Trilogia contra a violência, por Natalia Gonsales

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A atriz paulistana Natalia Gonsales sente o fantasma do machismo rondando sua sombra nos últimos tempos. A artista de 36 anos, que acumula 29 peças em pouco mais de uma década de carreira, é sutilmente rotulada por produtores de elenco como "velha" para começar a explorar o mercado de filmes, séries e novelas. "Percebo obstáculos que me colocam em desvantagem, algo que não acontece com os homens em busca dessa experiência", afirma ela, que conta nos dedos os testes, sem sucesso, que fez para novelas. "Eu só gostaria de chegar perto de um público maior e testar possibilidades que o teatro não me dá."

Se Natalia, jovem, bonita e bem-nascida, enfrenta questionamentos desse tipo, imagine as personagens que escolhe levar aos palcos, representantes de minorias cuja resistência é desafiada todos os dias. A Trilogia Contra a Violência, exibida gratuitamente no YouTube da Aliança Francesa entre os dias 5 e 10, às 19h, é formada pelas peças Carmen, A Última Dança e Fóssil, que têm em comum a opressão feminina em diferentes épocas e sociedades. "Qualquer pessoa que luta contra uma ordem, uma doutrina, precisa ganhar evidência e passei a trazê-las à cena como personagens a serem descobertas."

Carmen vai ao ar no sábado, 5, e na segunda, 7, em versão gravada no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro, em 2018, um ano depois da estreia paulista. "Queria fazer um novo registro, talvez no alto de um prédio, mas somos três atores, muitas coreografias para ensaiar e seria irresponsável na pandemia", justifica ela, que contracena com Vitor Vieira e Flavio Tolezani, com quem é casada há onze anos. Na adaptação da novela de Prosper Mérimée, o feminicídio é o foco, e a cigana narra a própria tragédia. "Carmen ficou famosa por causa da ópera de Georges Bizet, que popularizou um olhar distorcido sobre essa mulher e o povo cigano. É como se ela merecesse ter sido assassinada porque deixava loucos os homens à sua volta."

No monólogo A Última Dança (2016), previsto para domingo, 6, e terça, 8, a personagem é a escritora e filósofa francesa Simone Weil (1909-1943), que conquista lugar de fala na condição de uma operária fabril e na opção de viver em situação subalterna. Por fim, Fóssil, marcado para quarta, 9, e quinta, 10, é o resultado de três anos de pesquisa sobre as mulheres curdas e a revolução de Rojava. Na trama, uma cineasta procura o diretor de uma empresa (papel de Tolezani) para ter patrocínio de um filme que traça paralelo entre o conflito sírio e a ditadura militar brasileira. "Só descobrimos a luta das mulheres curdas depois que elas pegaram em armas contra o exército islâmico."

Natalia é filha de um empresário e de uma dona de casa com visões sensíveis da vida, estudou na Escola Vera Cruz e teve acesso a oportunidades incomuns, como aulas de ginástica olímpica, formação de bailarina no tradicional Cisne Negro e livros, vídeos e discos à mão cheia. "Meus pais sempre me deixaram livre, inclusive para recusar um estágio em uma multinacional, no fim da faculdade de administração, e me dedicar ao teatro."

O diploma nunca foi retirado na secretaria da PUC. A atriz, porém, aprendeu lições do mundo administrativo que aplica nos bastidores do teatro. É ela quem monta os projetos das peças e, mesmo trabalhando com equipes heterogêneas e afinadas, enfatiza seus posicionamentos. "Os homens têm dificuldade de aceitar decisões de uma mulher, mesmo que não passem pela esfera pessoal", declara, reconhecendo que, muitas vezes, é incompreendida pelos colegas e exercita a paciência ao contornar insatisfações alheias.

Para julho, a atriz promete Tango, o Tempo da Preparação, peça de Priscila Gontijo dirigida por Bruno Perillo, em que contracena com o ator Bruno Kott. "É sobre uma mulher, apegada ao mundo virtual, refletindo sobre o casamento enquanto prepara o jantar", diz. No cinema, a intérprete tem dois filmes à espera do encontro com os espectadores, Dora e Gabriel, de Ugo Giorgetti, e Odradeck, realizado por Guilherme de Almeida Prado com base em um conto de Franz Kafka.

"Nunca decorei tanto texto para um trabalho", diz ela, sobre Odradeck.

Em meio as tantas inquietações, Natalia criou na pandemia um grupo de WhatsApp com os moradores da sua rua, na Vila Madalena, para organizar doações aos necessitados e sonha em se integrar aos Médicos Sem Fronteiras em nome de trabalho em zonas de conflito. "A pandemia me deu espaço para ampliar a política no meu cotidiano porque sinto necessidade de participar de questões públicas", diz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

Anora foi o grande vencedor do prêmio de Melhor Filme do Oscar 2025. Ainda Estou Aqui, longa brasileiro que concorria na categoria, não foi escolhido pelos votantes.

O longa custou US$ 6 milhões para ser produzido - um dos menores orçamentos da história da premiação - e, nas últimas estimativas, faturou cerca de US$ 38 milhões de bilheteria ao redor do mundo.

Indicações de 'Anora' ao Oscar 2025

Anora foi indicado em seis categorias no Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição.

Outros prêmios

Em maio de 2024, Anora venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e se colocou como um sério concorrente ao Oscar. Ao longo da temporada, no entanto, viu os filmes rivais ganharem mais destaque e, apesar de ser bastante elogiado pela crítica, passou a ser tratado como um azarão.

A maré mudou nas últimas semanas. Surpreendentemente, o longa venceu o prêmio de Melhor Filme no Critics Choice Awards. Confirmando o bom momento, também foi vitorioso no Directors Guild Awards, no Producers Guild Awards e no Writers Guild of America Awards, três dos principais prêmios dos sindicatos de Hollywood.

Sobre o que é

Em Nova York, a jovem stripper Anora (Mikey Madison) conhece o filho de um oligarca russo e engata um improvável romance. Após um casamento impulsivo em Las Vegas, a família de Ivan Zakharov (Mark Eydelshteyn) planeja retornar para os Estados Unidos com um único objetivo - anular a união entre o casal. Descrito como um "conto de fadas às avessas", o longa subverte a história da Cinderela para falar sobre as falhas do Sonho Americano.

Elenco

Em Anora, Mikey Madison interpreta Ani, uma jovem stripper que se deslumbra com a vida de luxos que o dinheiro pode proporcionar. O papel rendeu a atriz uma indicação ao prêmio de Melhor Atriz. Já Mark Eydelshteyn é Ivan Zakharov, filho de um oligarca russo que contrata os serviços de Ani por tempo indeterminado.

Yura Borisov interpreta Igor, um capanga russo da família Zakharov. O papel rendeu ao ator uma indicação ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. Completam o elenco Karren Karagulian e Vache Tovmasyan, que interpretam outros dois capangas da família Zakharov, e Aleksei Serebryakov e Darya Ekamasova, que vivem o pai e a mãe de Ivan, respectivamente.

Entrevistas

Em entrevista ao Estadão, Sean Baker e Mikey Madison discorreram sobre o que torna Anora um longa tão único. Em especial, falaram sobre a temática de trabalhadores sexuais - uma constante no trabalho de Baker - e sobre como o filme busca quebrar as expectativas do público.

"Sempre pensei em Anora como algo fora do 'mainstream' e um pouco divisivo por causa de seus temas, mas ele parece estar agradando às pessoas de maneira universal. E isso é maravilhoso", afirmou Sean Baker.

Críticas

O filme foi bastante elogiado pela crítica internacional. No site Rotten Tomatoes, que agrega análises de profissionais da indústria, o longa conta com 93% de aprovação. No New York Times, a obra de Sean Baker foi descrita como o "nascimento de uma estrela".

"Esse papel exige que ela [Mikey Madison] vá ao extremo, com elementos de pastelão, romance, comédia e tragédia, além de dançar com pouquíssima roupa e dar uns socos poderosos", escreveu a crítica Alissa Wilkinson. "E a cada momento Madison fica mais fascinante."

"Anora é uma fábula moderna e obscena, povoada por strippers e capangas. Como a maioria dos filmes de Baker, fala sobre os limites do sonho americano, sobre as muitas paredes invisíveis que se interpõem no caminho das fantasias de igualdade e oportunidade, sobre como se erguer pelas próprias pernas", finalizou.

Polêmicas

A principal polêmica de Anora decorreu da falta de um coordenador de intimidade no set de filmagem de Sean Baker. O cargo, que vem ganhando cada vez mais importância em Hollywood, é responsável por supervisionar cenas íntimas que envolvam sexo simulado e nudez.

Em uma era pós-Me Too, o trabalho do supervisor garante que todos os envolvidos se sintam seguros e possam se manifestar caso algo os deixe desconfortável. Em Anora, cenas de sexo e nudez compõem uma boa parte do filme. Baker e a equipe, no entanto, optaram por não utilizar um coordenador de intimidade durante as gravações do longa.

"Foi uma escolha que fiz. A produção me ofereceu, se eu quisesse, um coordenador de intimidade", afirmou Mikey Madison no quadro Actors on Actors, da Variety. A atriz explicou que a decisão foi tomada por ela e por Mark Eydelshteyn e que, apesar da polêmica, a experiência foi extremamente positiva para ela.

Onde assistir

Em cartaz, Anora estreou nos cinemas brasileiros em 23 de janeiro. Não há previsão, no momento, para exibição em plataformas de streaming.

Os indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2025

Anora

O Brutalista

Um Completo Desconhecido

Conclave

Duna: Parte 2

Emilia Pérez

Ainda Estou Aqui

Nickel Boys

A Substância

Wicked

'O Brutalista' vence Oscar de melhor trilha sonora. O filme disputou categoria com Conclave, O Robô Selvagem, Wicked e Emilia Pérez. O longa venceu prêmio de melhor fotografia também.

Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional na noite deste domingo, 3. É o primeiro longa brasileiro a conquistar o feito. O diretor Walter Salles dedicou prêmio a Eunice Paiva. Ele também dedicou estatueta a Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. "É uma coisa extraordinária", disse sobre vitória.

A produção superou os concorrentes Emília Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia). O francês, que venceu o Prêmio do Júri em Cannes 2024 e foi indicado a 13 categorias do Oscar, incluindo a de melhor filme, foi considerado como o favorito nos primeiros momentos da disputa, mas acabou se envolvendo em diversas polêmicas.