Pesquisa revela que China estaria trabalhando em protótipo de reator nuclear para porta-aviões

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A China construiu um protótipo de reator nuclear terrestre para um grande navio de guerra de superfície, o sinal mais claro até agora de que Pequim está avançando rumo à produção do primeiro porta-aviões movido a energia nuclear do país, segundo uma nova análise de imagens de satélite e documentos do governo chinês fornecidos à Associated Press.

Há muito tempo circulam rumores de que a China estaria planejando construir um porta-aviões movido a energia nuclear, mas a pesquisa do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, na Califórnia, foi a primeira a confirmar que o país está trabalhando em um sistema de propulsão nuclear para um navio de guerra de superfície do tamanho de um porta-aviões.

Por que é relevante que a China esteja em busca de porta-aviões nucleares?

A marinha chinesa já é a maior do mundo em termos numéricos, e vem se modernizando rapidamente. Incluir porta-aviões de propulsão nuclear em sua frota seria um passo importante para concretizar suas ambições de se tornar uma verdadeira força de "águas azuis", com condições de operar em todo o mundo e desafiar cada vez mais os Estados Unidos.

Os porta-aviões nucleares demoram mais para serem construídos do que os convencionais, mas, uma vez em operação, conseguem permanecer no mar por muito mais tempo, porque não precisam ser reabastecidos, e há mais espaço a bordo para carregar combustível e armas para as aeronaves, ampliando sua capacidade. Eles também são capazes de produzir mais energia para executar sistemas mais avançados.

Atualmente, apenas os Estados Unidos e a França têm porta-aviões movidos a energia nuclear. Os EUA têm 11 no total, o que permite que o país mantenha vários grupos de ataque destacados pelo mundo o tempo todo, inclusive na região do Indo-Pacífico.

Mas o Pentágono está cada vez mais preocupado com a crescente modernização da frota chinesa, incluindo o projeto e a construção de novos porta-aviões.

Atualmente, a China tem três porta-aviões, incluindo o novo Fujian Tipo 003, o primeiro projetado e construído pela China. Os chineses dizem que o projeto de um quarto navio já está em andamento, mas ainda não anunciaram se será de propulsão nuclear ou convencional.

A modernização está alinhada à "crescente ênfase no domínio marítimo e ao aumento da demanda" de que a marinha chinesa possa "operar a distâncias maiores da China continental", segundo diz o Departamento de Defesa dos EUA em seu mais recente relatório ao Congresso sobre as forças armadas chinesas.

Como os pesquisadores concluíram que a China construiu um protótipo de reator para um porta-aviões?

Os pesquisadores de Middlebury estavam inicialmente investigando uma montanha nos arredores da cidade de Leshan, no sudoeste da província chinesa de Sichuan, por suspeita de que a China estivesse construindo um reator para produzir plutônio ou trítio para armas. Em vez disso, acabaram determinando que a China estava construindo o protótipo de um reator para um grande navio de guerra.

A conclusão se baseou em uma grande variedade de fontes, que inclui imagens de satélite, documentos de licitação, arquivos de pessoal, e estudos de impacto ambiental.

O reator está abrigado em novas instalações construídas em um local conhecido como Base 909, controlada pelo Instituto de Energia Nuclear da China.

Documentos que indicam que o Instituto 701 da China, responsável pelo desenvolvimento de porta-aviões, contratou equipamento de reatores "destinado à instalação em um grande navio de guerra de superfície", bem como a "designação de defesa nacional" atribuída ao projeto, ajudaram a levar à construção de que o reator de tamanho considerável é um protótipo para um porta-aviões de última geração.

O que a China diz?

O presidente chinês Xi Jinping encarregou as autoridades de defesa de construir uma marinha "de primeira classe" e se tornar uma potência marítima, como parte de seu projeto para a grande renovação do país.

O mais recente livro branco de defesa nacional do país, datado de 2019, diz que a marinha chinesa estava se ajustando às exigências estratégicas buscando "acelerar a transição de suas funções, da defesa em águas próximas para missões de proteção em mares distantes".

As provas de mar nem haviam começado em março para o novo porta-aviões Fujian quando Yuan Huazhi, comissário político da Marinha do Exército de Libertação Popular da China, confirmou a construção de um quarto porta-aviões. Perguntaram se ele seria movido a energia nuclear, e o oficial respondeu na época que isso "seria anunciado em breve", o que ainda não aconteceu.

Nem o Ministério da Defesa nem o Ministério das Relações Exteriores da China responderam aos pedidos de comentários.

Ainda que o porta-aviões que já está sendo produzido seja provavelmente uma embarcação Tipo 003 de propulsão convencional, os especialistas dizem que os estaleiros chineses têm capacidade de trabalhar em mais de um porta-aviões ao mesmo tempo, e poderiam produzir um navio de propulsão nuclear concomitantemente.

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A Justiça Eleitoral de Minas Gerais aceitou denúncia do Ministério Público Estadual contra o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Ele se tornou réu acusado de divulgar notícias falsas e denunciação caluniosa contra o ex-prefeito de Belo Horizonte Fuad Noman na eleição de 2024. Fuad venceu o pleito, mas morreu em março deste ano vítima de câncer. A decisão foi tomada pelo juiz Marcos Antônio da Silva.

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Nikolas se posicionou sobre a decisão. "Devia ter feito rachadinha ou roubado o INSS. Vacilei, fui dar minha opinião", declarou. Engler e Sheila também foram procurados pelo Estadão, mas ainda não se posicionaram. A reportagem não conseguiu contato com Cláudia Romualdo.

Na reta final do segundo turno, adversários de Fuad utilizaram o livro Cobiça, escrito por ele, para acusá-lo de apologia à pedofilia. Em uma passagem da obra, a personagem rememora que foi vítima de estupro coletivo quando tinha 12 anos.

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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), uma organização internacional criada para o combate ao antissemitismo e memória do massacre dos judeus.

A informação foi divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel na quinta-feira, 24, e confirmada por fontes do Itamaraty. O entendimento do governo é que a adesão à IHRA em 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro, foi feito de modo displicente.

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No dia 23, o governo brasileiro formalizou a entrada na ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça que acusa Israel de cometer genocídio contra palestinos na Faixa de Gaza. O Itamaraty nega que a saída da aliança tenha uma relação direta com a adesão à ação.

O Itamaraty criticou Israel pela campanha militar na Faixa de Gaza, que dura quase dois anos apesar da devastação do território palestino e da morte dos principais líderes do Hamas, na nota em que informou a adesão ao processo da África do Sul. As ações na Cisjordânia, território palestino onde Israel também atua militarmente com frequência e que tem ocupação de colonos judeus, também foram criticadas.

"O Brasil considera que já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política. A impunidade mina a legalidade internacional e compromete a credibilidade do sistema multilateral", diz a nota do Itamaraty.

As ações do governo brasileiro foram chamadas por Israel de "uma demonstração de profunda falha moral". Desde o início da guerra em Gaza em 2023, a relação entre o Estado judaico e o País tem se deteriorado. Em fevereiro do ano passado, Lula afirmou que as ações do Exército israelense em Gaza era comparado ao Holocausto de judeus e foi considerado persona non grata em Israel.

O episódio provocou a retirada do embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, em maio. O cargo segue vago, e as relações diplomáticas entre os dois países correm o risco de ficarem ainda menores nos próximos meses, já que o Itamaraty segue sem consentir que o diplomata Gali Dagan assuma o cargo de embaixador de Israel em Brasília. O cargo atualmente é ocupado por Daniel Zonshine.

A saída da IHRA e a adesão à ação da África do Sul esta semana, no entanto, coincidem com o aumento da pressão da comunidade internacional sobre Israel, que contou com o anúncio do presidente francês Emmanuel Macron sobre o reconhecimento do Estado da Palestina e com a denúncia de organizações humanitárias sobre fome generalizada entre os palestinos.

O Itamaraty saudou na quinta a decisão de Macron de reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia Geral da ONU, marcada para setembro - ato que também foi criticado por Israel.

Críticas a IHRA

A Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) se define como uma união de governos e especialistas para "fortalecer, avançar e promover a educação, a memória e a pesquisa sobre o Holocausto". Criada na década de 90, o grupo tem 35 membros e 8 observadores (incluindo o Brasil, que, até este sábado, segue como observador no site).

Segundo a organização, os membros da aliança precisam reconhecer que "a coordenação política internacional é essencial para combater a crescente distorção do holocausto e do antissemitismo".

A IHRA é criticada por setores do judaísmo e grupos em defesa dos direitos humanos, que acusam a organização de instrumentalizar a memória do Holocausto para blindar o Estado de Israel em casos de violência. A definição de antissemitismo da organização, adotada por países europeus e pelos Estados Unidos, dizem os críticos, considera que posições contrárias à Israel podem ser consideradas antissemita.

Em 2023, um grupo composto por mais de 100 organizações de direitos humanos, entre elas a B'TSelem, maior organização de direitos humanos de Israel, Humans Right Watch, Anistia Internacional e União Americana pelas Liberdades, solicitou à ONU a rejeição do conceito de antissemitismo do IHRA.

A crítica também é feita por um dos principais formuladores da definição, Kenneth Stern, advogado especialista em direitos humanos.

"A adoção da definição por governos e instituições é frequentemente enquadrada como um passo essencial nos esforços para combater o antissemitismo. Na prática, porém, a definição da IHRA tem sido frequentemente usada para rotular erroneamente as críticas a Israel como antissemitas e, assim, coibir e, às vezes, suprimir protestos não violentos, ativismo e discursos críticos a Israel e/ou ao sionismo, inclusive nos EUA e na Europa", afirmava a carta do grupo.

Os maiores problemas, diz o grupo, residem nos 7 dos 11 "exemplos contemporâneos de antissemitismo" informado pela IHRA, anexados à definição para orientar a aplicação. Os exemplos incluem "a alegação de que a existência de um Estado de Israel é um esforço racista" e "a aplicação de dois pesos e duas medidas ao exigir de [Israel] um comportamento não esperado ou exigido de nenhuma outra nação democrática".

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou que um pedido para investigação do deputado Filipe Barros (PL-PR) seja juntado aos autos do inquérito que mira o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por supostos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação sobre organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

A movimentação consta de despacho assinado na quinta, 24, e não implica na automática investigação do parlamentar. A decisão significa que o teor da notícia-crime será analisado no bojo do inquérito que trata de fatos semelhantes. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, deve se manifestar sobre a solicitação antes de uma eventual inclusão do parlamentar no inquérito.

"Considerando que os fatos narrados nesta notícia-crime já são objeto de procedimento específico, também de minha relatoria, junte-se cópia destes autos ao inq 4995/DF", escreveu Moraes no despacho.

A notícia-crime foi apresentada ao STF pelo advogado Benedito Silva Junior, que imputou a Filipe Barros suposto crime contra a soberania nacional. A base da petição é uma notícia sobre uma viagem que o parlamentar, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, fez aos Estados Unidos em maio.

Segundo a notícia publicada pelo portal Metrópoles - mote da solicitação de Benedito -, durante a viagem Filipe Barros teria tido reuniões com Eduardo Bolsonaro e um congressista americano para tratar de eventuais sanções a Moraes.

O advogado sustenta que o deputado bolsonarista teria participado de "articulações para comprometer a independência do Judiciário e submeter decisões judiciais nacionais à influência de um governo estrangeiro".