, foi o composto com maior concentração na água de Brotas. A substância gera preocupação devido à alta capacidade de transporte pelo ar e aos efeitos danosos já comprovados para a fertilidade humana, o que fez sua aplicação aérea ser proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2023. A aplicação por aerosol (em solo) ainda é permitida.

"O trabalho foi bastante cuidadoso ao escolher três regiões que teoricamente têm um perfil diferente, justamente para ver a dinâmica do uso de agrotóxico nessas matrizes. Foi um estudo que amostrou todas as águas de chuva por dois anos, portanto não é um estudo pontual", diz Cassiana.

Para ela, o trabalho tem o efeito de um alerta ambiental. "É um estudo que mostra um comportamento, ou seja, se a gente continua usando o agrotóxico, a gente vai continuar encontrando ele na água de chuva. Aqui (em São Paulo) encontramos principalmente agrotóxicos usados na cana-de-açúcar, que é a principal cultura paulista. Em outras regiões, como o Mato Grosso, serão encontrados agrotóxicos usados na soja, por exemplo."

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo informou que realiza monitoramento constante no que tange ao uso de agrotóxicos no estado, por meio do Programa Estadual do Uso de Agrotóxicos e Afins, da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, que realiza a fiscalização do uso dos produtos em áreas agrícolas para garantir o cumprimento da legislação e promover práticas agrícolas sustentáveis.

A legislação paulista de agrotóxicos foi aprovada em maio de 2023 e passou a vigorar em 23 março de 2024, quando as irregularidades referentes aos agrotóxicos passaram a ser penalizadas com multas pecuniárias. "Desta data até o momento foram aplicadas 57 multas de acordo com o dano causado à sociedade e ao meio ambiente e outros 40 processos administrativos estão em análise em primeira ou segunda instância", diz.

Como acontece a contaminação da chuva?

Quando aplicados nas lavouras, parte dos agrotóxicos se dissipa na atmosfera. Fatores como vento, temperatura e umidade influenciam sua distribuição e, em condições específicas, as substâncias se condensam nas gotas de chuva, podendo retornar ao solo e contaminar corpos d'água em áreas distantes das plantações.

Quem não bebe água da chuva se contamina?

Mesmo a pessoa que não consome diretamente a água da chuva pode ser contaminar consumindo água da torneira. Isso porque as chuvas abastecem os cursos d'água usados para abastecimento, levando até os reservatórios os contaminantes que carregam em suas gotas.

Quem mora em área urbana também corre risco?

Como parte dos agrotóxicos se dissipa na atmosfera durante a aplicação e pode ser levada pelas correntes de vento para áreas distantes das plantações, as áreas urbanas também acabam ficando contaminadas. Além disso, as populações urbanas consomem água de reservatórios abastecidos pela chuva.

Há risco para quem bebe água tratada da torneira?

Apesar de as concentrações não ultrapassarem os limites permitidos para a água potável no Brasil, parte das substâncias detectadas não tem padrões de segurança estabelecidos, ou seja, não há indicações de concentração segura. A exposição crônica a baixas doses pode causar danos à saúde e à vida aquática.

Em outra categoria

V de Vingança vai ganhar uma nova adaptação como série de TV. De acordo com a revista Variety, a produção está em desenvolvimento para a HBO, com James Gunn e Peter Safran atrelados como produtores executivos.

A nova série é inspirada na graphic novel escrita por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd, originalmente publicada entre 1982 e 1985. A história acompanha o personagem titular, um anarquista que usa uma máscara de Guy Fawkes e elabora uma campanha teatral e revolucionária para matar seus antigos captores e torturadores e derrubar o estado fascista. A história foi adaptada para o cinema em 2005, com Hugo Weaving e Natalie Portman no elenco. A direção do filme é de James McTeigue.

Ainda conforme a Variety, a nova série terá roteiro de Pete Jackson, e Gunn e Safran produzem por meio da DC Studios. O projeto é o mais recente entre as adaptações de selos da DC para o formato seriado. Além de Pinguim, derivada de Batman, a HBO também lançará Lanterns, que vai apresentar os Lanternas Verdes John Stewart (Aaron Pierre) e Hal Jordan (Kyle Chandler). Anteriormente, a emissora também produziu Watchmen, com Regina King, Jeremy Irons e Yahya Abdul-Mateen II.

Uma fã brasileira de Dua Lipa presenteou a cantora com uma cópia do livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. O momento aconteceu no último sábado, 8, durante um show da artista na Argentina.

Bárbara Sousa, administradora de um perfil de fãs de Dua Lipa no Instagram, viajou até Buenos Aires para acompanhar uma das apresentações da turnê Radical Optimism, e levou um cartaz com a frase "Troco um livro por uma selfie".

A proposta chamou a atenção da cantora, que trocou algumas palavras com Bárbara antes de abraçá-la e posar para uma foto. Ela também recebeu o livro em mãos e agradeceu pelo presente.

Dua Lipa, que vem ao Brasil para apresentações a partir do próximo sábado, 15, tem um clube de leitura, chamado Service 95 Book Club, criado por ela em junho de 2023. O clube traz escolhas mensais de leitura escolhidas pela própria cantora britânica. Recentemente, Lugar de Fala, de Djamila Ribeiro, foi listado entre as indicações de "6 livros decisivos que vão mudar a maneira com a qual você pensa no mundo".

Dua Lipa no Brasil

A estrela pop britânica trará a turnê Radical Optism ao Brasil. A artista, que marcou presença no Rock in Rio em 2022, se apresentará em São Paulo, no dia 15 de novembro, no estádio MorumBIS; no Rio de Janeiro, o show será na Área Externa da Farmasi Arena, no dia 22. Os ingressos estão a venda no site da Ticketmaster.

Em Má Influencer, nova série original sul-africana da Netflix, uma mãe solo, BK (Jo-Anne Reyneke), se une a uma influenciadora, Pinky (Cindy Mahlangu), para vender bolsas de luxo falsificadas online. Mas o golpe chama a atenção tanto de uma gangue de falsificadores quanto das autoridades, e elas precisam ser mais espertas do que a polícia e os criminosos caso queiram ganhar dinheiro e não ir para a cadeia.

Em sete episódios, a nova atração aborda temas como a fama nas redes sociais, a cultura - por vezes tóxica - dos influenciadores digitais, além de lealdade e a busca por sobrevivência. A série foi criada e escrita por Kudi Maradzika, com direção de Ari Kruger e Keitumetse Qhali. Atualmente, a produção está entre as mais vistas da Netflix.

Definida pela edição sul-africana da revista Glamour como "parte da nova onda de talentos africanos que estão redefinindo a forma de contar as histórias do continente, e quem pode contá-las", Kudi oferece um ponto de vista particular sobre temas como cultura digital e cultura de influência. Afinal, ela mesma tentou se tornar uma influenciadora em períodos anteriores de sua carreira, e fala de uma perspectiva própria.

"Cheguei até mesmo a ser convidada para eventos de marca", declarou à revista. "Mas, como jornalista de formação, comecei a perceber um mundo muito mais complexo do que as pessoas imaginam."

Depois disso, ela fez parte de um laboratório do Instituto Realness, uma incubadora de projetos de onde a Netflix selecionou filmes e séries de países como Quênia, África do Sul e Nigéria, contratou roteiristas e passou um ano e meio desenvolvendo a história. "Má Influencer explora o quanto as mídias sociais moldam nossa identidade, nossas ambições e nossa bússola moral, especialmente em uma sociedade obcecada por imagem."

Além da fama das redes sociais, Má Influencer também aborda a relação entre tecnologia e crime, sobretudo quando consumidores podem ser enganados por influenciadores em quem confiam ou estratégias de marketing enganosas. A série também aborda as questões morais em torno da origem e do destino do dinheiro das falsificações - tudo isso sob um viés local.

"Os ritmos culturais, o humor e as contradições sul-africanas conduzem a história", declarou Maradzika ao portal nigeriano Nollywood Reporter. "A equipe fixou a história em um mundo que é reconhecidamente nosso."