História em construção

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Uma mensagem levou Simon Schwartzman até a Polônia. A remetente, Vera Ejlenberg, realizava pesquisas sobre o rabino Chaim Radzyner, e buscava informações. Schwartzman reconheceu o nome do bisavô de sua mãe. E, em meados de 2019, partiu para a Europa, onde participou de um encontro por conta dos 75 anos da destruição do gueto da cidade de Lodz.

"Eu tinha poucas informações sobre a história da família de minha mãe. Ela dizia que todos haviam morrido durante a guerra. A viagem me colocou em contato com outros lados dessa história. E com um lado que não é o meu único, mas que com certeza é importante na minha trajetória", conta o sociólogo e cientista político.

Não apenas isso. "Estar ali reviveu a presença da guerra, do Holocausto, da resistência. Não era nada que eu não soubesse, mas foi uma experiência forte, de impacto muito grande." E, de volta ao Brasil, Schwartzman começou a trabalhar em um livro de memórias, Falso Mineiro: Memórias da Política, Ciência, Educação e Sociedade, que será lançado na quarta-feira, dia 17, com uma live que vai reunir, além do autor, Pedro Malan e Helena Bomeny, com mediação de Roberto Feith, editor do selo História Real, da Editora Intrínseca.

É com o relato da viagem a Lodz que Schwartzman, colunista do Estadão, abre sua narrativa. Mas a lembrança pessoal convive no livro com a preocupação em discutir temas da história brasileira. "O objetivo foi ir além das memórias pessoais, ou seja, utilizar a trajetória pessoal para discutir questões atuais", explica o autor, que as define no início da obra: política e autoritarismo; modernidade e democracia; conhecimento, ciência e tecnologia; ciência e ideologia; educação e diversidade; sociedade e economia.

São temas presentes desde cedo em sua trajetória profissional. Formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, Schwartzman fez seu mestrado na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, no Chile. E, na Universidade da Califórnia, em Berkeley, o doutorado. Deu aulas em instituições como a USP, o Woodrow Wilson International Center, em Washington, e a Universidade de Columbia, entre muitas outras.

Ele se envolveu em diversos episódios da história brasileira. Foi preso e interrogado durante 40 dias em 1964 pela ditadura militar, que não sabia bem que acusações impor contra ele - e resolveu exilar-se na Dinamarca, seguindo depois para a Argentina. A carreira pedagógica e voltada à pesquisa, a certa altura, o levou também a ocupar posições como a de presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade. E, ao longo de todo esse tempo, produziu obras fundamentais para a compreensão do País, a começar por Bases do Autoritarismo Brasileiro, livro que nasce de sua tese de doutorado.

Nele, como o próprio Schwartzman explica, buscava mostrar como "o sistema político não era mero instrumento dos interesses dos ricos e poderosos, tendo uma dinâmica própria que precisava ser mais bem entendida". "A espinha dorsal de meu livro era a de que no Brasil coexistiam duas formas de dominação: uma de tipo patrimonial, herdada da Coroa portuguesa e que nunca dependeu de poderes feudais para existir, consolidando-se na capital do País, o Rio de Janeiro; e outra, de tipo mais contratual, originada da parte mais dinâmica e autônoma da economia, baseada sobretudo em São Paulo. Daí o fato de uma das teses mais controvertidas e questionadas do livro ser a de que, no Brasil, o centro do poder econômico sempre teve uma posição relativamente subordinada, e por isso conflituosa, com o centro político."

Não é pouco mérito o fato de que, em Falso Mineiro, a memória dos trabalhos acadêmicos e pesquisas realizadas e a lembrança de episódios pessoais sejam narradas com a mesma clareza e sabor. "Eu aprendi com o tempo que, se você não entende algo ao ler, a culpa é de quem escreveu. Há temas complexos, sem dúvida, e textos de caráter mais técnico, mas se você não tem clareza normalmente é porque as ideias não estão claras", diz. E o livro, nessa combinação de narrativas, torna-se não apenas o registro de uma memória individual, mas da tentativa de criação de uma ideia de país.

Debate

A live de lançamento do livro terá como tema "Populismo vs. Ciência: o desafio da construção de políticas públicas eficazes". É um assunto do qual ela trata bastante ao longo de Falso Mineiro. Por exemplo, ao definir a importância da separação entre atividade científica e atividade política. "Na faculdade, em Belo Horizonte, nossa preocupação era como sair do atraso, buscar caminhos distintos foi uma motivação de toda a minha geração que, claro, seguiu orientações diferentes. No ambiente estudantil, conhecimento e militância eram a mesma coisa. Mas, com o tempo, aprendi que a política condiciona e limita a capacidade de atuar de forma independente."

Para ele, não se trata de falta de engajamento, mas de outra definição para o termo. "Eu me engajei muito, briguei pelos temas que acreditava serem importantes, eu me envolvi com eles. Mas sempre mantendo uma independência, sem servir a conveniências políticas."

Reflexões como essa se tornam importantes em especial no momento em que vivemos. "É uma situação anômala, de um governo anti-intelectual. Há um ataque contra a educação, a cultura, a democracia, e isso dificulta a discussão nessas áreas. Porque elas precisam ser discutidas, são problemáticas. Não concordo com a ideia de que antes tudo funcionava bem. Mas a discussão sempre girou em torno de como melhorar esses aspectos e não em torno do próprio questionamento de sua existência."

Para Schwartzman, há uma nova geração interessante na ciência brasileira. Mas é preciso pensar em novos caminhos, em especial no que diz respeito à "fuga de cérebros". "Houve um período de expansão na ciência acadêmica. As universidades públicas cresceram e, com isso, muitas posições e cargos foram criados. Um jovem brasileiro, após ir para o exterior, com bolsas como Capes e CNPq, voltava e encontrava posições. Mas a ciência acabou ficando muito fechada no mundo acadêmico e, depois de o sistema crescer, já não consegue absorver todos os profissionais. A questão hoje é pensar sobre como fazer ciência de maior qualidade e mais efetiva, menos voltada para si mesma. E como vincular a ela questões mais práticas, algo que envolve tanto a iniciativa privada quanto o governo", explica.

FALSO MINEIRO

Autor: Simon Schwartzman

Editora: Intrínseca (400 págs., R$ 69,90 papel, R$ 34,90 e-book)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Por Laysa Zanetti

Caco Ciocler vai entrar para o elenco de Vale Tudo, interpretando um personagem inédito na trama. O ator será Esteban, um interesse amoroso de Celina (Malu Galli). A informação foi publicada pela coluna Play, do jornal O Globo, e confirmada por Caco em seu perfil no Instagram.

Na versão de 1988 da novela, a irmã de Odete não teve sua vida afetiva explorada e, portanto, o personagem Esteban não existiu. Ainda não se sabe qual será a sua história ou como vai conhecer Celina.

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"Celina é uma cinquentona que não se casou, criou os filhos da irmã e não trabalha", resumiu Galli ao jornal O Globo, explicando os novos traços da personagem. "A gente trouxe o interesse dela pelas artes plásticas, ela é uma incentivadora dos artistas. É mais ativa nesse sentido."

Longe das novelas desde a refilmagem de Pantanal, Caco vai começar a gravar suas cenas no folhetim neste sábado, 3. Recentemente, participou da minissérie Os Quatro da Candelária e do filme Meu Sangue Ferve por Você, cinebiografia de Sidney Magal.

Miguel Falabella foi afastado das apresentações desta semana do espetáculo Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum, em São Paulo. O comunicado foi feito nas redes sociais da peça nesta quinta-feira, 1º, que explica que o ator passa por um problema de saúde.

Em seu perfil, Falabella detalhou a situação, e revelou que precisou se afastar porque está com uma hérnia de disco. "Estou com muita dor, não estou conseguindo andar direito e, por isso, infelizmente não estou fazendo Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum. Como dizia minha mãe, doença é aluguel que a gente paga para usar o corpo", declarou.

A peça é uma adaptação brasileira do musical com letra e música de Stephen Sondheim, ambientado na Roma Antiga e inspirado nas comédias farsescas de Plauto. A história acompanha Pseudolus, personagem de Falabella que é um escravo determinado a conquistar sua liberdade. Para isso, ele promete ajudar seu jovem amo a conquistar a amada. Ivan Parente, Giovanna Zotti, Carlos Capeletti, Mauricio Xavier e Lucas Colombo também integram o elenco da peça.

Diante da ausência de Falabella, o protagonista será interpretado por Edgar Bustamante nas próximas sessões, desta quinta a domingo, 4.

Nos comentários das publicações, fãs e amigos desejam melhoras a Miguel. "Cuidaremos do nosso lourão mais que amado e ele já já estará de volta pro palco", comentou Danielle Winits. "Boa recuperação, chuvisquinho. Já já você está 100% e de volta aos palcos pra receber todo carinho e amor que você merece", desejou o também ator Daniel Rangel.

A peça Uma Coisa Aconteceu a Caminho do Fórum está em cartaz de quinta a domingo no Teatro Claro Mais SP, com apresentações às 20h (quinta e sexta), 16h e 20h (sábado) e 15h e 20h (domingo).

A série argentina O Eternauta acaba de chegar à Netflix e já tem conquistado os espectadores. Baseada na HQ homônima considerada uma das maiores obras da literatura argentina, ela tem uma história trágica por trás: seu criador, Héctor Oesterheld, foi morto pela ditadura na Argentina na década de 1970.

Nascido em Buenos Aires em 1919, Oesterheld é um dos principais nomes dos quadrinhos e da ficção cientifica na Argentina. Escreveu alguns romances e outras HQs, além de ter publicado em revistas de grande importância, mas O Eternauta é considerada a sua obra-prima.

A trama acompanha um grupo de sobreviventes de uma nevasca mortal que precisa lutar contra uma ameaça alienígena. Com Juan Salvo como protagonista, o quadrinho foi publicado entre 1957 e 1959 com ilustrações de Francisco Solano López, com uma versão mais politizada sendo lançada na década de 1970.

Oesterheld frequentemente dizia que o herói de O Eternauta era um "herói coletivo". No final dos anos 1960, ele também escreveu biografias em quadrinhos de Che Guevara e Evita Perón, importantes líderes de esquerda, em parceria com o cartunista Alberto Breccia.

Naquele período, o autor já era envolvido com os Montoneros, organização político-militar argentina de esquerda que tinha objetivo de resistir e derrubar a ditadura no país. As quatro filhas de Oesterheld, Estela, Diana, Beatriz e Marina, também estavam envolvidas com o grupo.

As Forças Armadas da Argentina, já vigiando a atividade de Oesterheld, começaram a fechar o cerco em sua família. A primeira desaparecida foi Beatriz, que tinha apenas 19 anos, em 1976. Meses depois, foi a vez de Diana, seguida de Marina, ambas grávidas na época. A última foi Estela, já no final de 1977.

Oesterheld desapareceu em abril daquele ano. Acredita-se que tenha sido fortemente torturado física e psicologicamente, sendo obrigado a ver fotos das filhas executadas, e que foi morto apenas em 1978. O seu corpo nunca foi encontrado. Das filhas, apenas Beatriz pôde ser velada.

A morte do autor e de seus familiares só foi reconhecida em 1985, com um julgamento histórico que resgatou a memória dos desaparecidos e revelou os horrores da ditadura na Argentina.