Polícia conclui inquérito sobre jovem que se matou após fake news

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Alerta: A reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda

A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu nesta quarta-feira, 6, o inquérito sobre a morte de Jéssica Vitória Canedo, estudante de 22 anos que tirou a própria vida após a circulação de fake news sobre ela nas redes sociais. O caso ocorreu no fim do ano passado em Araguari, no Triângulo Mineiro.

Conforme a investigação policial, foi a própria Jéssica quem criou o rumor de que estaria em um relacionamento com o humorista Whindersson Nunes e compartilhou com páginas de fofoca por meio de ao menos três perfis falsos no Instagram.

Em depoimento à polícia, o humorista negou ter se envolvido com ela. O Estadão entrou em contato com a família de Jéssica, mas não foi atendido.

Representantes de páginas da internet que propagaram a notícia, como o canal Choquei, também chegaram a ser ouvidos durante o inquérito, mas não foram responsabilizados. Já uma jovem de 18 anos, de Rio das Ostras (RJ), foi indiciada por instigação ao suicídio. O nome dela não foi revelado.

O primeiro passo da investigação, segundo a Polícia Civil, foi identificar quais foram as primeiras páginas a postar a fake news para entender quais foram suas fontes. "Essas páginas apontaram três perfis do Instagram", disse ao Estadão o delegado Felipe Monteiro, responsável pela investigação.

A partir de então, a polícia se debruçou para obter mais informações dos perfis indicados, seja em relação aos dados inseridos para criação das contas ou aos computadores e celulares usados para acessá-los. "E todos esses dados apontavam para endereços, e-mails e telefones ligados à própria jovem (Jéssica Canedo)", disse Monteiro.

De acordo com o delegado, dois dos perfis investigados foram criados em dezembro do ano passado e outro deles alguns meses antes. Amigas ouvidas pela investigação apontaram que a criação de contas falsas era uma conduta comum de Jéssica. "Relataram que já tinha histórico dela criar perfis falsos", disse.

Ainda segundo as investigações, dois dos perfis falsos remetiam a homens e outro a uma mulher - em um deles, eram usadas fotos inclusive de um parente de Jéssica. "Era alguém com quem ela já tinha tido inclusive um conflito recente", explicou o delegado. Informações como essa, disse, ajudaram a corroborar a tese de que ela própria teria criado as contas.

Monteiro afirma que, uma vez que esses perfis foram criados, eles foram usados para disparar a notícia falsa de um relacionamento entre Jéssica e Whindersson. Não se sabe o que motivou essa ação. "Essa notícia inclusive caiu num grupo de rede social que tem várias páginas, vários blogueiros. Alguns publicaram e outros deixaram de publicar", disse.

Na avaliação dele, houve "falta de cuidado" das páginas que postaram, mas a conduta não pode ser enquadrada como instigação ao suicídio. "Não dá para imputar responsabilidade criminal pela morte", disse. "As páginas faltaram com cuidado, e essa falta de cuidado é uma conduta culposa. Mas estamos falando do crime de instigação ao suicídio."

Com a repercussão da notícia falsa, Jéssica passou a receber uma enxurrada de comentários ofensivos. A Polícia Civil afirmou que a jovem de Rio das Ostras foi identificada por meio de levantamentos policiais feitos a partir dos aparelhos eletrônicos da vítima, o que auxiliou a localizar as mensagens no direct do Instagram.

"Foram mensagens explícitas incitando o suicídio", disse Monteiro. Segundo mapeamento da polícia, a jovem de 18 anos foi a única usuária que mandou mensagens com esse teor. O delegado afirma que Jéssica não respondeu às mensagens, mas as investigações indicam que ela leu e chegou a mostrar para a mãe, o que indica que teria se abalado com o conteúdo.

A reportagem buscou contato com Choquei e Whindersson Nunes, mas ainda não obteve retorno.

Relembre o caso

Natural de Araguari, região do Triângulo Mineiro, Jéssica Vitória Canedo se matou no dia 22 de dezembro do último ano.

Conforme apurado pela polícia, ela passava por tratamento de depressão e, à época da ocorrência, teria ficado desestabilizada com a repercussão do suposto relacionamento amoroso entre ela e Whindersson Nunes.

O artista prestou depoimento à polícia e negou qualquer tipo de contato com a jovem.

Onde buscar ajuda?

Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:

Centro de Valorização da Vida (CVV)

Se precisar de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.

Canal Pode Falar

Iniciativa criada pelo Unicef, braço das Nações Unidas para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato com o Canal Pode Falar pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.

SUS

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.

Mapa da Saúde Mental

O site Mapa da Saúde Mental traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais. (Colaborou Roberta Jansen)

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