Anos 80 e o verão de François Ozon

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Para o espectador, principalmente jovem, que assistir agora a Verão de 85, a sensação poderá ser de que François Ozon pega carona no sucesso de público e crítica de Me Chame Pelo Seu Nome, o longa do italiano Luca Guadagnino baseado no romance de André Aciman. Não é verdade. François Ozon era muito jovem. Tinha 16 anos em 1984, quando leu Dance on My Grave, de Aidan Chambers. "Já tinha veleidades de virar diretor de cinema. Pensei comigo que era o filme que queria fazer." Demorou - 20 e tantos anos de carreira, 18 filmes no currículo -, mas o projeto por fim tomou forma. É o 19º trabalho do diretor.

Ozon conversa por Zoom com a reportagem do Estadão. A entrevista foi feita na quarta, 2. No dia seguinte, saiu o anúncio dos filmes que concorrem à Palma de Ouro em 2021. Entre eles, o novíssimo filme do diretor. O repórter até trouxe o assunto de Cannes à discussão, mas Ozon foi vago. Falou no passado - "Cannes tem sido uma vitrine importante para meus filmes." Tout C'Est Bien Passé reúne três mulheres extraordinárias - Charlotte Rampling, Hanna Schygulla, Sophie Marceau. "Escrevi o papel para Sophie. Eu a idolatrava quando jovem. Tem uma cena em Verão de 85 em que a homenageio."

Verão de 85 está em cartaz no cinema. Sempre atraído pelo tema da morte, Ozon explica por que trocou o título. "Gosto muito do original, mas, na França, o livro foi lançado como La Danse du Coucou e desse, definitivamente, não gosto. Queria chamá-lo Eté 84, mas aí surgiu um problema inesperado. Queria utilizar uma música do The Cure, In Between Days, na trilha, mas Robert Smith me disse que não dava, a canção havia sido lançada em 1985. Preferi trocar o título para garantir a trilha."

Em sucessivas entrevistas ao Estadão, Ozon sempre disse que faz cada filme contra o anterior. Nesse caso: "Vinha de um filme muito duro e sombrio, sobre a pedofilia na Igreja Católica e seus efeitos devastadores sobre homens que foram abusados por religiosas (Graças a Deus). Queria fazer alguma coisa alegre, luminosa. Aidan Chambers veio em meu socorro. Achei que era o momento certo para adaptar o livro que foi tão importante para mim." Verão de 85 é sobre dois garotos, Alexis, de 16 anos, e David, de 18. O segundo salva o primeiro de afogamento, tornam-se amigos e algo mais nesse verão inesquecível. Mas, atenção, a morte está à espreita. Sempre esteve no cinema de Ozon.

"Essa presença da morte é que torna a vida urgente para mim. Esse é um filme sobre primeiras coisas, sobre a juventude que vive tão intensamente." E ele prossegue: "Nos anos 1980, havia muito preconceito na representação da homossexualidade na tela. A aids veio para complicar, e culpabilizar ainda mais. Naquele tempo, não sei se seria possível fazer esse filme. Os atores temiam ser estigmatizados se fizessem papéis de gays. Eu mesmo tive problemas com atores de outros filmes. Felizmente, hoje há uma flexibilização. Não houve problema nenhum com meus jovens atores, Felix Lefebvre e Benjamin Voisin.

Buscava uma dupla que desse química na tela. Eles foram ótimos. Perguntei se haveria problema num beijo entre homens. Nenhum! Essa garotada que curtiu O Azul É a Cor Mais Quente (de Abdellatif Quechiche) e Me Chame pelo Seu Nome é muito menos preconceituosa." Mas ele reconhece: "Creio que a situação é diferente num país como o Brasil atual".

Ozon acompanha o que se passa no Brasil? "Bien sûr, é um país pelo qual tenho um fascínio muito grande. E ainda tem a questão da grande floresta. A Amazônia é um bem planetário. Interessa a todo mundo. O que ocorre ali repercute no mundo todo." O filme, certamente pessoal, tem algo de autobiográfico? "Não, como você diz é pessoal. Nos anos 80, eu era um garoto incerto da minha sexualidade, querendo sair do armário. Nem o cinema, nem a literatura ajudavam. As histórias eram quase sempre sobre conflitos, violência, sofrimento. Nesse contexto sombrio, surgiu o livro luminoso de Aidan. A homossexualidade não era uma tragédia, era uma love story. Os dois garotos se sentem atraídos - ponto."

Verão de 85 chegou a ser incluído no Festival de Cannes do ano passado, que não houve. Ozon lamentou por seus atores. "Teria dado um grande impulso à carreira deles." O filme foi lançado em cinemas? "Sim, mas foi atropelado pelo isolamento da pandemia. O importante é que, apesar de todas as dificuldades, Verão de 85 encontrou seu público." Para Ozon, a exibição em cinemas é fundamental - "Filmei justamente pensando na tela do cinema". Ele conta como foi seu período de isolamento no ano passado.

"Não fiquei em Paris, mudei-me para o interior, para a campanha, em contato com a natureza. Aproveitei e escrevi bastante, dois novos filmes, o que já foi feito e outro a caminho. Li muito, vi muito cinema, muita TV, mas não as séries. Preferi voltar aos clássicos, aos autores essenciais que nunca deixaram de me inspirar." O repórter já sabe quem são - de outras entrevistas: Akira Kurosawa e Federico Fellini.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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No dia 13 de setembro deste ano, a cantora Mariah Carey fará uma apresentação musical no evento Amazônia Para Sempre, que ocorre em Belém, no Pará. Quem também se apresentará no festival é a vocalista Joelma, que aproveitou a ocasião para convidar a norte-americana para tomar um tacacá.

"Hi, Mariah! Bora tomar um tacacá?", escreveu a brasileira em seu perfil no Instagram neste domingo, 23. No mesmo dia, Mariah Carey havia dado uma entrevista para o Fantástico e, durante a conversa, arriscou falar a frase "eu vou tomar um tacacá" em português.

O prato, um caldo típico da região amazônica, é citado em uma das músicas mais populares da ex-integrante do Calypso, Voando Pro Pará. Nos últimos anos, a canção viralizou nas redes sociais e voltou a figurar entre as músicas mais populares do País.

Além de Mariah Carey e Joelma, outras artistas como Gaby Amarantos, Dona Odete e Zaynara também farão parte do festival. O evento é organizado pela Rock World, empresa responsável pelo Rock in Rio e o The Town, e busca celebrar a flora e fauna amazônica. Em novembro, Belém recebe a COP 30.

"Oi, Mariah! Eu sou a Joelma, quero te dizer que estou muito feliz de te receber aqui no nosso Brasil. E, principalmente, na nossa grande e amada Belém do Pará", afirmou Joelma em um vídeo postado no Instagram.

"Agora, me conta uma coisa... você já conhece a nossa música brasileira? Se você já conhece, me conta aí, o que te marcou na nossa cultura musical? Eu estou muito animada e ansiosa para esse encontro especial! Nos vemos nesse grande evento, nesse palco incrível", convidou a cantora brasileira.

Ausente da temporada de prêmios desde que suas publicações polêmicas ressurgiram nas redes sociais, Karla Sofía Gascón estará na cerimônia do Oscar 2025. Segundo a revista The Hollywood Reporter, a Netflix concordou em cobrir seus custos da viagem - uma prática que é comum durante as premiações, mas que teria sido negado à atriz quando ela foi afastada da campanha de divulgação de Emilia Pérez.

Gascón está indicada ao prêmio de Melhor Atriz, uma das 13 indicações recebidas pelo divisivo musical francês ambientado no México. O longa também concorre em Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Melhor Canção e Melhor Atriz Coadjuvante.

De acordo com a Variety, detalhes da viagem ainda estão sendo finalizados, e não há certeza se Gascón, a primeira mulher trans indicada a Melhor Atriz, passará pelo tapete vermelho. Também não se sabe se ela dará entrevistas ou posará ao lado dos colegas de filme, Zoe Saldaña, Selena Gomez e Jacques Audiard.

"Não sei o que sentir, mas estou grata por estar de volta", declarou à Hollywood Reporter. "Sou grata a todos os que acreditaram em mim - à Netflix, à produtora e aos meus colegas. Podemos encerrar esta trajetória bonita e difícil que começou há três anos."

Karla Sofía foi afastada da campanha de Emilia Pérez no início do mês de fevereiro, logo após a crise em torno de seus posts ofensivos ter afetado a divulgação do filme. Desde então, ela não compareceu mais aos eventos pré-Oscar - nem mesmo ao Goya, espanhol, ou ao Bafta, britânico. No entanto, a Variety alega que ela também irá ao César Awards, o "Oscar francês", na sexta-feira, 28.

Recentemente, Bela Bajaria, diretora de conteúdo da Netflix, falou sobre Gascón em entrevista ao The Town Podcast, comandado pelo jornalista Matt Beloni. Ela afirmou que a ideia de checar as redes sociais dos talentos envolvidos nas produções do streaming existe, mas ressaltou que a prática é desafiadora e esbarra em questões éticas.

"Acredito que todos nós estamos falando sobre isso. Mas você também precisa pensar, nós vamos realmente olhar as redes sociais de milhares de pessoas ao redor do mundo, todos os dias, da montanha de filmes e séries originais que licenciamos e coproduzimos? Acho que isso extrapola de forma prática o que significa tudo isso. São os perfis particulares dessas pessoas. Mas [a situação] com certeza traz questionamentos. Como deve ser esse processo? O mais triste é que isso tira a atenção de um filme que é muito especial", pontuou.

O Oscar 2025 acontece no próximo domingo, dia 2 de março, com transmissão no Brasil pela TNT na TV paga, pela Max no streaming e pela Globo na TV aberta.

Selton Mello postou cenas dos bastidores de Ainda Estou Aqui em suas redes sociais na segunda, 24. Nas imagens aparecem os atores do filme, como Fernanda Torres e Valentina Herszage.

Nas cenas, é possível ver o elenco dentro do carro, nos ensaios e também descansando, descontraído. Os comentários da publicação ressaltaram a intimidade entre os atores. "Coisa boa de ver: leveza, alegria, profissionalismo, amor, cuidado", disse um usuário. "O 'making off' aos olhos do Selton", completou outra. Na legenda, o ator escreveu: "Bastidores inéditos".

Ainda Estou Aqui é uma obra baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, que narra a história da família do escritor após o desaparecimento de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a Ditadura Militar. A trama acompanha a luta de sua mãe, Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, que busca pelo paradeiro do marido enquanto cuida dos filhos e constrói uma carreira como advogada e defensora dos direitos das comunidades indígenas no Brasil. Selton Mello interpreta Rubens Paiva na adaptação cinematográfica.

O filme concorre ao Oscar em três categorias, sendo elas Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, e com Fernanda Torres para Melhor Atriz. A cerimônia ocorrerá em 2 de março, no domingo.