Trump e Kamala aparecem empatados em Michigan, mostra pesquisa Washington Post

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O resultado da votação no estado americano de Michigan, um dos mais importantes para a definição do próximo presidente dos Estados Unidos, segue imprevisível.

Pesquisa do jornal americano The Washington Post, divulgada nesta quinta-feira, 31, mostrou que a vice-presidente americana e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, está empatada com o ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump.

Levantamento do Post revela que Harris lidera por uma margem de dois pontos entre os eleitores registrados. Mas entre os prováveis eleitores, Trump tem uma vantagem de 1 ponto porcentual.

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Pelo menos cinco representações contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foram protocoladas na Câmara desde sua mudança para os Estados Unidos, em março deste ano. Os pedidos incluem a cassação e suspensão do mandato, além do bloqueio de bens. As ações são fundamentadas em acusações de atentado à soberania nacional, com base na atuação do parlamentar junto a autoridades norte-americanas.

Eduardo se diz ativo nas articulações com o governo norte-americano por sanções ao Brasil, como a imposição de tarifas de 50% aos produtos brasileiros, anunciadas por Donald Trump em 9 de julho, e a suspensão dos vistos dos EUA de ministros do STF, anunciada na sexta-feira, 18.

Segundo o deputado, as medidas teriam como objetivo pressionar o governo e o Judiciário brasileiros diante das ações penais contra seu pai, Jair Bolsonaro, que é réu por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

PSOL pede que Câmara negue a licença de Eduardo

Antes da viagem, deputados do PSOL pediram no dia 19 de março à Mesa Diretora da Câmara que o pedido de licença de Eduardo Bolsonaro fosse negado e que a Casa declarasse abandono de mandato.

"O representado claramente abusa das prerrogativas constitucionais asseguradas aos membros do Congresso Nacional, utilizando-se da licença parlamentar não para tratar de questões estritamente particulares, mas para fugir da jurisdição brasileira e desempenhar atividades políticas no exterior, configurando, portanto, abandono de mandato", afirmam os psolistas.

O pedido do PSOL no entanto, não foi atendido, e o afastamento de 122 dias foi concedido ao deputado, sendo dois dias por "questões de saúde" e 120 dias por "questões pessoais.

Cassação de mandato

No dia 27 de maio, o deputado Lindbergh Farias (RJ), líder doPT na Câmara, protocolou uma ação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados pedindo a cassação do mandato do deputado, que na época estava licenciado das atividades parlamentares.

O petista argumentou que o filho de Jair Bolsonaro estaria cometendo crimes de obstrução de Justiça e atentando contra a soberania nacional. Lindbergh sustenta que o deputado articula um movimento de ataque ao Supremo Tribunal Federal (STF) nos Estados Unidos.

"Não é contra o PT, não é contra um lado. É contra o STF. Contando inverdades de que aqui existe uma ditadura", disse Lindbergh. O petista denunciou que o filho do ex-presidente "está claramente querendo coagir os ministros do STF".

Nova representação pela cassação de mandato

No dia 10 de julho, após o anúncio do tarifaço de Donald Trump, Eduardo Bolsonaro publicou uma nota em que cobra que o Congresso paute a anistia ao seu próprio pai. Diante disso, o PT protocolou uma nova representação na Câmara dos Deputados, pedindo a cassação do mandato do parlamentar.

O texto complementa o primeiro processo apresentado e diz que o envolvimento "direto" do parlamentar nas sanções econômicas unilaterais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "constitui ato de afronta explícita à soberania nacional, ao princípio da independência dos Poderes e às normas éticas que regem a função parlamentar".

PSOL também pede a cassação do mandato de Eduardo

Também no dia 10 de julho, o PSOL protocolou na Câmara dos Deputados um pedido de cassação do mandato de Eduardo por quebra de decoro parlamentar após o seu apoio à taxação de 50% de Donald Trump.

"Eduardo Bolsonaro conspirou e conspira contra o Brasil. Chama a atenção que ele, advogado e deputado federal eleito, tenha desrespeitado o artigo 1º da nossa Constituição, sobre a soberania do país, e passado por cima do Regimento Interno da Câmara Federal, instituição a qual ele está vinculado", afirmou a líder da bancada do PSOL, Talíria Petrone, em nota.

Suspensão preliminar de mandato

No dia 15 de julho, Lindbergh anunciou que está coletando assinaturas para apresentar um requerimento à mesa diretora da Casa, comandada pelo presidente Hugo Motta (Republicanos-PB), pedindo suspensão preliminar do seu mandato.

O petista pede que a mesa "reconheça a gravidade institucional das condutas praticadas por Eduardo Bolsonaro" e que o Conselho de Ética seja acionado para dar andamento a representações contra o deputado.

Bloqueio de salário

Além do pedido de suspensão do mandato, Lindbergh acionou Hugo Motta no dia 21 de julho pedindo o bloqueio imediato do salário de Eduardo, um dia após o término de sua licença de 122 dias.

Lindbergh Farias afirmou ser inadmissível que o filho "03" do ex-presidente continue se beneficiando de salário pago com recursos públicos "para atuar contra as instituições e os interesses do Brasil", já que Eduardo permanece nos Estados Unidos.

Na petição, Lindbergh Farias afirma que, após o término da licença e a ausência injustificada de retorno às atividades parlamentares, deve ser proibido o recebimento de salário e verbas indenizatórias, "em conformidade com o princípio da moralidade administrativa e os deveres éticos do parlamentar".

Boulos pede à PF que Eduardo Bolsonaro seja demitido

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) protocolou nesta segunda-feira, 28, uma representação à Polícia Federal (PF), solicitando a instauração de um processo administrativo disciplinar contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), escrivão de polícia afastado para o exercício do mandato parlamentar.

O argumento de Boulos é que a atuação de Eduardo nos Estados Unidos, para onde se mudou no início do ano em busca de sanções contra autoridades brasileiras para livrar o pai, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da prisão, caracterizam condutas passíveis de demissão do serviço público. Procurado pelo Estadão, o parlamentar do PL não respondeu.

Os crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e crime contra a soberania nacional são considerados crimes contra a administração pública.

A atuação de Eduardo no país americano está sendo investigada pela PF, em inquérito autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse, de forma indireta nesta terça-feira, 29, que tem uma "profunda preocupação" com as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, que teria como objetivo a "ingerência em assuntos internos".

Motta também definiu o contexto internacional atual como "marcado por crescentes tensões geopolíticas, intolerância, protecionismo e enfraquecimento do multilateralismo".

O pronunciamento foi dado em discurso na 6ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamento, evento em colaboração com a Organização das Nações Unidas, na Suíça.

"No domínio comercial, aprovamos a Lei de Reciprocidade Econômica. Com ela, o Brasil tem ferramentas adequadas para responder a práticas discriminatórias em relação aos produtos brasileiros. É uma resposta serena, mas firme, em linha com a nossa profunda preocupação com o uso de medidas comerciais unilaterais para fins protecionistas e para ingerência em assuntos internos de outros países", disse Motta.

O presidente da Câmara, segundo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), pode ser alvo de sanções do governo americano por meio da Lei Magnitsky, que pode suspender vistos, assim como já ocorreu com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A condicional para evitar a Magnitsky, segundo o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é pautar a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro. "O (presidente do Senado) Davi Alcolumbre (União-AP) não está nesse estágio ainda, mas certamente está no foco do governo americano. Ele tem a possibilidade agora de não ser sancionado e não acontecer nada com o visto dele, se ele não der respaldo ao regime. E também o Hugo Motta, porque na Câmara dos Deputados tem a novidade da lei da anistia", disse Eduardo.

Há duas semanas, Motta falou, ao lado de Alcolumbre e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), num vídeo em que defendem a atuação conjunta entre governo e Congresso na reversão das tarifas de 50% impostas pelo governo de Donald Trump a produtos brasileiros.

"Estamos prontos para estar na retaguarda do Poder Executivo para que, nas decisões necessárias à ação do Parlamento, nós possamos agir com rapidez, com agilidade, para que o Brasil possa sair mais forte desta crise", disse Motta.

As tarifas vão começar a valer no dia 1º de agosto, segundo Trump, e não serão adiadas. Uma comitiva de oito senadores foi aos Estados Unidos dialogar com parlamentares nesta semana, mas não vão conversar com representantes da Casa Branca. A perspectiva de um acordo com o Brasil parece distante.

"No ano em que celebramos os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e da criação das Nações Unidas, o contexto internacional está marcado por crescentes tensões geopolíticas, intolerância, protecionismo e enfraquecimento do multilateralismo", discursou Motta nesta terça-feira.

A Operação 18 Minutos, da Polícia Federal, resgatou diálogos entre juízes e advogados que indicam como uma organização criminosa supostamente formada por desembargadores, servidores e advogados se instalou 'nas estruturas' do Tribunal de Justiça do Maranhão durante dez anos para fraudes na emissão de alvarás contra o Banco do Nordeste com levantamento de valores milionários - os magistrados teriam arrecadado pelo menos R$ 54,7 milhões em propinas.

Em denúncia de 313 páginas, a Procuradoria-Geral da República aponta 'mercancia de decisões' no Tribunal de Justiça do Maranhão.

A Procuradoria requereu ao Superior Tribunal de Justiça a perda dos cargos públicos de três desembargadores e dois juízes - além da cassação da aposentadoria de um quarto desembargador - acusados de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

São acusados os desembargadores Nelma Celeste Souza Silva Sarney Costa - cunhada do ex-presidente José Sarney -, Luiz Gonzaga Almeida Filho, Antônio Pacheco Guerreiro Júnior e Marcelino Everton Chaves (aposentado) e os juízes de primeiro grau Alice de Souza Rocha e Cristiano Simas de Souza.

O Estadão pediu manifestação do Tribunal e dos juízes e servidores citados, o que não havia ocorrido até a publicação deste texto. O espaço está aberto.

A denúncia, subscrita pela subprocuradora-geral Luiza Cristina Frischeisen, imputa ao grupo um 'sofisticado' esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria operado na Corte desde 2015.

Também são acusados os ex-assessores de desembargadores Paulo Martins de Freitas Filho, Lúcio Fernando Penha Ferreira e Zely Reis Brown.

Treze advogados estão entre os denunciados. Ao todo, são 29 acusados na Operação 18 Minutos.

A operação foi desencadeada no dia 14 de agosto de 2024, por ordem do ministro João Otávio de Noronha, do STJ. A investigação recebeu esse nome porque 18 minutos foi o tempo entre uma decisão judicial e um saque de R$ 14,1 milhões contra o Banco do Nordeste. Um outro saque foi de R$ 3,4 milhões.

O levantamento do primeiro alvará, no contexto da execução de título extrajudicial, ocorreu no dia 5 de outubro de 2015. "Os elementos reunidos demonstram que a organização criminosa adota como modo de atuação principal o ajuizamento de execuções de honorários advocatícios contra o Banco do Nordeste", afirma a Procuradoria.

A 'causa de pedir' em tais processos foi o direito de crédito do advogado Francisco Xavier de Souza Filho, que se desligou do Banco do Nordeste em 13 de março de 1997.

Até a publicação deste texto, o Estadão tentou contato com um celular de Xavier e em seu escritório em São Luís, mas sem sucesso. O espaço está aberto.

Em 19 de junho de 2000, Xavier ajuizou ação de cobrança contra a instituição financeira, visando ao arbitramento de honorários advocatícios que seriam devidos por sua atuação em um processo.

O banco negou a atuação do advogado e alegou que Xavier 'omitiu a conversão de cruzeiro para cruzeiro real, o que provocou um salto exorbitante no valor cobrado'.

Após quase duas décadas de tramitação do processo, em 12 de julho de 2019, a juíza Alice Rocha, da 5ª Vara Cível de São Luís, reconheceu a prescrição da cobrança dos honorários advocatícios. O advogado interpôs recurso de apelação, distribuído inicialmente para a desembargadora Maria das Graças de Castro Duarte, que se declarou suspeita por 'motivo de foro íntimo'.

O recurso foi redistribuído para o desembargador Guerreiro Júnior. No dia 12 de março de 2020, o Ministério Público do Estado se manifestou pelo desprovimento do recurso de Francisco Xavier. Um ano depois, em março de 2021, o desembargador pediu a inclusão do processo em pauta para julgamento.

A sessão de julgamento da 2.ª Câmara Cível do Tribunal, composta pelos desembargadores Guerreiro Júnior (relator), Nelma Sarney e Luiz Gonzaga, foi iniciada no dia 27 de abril daquele ano, mas acabou adiada em razão de pedido de vista de Luiz Gonzaga.

No dia seguinte ao pedido de vista, o desembargador recebeu, em sua casa, o advogado Felipe Ramos, filho de Francisco Xavier.

O Estadão também tentou contato com Felipe, o que não havia ocorrido até a publicação deste texto. O espaço está aberto.

Antes da visita ao magistrado, Felipe enviou mensagem via WhatsApp - a Polícia Federal resgatou o diálogo em perícia realizada nos celulares dos envolvidos.

'Boa tarde, Excelência. Tudo bem? Aqui é Felipe, filho de Xavier. Poderia dar uma palavra com Vossa Excelência?'

Luiz Gonzaga respondeu. 'Pode'

'Qual é o melhor horário para o senhor?', perguntou o filho de Francisco Xavier.

'18h aqui em casa', sugeriu o desembargador.

'Blz. Combinado'

Para a Procuradoria, 'o tom da mensagem, sem maiores introduções entre os agentes ('aqui é Felipe, filho de Xavier'), 'evidencia que os denunciados já se conheciam previamente'.

A Polícia Federal apurou que poucos dias antes da reunião na casa do desembargador, Felipe Ramos - pessoalmente e por meio de seu escritório - e Sirley Sousa 'haviam sacado milhares de reais de forma fracionada, os quais foram entregues em mãos ao desembargador'. O dinheiro em espécie foi depositado parceladamente na conta de Luiz Gonzaga.

No mês da conclusão do julgamento, maio de 2021, o desembargador recebeu R$ 25 mil em sete depósitos, a maioria de R$ 3 mil.

"O encontro velado com o advogado durante o pedido de vista, somado às vultosas movimentações de dinheiro em espécie, comprovam a atuação criminosa de Luiz Gonzaga no julgamento de apelação cível", sustenta a PGR. "Ele solicitou e efetivamente recebeu vantagem indevida como contraprestação ao voto proferido."

No dia 4 de maio de 2021, os desembargadores Guerreiro Júnior, Nelma Sarney e Luiz Gonzaga, por unanimidade, 'de forma contrária ao parecer do Ministério Público, deram provimento ao recurso de Francisco Xavier, para afastar a prescrição e fixar os honorários advocatícios em 10% sobre o valor do acordo celebrado na execução de título extrajudicial'.

"As provas demonstram claramente que os votos dos três desembargadores foram proferidos com infração de dever funcional, em razão da solicitação e do efetivo recebimento de vantagens indevidas", afirma a Procuradoria.

'Nobre doutor'

A análise do celular de Luiz Gonzaga 'evidencia que o desembargador recebeu em sua residência, em diversas ocasiões, o advogado Felipe Ramos'. "O teor das conversas deixa claro que os assuntos tratados, reservadamente, são processos de interesse do advogado, inclusive processos em que Francisco Xavier figura como parte", diz a PGR.

A Polícia Federal destacou outro diálogo entre o advogado e o magistrado nos autos da Operação 18 Minutos.

Dia 26 de outubro de 2022 o advogado escreveu. 'Boa noite, Excelência. Aqui é Felipe, filho de Xavier. Gostaria de dar uma palavra com o nobre doutor assim que for possível. É sobre um julgamento do processo do meu pai que está na pauta virtual das Câmara Cíveis Reunidas'.

Luiz Gonzaga: 'Pode ligar'

Em 9 de maio de 2024, um novo contato. 'Boa tarde, doutor. Posso falar com o senhor? E caso positivo, qual o melhor horário?', indagou o advogado.

Eram 17h48. 'Estou chegando em casa, pode vir', devolveu Luiz Gonzaga.

'Tranquilo doutor, estou indo'.

A varredura no celular do desembargador mostra suas relações próximas com um outro advogado, Carlos Luna, a quem também recebia em sua residência, 'para fazer ajustes sobre processos', diz a investigação.

'Celência'

No dia 6 de agosto de 2024, Luna escreveu. 'Celência, boa tarde primeiramente feliz aniversário que eu posso passar na sua casa'

No dia 7 de agosto, às 19h34. 'Excelência. Posso ir agora?'

'Pode'

A Polícia Federal ressalta que a organização criminosa era composta de três núcleos.

Núcleo judicial, em que operam desembargadores, magistrados e servidores do Tribunal, mediante o direcionamento de processos, manobras processuais e prolação de decisões judiciais previamente acertadas, em benefício da organização criminosa;

Núcleo causídico, que conta com advogados que atuam de forma coordenada com os julgadores para conseguir decisões judiciais em favor da organização criminosa, sobretudo levantamentos de alvarás em desfavor do Banco do Nordeste do Brasil (BNB);

Núcleo operacional, responsável por executar a ocultação e dissimulação da origem, da localização, da propriedade, da movimentação e da disposição do dinheiro obtido com os crimes antecedentes, repassando-o aos demais membros e núcleos da organização.

Para os investigadores, 'a relação entre os denunciados dos núcleos judicial e causídico ultrapassa, e muito, uma mera relação profissional entre advogados e magistrados'.

"Trata-se, em verdade, de verdadeira organização criminosa que atua de forma estável e permanente há mais de uma década no Poder Judiciário maranhense."

O Banco do Nordeste tentou barrar a ofensiva que culminou em novo alvará de R$ 3,4 milhões. Assim que o processo foi redistribuído para a 5.ª Vara Cível de São Luís, a instituição opôs exceção de suspeição em face da juíza Alice Rocha e interpôs agravo contra a decisão do desembargador Marcelino Chaves, de encaminhamento do processo para a então corregedora Nelma Sarney.

A PF descobriu que Alice Rocha não reconheceu a suspeição alegada pelo banco e o processo subiu para o tribunal. Os autos chegaram ao desembargador Luiz Gonzaga.

A exceção de suspeição foi remetida ao gabinete de Luiz Gonzaga no dia 30 de setembro de 2015, às 12h21, e julgada improcedente às 17h. Às 17h31, foi enviado ofício à 5ª Vara Cível comunicando a improcedência da exceção de suspeição.

Em menos de seis horas, a exceção de suspeição oposta pelo Banco do Nordeste foi recebida e julgada improcedente, com a expedição da ordem ao juízo de origem.

De outro lado, o agravo regimental foi remetido ao desembargador Marcelino Chaves no dia 15 de setembro de 2015 e apreciado somente em 16 de dezembro, 'ocasião em que o recurso da instituição financeira não foi conhecido'.

"A celeridade seletiva nas decisões teve como justificativa a adesão dos desembargadores à organização criminosa e o ajuste das decisões entre os magistrados e advogados", anota a PGR.

"Assim como Nelma Sarney e Marcelino Chaves, o desembargador Luiz Gonzaga também possui vínculos associativos estáveis e permanentes, que ultrapassam o mero relacionamento profissional, com os membros do núcleo causídico."

A PF constatou que um dos advogados encaminhou direto para o celular do desembargador memoriais da ação de suspeição. Segundo a denúncia, a decisão de Luiz Gonzaga foi dada 'em razão da solicitação de vantagem indevida, a qual foi efetivamente paga e, em seguida, ocultada e dissimulada mediante dezenas de depósitos fracionados de dinheiro em espécie nas contas do desembargador'.

Em mãos

Após a rejeição da exceção de suspeição por Luiz Gonzaga, a juíza Alice Rocha, 'contrariando os cálculos realizados pela contadoria - que havia concluído pelo saldo remanescente de R$ 490,8 mil -, determinou a imediata liberação de alvará em favor de Francisco Xavier.

O alvará foi levantado no dia 5 de outubro de 2015 e o valor integral que estava na conta judicial foi depositado na conta de Francisco Xavier, especificamente R$ 14.163.443,18. No mesmo dia, às 13h41, Xavier transferiu todo o valor para seu filho, Felipe Ramos que, em seguida, enviou uma transferência eletrônica de R$ 12 milhões para sua cunhada, Janaína Lobão.

Após receber a transferência, segundo rastreamento da Polícia Federal, Janaína sacou R$ 12,010 milhões, sendo R$ 1.7 milhão debitados com a emissão de 19 cheques Orpag e R$ 10,3 milhões por meio de 18 saques em espécie, de forma fracionada.

Após as operações, a conta de Janaína ficou praticamente zerada, com saldo de R$ 38,58.

A decisão foi dada em 2 de outubro de 2015 e o alvará expedido no mesmo dia, 'igualmente em razão de ajuste ilícito (solicitação/oferecimento de vantagem indevida), tendo a magistrada recebido, como contrapartida, dinheiro em espécie em mãos e em sua conta bancária, mediante depósitos fracionados'.

Segundo a PGR, no curso dos processos judiciais, 'a organização criminosa utilizou afastamentos e substituições de magistrados, combinação de decisões, seguidas de movimentações financeiras para ocultar e dissimular a origem dos valores obtidos mediante a negociação de provimentos jurisdicionais'.

'Mercancia de decisões no tribunal'

"Desde já, destaca-se que não se trata de avaliar o 'acerto' ou 'erro' das decisões judiciais apontadas na denúncia, pois os atos jurisdicionais decorreram de prévio acerto criminoso entre os magistrados e os integrantes da organização criminosa", atesta o Ministério Público Federal.

Segundo a denúncia, 'em outras palavras, as decisões, que foram instrumentos imprescindíveis para a consumação dos crimes, estavam maculadas desde a origem'.

"Para que fique claro que não se trata de responsabilização objetiva dos magistrados ou de criminalização de interpretação jurídica, destaca-se que as decisões foram encomendadas, negociadas, isto é, decorreram de atos de corrupção", segue a acusação. "Ao final, mediante atos autônomos de lavagem de dinheiro, os valores levantados nos processos reverteram diretamente em benefício pessoal dos magistrados e dos demais integrantes da organização criminosa. O objeto da presente denúncia, portanto, é a imputação de 'mercancia de decisões'.