Adeus Cinema?

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É praticamente eufemismo dizer que 2020 foi difícil para todo mundo, sejam as pessoas ou a economia. Para a mídia e o entretenimento, não foi diferente, com uma queda mundial de 3,8% na receita. No Brasil foi ainda pior, com uma diminuição de 6% na renda do setor em relação a 2019. O País perdeu duas posições no ranking mundial, indo de 9º para 11º, segundo dados da 22ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 2021-2025, estudo anual feito pela consultoria PwC com previsões para os próximos cinco anos, feita em 53 países, que engloba 14 seguimentos. Entre eles, internet, publicidade de jornal e revista, TV por assinatura, livros, cinema e vídeo OTT (vídeo de TV ou cinema, que inclui os serviços de streaming) - no Brasil, os dados que chamam mais a atenção se referem aos dois últimos itens.

O cinema despencou 70,4% em receita. No Brasil, a queda foi mais drástica: -86%. "O mundo da exibição em salas de cinema está esfacelado", disse Paulo Sérgio Almeida, do Filme B, site de análise e acompanhamento do mercado audiovisual. "Mas sou otimista." Em compensação, o consumo do vídeo OTT explodiu, crescendo 29,4%.

O streaming virou o porto seguro dos fãs de audiovisual que encontraram as salas fechadas durante boa parte dos últimos 17 meses. Habituado a assistir a pelo menos dois filmes nos cinemas antes da pandemia, o blogueiro Diorman Werneck, de 29 anos, não retomou a rotina cinéfila. Primeiro, por continuar se sentindo seguro em casa, onde assistia a seus programas via streaming. Mas, principalmente, por não se sentir mais tão atraído pelas estreias semanais.

"O streaming logo ocupou o horário que antes eu dedicava ao cinema - fechado em casa, se tornou meu principal passatempo", disse Werneck. "A decisão de não voltar aos cinemas foi motivada porque vários serviços de streaming começaram a trazer as estreias junto com as salas ou um tempo depois." O blogueiro, que assina três serviços de streaming, exemplifica: "Viúva Negra estava disponível no mesmo dia que estreou no cinema e só não assisti imediatamente porque considerei o valor cobrado pela ferramenta (Disney+) muito caro. Como eu sabia que logo estaria disponível, preferi esperar". Werneck assistiu em casa a longas como Tenet, Convenção das Bruxas e Cruella. "Com a comodidade de assistir em qualquer horário e mais de uma vez."

Reconexão

Apesar dos números desanimadores, o estudo da PwC aponta uma perspectiva otimista para o setor de mídia e entretenimento até 2025. No Brasil, a expectativa da pesquisa anterior (de 2020 a 2024) previa um crescimento de 2,5%. De 2021 a 2025, espera-se que o aumento seja de 4,7% - claro que partindo de um patamar baixo -, mais ou menos seguindo as previsões globais, de 5%.

O cinema é o segmento que deve crescer mais, cerca de 40% ao ano - o vídeo OTT deve continuar subindo cerca de 13% a cada 365 dias. Ainda assim, a arrecadação nas bilheterias nacionais, que foi de apenas US$ 96 milhões em 2020, deve chegar a US$ 518 milhões em 2025, mais ou menos o mesmo nível de 2016. "Já vemos alguma recuperação em 2021, mas a retomada deve se dar a partir de 2022. Ainda assim, também em termos de ingressos, ele volta apenas em 2025 ao nível de 2016", disse Ricardo Queiroz, sócio da PwC Brasil.

Quem é da área vê com certo ceticismo quaisquer previsões sobre o futuro. "Ninguém sabe de fato o que vai acontecer", disse Jean Thomas Bernardini, que é dono da distribuidora Imovision, dos cinemas Reserva Cultural, em São Paulo e Niterói, e da plataforma de streaming Reserva Imovision. "Estamos no meio de um túnel sem luz, sem saber quando vai acabar o túnel, se vai acabar, se tem um precipício no final do túnel ou uma floresta encantada."

No caso dos cinemas mais comerciais, houve um respiro a partir do final de maio, quando lançamentos como Cruella, Invocação do Mal 3, Velozes e Furiosos 9 e Viúva Negra chegaram às salas consecutivamente. Mas os números voltaram a baixar em agosto. "Ainda é uma incógnita", disse Juliano Russo, diretor comercial e de marketing da rede de cinemas Cinépolis Brasil. "Mas a expectativa para os próximos meses é boa. Veja a repercussão que o trailer de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa teve."

Bernardini acredita que a recuperação vai ser lenta. Em seu planejamento, a normalidade deve chegar apenas em 2024. "Até lá não tem como voltar aos números de antes, que já não eram tão bons, porque o cinema independente passava por uma crise", afirmou. "Eu só posso afirmar que 2022 ainda não vai ser normal. Vai melhorar, claro. Mas são muitos fatores, não apenas a vacinação. No Brasil temos a questão política, o cinema brasileiro que não se define."

Muitos distribuidores acabaram apostando no streaming como forma de ganhar algum dinheiro ou atrair novos assinantes para suas plataformas. Foi o caso da Warner, que lançou seus filmes simultaneamente nos cinemas e na HBO Max nos Estados Unidos, e da Disney, que colocou suas estreias ao mesmo tempo nas salas e no Disney+, com custo adicional. "Foi um teste e claramente não deu certo. Elas não estão faturando", disse Juliano Russo.

Para Ricardo Queiroz, não há remuneração adequada para grandes produções no streaming. "Elas precisam da primeira semana de bilheteria. O pacote mais caro da Netflix custa por volta de R$ 55. O ingresso de cinema é mais do que isso, a TV por assinatura, também. Então o cinema está empatado: as pessoas aprenderam a ver em casa durante a pandemia, mas a receita do streaming é ainda pequena." Para efeito de comparação, a previsão é que o gasto do brasileiro com vídeo OTT chegue a US$ 1,25 milhão em 2025. A TV por assinatura, mesmo com quedas anuais de 1%, deve faturar US$ 3 bilhões em 2025.

Por isso a Imovision decidiu não abolir a janela cinematográfica. Nenhum filme foi diretamente para a Reserva Imovision. "A gente tem os dois: uma plataforma que quer que cresça e um cinema que quer que volte. Obviamente que estamos torcendo para os dois", disse Bernardini.

Ninguém acredita que o cinema vai acabar, como muitos mensageiros do apocalipse andaram apregoando. "Conversei com muitos amigos no Festival de Cannes e não vi ninguém achando que o cinema ia parar. É uma diversão quase insubstituível. Não vejo um debate pessimista", disse Bernardini. Queiroz concordou. "Determinadas experiências não morrem nunca. É como a música: o que se ouve em uma live não é a mesma coisa que o show ao vivo. A experiência presencial vai continuar existindo. Mas as pessoas aprenderam a separar o que vale e o que não vale pagar."

Paixão pelo streaming

O brasileiro definitivamente se apaixonou pelo streaming. Segundo pesquisa realizada pelo Itaú Cultural, em parceria com o Datafolha, para medir os hábitos culturais durante a pandemia, sete entre dez brasileiros acessam plataformas de vídeo sob demanda no País. Foram ouvidas 2.276 pessoas de 16 a 65 anos entre os dias 10 de maio e 9 de junho.

Uma grande parte assiste diariamente. Dos 71% de brasileiros que têm acesso, 44% assistem todos os dias. Para 23%, a média é de mais de cinco horas diárias, com 26% dedicando duas horas para o streaming, 18% vendo três horas, 17%, uma hora, e 15%, quatro horas. Entre os usuários pesados, que veem os conteúdos todos os dias, 49% são mulheres, e 40% são homens; 51% são das classes D e E, ante 43% das classes A, B e C. Quem tem de 25 a 34 anos tende a consumir mais (49%), seguido daqueles com 16 a 24 anos (45%) e 35 a 44 (45%).

Na classe AB, a penetração das plataformas de streaming é de 94%, enquanto 74% da classe C e 43% da classe D usam os serviços.

Na Região Sudeste, 76% dos entrevistados utilizam o streaming. Nas Regiões Norte e Centro-Oeste são 73%, com 70% na Região Sul e 61% no Nordeste. Nos habitantes das capitais e regiões metropolitanas, 75% declaram assistir a filmes e séries nesses serviços, ante 68% no interior.

Em termos de faixa etária, 48% das pessoas com idades entre 30 e 45 anos utilizam as plataformas em relação a 44% daqueles com 17 a 25 anos, 33% dos que têm 46 a 60 anos e 26% de quem tem 26 a 30 anos. Apenas 8% dos maiores de 60 anos são usuários. Entre as crianças, 11% daquelas com 0 a 5 anos e 19% entre os pequenos de 6 a 11 anos e os adolescentes de 12 a 16 usam Netflix, Disney+ e companhia.

A maior parte assiste na televisão (49%), com 36% preferindo os celulares, 9%, os notebooks, e 5%, os computadores de mesa.

Os conteúdos preferidos são as séries, vistas por 77% dos usuários, seguidas por filmes estrangeiros (65%), filmes nacionais (49%), infantis (45%), animações (42%) e shows de música (36%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O cantor Roberto Carlos foi o convidado pela TV Globo para abrir o Show 60 anos, que comemorou o aniversário da emissora na noite de segunda-feira, 28, em uma arena de shows na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Roberto cantou Emoções e Eu Quero Apenas, ao vivo, com sua inconfundível afinação.

O que pouca gente percebeu é que, após a transmissão do evento, a Globo passou uma chamada no estilo 'o que vem por aí' e, entre as atrações anunciadas, estava 'Roberto Carlos em Gramado'.

O Estadão questionou a assessoria do cantor se o anúncio indica a renovação de contrato de Roberto com a Globo - o vínculo venceu em 31 de março deste ano. De acordo com a assessoria de Roberto, a renovação está em "95% acertada, faltando apenas alguns detalhes" para o martelo final. A reportagem também perguntou à TV Globo sobre o assunto, mas não obteve resposta.

Sobre o especial de fim de ano ser gravado em Gramado, cidade da serra gaúcha, a equipe do cantor afirma que as conversas são muito preliminares ainda. "Foi apenas uma ideia que alguém deu", diz a assessoria. A decisão se dará mais para frente, no segundo semestre, quando o cantor e a emissora vão discutir o formato e o local de gravação do especial.

No Show 60 anos, Roberto se sentiu à vontade. Além de ser muito aplaudido, foi paparicado pelos artistas nos bastidores. Recebeu e tirou fotos com vários deles, como Cauã Reymond, Fafá de Belém e Fábio Jr. O cantor deixou o local por volta de duas horas da manhã, quase uma hora após o final do show.

Roberto Carlos fez seu primeiro especial na TV Globo em 1974 e, nesses mais de 50 anos, só deixou de apresentá-lo por duas ocasiões, quando sua mulher, Maria Rita, morreu, e durante a pandemia. Aos 84 anos, Roberto segue em plena atividade. Em maio, fará uma longa turnê pelo México. Na volta, se apresenta em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, entre outras cidades.

Cauã Reymond publicou nas redes sociais uma foto ao lado de Fábio Porchat e Tatá Werneck durante o show comemorativo dos 60 anos da TV Globo.

"Que noite incrível e especial pra @tvglobo, pra mim e pro Brasil! Um show de emoção, humor, esporte, afeto. Feliz demais pelos 60 anos dessa emissora que está no imaginário e na história de todo mundo", escreveu o ator na legenda. Confira aqui.

O registro foi publicado horas depois de uma esquete protagonizada por Tatá, Porchat e Paulo Vieira no palco do evento.

Durante a apresentação, os humoristas fizeram piadas sobre as polêmicas dos bastidores do remake de Vale Tudo.

No número cômico, Tatá menciona rapidamente os "bastidores de Vale Tudo", e Paulo emenda: "Não fala tocando, não fala tocando. Abaixa o braço, tá com um cecê de seis braços". Fábio rebate: "Pelo amor de Deus, é a minha masculinidade". Tatá completa: "Que masculinidade, Fábio?".

Nas redes sociais, internautas rapidamente interpretaram a brincadeira como uma referência aos rumores de tensão entre Cauã Reymond e Bella Campos durante as gravações da novela.

Segundo relatos, Bella teria reclamado do comportamento do ator nos bastidores. A Globo não se pronunciou oficialmente sobre o assunto, mas o tema ganhou destaque nos comentários online após a exibição do especial.

Bruno Gagliasso comentou publicamente pela primeira vez sobre a invasão de sua casa, registrada no início de abril.

Em conversa com a imprensa durante o evento de 60 anos da TV Globo, o ator afirmou, segundo a colunista Fábia Oliveira: "Rapaz, invadiram, mas deu tudo certo".

O caso ganhou repercussão nas redes sociais após o relato de Giovanna Ewbank. A apresentadora, que estava em casa com os filhos, contou que uma desconhecida entrou na residência da família, sentou-se no sofá da sala e chegou a pedir um abraço.

Segundo Giovanna, a mulher conseguiu acessar o imóvel depois que uma funcionária a confundiu com uma conhecida da família.

Próximos projetos

Além de comentar o ocorrido, Bruno Gagliasso falou sobre seus 20 anos de carreira e destacou o personagem Edu, da série Dupla Identidade, como um dos papéis mais marcantes de sua trajetória.

"Fiz personagens que guardo pro resto da minha vida, que me fizeram crescer como ser humano. Ficar 20 anos fazendo personagens que dialogam com a sociedade só me enriquece como ser humano e como ator", afirmou.

Sobre os próximos passos na carreira, o ator brincou: "Quem sabe fazer o remake de A Viagem, aproveitar que estou com esse cabelo e fazer o Alexandre (Guilherme Fontes)".