Ventos voltam a ganhar força em Los Angeles e complicam batalha contra incêndios

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Os fortes ventos do deserto devem voltar a Los Angeles neste domingo, 12, complicando a batalha contra os incêndios florestais que se alastram há quase uma semana e deixaram pelo menos 16 mortos. O temor é que as rajadas empurrem o fogo para alguns dos pontos mais famosos da cidade.

O maior incêndio, o Palisades, avançava mesmo enquanto os bombeiros conseguiam conter o fogo em algumas áreas. O ímpeto das chamas em direção a uma rua de casas multimilionárias em Mandeville Canyon, no bairro de Brentwood, havia sido praticamente interrompido ontem, mas apenas 11% do incêndio foi detido.

"As condições climáticas continuam críticas", alertou Michael Traum, do serviço de Emergência da Califórnia. A previsão é que os ventos do deserto de Santa Ana, responsáveis por impulsionar os incêndios, se intensifiquem neste domingo e ganhem ainda mais força a partir de segunda-feira. A situação deve continuar adversa para os bombeiros pelo menos até a quarta-feira.

Combinados, os incêndios Palisades, Eaton, Kenneth e Hurst consumiram cerca de 160 quilômetros quadrados, uma área maior que São Francisco. Os dois primeiros foram responsáveis pela maior parte da devastação.

O incêndio de Eaton provocou pelo menos 11 mortos e está entre os mais letais da história da Califórnia. As outras cinco mortes estão relacionadas ao Palisades. E autoridades alertam que o número de vítimas tende a aumentar porque muitas pessoas ainda estão desaparecidas.

As ordens de retirada atingem outras 150 mil pessoas, informou Michael Traum. Os que puderam voltar, ainda em meio à fumaça e chamas, para avaliar os danos encontraram suas casas em ruínas. Tudo estava retorcido, destruído, coberto de cinzas.

"Tudo se foi", lamentou Jose Luis Godinez, morador de Altadena, falando em espanhol. "Toda a minha família vivia nessas três casas, e agora não temos nada".

Enquanto novas ordens de retirada eram emitidas neste fim de semana, havia temores de que os ventos pudessem empurrar os incêndios em direção ao Museu J. Paul Getty e à Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA). O Palisades ameaçava ainda atravessar a rodovia Interstate 405, em direção a áreas densamente povoadas em Hollywood Hills e no Vale de San Fernando.

Equipes da Califórnia e de outros nove Estados correm contra o tempo para conter as chamas. O esforço inclui 1.354 caminhões de bombeiros, 84 aeronaves e mais de 14 mil pessoas.

A batalha contra os incêndios conta ainda com o apoio de México e Canadá. Os países vizinhos dos Estados Unidos enviaram bombeiros e equipamentos para a Califórnia como expressão de solidariedade, disseram seus líderes.

A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, disse que a equipe estava carregando "a coragem e o coração do México". A missão, de acordo com a agência de proteção civil do México, era " apoiar a luta " contra os incêndios. O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, por sua vez, postou o vídeo de um avião bimotor jogando água no incêndio com a legenda "vizinhos ajudando vizinhos".

O departamento que atua na proteção contra incêndios da Califórnia agradeceu e disse que os apoios de México, Canadá e Estados americanos eram "cruciais não apenas para os esforços de contenção, mas também para fornecer o alívio muito necessário aos bravos bombeiros na linha de frente".

Autoridades são alvo de críticas

A crise que se arrasta há quase uma semana pressiona as autoridades da Califórnia. O Estado, que é reduto do Partido Democrata, e os incêndios entraram no meio da disputa política nos EUA. Sem citar nomes, o presidente eleito Donald Trump voltou a criticar o governo local neste domingo. "Os políticos incompetentes não têm ideia de como apagar (os incêndios em LA)", escreveu nas redes sociais.

A prefeita de Los Angeles, Karen Bass, enfrenta acusações de falhas de gestão, disputas políticas e investigações. Esse é um teste crítico para administração da cidade que enfrenta a maior crise em décadas.

Por sua vez, o governador Gavin Newsom ordenou que autoridades estaduais determinassem por que um reservatório de 117 milhões de galões (440 milhões de litros) estava fora de serviço e por que alguns hidrantes ficaram sem água no começo dos incêndios.

A chefe do Corpo de Bombeiros de Los Angeles, Kristin Crowley, afirmou que a liderança da cidade falhou com seu departamento ao não fornecer dinheiro suficiente para o combate aos incêndios. Ela também criticou a falta de água. "Quando um bombeiro chega a um hidrante, esperamos que haja água", disse Crowley.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).