Afetos e dores na obra de Luiz Melodia

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Logo nos primeiros minutos do documentário Todas as Melodias, que estreia nesta segunda, 19, na programação do canal por assinatura Curta!, o diretor Marco Abujamra coloca o compositor Jards Macalé e a cantora e atriz Zezé Motta lado a lado. Moradores do mesmo prédio no Rio, eles relembram Luiz Melodia (1951-2017). O encontro puxa uma das narrativas do filme, que trata das composições do homenageado.

Como a letra de Juventude Transviada em mãos, eles parecem, mesmo em contato com uma das canções mais conhecidas do cantor e compositor carioca, se surpreender com a genialidade do amigo em comum. Macalé - a quem Abujamra já havia dedicado o doc Jards Macalé - Um Morcego na Porta Principal (2008) - chama atenção para os versos "uma mulher não deve vacilar". "Que conselho maravilhoso!", exclama Macalé, para, logo em seguida, cometer uma indiscrição.

Zezé, que em 2011 gravou o álbum Negra Melodia, só com canções de Macalé e Melodia, diz que, às vezes, não entende muito bem o que Melodia quer dizer nas letras. "Mas eu gosto!", completa. Aliás, ele e Zezé aparecem juntos no palco, em uma imagem de arquivo dos anos 1970, em uma performance de total catarse em Negro Gato.

O poeta Waly Salomão (1943-2003), em outro importante resgate do filme, surge em uma entrevista do fim dos anos 1970, concedida nas dependências do Circo Voador, no Rio, explicando a obra de Melodia. Em referência aos versos fragmentados das músicas do compositor ele diz: são as quebradas do morro, as saídas inesperadas, as bocas e os becos.

A viúva do compositor, Jane Reis, que foi casada com Melodia por 40 anos, lembra que foram Waly, Hélio Oiticica e Torquato Neto que o levaram do morro - ele nasceu no São Carlos, no bairro do Estácio - para a cidade. Em Jane, está outro caminho percorrido pelo documentário: o do afeto.

"A Jane é uma protagonista também. Foi algo muito natural. Ela fala sobre o relacionamento afetivo deles e eu percebo que essa afetividade está presente nas canções de Melodia", diz Abujamra. Em uma das cenas, Jane diz que o amor não acabou com a morte do compositor. Em outra, ela mostra que a calça que está vestindo tem outra casa para abrigar o botão quando o marido queria usá-la.

Jane também revela a terceira narrativa do filme: a do racismo. Ela lembra que, certa vez, ela e Melodia foram rejeitados em uma pousada na Bahia, já tarde da noite. Os dois tiveram de dormir em um banco de praça. A família do compositor conta que o preconceito também impediu que Melodia convivesse com seu primeiro filho.

"Não tinha como não tocar nessa questão. Estamos em um momento delicado da discussão sobre o lugar de fala. Eu questionei se era o meu papel, como branco, falar sobre o racismo. Mas eu não podia omiti-lo. Essa foi uma batalha muito grande ao longo da carreira do Melodia, mesmo ele sendo uma figura muito respeitada no universo artístico brasileiro e mundial. O racismo no Brasil é tão violento que nem o artista, que cria uma persona para além desse julgamento, consegue quebrar essa atitude imbecil", diz Abujamra.

O próprio Melodia aparece em imagens de arquivo falando sobre o preconceito do qual ele e seus músicos eram vítimas. "A Globo disse que o Oberdan (Magalhães, arranjador) não podia usar tamancos", conta, sobre a participação deles no Festival Abertura, de 1979, com a canção Ébano.

Abujamra não fez nenhuma entrevista com Melodia para o documentário - filmado em 2019, depois da morte do artista -, mas conta que chegou a conversar com ele sobre o projeto. "Ele ficou muito feliz, mas, logo depois, adoeceu", conta o diretor. O compositor morreu, em 2017, aos 66 anos, vítima de um câncer na medula.

Por opção de Abujamra, o documentário traz poucas entrevistas. De depoimentos colhidos para o filme, juntam-se a Jane, Macalé e Zezé, as irmãs de Melodia e seu primeiro filho. Arnaldo Antunes, Céu e Liniker declaram sua admiração pelo compositor, além de apresentarem canções do homenageado. "Prefiro buscar outras formas de contar a história. Não gosto de fazer muitas entrevistas. Não há teóricos musicais no filme. Só pessoas que tiveram uma relação afetiva muito forte com o Melodia", afirma o diretor.

Gal Costa, nome essencial na vida do compositor - foi ela quem o lançou com a canção Pérola Negra no histórico show Fatal, de 1971 -, aparece em número musical extraído de seu DVD Estratosférica, de 2017. A Waly cabe contar, em cena de arquivo, como a música chegou até a cantora.

O próprio Melodia aparece em números musicais gravados em shows no Brasil e no exterior. Com imagens restauradas de uma visita do compositor ao Morro de São Carlos nos anos 1980, o documentário Todas as Melodias mostra que, além de afeto, sua música fala muito sobre o Brasil de ontem e de hoje.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O cantor Roberto Carlos foi o convidado pela TV Globo para abrir o Show 60 anos, que comemorou o aniversário da emissora na noite de segunda-feira, 28, em uma arena de shows na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Roberto cantou Emoções e Eu Quero Apenas, ao vivo, com sua inconfundível afinação.

O que pouca gente percebeu é que, após a transmissão do evento, a Globo passou uma chamada no estilo 'o que vem por aí' e, entre as atrações anunciadas, estava 'Roberto Carlos em Gramado'.

O Estadão questionou a assessoria do cantor se o anúncio indica a renovação de contrato de Roberto com a Globo - o vínculo venceu em 31 de março deste ano. De acordo com a assessoria de Roberto, a renovação está em "95% acertada, faltando apenas alguns detalhes" para o martelo final. A reportagem também perguntou à TV Globo sobre o assunto, mas não obteve resposta.

Sobre o especial de fim de ano ser gravado em Gramado, cidade da serra gaúcha, a equipe do cantor afirma que as conversas são muito preliminares ainda. "Foi apenas uma ideia que alguém deu", diz a assessoria. A decisão se dará mais para frente, no segundo semestre, quando o cantor e a emissora vão discutir o formato e o local de gravação do especial.

No Show 60 anos, Roberto se sentiu à vontade. Além de ser muito aplaudido, foi paparicado pelos artistas nos bastidores. Recebeu e tirou fotos com vários deles, como Cauã Reymond, Fafá de Belém e Fábio Jr. O cantor deixou o local por volta de duas horas da manhã, quase uma hora após o final do show.

Roberto Carlos fez seu primeiro especial na TV Globo em 1974 e, nesses mais de 50 anos, só deixou de apresentá-lo por duas ocasiões, quando sua mulher, Maria Rita, morreu, e durante a pandemia. Aos 84 anos, Roberto segue em plena atividade. Em maio, fará uma longa turnê pelo México. Na volta, se apresenta em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, entre outras cidades.

Cauã Reymond publicou nas redes sociais uma foto ao lado de Fábio Porchat e Tatá Werneck durante o show comemorativo dos 60 anos da TV Globo.

"Que noite incrível e especial pra @tvglobo, pra mim e pro Brasil! Um show de emoção, humor, esporte, afeto. Feliz demais pelos 60 anos dessa emissora que está no imaginário e na história de todo mundo", escreveu o ator na legenda. Confira aqui.

O registro foi publicado horas depois de uma esquete protagonizada por Tatá, Porchat e Paulo Vieira no palco do evento.

Durante a apresentação, os humoristas fizeram piadas sobre as polêmicas dos bastidores do remake de Vale Tudo.

No número cômico, Tatá menciona rapidamente os "bastidores de Vale Tudo", e Paulo emenda: "Não fala tocando, não fala tocando. Abaixa o braço, tá com um cecê de seis braços". Fábio rebate: "Pelo amor de Deus, é a minha masculinidade". Tatá completa: "Que masculinidade, Fábio?".

Nas redes sociais, internautas rapidamente interpretaram a brincadeira como uma referência aos rumores de tensão entre Cauã Reymond e Bella Campos durante as gravações da novela.

Segundo relatos, Bella teria reclamado do comportamento do ator nos bastidores. A Globo não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, mas o tema ganhou destaque nos comentários online após a exibição do especial.

Bruno Gagliasso comentou publicamente pela primeira vez sobre a invasão de sua casa, registrada no início de abril.

Em conversa com a imprensa durante o evento de 60 anos da TV Globo, o ator afirmou, segundo a colunista Fábia Oliveira: "Rapaz, invadiram, mas deu tudo certo".

O caso ganhou repercussão nas redes sociais após o relato de Giovanna Ewbank. A apresentadora, que estava em casa com os filhos, contou que uma desconhecida entrou na residência da família, sentou-se no sofá da sala e chegou a pedir um abraço.

Segundo Giovanna, a mulher conseguiu acessar o imóvel depois que uma funcionária a confundiu com uma conhecida da família.

Próximos projetos

Além de comentar o ocorrido, Bruno Gagliasso falou sobre seus 20 anos de carreira e destacou o personagem Edu, da série Dupla Identidade, como um dos papéis mais marcantes de sua trajetória.

"Fiz personagens que guardo pro resto da minha vida, que me fizeram crescer como ser humano. Ficar 20 anos fazendo personagens que dialogam com a sociedade só me enriquece como ser humano e como ator", afirmou.

Sobre os próximos passos na carreira, o ator brincou: "Quem sabe fazer o remake de A Viagem, aproveitar que estou com esse cabelo e fazer o Alexandre (Guilherme Fontes)".