Poluição mata 50 toneladas de peixes no interior de SP; usina é multada em R$ 18 milhões

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O despejo de uma substância poluente causou a morte de 50 toneladas de peixes entre os dias 7 e 15 deste mês, no Rio Piracicaba, no interior de São Paulo, de acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). A maior mortandade aconteceu na região do Tanquã, reserva ambiental conhecida como Mini Pantanal Paulista.

Nesta sexta-feira, 19, a Cetesb multou em R$ 18 milhões a Usina São José, apontada como responsável pela poluição. O Ministério Público Estadual abriu inquérito para apurar o desastre ambiental. A empresa alega que não foi comprovada sua responsabilidade pelo despejo e colabora com a apuração do incidente.

Segundo estimativa da Cetesb, morreram ao menos 235 mil espécimes nativos em decorrência da poluição. A agência informou ter identificado a relação direta entre o extravasamento de resíduos da cana-de-açúcar na Usina São José e a morte dos peixes. A substância poluente resulta do processo industrial e do melaço da cana-de-açúcar utilizado na fabricação de açúcar e álcool.

O montante da multa foi agravado pelo alto volume de peixes mortos e pelo atingimento de área de proteção ambiental. A agência ambiental vai estabelecer exigências técnicas e medidas corretivas a serem adotadas pela usina.

Conforme a agência, com o extravasamento na usina, no dia 7, as águas residuárias com mel de cana-de-açúcar, substância densa e de difícil diluição, foram arrastadas para o Ribeirão Tijuco Preto, afluente do Piracicaba. A água ficou ácida e a carga orgânica foi levada até o Rio Piracicaba, reduzindo o nível de oxigenação da água a zero e inviabilizando a vida aquática. A poluição foi arrastada por cerca de 60 quilômetros, se acumulando no Tanquã, onde causou outro grande evento de mortandade na última segunda-feira, 15.

De acordo com a diretora-presidente em exercício da Cetesb, Mayla Fukushima, a equipe da agência realizou inspeções e coletas, localizou a fonte poluidora e adotou medidas para evitar novo extravasamento. "O resultado das análises laboratoriais coletadas, das investigações e inspeções realizadas não deixam dúvida sobre a relação entre o extravasamento do material poluente da Usina São José e os episódios de mortandade de peixes que aconteceram nos dias 7 e 15 de julho", disse.

A agência usou imagens de satélite e colhidas por drones para quantificar o número de animais mortos e realiza tratativas para a retirada das carcaças, objetivando interromper a contaminação do local. Uma força-tarefa que reúne outros órgãos do governo, como a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística e Fundação Florestal, além da Cetesb, atuará em parceria com a prefeitura de Piracicaba para remover os peixes mortos.

Em nota, a Usina São José diz que segue à disposição das autoridades e não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público. "Em relação ao relatório da Cetesb, a empresa está avaliando o teor da decisão, bem como seus eventuais desdobramentos. Por ora, cabe destacar que até o momento a empresa não recebeu evidências que demonstrem nexo causal entre suas operações e a mortandade de peixes registrada ao longo do Rio Piracicaba e no Tanquã."

Segundo a empresa, termo de vistoria ambiental da Polícia Militar Ambiental de 8 de julho conclui não ter havido "apontamento de danos ambientais no ato da vistoria". O mesmo documento, segundo a usina, aponta a existência de uma galeria pluvial sob a Ponte do Funil, que estaria "despejando um líquido perene com volume alto, amarelado e odor forte, através de uma manilha de plástico de 10 polegadas".

O local fica a 12 quilômetros da usina, entre Santa Bárbara d'Oeste e Limeira, e não foi considerado no relatório final apresentado nesta sexta, segundo a empresa.

Ainda conforme a usina, o relatório aponta "lançamento de efluentes de cor escura e odor característico de esgoto sanitário" e "carreamento de material flutuante" em saídas de estações de tratamento de efluentes no Ribeirão dos Toledos, em Santa Bárbara d'Oeste, mas não aprofunda investigações a respeito. "As operações da usina estavam interrompidas desde 2020, tendo sido retomadas somente em maio de 2024; nos últimos 10 anos houve pelo menos 17 ocorrências dessa natureza na região", afirma.

A Usina São José informou ainda que não tem produção de etanol e, portanto, não gera a vinhaça, subproduto presente em vários dos casos registrados anteriormente. "O relatório não menciona inspeção e monitoramento em empresas que tenham sido autuados anteriormente, nem em outros trechos do rio onde possa ter havido eventuais despejos irregulares."

50 toneladas de peixes mortos

A prefeitura de Piracicaba informou que usa tratores aquáticos para remover as 50 toneladas de peixes mortos, segundo cálculos de seus técnicos. Os trabalhos começaram na tarde desta sexta-feira e devem prosseguir durante o fim de semana.

As máquinas vão recolher o material e levá-lo até a margem, onde caminhões farão o carregamento e o transporte até o aterro sanitário, em Piracicaba, para fazer o descarte do material. Os peixes que morreram na área urbana do município, no início da mortandade, já foram recolhidos e totalizaram 2,97 toneladas.

O Ministério Público, através da promotoria cível de Piracicaba, abriu inquérito nesta quinta-feira, 18, para apurar a mortandade. O MP informou ter acionado o plantão da Cetesb quando os primeiros peixes apareceram mortos. Na terça, 16, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) estiveram em vistoria na Usina São José, em Rio das Pedras. Segundo o MP, a extensão dos danos está sendo avaliada.

O inquérito está em trâmite no Gaema de Piracicaba. "Além das medidas administrativas de caráter urgente e necessárias responsabilizações civis (reparação de danos materiais e morais) e criminais, mais uma vez essa nova mortandade de peixes demonstra a necessidade de recuperação da qualidade e das condições do Rio Piracicaba, que se encontra em preocupante situação de vulnerabilidade", disse, em nota o MP.

O Tanquã, também chamado Mini Pantanal Paulista, ocupa uma área de 15 hectares entre os municípios de Piracicaba, Anhembi, Santa Maria da Serra e São Pedro, no interior de São Paulo. A área é alagadiça devido ao remanso que se formou na foz do Rio Piracicaba, que deságua no Rio Tietê, após a construção da barragem de Barra Bonita, na década de 1950.

O ecossistema úmido, com lagoas e braços de rios, semelhante ao Pantanal sul-mato-grossense, abriga 290 espécies de aves, muitas delas aquáticas, 12 de répteis, 19 de mamíferos, 25 de anfíbios e 89 de peixes. Muitas aves são migratórias e fazem escala no local para se alimentar. Desde 2018, o Tanquã é considerado Área de Proteção Ambiental (APA) do governo estadual, sendo de uso sustentável, podendo ser explorada por atividades de baixo impacto, como a pesca e o turismo.

Pesca comprometida

O pescador Francisco Chagas, de 43 anos, da Colônia de Pesca Z-20 de Barra Bonita, disse que a mortandade vai comprometer a pesca no Rio Piracicaba e no lago de Barra Bonita nos próximos cinco anos ou mais. "Morreu dourado de 10 quilos, um peixe que leva dez anos para chegar a esse peso. Morreu curimbatá, pacu, corvina, mandi, traíra e piapara, que são peixes nativos, que demoram para crescer. É diferente do peixe criado em tanque-rede, tratado com ração", disse.

Chagas, que é filho de pescador e "nascido na beira do rio", conta que já viu quatro ou cinco mortandades de peixes no Rio Piracicaba, mas nenhuma tão grande como esta. "Essa peixada toda estava voltando da piracema, tinha subido o rio para desovar e voltava para povoar a área onde pescamos. Morreu tudo. São centenas de pescadores como eu que vão ficar sem trabalho por três, quatro, ou mais anos. Os barcos da nossa e de outras colônias estão todos parados", disse.

De acordo com o professor Flávio Bertin Gandara Mendes, do Departamento de Ciências Biológicas da Esalq/USP, o impacto na fauna aquática pode ser revertido, mas é um processo contínuo e deve durar vários anos. "A mortandade foi muito grande e matou peixes de grande porte, como pintados e dourados, que levam anos para crescer. Na próxima piracema, virão poucos filhotes e haverá uma redução drástica na oferta de peixes, não só para a pesca, mas para uma fauna grande que depende dessa cadeia alimentar", disse.

Segundo ele, além de aves aquáticas que vivem na região, como o gavião-caramujeiro e a águia-pescadora, serão afetadas as aves migratórias que fazem escala no Tanquã para se alimentar. Entre elas estão aves de grande porte do Pantanal, como o tuiuiú e o cabeça-seca. "As migratórias menores, que fazem longos percursos, vão fazer escala em outros locais, mas ficarão mais vulneráveis até que o rio volte a ter peixes. Uma estratégia para abreviar esse tempo é fazer a soltura de alevinos", disse.

Para isso, segundo o especialista, é preciso aguardar que as condições do rio melhorem. Os poluentes que passaram pelo Tanquã podem estar agora contaminando o lago de Barra Bonita e descendo pela calha do Rio Tietê. "Como o volume de água no lago é maior, essa poluição ficará mais diluída, porém deve continuar causando impacto. É preciso que a bacia seja monitorada", disse.

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O corpo da cantora Nana Caymmi será velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro nesta sexta-feira, 2, a partir das 8h30. O enterro ocorrerá às 14h, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.

Uma das principais cantoras do Brasil, Nana morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, depois de ficar nove meses internada na Casa de Saúde São José, no Rio, para tratar uma arritmia cardíaca. De acordo com nota divulgada pelo hospital, a causa da morte de Nana foi a disfunção de múltiplos órgãos.

Ao Estadão, o irmão de Nana, o músico e compositor Danilo Caymmi, afirmou que, além da implantação de um marcapasso para corrigir a arritmia cardíaca, Nana apresentava desconforto respiratório e passava por hemodiálise diariamente. Nana também sofria de um quadro de osteomielite, uma infecção nos ossos, que lhe causava muitas dores. Segundo ele, Nana esteve lúcida por todo o tempo, mas, no dia 30 de abril, entrou em choque séptico.

Filha do compositor Dorival Caymmi, Nana começou a carreira no início dos anos 1960, ao lado do pai. Após se afastar da vida artística para se casar - ela teve três filhos, Stella, Denise e João Gilberto -, Nana retomou a carreira ainda na década de 1960, incentivada pelo irmão Dori Caymmi.

Nos anos 1970 e 1980, gravou os principais compositores da música brasileira, como Milton Nascimento, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Sueli Costa, Ivan Lins, João Donato e Dona Ivone Lara.

Em 1998, conheceu a consagração popular ao ter o bolero Resposta ao Tempo, de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, incluído como tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, da TV Globo.

Nana gravou discos regularmente até 2020, quando lançou seu último trabalho, o álbum Nana, Tom, Vinicius, só com canções de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

A cantora Nana Caymmi, que morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, fez aniversário no último dia 29 de abril. Internada desde julho de 2024, Nana recebeu uma mensagem da também cantora Maria Bethânia, de quem era amiga.

Bethânia escreveu: "Nana, quero que receba um abraço muito demorado, cheio de tanto carinho e admiração que tenho por você. Querida, precisamos de você e da sua voz. Queremos você perto e cheia de suas alegrias, dons e águas do mar na sua voz mais linda que há. Amor para você, hoje, seu aniversário, e sempre. Rezo à Nossa Senhora para você vencer esse tempo tão duro e difícil. Peço por sua voz e por sua saúde. Te amo. Sua irmã, Maria Bethânia".

Nana e Bethânia tinham uma longa relação de amizade e gravaram juntas no álbum Brasileirinho, de Bethânia, lançado em 2003. Bethânia afirmou mais de uma vez que Nana era a maior cantora do Brasil.

De acordo com informações divulgadas pela Casa de Saúde São José, onde Nana estava internada há nove meses para tratar de problemas cardíacos, a cantora morreu às 19h10 desta quinta-feira, em decorrência da disfunção de múltiplos órgãos.

Morreu nesta quinta-feira, 1° de maio, Nana Caymmi, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos. A morte foi confirmada pelo irmão da artista, o também músico e compositor Danilo Caymmi. Ela estava internada havia nove meses em uma clínica no Rio de Janeiro.

"Eu comunico o falecimento da minha irmã, Nana Caymmi. Estamos, lógico, na família, todos muito chocados e tristes, mas ela também passou nove meses sofrendo em um hospital", disse Danilo Caymmi.

"O Brasil perde uma grande cantora, uma das maiores intérpretes que o Brasil já viu, de sentimento, de tudo. Nós estamos, realmente, todos muito tristes, mas ela terminou nove meses de sofrimento intenso dentro de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital", acrescentou o irmão, em um vídeo publicado no Instagram.

Nas redes, amigos e admiradores também prestaram homenagens à cantora.

"Uma perda imensa para a música do Brasil", escreveu o músico João Bosco, com quem Nana dividiu palcos e microfones. Bosco também teve canções interpretadas por Nana Caymmi, como Quando o Amor Acontece.

O cantor Djavan disse que o País perde uma de suas maiores cantoras e ele, particularmente, uma amiga. "Descanse em paz, Nana querida. Vamos sentir muito sua falta, sua voz continuará a tocar nossos corações."

Alcione também diz que perdeu uma amiga e que a intérprete, filha de Dorival Caymmi, tinha "a voz". "Quem poderá esquecer de Nana Caymmi?"

"Longe, longe ouço essa voz que o tempo não vai levar! Nana das maiores, das maiores das maiores", postou a cantora Monica Salmaso, que já tinha prestado uma homenagem para Nana na última terça, quando a artista completou 84 anos. "Voz de catedral", descreveu Monica na ocasião.

O escritor, roteirista e dramaturgo Walcyr Carrasco disse que, nesta quinta, a música brasileira deve ficar em silêncio em respeito à partida da artista. "Que sua voz siga ecoando onde houver saudade. Meus sentimentos à família, amigos e admiradores!"

A deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSOL-SP) disse que Nana Caymmi tinha umas das vozes "mais marcantes da música popular brasileira" e que a cantora deixa um "legado extraordinário" para o Brasil por meio de interpretações "únicas e carregadas de emoção". "Que sua arte siga viva, e que ela descanse em paz", disse a parlamentar.

A artista Eliana Pittman diz que se despede com tristeza de Nana Caymmi, a quem descreveu com uma das uma "das maiores vozes" que o Brasil já teve, e elogiou a cantora pela irreverência e forte personalidade.

"Nana nunca se curvou a convenções: cantava o que queria, do jeito que queria - e por isso, marcou gerações", disse Eliana, que também fez elogios qualidade técnica da intérprete. "Sua voz grave, seu timbre inconfundível e sua forma tão particular de existir na música deixam um vazio irreparável".

O Grupo MPB4 postou: "Siga em paz, querida Nana Caymmi! Nosso mais fraterno abraço para os amigos Dori Caymmi, Danilo Caymmi (irmãos de Nana Caymmi) e toda a família".