Cinebiografia explora obra de Fassbinder com o frenesi do diretor

Geral
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder (1946-1982) dizia que seu dia tinha 26 horas. Quando alguém lhe recomendou descansar um pouco mais, respondeu que teria muito tempo para dormir depois de morto. Não demorou muito. Fassbinder se foi com 37 anos, vítima de uma overdose, e deixou atrás de si uma obra imensa, mesmo em termos numéricos: 43 filmes, além de 24 peças de teatro e duas séries de TV. Uma delas, Berlin Alexanderplatz, adaptada do romance de Alfred Döblin, com duração de 16 horas. Não surpreende que vida tão intensa seja retratada de modo frenético na cinebiografia Fassbinder: Ascensão e Queda de um Gênio, disponível na plataforma Cinema Virtual.

No filme, dirigido por Oskar Roehler, Fassbinder é interpretado por Oliver Masucci. Tem problemas. O ator parece muito velho para o personagem assim que a história começa, quando Fassbinder é diretor de teatro e ainda não havia descoberto a potencialidade do cinema. Mesmo assim, o ator se assemelha muito ao personagem, em especial na intensidade doentia e na relação trágica mantida com o mundo.

Ao abraçar o cinema, com O Amor É Mais Frio que a Morte, em 1969, Fassbinder, vindo do teatro, descobre a arte ideal para se tornar o grande retratista da Alemanha do pós-guerra, o que fez em obras como O Casamento de Maria Braun, Lili Marlene e Lola. Ia do retrato social, como em Berlin Alexanderplatz, ao melodrama de Lágrimas Amargas de Petra von Kant. É artificial separar essas vertentes - a política estava no melodrama e vice-versa. Não se trata de confusão. Apenas admissão de que a experiência humana não cabe em rótulos, categorias ou gêneros cinematográficos. Fassbinder era caótico o suficiente para atravessar fronteiras sem qualquer dificuldade.

No entanto, o filme não se preocupa tanto com questões estéticas. Procura retratar a trajetória pessoal de um criador atormentado e nada romântico. Desde o teatro, Fassbinder mantinha atrás de si um grupo, uma corte de amigos e amigas, atores e atrizes, agentes, agregados e aproveitadores que viviam quase em comunidade. O consumo de álcool do grupo só poderia ser medido em hectolitros. Depois entrou em cena a cocaína que, consumida em doses industriais, precipitou o fim do artista.

De raspão, o filme passa pelo período efervescente da política europeia, com grupos extremistas como o Baader-Meinhoff, na Alemanha, sendo dizimados e seus líderes "suicidados" na prisão. Esse contexto tem repercussões na vida e obra do cineasta. Mas as tensões maiores de Fassbinder são vividas no interior do seu grupo fechado, com brigas por papéis em novos filmes, favores sexuais e atribuição de cotações aos atores, o que aumentava a rivalidade além do suportável. A disputa pela atenção de um artista transformado em guru de seita esfacela relacionamentos e cobra seu preço em vidas. O próprio Fassbinder era autodestrutivo e semeava o caos ao seu redor. Era algoz e vítima ao mesmo tempo.

Numa existência transformada em panela de pressão permanente, a centelha de gênio que o habitava o fazia trabalhar muito e rapidamente, com excepcional qualidade. Vivia a pensar, escrever e filmar, enquanto passava de um amante a outro. Funcionava turbinado por cocaína em tempo integral. O filme procura mimetizar, em sua estrutura, esse modo de vida lisérgico, destinado a ser muito breve, e trágico em seu limite. Em conformidade, a estética tende ao kitsch, é veloz, teatral, mas de teatro de cabaré.

Na composição desse impulso rumo ao abismo, não se pode esquecer o inconformismo do artista com a Alemanha, seu país, derrotado na guerra que provocou e causou a morte de milhões de pessoas. A ambição de Fassbinder - que não chegou a realizar - era retratar integralmente sua pátria, do passado ao seu tempo atual, por etapas e em filmes separados. Não foi possível completar o quadro, mas o que deixou é bem significativo.

Querelle, adaptado de Jean Genet, foi seu último trabalho e testamento - e não por acaso é a referência maior de Oskar Roehler, tanto visualmente quanto em citações de cenas. Não por acaso, também, é nesta obra que Jeanne Moreau interpreta a canção de Peer Raben, cujas palavras - "Todo homem mata aquilo que ama" - soam como epitáfio de Rainer Werner Fassbinder. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

O festival Turá anunciou nesta segunda-feira, 5, as atrações de sua quarta edição, que acontece nos dias 28 e 29 de junho, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Seu Jorge, Raça Negra e Só Pra Contrariar são alguns nomes da programação, exclusiva de artistas nacionais, cuja proposta é a diversidade de gêneros e ritmos musicais.

No sábado, 28, line-up conta com Só Pra Contrariar, Seu Jorge, Lenine e Spok Frevo Orquestra, Pretinho da Serrinha convida Criolo e Leci Brandão, Bonde do Tigrão, Forró das Minas, e os DJs Luísa Viscardi e Trepanado.

Já no domingo, 29, o evento terá Gloria Groove, Raça Negra, Saulo convida Luiz Caldas, Samuel Rosa, Gabriel O Pensador, Samba de Dandara, e os DJs Millos Kaiser e Linda Green.

Os ingressos para o Turá já estão a venda no site da Tickets For Fun ou na bilheteria física oficial (sem taxa), no Teatro Renault. A entrada para apenas um dos dias do festival custa entre R$ 228 (meia) e R$ 456. O passaporte (combo de entradas para os dois dias), R$ 330 (meia) e R$ 660. Clientes Banco do Brasil Ourocard Visa têm desconto de 15% na compra e possibilidade de parcelamento em até 10 vezes sem juros.

Confira aqui

A A24 e a Apple lançaram, nesta segunda-feira, 5, o primeiro trailer de Highest 2 Lowest, novo filme de Spike Lee estrelado por Denzel Washington. No longa, o vencedor do Oscar vive um magnata da indústria musical, conhecido por ter "os melhores ouvidos do negócio", que é envolvido em uma trama com reféns e se vê dividido em um dilema de vida ou morte.

Inspirado em Céu e Inferno, filme de 1963 dirigido por Akira Kurosawa, Highest 2 Lowest é o quinto trabalho de Lee estrelado por Washington. Os dois trabalharam juntos em Mais e Melhores Blues (1990), Malcolm X (1992), Jogada Decisiva (1998) e O Plano Perfeito (2006).

O elenco de Highest 2 Lowest conta ainda com Jeffrey Wright (Ficção Americana), Ilfenesh Hadera (Godfather of Harlem), Aubrey Joseph (Manto e Adaga) e o cantor A$AP Rocky.

O longa será lançado nos cinemas norte-americanos em 22 de agosto e estreia no Apple TV+ em 5 de setembro.

Confira o trailer aqui

Desde o lançamento da primeira prévia de Superman, fãs do personagem têm se mostrado extremamente ansiosos para ver mais de Krypto, o Supercão, mascote histórico do Homem de Aço. Diretor do longa, James Gunn revelou em postagem nas redes sociais que o agitado cãozinho foi criado usando seu próprio cachorro, um vira-lata chamado Ozu, como modelo.

Em um vídeo que mostra Ozu latindo para uma televisão que exibia o teaser mais recente do filme, Gunn disse que "Krypto foi modelado tridimensionalmente a partir do corpo de Ozu". "Fizemos a captura em 3D de Ozu e o transformamos em Krypto, deixamos ele branco, [e agora] toda vez que ele se vê na tela, ele tenta se assassinar", contou o cineasta.

confira aqui

Em uma postagem de outubro de 2024, Gunn já havia contado um pouco sobre a relação entre Krypto e Ozu, que ele adotou no começo do processo de escrita do roteiro de Superman. Segundo ele, o cachorro, que foi encontrado em meio a dezenas de outros cachorros abandonados, nunca havia interagido com humanos e teve adaptação difícil à nova casa. "Ele imediatamente entrou e destruiu nossa casa, nossos sapatos, nossos móveis - ele até comeu meu laptop. Demorou muito para ele nos deixar tocá-lo. Lembro de pensar 'Deus, quão difícil seria a vida se Ozu tivesse superpoderes?' - e assim, Krypto entrou no roteiro e mudou o curso da história como Ozu estava mudando minha vida", escreveu ele.

Escrito e dirigido por Gunn, Superman estreia nos cinemas brasileiros em 11 de julho. O elenco conta com David Corenswet (Twisters) como Clark Kent/Superman, Rachel Brosnahan (Marvelous Mrs. Maisel) como Lois Lane, Nicholas Hoult (Jurado Nº 2) como Lex Luthor, Skyler Gisondo (The Righteous Gemstones) como Jimmy Olsen e Milly Alcock (A Casa do Dragão) como a Supergirl. Nathan Fillion (Recruta), Anthony Carrigan (Barry), Isabela Merced (The Last of Us) e Edi Gathegi (For All Mankind) completam o elenco como Lanterna Verde, Metamorfo, Mulher-Gavião e Sr. Incrível, respectivamente.