Exposição no CCBB-Rio exalta o trabalho revolucionário da médica Nise da Silveira

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Uma foto em preto e branco logo no início da exposição dá a dimensão de que o que será visto nas próximas salas retrata uma revolução. Mas uma revolução diferente. Na imagem, Nise da Silveira (1905-1999) aparece como única mulher em uma turma com 157 homens na Faculdade de Medicina da Bahia. Era o início dos anos 1930, e a médica dava ali os primeiros passos para iniciar uma revolução pelo afeto.

Alagoana, Nise se mudou para o Rio de Janeiro e chegou a ficar presa por 18 meses no início da Era Vargas, acusada de ser militante comunista - e um portão de ferro que pertenceu à Casa de Detenção Frei Caneca está lá para lembrar isso. Mas apesar de difícil, o período no cárcere também lhe rendeu ensinamentos.

Em 1944, a médica foi contratada para trabalhar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio. Lá, ela se opôs a métodos de tratamento impostos aos internos, como o eletrochoque e a camisa de força. Seus questionamentos às práticas corriqueiras daquele período fizeram com que a instituição a transferisse para o setor de terapia ocupacional, que não recebia nenhum tipo de recurso.

Pois foi justamente a partir daí que Nise da Silveira passou a desenvolver um trabalho de vanguarda no tratamento das doenças mentais - e que seria reconhecido no mundo todo. Em vez de choques e do uso da força, os internos passaram a receber pincéis e tintas. Enquanto os métodos tradicionais da época focavam em forçar mudanças, Nise resolveu deixar que cada um se expressasse por intermédio da arte.

"Ela foi uma mulher revolucionária, que era cientista em meio a um monte de homens, que falava de afeto. Falar de afeto parecia um desaforo, mas na verdade era revolução. Ela teve muita coragem. Em meio a processos de lobotomia, eletrochoque, ela veio com uma proposta diferente. Essa revolução está bem posta no trabalho da Nise", diz Isabel Seixas, uma das curadoras da exposição Nise da Silveira - A Revolução Pelo Afeto, que ocupa três salas do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio.

Além de contar com cerca de 90 obras de clientes do Museu de Imagens do Inconsciente - que tem um acervo de aproximadamente 400 mil peças -, a exposição apresenta ainda obras de Lygia Clark, Abraham Palatnik e Zé Carlos Garcia, fotografias de Alice Brill, Rogério Reis e Rafael Bqueer, vídeos de Leon Hirszman e Tiago Sant'Ana, e aquarelas e fotos de Carlos Vergara.

Mais do que recordar os 22 anos da morte da médica psiquiatra, o desejo dos organizadores é convidar os visitantes para uma reflexão. "O pensamento da doutora Nise é muito atual. Ela trata de temas que são fundamentais para o ser humano em sua relação com outros e com o mundo que o rodeia. Quando a gente fala de liberdade e criatividade, estamos falando destes valores", considera o museólogo Eurípedes Júnior, que é vice-presidente da Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente.

"Nise traz uma contribuição muito importante para a nossa contemporaneidade, que é a necessidade da valorização do mundo interno, ou seja, das nossas potencialidades, das nossas riquezas, dos nossos talentos, das qualidades que todos nós possuímos no mais profundo do nosso ser", reitera Eurípedes.

A exposição começou a ser desenhada antes da pandemia e, ainda que tenha limitado muitas das ideias dos organizadores, quis o destino que esse período totalmente atípico se mostrasse também propício para mostrar o trabalho da doutora Nise. "(Em épocas de isolamento), está servindo para que a gente rediscuta os conceitos de loucura, de humanidade, de o que é um tratamento humanizado e o que não é", pondera Isabel.

Tour virtual

A exposição Nise da Silveira - A Revolução Pelo Afeto ficará em cartaz até 16 de agosto. Ainda que os produtores tenham o desejo de levá-la a outros Estados, a dificuldade em encontrar salas para a exibição e patrocínios ainda impede que isso aconteça.

Mesmo assim, quem não for ao Rio poderá visitar a mostra pela internet. "Estamos nos últimos detalhes para lançar a exposição no site. Vai ficar dividido da mesma forma que na exposição, nos mesmos segmentos, com boa parte das imagens e textos da exposição. Vai haver visita 360° graus de todas as salas", diz Izabel Campello, que é coordenadora de produção da exposição.

A data de lançamento da exposição no site ainda não foi definida - falta resolver apenas entraves técnicos. A expectativa dos organizadores, contudo, é de que o tour virtual esteja disponível até o fim de semana do dia 9 de julho.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Por Laysa Zanetti

Caco Ciocler vai entrar para o elenco de Vale Tudo, interpretando um personagem inédito na trama. O ator será Esteban, um interesse amoroso de Celina (Malu Galli). A informação foi publicada pela coluna Play, do jornal O Globo, e confirmada por Caco em seu perfil no Instagram.

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"Celina é uma cinquentona que não se casou, criou os filhos da irmã e não trabalha", resumiu Galli ao jornal O Globo, explicando os novos traços da personagem. "A gente trouxe o interesse dela pelas artes plásticas, ela é uma incentivadora dos artistas. É mais ativa nesse sentido."

Longe das novelas desde a refilmagem de Pantanal, Caco vai começar a gravar suas cenas no folhetim neste sábado, 3. Recentemente, participou da minissérie Os Quatro da Candelária e do filme Meu Sangue Ferve por Você, cinebiografia de Sidney Magal.

Miguel Falabella foi afastado das apresentações desta semana do espetáculo Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum, em São Paulo. O comunicado foi feito nas redes sociais da peça nesta quinta-feira, 1º, que explica que o ator passa por um problema de saúde.

Em seu perfil, Falabella detalhou a situação, e revelou que precisou se afastar porque está com uma hérnia de disco. "Estou com muita dor, não estou conseguindo andar direito e, por isso, infelizmente não estou fazendo Uma Coisa Engraçada Aconteceu a Caminho do Fórum. Como dizia minha mãe, doença é aluguel que a gente paga para usar o corpo", declarou.

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Diante da ausência de Falabella, o protagonista será interpretado por Edgar Bustamante nas próximas sessões, desta quinta a domingo, 4.

Nos comentários das publicações, fãs e amigos desejam melhoras a Miguel. "Cuidaremos do nosso lourão mais que amado e ele já já estará de volta pro palco", comentou Danielle Winits. "Boa recuperação, chuvisquinho. Já já você está 100% e de volta aos palcos pra receber todo carinho e amor que você merece", desejou o também ator Daniel Rangel.

A peça Uma Coisa Aconteceu a Caminho do Fórum está em cartaz de quinta a domingo no Teatro Claro Mais SP, com apresentações às 20h (quinta e sexta), 16h e 20h (sábado) e 15h e 20h (domingo).

A série argentina O Eternauta acaba de chegar à Netflix e já tem conquistado os espectadores. Baseada na HQ homônima considerada uma das maiores obras da literatura argentina, ela tem uma história trágica por trás: seu criador, Héctor Oesterheld, foi morto pela ditadura na Argentina na década de 1970.

Nascido em Buenos Aires em 1919, Oesterheld é um dos principais nomes dos quadrinhos e da ficção cientifica na Argentina. Escreveu alguns romances e outras HQs, além de ter publicado em revistas de grande importância, mas O Eternauta é considerada a sua obra-prima.

A trama acompanha um grupo de sobreviventes de uma nevasca mortal que precisa lutar contra uma ameaça alienígena. Com Juan Salvo como protagonista, o quadrinho foi publicado entre 1957 e 1959 com ilustrações de Francisco Solano López, com uma versão mais politizada sendo lançada na década de 1970.

Oesterheld frequentemente dizia que o herói de O Eternauta era um "herói coletivo". No final dos anos 1960, ele também escreveu biografias em quadrinhos de Che Guevara e Evita Perón, importantes líderes de esquerda, em parceria com o cartunista Alberto Breccia.

Naquele período, o autor já era envolvido com os Montoneros, organização político-militar argentina de esquerda que tinha objetivo de resistir e derrubar a ditadura no país. As quatro filhas de Oesterheld, Estela, Diana, Beatriz e Marina, também estavam envolvidas com o grupo.

As Forças Armadas da Argentina, já vigiando a atividade de Oesterheld, começaram a fechar o cerco em sua família. A primeira desaparecida foi Beatriz, que tinha apenas 19 anos, em 1976. Meses depois, foi a vez de Diana, seguida de Marina, ambas grávidas na época. A última foi Estela, já no final de 1977.

Oesterheld desapareceu em abril daquele ano. Acredita-se que tenha sido fortemente torturado física e psicologicamente, sendo obrigado a ver fotos das filhas executadas, e que foi morto apenas em 1978. O seu corpo nunca foi encontrado. Das filhas, apenas Beatriz pôde ser velada.

A morte do autor e de seus familiares só foi reconhecida em 1985, com um julgamento histórico que resgatou a memória dos desaparecidos e revelou os horrores da ditadura na Argentina.