'Hoje, atriz de 50 anos tem cada vez menos trabalho'

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O carioca Marcus Montenegro, 51 anos, começou a carreira como ator aos 19, mas, cinco anos depois, passou para o outro lado da cena e, junto com Nilson Raman, começou a produzir peças de teatro. Em pouco tempo, tinham com eles nomes como Bibi Ferreira, Nathalia Timberg, Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça. Além de produzir, também se tornaram agentes de atores e, até 2018, eram sócios na Montenegro & Raman.

Há três anos à frente da Montenegro Talents, que tem em seu cast 320 atores, 25 autores e seis diretores, ele divide no livro Ser Artista - Guia Para uma Carreira Sólida No Mundo da Atuação, escrito com Arnaldo Bloch, dicas de condução de carreira artística. Fala sobre talento, vocação e ego. Tudo misturado às suas memórias de mais de 32 anos de carreira.

"Sou um dos agentes mais antigos em atividade, conheço muito o mercado. Tenho boas histórias, sobretudo com as grandes damas do teatro brasileiro, que são minha absoluta paixão, de quem já produzi mais de 100 espetáculos, no Brasil e no exterior", diz em entrevista ao Estadão.

O livro ganhará uma adaptação para os palcos, assinada por ele e a dramaturga Regiana Antonini com estreia prevista para o segundo semestre. O ator Caco Ciocler, com quem trabalha há 25 anos, será o protagonista.

Montenegro também tem outra bandeira: a que cobra bons papéis para atores com mais de 50 anos em produções na TV, cinema e streaming. No ano passado, quando a Globo anunciou que não renovaria o contrato de estrelas como Glória Menezes, Tarcísio Meira, Antonio Fagundes, Stênio Garcia, Vera Fischer, entre outros, ele conseguiu renovar o vínculo de nomes como Eva Wilma, Rosamaria Murtinho, Mauro Mendonça, Luís Melo e Nicette Bruno, morta em dezembro, vítima da covid-19.

"Com o passar do tempo, os papéis para veteranos ficaram cada vez menores e mais raros. Recentemente, uma atriz de 42 anos fez o papel de mãe de um ator de 28 anos. Por que não colocaram uma mulher de 50 e poucos anos?", questiona.

O livro traz inúmeras dicas para atores. É algo que as pessoas lhe pediam?

Quando encerrei a Montenegro & Raman, algo que já era planejado, montei a Montenegro Talentos e mudei o foco somente para agenciamento e desenvolvimento de conteúdo. Não faço mais produção. Criei minha palestra sobre condução de carreira e passei a apresentá-la em congressos de elenco. Deu muito certo. Fui me aprimorando nessa área. Comecei a atender, um sábado por mês, cincos pessoas individualmente para avaliação de carreira artística. A partir disso, resolvi colocar essas dicas em um livro. Muita gente me procura, mas não tenho espaço para essa demanda no meu escritório.

Recentemente, você criou a campanha "Eu Quero Veteranos na TV". Hoje eles estão perdendo espaço nas novelas?

Quando você analisa o elenco das novelas do passado, constata que mais da metade era de atores de meia-idade para cima. Elas tinham bons personagens, com arcos dramáticos, inseridos na trama dentro do núcleo principal. Com o passar do tempo, os papéis para veteranos ficaram cada vez menores e mais raros. Recentemente, uma atriz de 42 anos fez o papel de mãe de um ator de 28 anos. Por que não colocaram uma mulher de 50 e poucos anos? Hoje, uma atriz de 50 anos, que já protagonizou uma novela com 20, 30 anos, tem cada vez menos possibilidades de trabalho. Toda a indústria criativa - novela, cinema, séries, streaming - precisa olhar para os veteranos. E, quando digo veterano, é de 45-50 anos para cima. A partir dessa idade, os papéis já ficam mais difíceis. Nos Estados Unidos, Reino Unido e Espanha, os veteranos fazem muito sucesso em séries. O Brasil precisa seguir esse caminho.

E por que isso acontece?

São dois fatores: a audiência e as redes sociais. Os diretores de televisão querem levar para a TV essa força que os jovens atores têm na internet. Porém, a meu ver, falta bom senso. O encontro entre gerações precisa existir. É a troca de bastão, é quando se aprende. É preciso encontrar um equilíbrio.

A campanha tem relação com as recentes dispensas de atores veteranos pela Globo?

Não. Deixo muito claro que isso não tem nada a ver com o contrato vitalício. Entendo que a economia em crise gera redução de custos. Faz parte. Isso não invalida que a empresa olhe para esses atores e os contrate por obra. Minha luta é para que o mercado volte a criar bons personagens para esses atores.

Você trabalha com atores como Ana Lúcia Torre, Suely Franco, Nathalia Timberg. Elas sempre são chamadas...

A Suely é um exemplo de como os veteranos são bem recebidos pelo público. Ela e Ary Fontoura tiveram uma grande aceitação dentro de A Dona do Pedaço (2019). Ela foi a atriz que mais fez merchandising na novela, com mais de 20 ações. E ainda fez sucesso como par romântico do Ary. Foi uma aceitação total. Nathalia, aos 91 anos, estava na segunda turnê da peça Através da Íris com teatro lotado. Só parou por causa da pandemia.

Atores veteranos precisam ser atuantes nas mídias sociais?

É fundamental. O ator veterano, pela experiência, tem toda condição de gerar um bom conteúdo, mais qualificado. Ary Fontoura e Vera Holtz fazem conteúdos maravilhosos. Vera usa seu talento e inteligência para fazer uma crítica da sociedade por meio da arte, de maneira genial. Ary se reinventou. Ele está brincando de maneira deliciosa, proporcionando que uma geração mais nova tenha acesso a ele. Isso não invalida o ator que ele é. A Suely Franco conta piadas. Cada um tem a sua particularidade. O público quer essa aproximação com o ídolo.

No seu livro, você fala e dá dicas sobre o self tape (um vídeo de apresentação para agentes e produtores de elenco). Os atores veteranos também precisam se render a ele?

Sim, não para a TV aberta, mas para o streaming. Muitos produtores de elenco do streaming são de fora e não conhecem muito bem o potencial dos atores brasileiros. É uma moda que chegou, um padrão americano, e os diretores querem ter opções na hora de escolher. Acho que sempre funciona bem, é válido.

As produções de novela já voltaram, com muitas restrições, mas as peças ainda estão em ritmo mais lento, muitos teatros não reabriram. Qual é a previsão para o mercado este ano?

A retomada deve ocorrer no segundo semestre. A previsão é que, a partir de maio, a vacinação ganhe um ritmo maior e, com isso, o público deve voltar a ter confiança de frequentar lugares fechados. Há uma grande previsão da retomada de musicais a partir de julho, em São Paulo. São quatro ou cinco previstos para estrear.

Seu livro vai virar uma peça que terá Caco Ciocler como protagonista. Por que o escolheu para contar sua história nos palcos?

Caco é um dos meus clientes mais antigos. Trabalhamos juntos há quase 25 anos. É um dos atores que mais admiro, não só pelo talento, mas também pelo caráter, postura e posicionamento na profissão. É intenso, maduro. Ele é tudo o que eu gostaria de ter em um ator para fazer esse espetáculo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Anora foi o grande vencedor do prêmio de Melhor Filme do Oscar 2025. Ainda Estou Aqui, longa brasileiro que concorria na categoria, não foi escolhido pelos votantes.

O longa custou US$ 6 milhões para ser produzido - um dos menores orçamentos da história da premiação - e, nas últimas estimativas, faturou cerca de US$ 38 milhões de bilheteria ao redor do mundo.

Indicações de 'Anora' ao Oscar 2025

Anora foi indicado em seis categorias no Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor Edição.

Outros prêmios

Em maio de 2024, Anora venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e se colocou como um sério concorrente ao Oscar. Ao longo da temporada, no entanto, viu os filmes rivais ganharem mais destaque e, apesar de ser bastante elogiado pela crítica, passou a ser tratado como um azarão.

A maré mudou nas últimas semanas. Surpreendentemente, o longa venceu o prêmio de Melhor Filme no Critics Choice Awards. Confirmando o bom momento, também foi vitorioso no Directors Guild Awards, no Producers Guild Awards e no Writers Guild of America Awards, três dos principais prêmios dos sindicatos de Hollywood.

Sobre o que é

Em Nova York, a jovem stripper Anora (Mikey Madison) conhece o filho de um oligarca russo e engata um improvável romance. Após um casamento impulsivo em Las Vegas, a família de Ivan Zakharov (Mark Eydelshteyn) planeja retornar para os Estados Unidos com um único objetivo - anular a união entre o casal. Descrito como um "conto de fadas às avessas", o longa subverte a história da Cinderela para falar sobre as falhas do Sonho Americano.

Elenco

Em Anora, Mikey Madison interpreta Ani, uma jovem stripper que se deslumbra com a vida de luxos que o dinheiro pode proporcionar. O papel rendeu a atriz uma indicação ao prêmio de Melhor Atriz. Já Mark Eydelshteyn é Ivan Zakharov, filho de um oligarca russo que contrata os serviços de Ani por tempo indeterminado.

Yura Borisov interpreta Igor, um capanga russo da família Zakharov. O papel rendeu ao ator uma indicação ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. Completam o elenco Karren Karagulian e Vache Tovmasyan, que interpretam outros dois capangas da família Zakharov, e Aleksei Serebryakov e Darya Ekamasova, que vivem o pai e a mãe de Ivan, respectivamente.

Entrevistas

Em entrevista ao Estadão, Sean Baker e Mikey Madison discorreram sobre o que torna Anora um longa tão único. Em especial, falaram sobre a temática de trabalhadores sexuais - uma constante no trabalho de Baker - e sobre como o filme busca quebrar as expectativas do público.

"Sempre pensei em Anora como algo fora do 'mainstream' e um pouco divisivo por causa de seus temas, mas ele parece estar agradando às pessoas de maneira universal. E isso é maravilhoso", afirmou Sean Baker.

Críticas

O filme foi bastante elogiado pela crítica internacional. No site Rotten Tomatoes, que agrega análises de profissionais da indústria, o longa conta com 93% de aprovação. No New York Times, a obra de Sean Baker foi descrita como o "nascimento de uma estrela".

"Esse papel exige que ela [Mikey Madison] vá ao extremo, com elementos de pastelão, romance, comédia e tragédia, além de dançar com pouquíssima roupa e dar uns socos poderosos", escreveu a crítica Alissa Wilkinson. "E a cada momento Madison fica mais fascinante."

"Anora é uma fábula moderna e obscena, povoada por strippers e capangas. Como a maioria dos filmes de Baker, fala sobre os limites do sonho americano, sobre as muitas paredes invisíveis que se interpõem no caminho das fantasias de igualdade e oportunidade, sobre como se erguer pelas próprias pernas", finalizou.

Polêmicas

A principal polêmica de Anora decorreu da falta de um coordenador de intimidade no set de filmagem de Sean Baker. O cargo, que vem ganhando cada vez mais importância em Hollywood, é responsável por supervisionar cenas íntimas que envolvam sexo simulado e nudez.

Em uma era pós-Me Too, o trabalho do supervisor garante que todos os envolvidos se sintam seguros e possam se manifestar caso algo os deixe desconfortável. Em Anora, cenas de sexo e nudez compõem uma boa parte do filme. Baker e a equipe, no entanto, optaram por não utilizar um coordenador de intimidade durante as gravações do longa.

"Foi uma escolha que fiz. A produção me ofereceu, se eu quisesse, um coordenador de intimidade", afirmou Mikey Madison no quadro Actors on Actors, da Variety. A atriz explicou que a decisão foi tomada por ela e por Mark Eydelshteyn e que, apesar da polêmica, a experiência foi extremamente positiva para ela.

Onde assistir

Em cartaz, Anora estreou nos cinemas brasileiros em 23 de janeiro. Não há previsão, no momento, para exibição em plataformas de streaming.

Os indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2025

Anora

O Brutalista

Um Completo Desconhecido

Conclave

Duna: Parte 2

Emilia Pérez

Ainda Estou Aqui

Nickel Boys

A Substância

Wicked

'O Brutalista' vence Oscar de melhor trilha sonora. O filme disputou categoria com Conclave, O Robô Selvagem, Wicked e Emilia Pérez. O longa venceu prêmio de melhor fotografia também.

Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional na noite deste domingo, 3. É o primeiro longa brasileiro a conquistar o feito. O diretor Walter Salles dedicou prêmio a Eunice Paiva. Ele também dedicou estatueta a Fernanda Torres e Fernanda Montenegro. "É uma coisa extraordinária", disse sobre vitória.

A produção superou os concorrentes Emília Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha), A Garota da Agulha (Dinamarca) e Flow (Letônia). O francês, que venceu o Prêmio do Júri em Cannes 2024 e foi indicado a 13 categorias do Oscar, incluindo a de melhor filme, foi considerado como o favorito nos primeiros momentos da disputa, mas acabou se envolvendo em diversas polêmicas.