FBI investiga mensagem racista que manda negros 'colher algodão em fazendas'

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times
Pouco mais de dois dias depois da vitória do republicano Donald Trump nas eleições americanas, uma onda de mensagens de SMS racistas foram enviadas a diversos celulares de afro-americanos, entre eles menores de idade. Os textos alertam o receptor da mensagem que ele foi selecionado para colher algodão como escravo. As mensagens foram identificadas em nove Estados americanos, como a Virgínia, Nova York e a Califórnia. O FBI está investigando o caso.

As denúncias começaram a aparecer nas redes sociais nos Estados Unidos a partir da quinta-feira, 7, mas algumas mensagens começaram a ser enviadas já desde a quarta, 6, quando a vitória de Trump foi confirmada.

"O FBI está ciente das mensagens de texto ofensivas e racistas enviadas a indivíduos em todo o país e está em contato com o Departamento de Justiça e outras autoridades federais sobre o assunto. Como sempre, incentivamos o público a denunciar ameaças de violência física às autoridades policiais locais", disse a polícia federal americana em nota.

Em Nova York, a procuradora-geral do Estado, Letitia James, disse que as mensagens estão sendo enviadas para menores de idade, desde adolescentes até crianças ainda no ensino fundamental. As mensagens seguem um padrão: tratando o destinatário pelo nome, dizem que ele foi escolhido para colher algodão numa fazenda e será recrutado por senhores de escravos. Algumas fazem referência ao presidente eleito, Donald Trump.

Um porta-voz da campanha de Trump, Steven Cheung, disse em um e-mail que a "campanha não tem absolutamente nada a ver com essas mensagens de texto".

No X, a rede social que pertence a Elon Musk, um dos principais apoiadores de Trump, usuários condenaram a disseminação da mensagens.

Derrick Johnson, presidente da NAACP, uma entidade ligada aos direitos civis nos EUA, disse em um comunicado que as mensagens refletiam como os grupos racistas haviam sido encorajados após a vitória de Trump e representavam um aumento acentuado na retórica vil e abominável contra a comunidade negra americana. "Essas ações não são normais", disse ele. "E nós nos recusamos a permitir que elas sejam normalizadas."

Há registros de mensagens no Alabama, Maryland, Missouri, Carolina do Norte, Pensilvânia, Carolina do Sul, Tennessee, Texas e Virgínia. Elas pareciam estar circulando muito nos campi das faculdades, mas não se limitavam a elas.

Em outro caso que provocou indignação nos EUA, Nick Fuentes, um influenciador da extrema direita americana e apoiador de Trump, gravou um vídeo ofensivo contra mulheres, ironizando a derrota de Kamala Harris e a derrota de referendos pró-aborto em alguns Estados. "Seu corpo, minha escolha. Os caras controlam vocês", disse. "Vocês nunca elegerão uma mulher presidente. O teto de vidro que vocês falam em quebrar agora é feito de tijolos."

Em outra categoria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).