O Conselho Nacional de Justiça decidiu investigar o juiz Wladymir Perri, da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, por suposta infração disciplinar na condução do inquérito policial sobre o assassinato do advogado Roberto Zampieri - o 'lobista dos tribunais' morto a tiros em frente a seu escritório na capital de Mato Grosso em dezembro do ano passado.
O conteúdo do celular de Zampieri, encontrado ao lado do corpo, foi pivô do afastamento de dois desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado, investigados por suposta venda de sentenças em um esquema que alcança gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça.
Em sua defesa, o magistrado negou irregularidades. Ele afirmou ao CNJ que 'recolheu provas a pretexto de resguardar a identidade da vítima'.
A decisão pela abertura de um processo administrativo disciplinar sobre a conduta de Perri foi dada em julgamento a portas fechadas realizado durante a 16ª Sessão Ordinária do Conselho Nacional de Justiça, ocorrida na terça-feira, 10.
Todos os conselheiros seguiram o parecer do corregedor nacional de Justiça, ministro Campbell Marques, que votou pela abertura do PAD sob o argumento de que "é fundamental assegurar que os magistrados cumpram seus deveres funcionais e que o Judiciário opere de maneira transparente e eficiente".
Esta é a segunda apuração aberta sobre a conduta de Perri neste ano. Em abril, o CNJ decidiu instaurar uma reclamação disciplinar por "suposta conduta temerária e recorrente na condução de processos".
A apuração tem como base uma inspeção que apontou "descontrole das audiências" com consequente "demora na conclusão da instrução das ações penais que tramitam na unidade e versam sobre crimes extremamente graves".
A correição apontou que havia 161 processos conclusos na unidade há mais de 100 dias, 31% do acervo ajustado, à época, que era de 515 processos.
O magistrado ainda responde a uma reclamação disciplinar em razão de, em uma audiência, ter dado voz de prisão à mãe de uma vítima que se manifestou contra o acusado de assassinar seu filho.
No caso do inquérito sobre a morte de Zampieri, o Conselho Nacional de Justiça viu irregularidades como o confisco do celular do advogado assassinado e a negativa de acesso ao conteúdo do aparelho às partes da investigação.
De acordo com a Corregedoria, o juiz também teria violado lacres de envelopes sem o acompanhamento da defesa.
Campbell considerou que a conduta do magistrado é "grave" e deve ser apurada. Durante o julgamento, sigiloso, o corregedor ponderou que "há indícios de quebra de custódia de provas".