Aos 50 anos, 'A Vaca Voadora' ainda tem o que dizer aos leitores de hoje

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Em dezembro de 1972, chegava às livrarias um dos romances mais divertidos e originais da literatura brasileira: A Vaca Voadora, de Edy Lima (1924-2021). O sucesso veio rápido: em março de 1973, A Vaca Voadora aparecia na lista dos livros mais vendidos publicada pelo Estadão, logo abaixo de pesos pesados como Tereza Batista Cansada de Guerra, de Jorge Amado, e Incidente em Antares, de Erico Verissimo. Ao longo daquele ano, A Vaca Voadora reapareceu nas listas de mais vendidos. Era o único livro infantil disputando posições com best-sellers como Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach.

O que teria levado um livro para crianças a tais alturas, no disputado campo literário brasileiro daqueles anos de chumbo? Talvez, um pouco de alquimia literária.

A Vaca Voadora pode ter agradado a adultos e a crianças por motivos diferentes, porque é narrativa das mais ambivalentes. No cadinho do romance, Edy Lima misturou ingredientes de gêneros reconhecidos como infantis, como contos de fadas, a elementos de gêneros voltados para adultos, como a farsa - em que ela era mestra - e mais algumas pitadas do que se convencionou chamar de Teatro do Absurdo. Parece incrível? Não era, para alguém como Edy Maria Dutra da Costa Lima.

Gaúcha de Bagé, ela deixou a cidade natal aos 19 anos para trabalhar como jornalista na Revista do Globo, em Porto Alegre. Nas décadas seguintes, viveu em São Paulo e no Rio, atuando como jornalista, romancista, dramaturga, editora de discos infantis, roteirista de novelas, tradutora e autora de dezenas de livros. Suas produções mais famosas provavelmente são A Farsa da Esposa Perfeita, de 1959, e a adaptação para o teatro de Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, levada aos palcos em 1961. É a série de livros iniciada com A Vaca Voadora, porém, que permanece em circulação.

A muito premiada Edy Lima saiu de cena discretamente, no dia 1.º de maio de 2021. Sua morte não foi noticiada pela grande imprensa. A série de livros com A Vaca Voadora é hoje publicada pela Global Editora.

Lalau, o protagonista de A Vaca Voadora, tinha boa explicação para a ausência de certas notícias nos veículos de comunicação naqueles idos de 1970. O primeiro voo da vaca não virou notícia, embora testemunhado por muita gente:

"Nosso voo, eu soube depois, não mereceu nenhum noticiário da televisão nem dos jornais. Mais tarde entendi que só se torna notícia o que é anunciado com antecipação. E que a imprensa, falada ou escrita, como dizem, só toma conhecimento do que de antemão lhe é oferecido como algo sensacional. Claro que minhas tias não telefonaram avisando coisa nenhuma. Por isso, os que viram a vaca voando acharam que estavam enganados e preferiram ficar quietos. Afinal, o que não foi afirmado com antecedência que vai acontecer não pode acontecer. E essa é uma regra bem estabelecida, que ninguém gosta de quebrar".

Eis um bom exemplo da ambivalência textual do romance. Adultos poderiam perceber, na fala de Lalau, a ironia com que os mecanismos da censura então vigente no País eram denunciados; crianças poderiam entender as reflexões do menino de outras maneiras, menos (ou nada) angustiantes. Com esse tipo de alquimia textual, Edy Lima conquistou um prêmio Jabuti de melhor livro infantil, no terrível ano de 1975, com o provocador título A Vaca Proibida. As aventuras da vaca eram sempre valentes e ambivalentes.

Eram também absurdas, como os tempos que corriam. Lalau, o menino que narra a história, vive com tia Cristina Maria, a Quiquinha, que é alta, magra e alquimista, e tia Maria Cristina, a Maricotinha, que é baixa, gorda e cozinheira. As personagens são tão caricaturais que funcionam como tipos complementares. Sua caracterização lembra muito a das personagens da farsa, gênero cultivado com sucesso por Edy no teatro. Fazem lembrar, ainda, o esquema básico das peças de Samuel Beckett, que, segundo Martin Esslin, em seu clássico O Teatro do Absurdo, era o "dos pares de personalidades interdependentes e complementares". Vladimir e Estragon, a dupla (tragi)cômica de Esperando Godot, têm personalidades complementares.

No processo de destilação da farsa em romance infantil, Edy Lima manipula recursos semelhantes aos usados por Beckett em suas peças, como na seguinte cena:

"- Este é Lalau, filho da enteada da cunhada de uma prima de Aniceta.

Gumercindo ergueu-me nos braços (eu tinha 6 anos nesse tempo) e me beijou emocionado.

As lágrimas corriam-lhe pelo rosto:

- Um neto de Aniceta é para mim mais que um filho. Conte comigo, menino, fui o primeiro namorado de Aniceta e só não casamos porque ela morreu daquela maneira…".

Não há, na literatura brasileira para crianças, protagonista cuja origem seja mais embaralhada do que a de Lalau. Personagens órfãos ou abandonados pelos pais são quase um clichê em histórias infantis, de Cinderela a Harry Potter. A novidade, em A Vaca Voadora, é o modo como as tias usam a linguagem para explicar quem é Lalau: "Filho da enteada da cunhada de uma prima de Aniceta". Cada nova palavra obscurece o sentido da anterior. A explicação produz um emaranhado de relações de parentesco que impedem conhecer a origem do menino.

A explicação das tias e a resposta de Gumercindo são de uma comicidade quase aflitiva, para adultos - e deliciosa, para crianças. O diálogo lembra aqueles de Esperando Godot: as palavras são familiares, assim como os conceitos que evocam, mas as frases, deformadas por uma descontinuidade elaborada, não fazem o sentido que habitualmente esperamos delas.

Para alívio geral, os efeitos da manipulação cuidadosa de recursos tão sofisticados por Edy Lima são muito distintos daqueles do Teatro do Absurdo. A narrativa de A Vaca Voadora é difusa, mas celebra a alegria e os muitos sentidos para a vida que crianças e adultos podem criar juntos. O romance cinquentão ainda tem o que dizer aos leitores de hoje, surpreendidos diariamente por absurdos - alguns novos, outros mais antigos, da época em que A Vaca Voadora alçava seus primeiros voos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O Troféu Imprensa 2025 divulga sua lista de vencedores no SBT na noite deste domingo, 4. Durante a cerimônia, os apresentadores Patricia Abravanel e Celso Portiolli conversaram com Carlos Alberto de Nóbrega, que comanda o humorístico A Praça É Nossa, que recebeu o Troféu Imprensa Pela História por conta de sua trajetória na TV.

Ele se emocionou ao relembrar os passos do pai, Manoel de Nóbrega: "A Praça é a minha vida, porque eu pude continuar um trabalho que o meu pai teve só 14 anos [para fazer], coitado. Eu tô há 38 fazendo. E sempre que eu entro eu me lembro dele".

Na sequência, recordou a importância de Silvio Santos para trazê-lo ao SBT em 1987. "[Foi] a maneira que achei para dizer 'muito obrigado' para o Silvio pelo que ele fez pelo meu pai - Porque todo mundo fala o que meu pai fez pelo Silvio, ninguém fala sobre o que o Silvio fez pelo meu pai. Eu sei."

"Vou dar o meu melhor. No dia que a Praça acabar, não sei, eu vou junto", continuou. Em outro momento, brincou, fazendo referência a Daniela Beyruti, filha de Silvio e presidente do SBT: "Estou aqui há 38 anos e espero ficar mais, viu dona patroa? [Olhou na direção de Daniela] Eu quero fazer 90 anos aqui! [Risos]".

Patricia Abravanel valorizou o prêmio dado a Carlos Alberto de Nóbrega: "É um troféu pela sua história. Você está sendo o primeiro a ganhar um troféu pela sua história, dedicação ao entretenimento, ao humor, à televisão brasileira."

O ator David Harbour passou pelo Brasil em novembro do ano passado, quando participou da conferência D23, da Disney, e falou ao Estadão sobre o que os fãs podiam esperar de Thunderbolts*, novo filme da Marvel que acaba de estrear nos cinemas brasileiros.

Contido e com medo de spoilers, o ator bateu na tecla de que o longa mudaria o rumo da Casa das Ideias - uma conversa que, no final das contas, acaba surgindo sempre em entrevistas com atores da Marvel. Mas, algo chamou a atenção: a devoção de Harbour a Florence Pugh.

Espontaneamente, o Jim Hopper de Stranger Things falou sobre a colega de elenco. Vale ressaltar que, até aquele momento, não estava claro quem seria o protagonista do filme.

"Acho que uma das coisas de que mais gosto em Thunderbolts* é que a Florence Pugh é a líder do filme. Acho que ela tem uma força e uma presença. É provavelmente a melhor atriz entre nós", afirmou Harbour, de maneira muito franca. "Fico feliz em ser ator coadjuvante para uma mulher como ela. É menos sobre diversidade e mais sobre capacidade".

Agora, com Thunderbolts* finalmente nas telonas, dá para notar duas coisas: Florence Pugh é realmente uma atriz extraordinária, elevando a qualidade do filme para outro patamar, e Harbour parece realmente uma pessoa feliz em ser a "escada" do elenco.

O papel de Guardião Vermelho

No novo longa-metragem da Marvel, ele interpreta novamente o Guardião Vermelho, herói da época da União Soviética e que também é o emocionado pai da personagem de Pugh. Aqui, ele passa a fazer parte desse time de anti-heróis ao lado de Yelena (Pugh), Soldado Invernal (Sebastian Stan), John Walker (Wyatt Russell) e Fantasma (Hannah John-Kamen).

Nessa equação toda, Harbour é o mais coadjuvante de todos. Pugh é a protagonista absoluta, Stan tem o peso de já fazer parte do universo há bons anos, Wyatt ganha pontos pelo arco dramático em Falcão e o Soldado Invernal e John-Kamen também sai um pouco à frente por já ter aparecido como vilã de Homem-Formiga e a Vespa. Já Harbour apareceu em Viúva Negra, mas nunca assumindo um posto de peso.

Ainda assim, Harbour é uma das almas de Thunderbolts* - e ajuda o filme a ser realmente bom, livrando um peso das costas da Disney. No novo filme, o norte-americano é o alívio cômico da coisa toda, interpretando esse russo exagerado e histriônico que tenta ter mais proximidade com a filha. Não há grande dramaticidade ou momentos importantes do astro.

"Não quero dar nenhum detalhe a mais. Acho que vocês deveriam ver o filme com uma mente aberta, sem expectativas, e então vão perceber que ele realmente se encaixa no universo, mas o leva para uma direção diferente, o que é divertido", explicou o ator ao Estadão, também em novembro, sem dar pistas exatas sobre seu papel de fato no filme.

Especialista em papéis secundários memoráveis

Harbour construiu uma carreira sólida aparecendo em papéis secundários que, invariavelmente, roubam a cena. Antes de seu grande momento como Jim Hopper, ele já havia demonstrado esse talento em obras como O Segredo de Brokeback Mountain (2005), onde interpretou um personagem pequeno mas marcante.

Na TV, Harbour apareceu em séries aclamadas como The Newsroom, onde interpretou Elliot Hirsch, e Manhattan, como Dr. Reed Akley. Em ambos os casos, mesmo sem ser o protagonista, conseguiu entregar performances que ficaram na memória dos espectadores.

Em Hellboy, de 2019, finalmente ganhou um papel protagonista, mas ironicamente não conseguiu o mesmo brilho que tem em papéis menores. Foi em Viúva Negra que ele realmente mostrou sua vocação para ser o complemento perfeito em grandes produções, roubando as cenas como o Guardião - mesmo dividindo tela com Scarlett Johansson.

"Eu acho que há algo no DNA de alguns atores que os torna especialmente bons em papéis de apoio. É preciso ter capacidade de criar algo memorável em pouco tempo", disse o ator em entrevista à Entertainment Weekly em 2023, questionado sobre ser coadjuvante. "Não é sobre quanto tempo você está na tela, mas o que você faz com esse tempo."

Vale lembrar que, recentemente, Harbour também deixou sua marca em filmes como Sem Remorso, ao lado de Michael B. Jordan, e em Agente Oculto, da Netflix - todos como coadjuvante. Neste ano, também está em um pequeno papel em Resgate Implacável, filme com Jason Statham - ele interpreta um colega da época do exército com problemas de visão.

"Acho que posso não ser a estrela principal em muitos projetos, mas sou aquela peça do quebra-cabeça que ajuda a dar forma ao todo", confessou o ator ao The Hollywood Reporter em uma entrevista de 2022. "E, honestamente, isso me agrada muito. Há uma liberdade criativa em papéis coadjuvantes que nem sempre se tem como protagonista."

Reconhecimento além das câmeras

Mesmo com esse destaque como coadjuvante, porém, Harbour se consagrou e fez seu nome. É querido, reconhecido e tietado. Ao Estadão, falou sobre essa relação com os fãs e a relação com a fama.

"Há dias bons e ruins. É bonito quando seu trabalho toca tanto as pessoas que elas sentem no coração e te amam por isso", reflete o ator, que provocou grande euforia ao aparecer em eventos recentes. Mas ele pondera: "Às vezes pode ser difícil, porque uma das coisas que eu realmente gosto é a sensação de anonimato. No fim, esse é um preço que estou disposto a pagar".

Sabrina Sato publicou um texto em homenagem ao marido, Nicolas Prattes, por conta de seu aniversário de 28 anos de idade, comemorado neste domingo, 4. A postagem foi feita junto a um vídeo com diversos momentos do casal em família.

"Viva você! Viva essa sua alma cheia de luz, propósito e uma vontade quase teimosa de viver tudo intensamente. Como eu admiro tudo isso. Estar ao seu lado é como estar num filme que mistura romance, comédia e aventura e você, claro, é o protagonista gato, forte, sensível, inteligente", escreveu.

Em seguida, Sabrina Sato prosseguiu: "Você me faz sair da minha realidade. Quando estou com você, esqueço dos problemas, das crises existenciais e que eu já tinha 16 anos e estava entrando na faculdade quando você nasceu. Porque você transforma tudo em leveza".

"Obrigada por compartilhar essa vida comigo. Você me faz viver algo único. Surreal. Quase um sonho. Só que com beijo bom, risada boba e amor de verdade. Te amo com tudo o que sou e com tudo o que você é e vem. Feliz aniversário, amor da minha vida."

Confira a publicação de Sabrina Sato em homenagem a Nicolas Prattes aqui.