Como Churchill combateu a barbárie com palavras

Geral
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Quando Winston Churchill assumiu o cargo de primeiro-ministro britânico, em maio de 1940, a situação da 2ª Guerra Mundial era delicada: a Alemanha havia invadido a Noruega, a Bélgica, a Holanda e Luxemburgo, e se preparava para ocupar a França. O bombardeio aéreo que devastou Roterdã em 14 de maio daquele ano levou à rendição dos Países Baixos e soava como um prelúdio do que a força aérea alemã pretendia fazer na Inglaterra. Nessa "atmosfera de medo real" - conforme escreveu em seu diário o secretário Harold Nicolson, do Ministério da Informação -, Churchill ascendeu ao poder e teve de usar a principal arma à sua disposição para se defender do arsenal de Hitler: a palavra.

É o que descreve em detalhes o livro O Esplêndido e o Vil, do jornalista norte-americano Erik Larson. O autor se debruçou sobre diários, cartas, discursos e papéis avulsos para narrar o período de um ano e meio entre a ascensão de Churchill e a entrada dos Estados Unidos na guerra, em dezembro de 1941, ponto de virada do conflito.

Boa parte da narrativa compreende a blitz aérea da Alemanha contra o Reino Unido, que levou a mais de 44 mil mortes de civis. Enquanto isso, Hitler pressionava Churchill a assinar um acordo de paz, o que parecia a muitos a única alternativa restante sem o apoio dos EUA.

Considerar óbvia a irredutibilidade moral de Churchill, que se negava a barganhar com o nazismo, não passa de anacronismo. Larson mostra não apenas que ele era criticado por não negociar, mas que praticamente ninguém concebia a ideia de que Hitler poderia ser vencido. Essa era a principal razão pela qual os EUA se limitavam a observar a distância. Em maio de 1940, 93% dos americanos se opunham à entrada do país na guerra e o presidente Franklin Roosevelt, que queria se reeleger, prometeu não se envolver.

A convicção da iminente vitória alemã era tamanha que o secretário Nicolson chegou a fazer um pacto com sua mulher, a escritora Vita Sackville-West, de que cometeriam suicídio para evitar serem capturados pelos alemães. O próprio Churchill carregava uma cápsula de cianeto na tampa de sua caneta-tinteiro. Nesse contexto, seus discursos eram a única arma para motivar os ingleses, desmoralizar os alemães e convencer os americanos a colaborar com o que Churchill chamava de "a Boa Causa".

Do memorável "Não tenho nada a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor" ao inquietante "Se a história antiga desta nossa ilha deve acabar enfim, que só acabe quando cada um de nós estiver no chão, afogando-nos no sangue deles", Larson transcreve trechos inteiros de discursos de Churchill. Para cada ataque alemão, havia uma bomba equivalente do arsenal de palavras do primeiro-ministro. À época, ele já era reconhecido como um brilhante orador, e não é por acaso que, em 1953, foi galardoado com o prêmio Nobel de Literatura "por sua maestria na descrição histórica e biográfica, assim como sua brilhante oratória na defesa dos valores humanos".

O Esplêndido e o Vil evidencia como esses pronunciamentos foram capazes de alterar aos poucos a opinião pública e, com isso, os rumos da História. Se o atentado japonês na base naval de Pearl Harbor, entre as ondas do Havaí, foi a gota d'água que restava para a entrada dos EUA na guerra, o resto do copo havia sido preenchido pelas explosivas palavras transmitidas por Churchill pelas ondas do rádio. Larson respondeu às seguintes perguntas do Estadão por e-mail.

Em que medida os discursos de Churchill influenciaram os eventos da guerra?

Para mim, o livro é uma história pessoal sobre como Churchill, sua família e seus conselheiros mais próximos conseguiram resistir à primeira e mais relevante blitz aérea alemã. Eu quis usar essa experiência para capturar a história maior de como a Inglaterra como um todo sobreviveu a isso. E aí os discursos de Churchill foram vitais. Ele começava fornecendo avaliações sóbrias dos eventos, mas então seguia com causas reais para o otimismo e, invariavelmente, encerrava com virtuosos floreios que elevavam o moral das pessoas e faziam todos se sentirem no mesmo barco. Como ele próprio disse, ele não deu coragem à Inglaterra; ele ajudou as pessoas a encontrar sua própria coragem.

Guerras são lutadas com armas, mas é possível dizer que Churchill usou suas habilidades oratórias para contra-atacar bombas com palavras?

Isso se deu porque seus pronunciamentos eram tão poderosos e tão belamente escritos, ou melhor, ditados. O que é realmente miraculoso sobre Churchill era sua habilidade de compor discursos intrincados e detalhados na correria, ditando, tipicamente enquanto andava ao redor de uma sala com um charuto na boca. Ajudava o fato de ele ser um escritor prolífico e um ávido leitor, e ter uma grande noção da história inglesa e mundial. Isso era importante, pois lhe dava uma perspectiva ampla sobre o que estava se passando. Ele entendia que o Império Britânico havia existido por um período de tempo muito grande e duraria muito tempo ainda. Seu truque era persuadir o público - uma tarefa na qual ele foi muito bem-sucedido.

A História não admite "se", mas você consegue imaginar como a guerra poderia ter sido sem essas habilidades singulares de Churchill?

Eu tento evitar especular sobre a História! Dito isso, eu acho provável que outro alguém teria desempenhado esse papel caso Churchill não tivesse existido. Mas eu não posso imaginar alguém fazendo isso com tanta cor, humor, brio - e álcool!

Que lições sobre liderança Churchill oferece aos governantes lidando com a crise da pandemia de covid-19?

Eu creio que o livro seja útil ao mostrar como um verdadeiro líder pode ajudar a população a resistir ao trauma prolongado. Uma grande parte disso foi a habilidade de Churchill de expressar compaixão e empatia, de modo que as pessoas sentiam que ele compartilhava de seus medos e sofrimentos. Isso é vital. Ele também falava ao público com franqueza, porque ele entendia que as pessoas sabiam quão séria era a situação. Dizer o contrário provocaria uma dissonância entre essa fantasia e a realidade objetiva que teria erodido o moral das pessoas. Em contraste, nós tivemos Trump, que nunca ofereceu compaixão ou empatia, preferindo negar a severidade e até a existência da pandemia, e de alguma forma conseguindo tornar até o simples ato de usar uma máscara em um gesto político divisor - com resultados infelizes, porém previsíveis.

Como foi o processo de pesquisa e por que você escolheu enfatizar e citar trechos de diários, cartas, telegramas e recados pessoais para recriar a atmosfera daqueles dias?

Para escrever o tipo de história que eu gosto de contar, preciso de todas essas coisas. Elas oferecem os vislumbres mais precisos e vívidos sobre como a vida realmente era vivida. E também servem como ferramenta narrativa para levar a história adiante. Alguns bons telegramas direto ao ponto ajudam a acelerar o ritmo. Sobre o porquê de citar certos documentos: sigo meus instintos. Se um diário parece particularmente vívido e cheio de insights, vou citá-lo. Por exemplo, o diário de Mary Churchill. Para mim, o diário faz todo o livro, ao oferecer uma ideia tão rica de como os Churchills realmente resistiram àquele período. Ela foi uma mulher tão inteligente e articulada, seu diário não apenas nos dá vislumbres das grandes questões da guerra e da política, mas também sobre a vida de uma garota de 17 anos durante essa época. Ela foi perspicaz ao sentir o peso da guerra e teve compaixão pelos que mais sofreram, mas também queria se divertir! E ela o fez bastante. O que nos lembra que, mesmo nos piores tempos, ainda é possível ter experiências alegres.

Sem diários e correspondência impressa, será mais difícil documentar os nossos dias desse jeito intimista que você retratou aquela época?

É difícil dizer. Certamente as pessoas não escrevem mais o tipo de cartas que costumavam e esse era um recurso poderoso para compreender o passado. Mas nós temos tuítes, postagens no Facebook e em blogs, podcasts em abundância e uma pilha inacabável de fotografias de tudo - especialmente de gatos. Na verdade, sinto que tuítes poderiam ser particularmente preciosos para os futuros historiadores. De certa forma, são os telegramas de hoje. É interessante que os Arquivos Nacionais dos EUA agora armazenem grandes quantidades de tuítes, o que é particularmente importante para este momento. Ninguém que tentar, no futuro, escrever sobre a era Trump será capaz de fazê-lo sem antes se debruçar sobre milhares e milhares de seus tuítes de sanidade questionável. Suspeito que os futuros historiadores vão lê-los e rir sobre o quão ridículos e patéticos esses tuítes eram.

O ESPLÊNDIDO E O VIL

Autor: Erik Larson

Trad.: Rosiane C. de Freitas e Rogério Galindo

Ed.: Intrínseca

(324 páginas, R$ 59,90, R$ 39,90 o e-book)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

Maike deixou o BBB 25 poucos dias após iniciar o romance com Renata. Mesmo com a distância, a bailarina não descarta um futuro relacionamento ao fim do programa. Neste sábado, 19, ela refletiu sobre a possibilidade em conversa com Guilherme.

"Acho que lá fora a vida é diferente, então têm outras coisas para conhecer, minhas e dele. Então acho que vai ter que existir esse momento de, lá fora, a gente se permitir outras coisas, ter uma nova conversa", pontuou Renata.

A bailarina disse que precisa conhecer o "currículo" do pretendente fora da casa. Contudo, acredita que a convivência ao longo do confinamento pode ajudar em alguns quesitos, já que eles se viram em diversas situações.

"Mas eu não deixei de viver nada aqui dentro. E não tem mais muito o que eu mostrar, ele já me viu com geleca na cabeça, com pipoca, pó na cara, caindo no molho de tomate, ele já me viu de todos os jeitos", refletiu aos risos.

Maike foi eliminado no 15º Paredão com 49,12% dos votos, no último dia 10. Na ocasião, ele disputou a berlinda com Vinicius, que teve 48,02%, e Renata, 2,86%.

Lady Gaga enfrentou problemas técnicos no início do show que fez nesta sexta-feira, 18, no Coachella. O microfone da cantora apresentou falhas durante Abracadabra, segunda música do repertório, cortando a voz da artista.

Sem interromper a apresentação, Gaga trocou discretamente o microfone de cabeça por um modelo de mão e manteve a coreografia. Depois de alguns minutos, ela voltou ao palco com um novo microfone que funcionou corretamente até o fim da performance.

Momentos depois, ao piano, a artista se desculpou com o público pelo problema técnico. "Meu microfone parou de funcionar por um segundo. Pelo menos vocês sabem que eu canto ao vivo", disse.

A artista completou afirmando que estava fazendo o possível para compensar a falha: "Acho que a única coisa que podemos fazer é dar nosso melhor, e com certeza, eu estou dando meu melhor para vocês hoje".

Lady Gaga no Brasil

Lady Gaga está preste a vir ao Brasil. O palco para o seu show em Copacabana, no dia 3 de maio, está sendo erguidona areia da praia desde o último dia 7, e envolve uma megaoperação com cerca de 4 mil pessoas na equipe de produção nacional - sem contar o efetivo de órgãos públicos que também atuam no evento, como segurança, transporte e saúde.

O palco principal terá 1.260 metros quadrados e estará a 2,20 metros do chão, altura pensada para melhorar a visibilidade do público. A produção ainda contará com 10 telões de LED distribuídos pela praia e um painel de LED de última geração no centro do palco, prometendo uma experiência grandiosa para quem estiver presente e também para aqueles que assistirem de casa.

A estrutura do evento está sob responsabilidade da Bonus Track, mesma produtora que assinou o histórico The Celebration Tour de Madonna no ano passado, também em Copacabana. Para efeito de comparação, o palco da Rainha do Pop tinha 24 metros de largura e 18 metros de altura, com três passarelas e um elevador. A expectativa é que o show de Gaga supere esses números em impacto visual e tecnológico.

A apresentação está prevista para começar às 21h, com duração de 2h30. O show será gratuito, aberto ao público e terá transmissão ao vivo na TV Globo, Multishow e Globoplay.

A banda britânica The Who anunciou neste sábado, 19, que o baterista Zak Starkey está de volta ao grupo. A decisão vem após a saída repentina do músico, que havia sido desligado após um desentendimento com o vocalista Roger Daltrey durante uma apresentação no Royal Albert Hall, em Londres.

O comunicado, assinado pelo guitarrista e cofundador do grupo Pete Townshend, esclarece que houve falhas de comunicação que precisaram ser resolvidas "de forma pessoal e privada por todas as partes", e que isso foi feito com sucesso. Segundo ele, houve um pedido para que Starkey ajustasse seu estilo de bateria para o formato atual da banda, sem orquestra, e o baterista concordou.

O episódio que gerou tensão aconteceu durante o show beneficente Teenage Cancer Trust, no qual o vocalista Roger Daltrey, organizador do evento, interrompeu a última música da apresentação, The Song Is Over, para criticar a bateria de Starkey. "Para cantar essa música, preciso ouvir a tonalidade, e não consigo. Só tenho a bateria fazendo 'bum, bum, bum'. Não consigo cantar isso. Desculpem, pessoal", disse ao público.

Na nova mensagem, Townshend também assumiu parte da responsabilidade pela situação. Ele explicou que estava se recuperando de uma cirurgia no joelho e que talvez não tenha se preparado o suficiente para o evento. "Achei que quatro semanas e meia seriam suficientes para me recuperar totalmente… Errado", escreveu.

O músico admitiu ainda que a banda pode ter dedicado pouco tempo às passagens de som, o que gerou problemas no palco. Ele reforçou que o centro do palco é uma das áreas com som mais difícil de controlar e que Daltrey apenas tentou ajustar seu retorno de áudio. Zak, segundo ele, cometeu alguns erros e se desculpou.

Townshend descreveu o ocorrido como um "mal-entendido" e disse que tudo ganhou uma proporção maior do que deveria. "Isso explodiu muito rápido e ganhou oxigênio demais", afirmou. Agora, segundo ele, a banda considera o episódio encerrado e segue adiante com energia renovada.

O texto também desmentiu boatos de que Scott Devours, baterista da turnê solo de Daltrey, substituiria Zak de forma permanente. Townshend disse que lamenta não ter desmentido esse rumor antes e se desculpou com Devours.

Zak Starkey integra o The Who desde 1996 e é filho de Ringo Starr, baterista dos Beatles. Ele já tocou com outras bandas, como Oasis e Johnny Marr & The Healers.