Conceição Evaristo: 'Éramos os personagens'

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Conceição Evaristo, uma das mais respeitadas escritoras brasileiras, que inspirou jovens mulheres negras a entrar na literatura, leu Carolina Maria de Jesus nos anos 1960, com a mãe e as tias, que trabalhavam como empregada. "A gente lia Carolina sendo também Carolina", diz, hoje, aos 74 anos, em entrevista ao Estadão. Voltar a essa obra tantos anos e tantas histórias depois, como membro do conselho editorial que está trabalhando nos inéditos da escritora, tinha novos significados.

O que Carolina representa para a literatura brasileira?

Ela representa essa possibilidade de ampliação de uma criação literária brasileira. Carolina chega exigindo espaço para novas formas, inclusive de compreensão do que seria literatura, quebra com a hegemonia literária liderada por autores brancos - homens e mulheres -, e chega se apropriando da língua, do texto literário, desse desejo da literatura a partir das classes populares. Sua escrita também institui novas formas de escrita. Tenho chamado isso de uma gramática do cotidiano. Ela brinca com a língua portuguesa a partir de outra experiência linguística e navega pela língua culta. Sabe que está produzindo literatura e trabalhando com a arte da palavra.

O que sua obra ainda nos diz?

A obra de Carolina é muito atual enquanto uma obra que traz, de uma maneira bem explícita, a partir da vivência, a realidade de grande parte da população brasileira. Ela revela as dificuldades e carências em termos materiais que ainda hoje atinge muita gente, e revela as outras carências da sociedade. A carência de Carolina, o desejo dela pela escrita e pela leitura, é um desejo e um direito do povo.

E o que Carolina Maria de Jesus significa para a senhora?

Tenho uma relação muito especial com Carolina e hoje, mais do que nunca, ela se aprofunda em termos de significados e simbologia. Li Carolina nos anos 1960, em Belo Horizonte. Quando eu e minha família lemos Quarto de Despejo, éramos personagens do livro. O que Carolina vivia em São Paulo, minha família vivia em Belo Horizonte. Com Carolina, conhecemos a sobra do lixo. O que nos faltava era a fartura, o exagero, o desperdício do outro. A gente lia Carolina sendo também Carolina. Muitos anos depois, hoje, ler e pensar Carolina, estando em outro patamar, ganhando distância para ler e cada vez mais entendê-la, é muito simbólico. É quase como um milagre. Jamais imaginei, quando a li pela primeira vez, que estaria aqui falando dela. Ela tem esse sentido simbólico na minha vida. É olhar para trás e ver o que ficou lá. E na questão da literatura, ela significa, para nós, mulheres negras, que temos o direito da escrita e da literatura. Carolina é exemplar no sentido da coragem, de se meter num espaço que socialmente não era possível para ela, e isso é o que, de certa forma, eu faço também quando relembro que minha mãe e minhas tias trabalharam em casa de escritores mineiros. É uma reviravolta no jogo.

Conhecemos mais a Carolina dos diários. E a romancista?

O grande desejo de Carolina foi trabalhar a ficção, a poesia. Mas o primeiro texto dela publicado foi um diário e isso criou uma expectativa no público e na imprensa. Ela ficou cerceada. Mas uma leitura atenciosa de Quarto de Despejo e de Casa de Alvenaria mostra a veia ficcional de Carolina.

Publicar esses textos inéditos é uma justiça que se faz a ela?

Sou radical. É uma justiça que chega tardiamente. Era necessário que ela estivesse presente. Essa homenagem, os livros… Seria tão bom se isso tivesse acontecido em vida. Carolina morreu muito decepcionada e o que me chama mais atenção é que ela foi vítima de uma crise asmática. Metaforicamente, isso indica que Carolina morreu engasgada. Ela ainda tinha muito o que dizer, e precisava dizer.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Academia Brasileira de Letras (ABL) vai eleger hoje, 30, a partir das 16h, o novo ocupante para a cadeira 7, que era ocupada pelo cineasta Cacá Diegues, morto em fevereiro, aos 84 anos.

Ao todo, são 13 concorrentes, incluindo Míriam Leitão, Cristovam Buarque, Tom Farias e Marcia Camargos. O novo ocupante da cadeira deve ser revelado em 30 minutos.

A ABL divulgou também os nomes dos concorrentes às vagas que pertenceram aos imortais Heloisa Teixeira e Marcos Vilaça. Heloisa ocupava a cadeira 30 da Academia. Em abril de 2023, tomou posse como a 10ª mulher eleita imortal. Escritora, crítica cultural e importante nome do feminismo brasileiro, ela morreu dia 28 de março, aos 85 anos.

O advogado, jornalista e escritor Marcos Vilaça morreu no dia seguinte, 29 de março, também aos 85 anos. Ele ocupava a cadeira 26 desde 1985. As eleições para as vagas dos acadêmicos serão nos dias 22 e 29 de maio, respectivamente.

CONCORRENTES

Disputam a vaga que pertenceu a Heloisa o poeta, professor e tradutor Paulo Henriques Britto, e o poeta e compositor Salgado Maranhão. Também estão inscritos Arlindo Miguel, Paulo Roberto Ceratti, Spencer Hartmann Júnior e Eduardo Baccarin Costa.

Entre os inscritos para a sucessão da cadeira 26, que era de Vilaça, estão o advogado, escritor e professor universitário José Roberto de Castro Neves e o escritor, editor, tradutor e historiador Rodrigo Lacerda. Completam a lista Diego Mendes Sousa, Sivaldo Venerando do Nascimento e Evandro Aléssio Rodrigues Pereira.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O cantor Roberto Carlos foi o convidado pela TV Globo para abrir o Show 60 anos, que comemorou o aniversário da emissora na noite de segunda-feira, 28, em uma arena de shows na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Roberto cantou Emoções e Eu Quero Apenas, ao vivo, com sua inconfundível afinação.

O que pouca gente percebeu é que, após a transmissão do evento, a Globo passou uma chamada no estilo 'o que vem por aí' e, entre as atrações anunciadas, estava 'Roberto Carlos em Gramado'.

O Estadão questionou a assessoria do cantor se o anúncio indica a renovação de contrato de Roberto com a Globo - o vínculo venceu em 31 de março deste ano. De acordo com a assessoria de Roberto, a renovação está em "95% acertada, faltando apenas alguns detalhes" para o martelo final. A reportagem também perguntou à TV Globo sobre o assunto, mas não obteve resposta.

Sobre o especial de fim de ano ser gravado em Gramado, cidade da serra gaúcha, a equipe do cantor afirma que as conversas são muito preliminares ainda. "Foi apenas uma ideia que alguém deu", diz a assessoria. A decisão se dará mais para frente, no segundo semestre, quando o cantor e a emissora vão discutir o formato e o local de gravação do especial.

No Show 60 anos, Roberto se sentiu à vontade. Além de ser muito aplaudido, foi paparicado pelos artistas nos bastidores. Recebeu e tirou fotos com vários deles, como Cauã Reymond, Fafá de Belém e Fábio Jr. O cantor deixou o local por volta de duas horas da manhã, quase uma hora após o final do show.

Roberto Carlos fez seu primeiro especial na TV Globo em 1974 e, nesses mais de 50 anos, só deixou de apresentá-lo por duas ocasiões, quando sua mulher, Maria Rita, morreu, e durante a pandemia. Aos 84 anos, Roberto segue em plena atividade. Em maio, fará uma longa turnê pelo México. Na volta, se apresenta em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, entre outras cidades.

Cauã Reymond publicou nas redes sociais uma foto ao lado de Fábio Porchat e Tatá Werneck durante o show comemorativo dos 60 anos da TV Globo.

"Que noite incrível e especial pra @tvglobo, pra mim e pro Brasil! Um show de emoção, humor, esporte, afeto. Feliz demais pelos 60 anos dessa emissora que está no imaginário e na história de todo mundo", escreveu o ator na legenda. Confira aqui.

O registro foi publicado horas depois de uma esquete protagonizada por Tatá, Porchat e Paulo Vieira no palco do evento.

Durante a apresentação, os humoristas fizeram piadas sobre as polêmicas dos bastidores do remake de Vale Tudo.

No número cômico, Tatá menciona rapidamente os "bastidores de Vale Tudo", e Paulo emenda: "Não fala tocando, não fala tocando. Abaixa o braço, tá com um cecê de seis braços". Fábio rebate: "Pelo amor de Deus, é a minha masculinidade". Tatá completa: "Que masculinidade, Fábio?".

Nas redes sociais, internautas rapidamente interpretaram a brincadeira como uma referência aos rumores de tensão entre Cauã Reymond e Bella Campos durante as gravações da novela.

Segundo relatos, Bella teria reclamado do comportamento do ator nos bastidores. A Globo não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, mas o tema ganhou destaque nos comentários online após a exibição do especial.