MP do RJ recomenda que exames para transplantes sejam feitos apenas pelo Hemorio

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O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) recomendou à Secretaria de Estado de Saúde e à Fundação Saúde que todos os exames relacionados a transplantes de órgãos no estado sejam realizados exclusivamente pelo Hemorio, instituição vinculada ao Sistema Único de Saúde (SUS). A medida, anunciada no último domingo, 13, ocorreu após seis pacientes receberem órgãos contaminados com o vírus HIV.

A recomendação, formulada pela 5ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Saúde da Capital, também destaca que, caso o Hemorio não tenha condições técnicas ou estruturais para atender à demanda, as unidades de saúde devem analisar a possibilidade de terceirização, com a devida contratação via processo formal de licitação.

Caso a recomendação não seja aceita parcial ou totalmente, o MPRJ pede que as razões sejam apresentadas por escrito, "podendo implicar a adoção de todas as providências administrativas e judiciais cabíveis contra os responsáveis".

Inquérito civil

Paralelamente às recomendações, o MP instaurou um inquérito civil para investigar irregularidades no programa de transplantes do Rio de Janeiro.

Entre os pontos em análise estão possíveis falhas no processo licitatório que envolveu o PCS Lab Saleme - laboratório responsável pelos exames e laudos que resultaram no transplante de órgãos contaminados com HIV -, suspeitas de influência do ex-secretário de Saúde e atual deputado federal Doutor Luizinho, parente dos sócios do laboratório, e a avaliação dos serviços prestados pela empresa.

O MPRJ solicitou à Secretaria de Estado de Saúde que, no prazo de 15 dias, forneça a cópia do laudo de inspeção da Vigilância Estadual de Saúde no PCS Lab Saleme, bem como das sindicâncias instauradas após a notificação dos eventos adversos de contaminação dos transplantados, decorrentes de exames falso-negativos emitidos pelo laboratório.

Também foi requisitado que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) envie, dentro do mesmo prazo, a cópia do laudo de vistoria realizada na empresa.

O MP destacou que o inquérito corre sob sigilo, devido à natureza sensível das informações dos pacientes envolvidos. No entanto, reforçou seu compromisso em ouvir as famílias afetadas, acolher denúncias e prestar atendimento individualizado aos interessados. As denúncias podem ser feitas por meio da Ouvidoria, seja por formulário eletrônico ou pelo telefone 127.

Deputado nega influência

Em nota, o deputado federal Dr. Luizinho (PP), sobrinho de um dos diretores do PCS Lab Saleme, informou que, quando foi secretário de Saúde do Rio de Janeiro, manteve a equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e "jamais participou da escolha deste ou de qualquer laboratório".

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O Knotfest Brasil 2024, festival liderado pela banda Slipknot, começa neste sábado, 19, no Allianz Parque, em São Paulo, e também conta com shows no domingo, 20. O baterista brasileiro Eloy Casagrande, ex-Gloria e ex-Sepultura, tocará pela primeira vez com a nova banda em seu País hoje.

"Vai ser épico!", escreveu o músico em seu Instagram. Sua imagem também foi utilizada pelo perfil oficial do grupo para divulgar o show de hoje.

Eloy Casagrande foi oficializado pelo grupo em 30 de abril deste ano. O fato gerou desconforto com seus ex-colegas de Sepultura, com quem vinha tocando até então.

"Ele anunciou que estava indo para o Slipknot. Do nada. Ele falou no dia, lógico que ele falou, mas não era a nossa obrigação anunciar isso, né? A gente não tem nada a ver com a história dele com a banda. Mas foi bem esquisito", comentou Andreas Kisser à época.

Os fãs que vão ao evento podem se preparar para ir de metrô, ônibus ou carro. Clique aqui para conferir mais detalhes sobre como chegar ao Allianz Parque neste sábado de chuva.

Até o momento, o setlist oficial ainda não foi divulgado, mas espera-se um show com os principais hits no sábado, 19, e um setlist com as músicas do álbum Slipknot, de 1999, no domingo, 20.

O olhar sensitivo de Thomaz Farkas (1924-2011) segue mais impactante do que nunca na nova exposição em homenagem aos 100 anos do emblemático fotógrafo húngaro-brasileiro.

A retrospectiva Thomaz Farkas, todomundo, que será aberta neste sábado, 19, no IMS Paulista, vai ocupar dois andares do centro cultural, reunindo cerca de 500 itens, entre fotos, filmes, documentos e equipamentos. Por um acordo com o próprio fotógrafo, o instituto assumiu a guarda e a preservação da sua obra fotográfica, composta por mais de 34 mil imagens.

Farkas é uma das maiores referências da fotografia moderna e do cinema documental brasileiro. Em 2024, ele também foi homenageado na 29ª edição do festival de cinema É Tudo Verdade com a montagem de uma retrospectiva de sua produção cinematográfica.

Nascido em Budapeste no dia 17 de outubro de 1924, Thomaz imigrou com os pais para São Paulo aos seis anos e logo ganhou sua primeira máquina fotográfica. Após a morte do pai, em 1960, ele herdou a direção da Fotoptica, empresa pioneira na venda de equipamentos do gênero. Ao longo de sua carreira, teve papel crucial na valorização da diversidade social do Brasil.

"O projeto vem de uma consciência clara da importância do Thomaz como um artista de linguagem universal", diz Sergio Burgi, coordenador do IMS, ao Estadão. "O desafio geral foi apresentar sua trajetória múltipla, marcada por uma simultaneidade. Enquanto ele trabalhava na fotografia, produzia filmes, tocava a loja", acrescenta.

A exposição reflete as várias facetas do homenageado, reconhecido pela atenção à riqueza cultural do Brasil. Em uma das seções, é possível ver imagens inéditas - e coloridas - de São Paulo nos anos 1940.

"Thomaz viveu as contradições dessa cidade. As fotos respondem a uma cidade do pós-guerra, numa promessa de estruturação, modernidade", explica Burgi. "Há uma marca nessa exposição toda, que é a marca do trabalho do Thomaz: ele estava sempre interessado no atual, no agora. Em toda a sua trajetória, dos anos 40 até o final dos anos 2000, ele queria saber da transformação", complementa o curador Juliano Gomes.

Farkas, um humanista na essência, enfrentou a censura do governo Vargas e foi perseguido pela ditadura militar. Em 1960, ele registrou a inauguração de Brasília, onde contrastou a euforia em torno do presidente Juscelino Kubitschek com os problemas sociais da Cidade Planejada e as condições precárias dos imigrantes.

"Os censores não sabiam ler as fotografias. Então, os jornais publicavam muito mais imagens, porque os textos eram cortados, censurados. Os fotógrafos começaram a perceber isso, a se organizar em associações, agências", lembra a curadora Rosely Nakagawa, ex-colega de Farkas na Galeria Fotoptica, criada em 1979 para promover conversas sobre a imagem, seminários, entre outras atividades. "Para nós, a fotografia é tratada com essa importância de uma pessoa que pensava a imagem não só no papel, mas com compromisso social", diz.

Em outra ala, é possível testemunhar a influência do artista sobre toda uma geração. Algumas de suas fotografias são apresentadas lado a lado com outros autores presentes na coleção, como Alice Brill e Walter Firmo, numa proposta de conexão entre temas e estilos.

Além da fotografia

A faceta cinematográfica do artista tem grande destaque na exposição, repleta de projeções e alas interativas. Essa linguagem foi consolidada no projeto Brasil Verdade, composto por quatro filmes com cerca de 30 minutos de duração cada um: Memória do Cangaço, Subterrâneos do Futebol, Nossa Escola de Samba e Viramundo - neles, a intenção de Farkas foi retratar aspectos singulares da identidade nacional.

"Nesse conjunto de filmes feitos em 1964 e 65, há um desenvolvimento tecnológico muito importante, com câmeras menores, nas quais era possível gravar o som das pessoas falando em sincronia com a câmera. Havia a possibilidade mais móvel e mais moderna de ouvir a voz do brasileiro, os sotaques. Essa técnica mudou o cinema no mundo", analisa Juliano Gomes.

A exibição também traz diversos títulos da série A Condição Brasileira, com 19 filmes produzidos entre 1967 e 1972 no interior do Nordeste, onde Farkas coordenava equipes que viajavam pelo País para documentar manifestações coletivas da região.

"O nordeste é de uma riqueza infinita, mas só hoje conhecemos a potência cultural do Cariri, por exemplo, de Juazeiro", ressalta Rosely. "E esse acompanhamento da cultura brasileira que Thomaz fazia foi muito importante, porque o Sudeste tem essa visão egocentrista de que tudo de bom acontece no Rio e São Paulo, mas isso tudo é construído por gente do Nordeste", reforça.

O projeto ainda aborda outras frentes de atuação de Thomaz Farkas no campo institucional e empresarial, com destaque para o apoio à primeira edição do Festival Videobrasil, em 1983, precursor na difusão do vídeo como linguagem artística e que vem sendo realizado ao longo das últimas quatro décadas.

Outro ponto alto da mostra tem a música como protagonista em dois documentários históricos. O público pode assistir a um raríssimo registro de Pixinguinha captado em 1954, no Parque Ibirapuera, durante as comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo.

A filmagem, que ficou perdida por 50 anos e foi lançada em Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba (2006), é exibida de maneira contraposta à película Hermeto Campeão (1981), responsável por apresentar Hermeto Pascoal em meio aos mais variados e improvisados instrumentos que ele toca no estúdio de sua casa.

"Há um diálogo entre os dois em tempos diferentes, décadas diferentes. Às vezes parece que Pixinguinha está tocando a música do Hermeto e às vezes que o Hermeto está tocando o Pixinguinha. É uma brincadeira que gostamos muito de fazer e dá um tom alegre característico do Thomaz", diz Gomes, empolgado com o "dueto" de gênios projetado em telas enormes.

Thomaz Farkas, todomundo acentua, acima de tudo, a curiosidade de um homem que imprimiu em suas fotos o amor pelo Brasil. "Quem vier vai se identificar e sentir esse olhar afetuoso dele", afirma Rosely. "É a importância da fotografia como memória, como construção de uma vida. Todos somos feitos de memórias".

Thomaz Farkas, todomundo

Abertura: 19 de outubro de 2024

Visitação: até 9 de março de 2025, 3ª a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h

Onde: IMS Paulista (Av. Paulista, 2.424) | 8º e 7º andares

Entrada: gratuita

Eu tinha sido avisada de que seria desconfortável, mas, ainda assim, necessário. Esse era o espírito quando me sentei na sala de cinema. Na primeira cena, a linda, magra e alta mulher, que foi ícone da minha geração, aparece na enorme tela. Duas jovens meninas ao meu lado dizem "Nossa, como ela ainda está bonita". Ainda. Demi Moore tem 61 anos e representa ela mesma no filme A Substância, em cartaz nos cinemas.

Digo ela mesma porque acompanhei como espectadora sua luta contra a idade. Na tela, Demi faz o mesmo e se aventura, assim como eu e cada mulher que conheço, por caminhos desconhecidos, improváveis e até perigosos para conseguir a fórmula mágica da juventude, que é, em 2024, sinônimo de beleza.

Demi dá vida a uma atriz consagrada que nos dias atuais dá aulas de ginástica em um programa de TV. Na primeira cena, está em frente à luz certa, sendo filmada nos ângulos certos, como nós nas telas dos nossos celulares conseguimos fazer. Assim, ela parece mais jovem do que é. Na vida "real", ao sair do palco, ela ainda é uma linda mulher de 61 anos e aí está o problema. Ter 61 anos.

Demi então se depara com uma fórmula mágica para se tornar sua melhor e jovem versão. O filme faz referência a grandes clássicos do cinema, como Laranja Mecânica e O Iluminado, de Stanley Kubrick, e Carrie - A Estranha, de Kimberly Peirce, tudo isso feito propositalmente para atormentar quem está na sala. Mas o que produz o desconforto real é assistir à mulher se tornar refém, prisioneira do suposto mal maior que é a passagem do tempo.

Podem dizer que ela é fruto do que a sociedade fez dela, e é verdade. Desvalorizada ao máximo por homens velhos por ser exatamente como eles, velha. Mas se submeter a isso, entregando-se a cada minuto sem lutar, foi o que me causou desespero e angústia, compaixão e raiva. Eu queria gritar naquela sala: Demi, pare imediatamente! Bem, não fiz isso e fui me encolhendo, encolhendo, até sair da sala meia hora antes de o filme acabar.

As cenas são literalmente dantescas. Do inferno do escritor italiano, as carnes, o sangue, a dor física e emocional estão presentes. Mas tem de assistir. Homens, mulheres, jovens, vejam. Quem sabe juntos vamos dar o tal grito que eu não dei e tentar uma saída em outra direção. Voltei para casa, me olhei detalhadamente no espelho; nua, examinei meu rosto e corpo com a visão do hoje. E agradeci.