Morre Iván Izquierdo, neurocientista especialista em memória

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Um dos mais renomados neurocientistas do Brasil e do mundo, o pesquisador Iván Izquierdo morreu nesta terça-feira, 9, aos 83 anos, em sua casa em Porto Alegre (RS), algumas semanas após ter desenvolvido um quadro grave de covid-19.

Argentino naturalizado brasileiro, o pesquisador era uma das principais referências nos estudos sobre memória em todo o mundo. Trabalhando com ciência básica, ele desvendou os mecanismos bioquímicos e fisiológicos envolvidos na formação das memórias, em como elas são evocadas, como persistem e também como são esquecidas, no que é considerado um dos seus trabalhos seminais.

Essas pesquisas formaram a base de estudos sobre a doença de Alzheimer que são atualmente o foco principal do Instituto do Cérebro (InsCer) da PUC do Rio Grande do Sul, que ele ajudou a fundar em 2012.

"Ele mostrou como os organismos precisam esquecer para dar lugar a novas memórias. Essa identificação de que para a memória existir é preciso esquecer e que o esquecimento não é algo ruim, mas sim muito importante, foi fundamental", disse ao Estadão o também neurocientista Roberto Lent, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e amigo de longa data de Izquierdo.

"Não seria possível estudarmos hoje a doença de Alzheimer se não tivéssemos as bases, fornecidas por Izquierdo, de como funciona a memória e como esquecemos", complementou Jaderson Costa da Costa, atual diretor do InsCer.

"Ele era um homem inspirador, culto, tinha uma dedicação e uma persistência para fazer pesquisa nesse País que nunca foi muito fácil para a ciência. Ele não só conseguiu se dedicar e se aprofundar nas pesquisas de memória como colocou esse núcleo de pesquisa no Brasil em padrões internacionais", disse Costa.

Autor de capítulos e livros sobre o assunto, Izquierdo dedicou um especialmente a esse tema. A Arte de Esquecer revela por que o esquecimento é tão fundamental para o funcionamento das nossas memórias. Segundo ele, "a arte de não saturar os mecanismos da memória é algo inato, algo que nos beneficia de maneira anônima, pois nos impede de naufragar em meio às nossas próprias recordações".

Ao longo dos mais de 60 anos de carreira, ele também se dedicou às memórias emotivas, especialmente às relacionadas ao medo, que se, por um lado, são fundamentais à nossa sobrevivência, também são um dos mecanismos principais por trás do estresse pós-traumático. Izquierdo entendia que era possível lidar com elas, mas não apagá-las.

Formado em medicina pela Universidade de Buenos Aires, na Argentina, Izquierdo veio para o Brasil em 1973. Foi logo no começo professor de Fisiologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e depois se instalou na Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde ficou até se aposentar, como professor de Bioquímica. Na UFRGS ele se tornou tornou professor emérito, em 2014. Em 2004, se mudou para a PUC-RS, onde atuou como professor de Neurologia e mentor do InsCer até falecer.

Em nota enviada pelo instituto, o reitor da PUC-RS, Evilázio Teixeira, definiu como "inquestionável" o legado de Izquierdo como pesquisador e formador de novas gerações de cientistas. "Os frutos de seu trabalho seguirão se multiplicando nas áreas do saber em que imprimiu seu nome e produção científica, especialmente na neurociência. A PUCRS se solidariza com sua família, amigos, colegas, alunos e orientandos", disse.

Lent também ressaltou a capacidade inspiradora que Izquierdo tinha sobre seus alunos e colegas. "Em toda sua trajetória, da Argentina ao Brasil, ele deixou uma enormidade de discípulos, alunos que se tornaram professores em todas as universidades por onde ele passou. Ele continuava colaborando com os grupos da Argentina, da Unifesp. Por onde ele passou, deixou um rastro de colaboradores e novos cientistas", disse ao Estadão.

A neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, da UFRGs, conta que foi lendo um capítulo sobre memória escrito por Izquierdo em um livro-texto de neurociência que ela se inspirou a seguir nessa área.

"Ele escrevia com paixão não só sobre as pesquisas que ele consolidou, mas do assunto como um todo. Dava para sentir isso lendo os textos dele e aquilo me fez querer também me tornar aquele tipo de profissional. Ele me mostrou que era possível falar de um assunto complexo de um modo acessível", diz a pesquisadora, que atua também com divulgação científica.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), lamentou a perda em seu perfil no twitter. "O mundo perdeu hoje um dos seus maiores neurocientistas. Iván Izquierdo, 84 anos, argentino de nascimento e, para nosso orgulho, radicado no RS, era referência mundial em pesquisas sobre memória. Que sua trajetória inspire as novas gerações e simbolize a valorização da ciência", escreveu.

Premiações internacionais

Izquierdo era membro da Academia Brasileira de Ciências e um dos poucos estrangeiros a também compor a Academia de Ciências dos Estados Unidos. Ao longo da carreira, publicou cerca de 700 artigos em periódicos científicos com quase 23 mil citações. O neurocientista recebeu mais de 60 prêmios e distinções nacionais e internacionais, como a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico (1996), o Prêmio Conrado Wessel (2007), o Prêmio Almirante Alvaro Alberto (2010), e o título Doutor Honoris Causa das universidades de Paraná e Córdoba.

Em 2017, foi o único brasileiro entre os três vencedores do Prêmio Internacional para Pesquisa em Ciências da Vida 2017, da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) por suas descobertas na elucidação de mecanismos dos processos de memória, incluindo consolidação, recuperação e aplicação clínica em envelhecimento. Em 2018 foi laureado com o prêmio Cientista do Ano, na área de neurociências, pelo Instituto Nanocell. Ele é também o pesquisador com o maior número de citações acadêmicas da América Latina.

Izquierdo deixa a esposa, Ivone, filhos e netos. O velório será nesta quarta-feira, 10, das 8h às 11h no Crematório Metropolitano de Porto Alegre.

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A pianista Betsy Arakawa, mulher do ator Gene Hackman, morreu em decorrência da síndrome pulmonar por hantavírus, segundo aponta o laudo da autópsia divulgado nesta terça-feira, 29, pela Associated Press. O documento revela que os pulmões de Betsy estavam "pesados e congestionados", e que ela apresentava acúmulo de líquido na cavidade torácica.

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