Netanyahu elogia proposta de Trump e prepara plano de saída voluntária dos palestinos de Gaza

Internacional
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O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, ordenou nesta quinta-feira, 6, que o Exército prepare um plano para a saída voluntária da população da Faixa de Gaza, após as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre um possível deslocamento dos habitantes do local.

"Pedi ao Exército israelense para preparar um plano para permitir que os habitantes de Gaza saiam voluntariamente", disse em comunicado.

O objetivo é permitir "a saída de qualquer residente de Gaza que deseje, para qualquer país que os aceite", acrescentou. "O plano incluirá opções de saída através das passagens terrestres, assim como medidas especiais para saídas por mar e ar".

A instrução parece integrada à polêmica ideia apresentada por Trump de "limpar" Gaza e transferir seus habitantes para países próximos, como Egito e Jordânia.

Katz celebrou "o plano audacioso de Trump, que permitiria a uma ampla parte da população de Gaza a realocação em diversos lugares do mundo".

O ministro considerou que isso ajudará os moradores de Gaza que desejarem se "integrar bem nos países de acolhida e também facilitará o avanço dos programas de reconstrução para uma Gaza desmilitarizada e livre de ameaças". Katz não explicou se o plano contempla a permissão de trânsito por Israel dos habitantes de Gaza que desejarem partir para o exílio.

No momento, Israel proíbe que os habitantes de Gaza deixem o território e o único ponto de passagem para o Egito está aberto apenas para transferências médicas, que acontecem de maneira limitada.

Além disso, o único aeroporto de Gaza foi destruído durante a Segunda Intifada (2000-2005) e o território não possui um porto para o transporte de passageiros.

Plano de Trump

Na terça-feira, 4, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou que Washington poderia "assumir" o controle da Faixa de Gaza para garantir a reconstrução do enclave palestino, totalmente devastado pela guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

Em uma coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, o presidente americano disse que quer reconstruir o território e deslocar todos os mais de 2 milhões de palestinos para países próximos durante a eventual reconstrução.

"Os EUA tomarão conta da Faixa de Gaza, nós faremos um trabalho com ela. Nós a possuiremos e seremos responsáveis por desmantelar todas as bombas perigosas não detonadas e outras armas no local", disse Trump.

O presidente americano, que atuava como empresário de sucesso no ramo imobiliário, afirmou que Gaza poderia se transformar em uma "Riviera do Oriente Médio", com a possível construção de diversos hotéis que poderiam trazer empregos para a população do enclave.

Trump lançou a ideia após a visita de seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Wittkof, a Faixa de Gaza na semana passada. Em entrevista ao portal americano Axios, Wittkof afirmou que a reconstrução do enclave poderia demorar de 10 a 15 anos. "É impressionante a destruição, não há água e nem eletricidade. Foi importante ir até Gaza para ver isso", apontou o enviado.

Um dia depois, a Casa Branca sinalizou que tropas americanas não seriam enviadas para Gaza e que o deslocamento de palestinos seria "temporário". Trump afirmou que o Exército israelense entregaria Gaza para os americanos e que os palestinos já teriam sido deslocados.

Netanyahu e aliados apoiam proposta

Netanyahu, que em um primeiro momento ficou surpreso com as declarações de Trump, ressaltou que apoia a ideia do republicano em uma entrevista à emissora conservadora americana Fox News.

"Esta é a primeira boa ideia que ouvi. É uma ideia notável e penso que deveria ser realmente examinada e realizada porque criará um futuro diferente para todos", apontou Netanyahu. "O que há de errado em permitir que os habitantes de Gaza que queiram partir saiam? Eles podem sair e depois podem voltar".

A ideia também foi recebida com entusiasmo pela extrema direita israelense, que ventila a proposta há anos. O ministro da Economia, Bezalel Smotrich, afirmou que gostaria que a ideia fosse implementada imediatamente. Já Itamar Ben-Gvir, ex-ministro da Segurança Nacional, disse que esta é a solução para o "problema de Gaza" e a "estratégia para o fim da guerra".

Ben-Gvir afirmou também que poderia voltar à coalizão de Netanyahu com a implementação da proposta. Ele saiu após o gabinete do primeiro-ministro aprovar a realização da primeira fase do cessar-fogo com o grupo terrorista Hamas, que começou no dia 19 de janeiro.

Criticas

A ideia de Trump foi recebida com críticas pela oposição democrata, organizações internacionais e países como Jordânia e Egito, que se recusam a receber palestinos de Gaza. Amã e Cairo apontam que poderiam quebrar o acordo de paz com Israel caso a proposta seja executada.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou o plano de Trump como uma forma de limpeza étnica. "Na busca de soluções, não devemos piorar o problema", disse Guterres, em uma reunião anual de um comitê da ONU que protege os direitos dos palestinos. "É fundamental manter-se fiel à base do direito internacional.

A Arábia Saudita, um importante aliado americano, criticou com dureza a ideia de Trump de assumir o controle da Faixa de Gaza, observando que seu longo apelo por um Estado palestino independente era uma "posição firme, constante e inabalável". Riad ressaltou que não firmaria com acordo de paz com Israel sem que um Estado palestino fosse criado.

Cessar-fogo

A proposta do republicano ocorre durante a primeira fase do cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Antes das declarações de Trump, esperava-se que a negociação da segunda fase do acordo de trégua seria a manchete principal da visita de Netanyahu à Casa Branca.

Trump conseguiu pressionar Netanyahu para selar a primeira fase do acordo de trégua e a administração já sinalizou que quer avançar com a negociação. Mas o Catar, que atua como um dos mediadores do cessar-fogo, teme que a ideia de Trump para Gaza possa prejudicar a segunda fase da trégua. (COM INFORMAÇÕES DA AP)

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A Polícia Federal divulgou nota nesta segunda-feira, 10, manifestando preocupação a proposta de alteração no projeto antifacção apresentada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Em nota divulgada no site da corporação, a PF diz que o texto retira atribuições do órgão de investigação criminal.

"A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público", diz a nota.

Segundo a PF, o relatório do deputado Derrite, cujo nome não é citado na nota, "o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime - especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance - poderá sofrer restrições significativas".

A proposta do deputado, aponta a PF, obrigaria a instituição só poderia entrar em investigações a pedido de governos estaduais, "o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado".

"Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros", diz a nota.

A PF diz que, pelas regras propostas pelo deputado, as operações recentes contra o crime organizado não teriam ocorrido se as regras do texto de Derrite já estivessem valendo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou à Receita Federal a regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do ex-deputado federal Daniel Silveira, que pretende obter a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

Atualmente, Silveira cumpre pena em regime semiaberto, já podendo progredir para aberto, pois já cumpriu metade dos oito anos de condenação impostos pela Suprema Corte em 2022. Ele foi condenado por ameaças ao Estado Democrático de Direito e tentativa de interferência em processo judicial.

A liberação do CPF ocorreu após a defesa de Silveira alegar a necessidade de regularização do documento para obter a carteira de trabalho e poder, eventualmente, trabalhar.

Em despacho, Moraes destacou que "considerando que a alegação da defesa é contraditória com a informação obtida junto à Receita Federal, que aponta a situação de regularidade do CPF do apenado, esclareça-se o pedido formulado", dando prazo de cinco dias para resposta.

Além disso, a defesa solicitou a liberação do CPF para inscrição no portal Gov.br e a abertura de conta salário em banco.

Mesmo no regime semiaberto, Silveira segue sujeito a restrições como proibição de uso de redes sociais, monitoramento por tornozeleira eletrônica, passaporte cancelado, comparecimento semanal à Justiça e permanência obrigatória no Estado do Rio de Janeiro.

O ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, apontado como integrante do "núcleo 2" da trama golpista, lançou uma campanha virtual de arrecadação de recursos para custear advogados nos Estados Unidos. A iniciativa foi anunciada no último domingo, 9, em publicação no X (antigo Twitter), feita pelo advogado Jeffrey Chiquini.

Segundo Chiquini, a vaquinha foi criada por um grupo de apoiadores e amigos de Filipe Martins para arrecadar recursos destinados a custear os honorários de advogados criminalistas nos Estados Unidos. Segundo ele, a iniciativa também pretende ajudar nas despesas decorrentes das restrições que o ex-assessor enfrenta "há quase três anos".

Chiquini disse ainda que todo o valor arrecadado será destinado exclusivamente ao ex-assessor de Jair Bolsonaro e defendeu o engajamento dos apoiadores. Ele afirmou que o objetivo é "levar todos os responsáveis pela fraude no sistema migratório americano à Justiça dos EUA" e pediu que as pessoas "acessem o site, ajudem a divulgar e apoiem com o que puderem".

Preso preventivamente desde fevereiro de 2024, Filipe Martins passou seis meses detido no Paraná antes de ser autorizado a cumprir prisão domiciliar, decisão tomada diante do risco de fuga ao exterior. A ordem de prisão foi fundamentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fato de o nome do ex-assessor constar na lista de passageiros da comitiva do então presidente Jair Bolsonaro, que deixou o Brasil rumo a Orlando em 30 de dezembro de 2022.

Desde então, a defesa de Martins argumenta que, embora seu nome apareça na relação oficial do voo, ele não embarcou e permaneceu no País durante aquele período.

A vaquinha foi anunciada após as recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado havia determinado o afastamento da defesa de Martins por perda de prazo processual, mas recuou da decisão dias depois. O episódio gerou reação de perfis da extrema-direita nas redes sociais, que acusaram o STF de "cerceamento de defesa".

Apesar das manifestações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reuniu documentos e depoimentos que, segundo a denúncia, implicam diretamente Martins na tentativa de golpe de Estado.

Uma das principais provas citadas é a reunião de 7 de dezembro de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro teria apresentado aos comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto com medidas de exceção, considerada pela Polícia Federal como base jurídica para a execução do golpe.

Martins é réu no STF e será julgado em dezembro, nos dias 9, 10, 16 e 17, junto com outros integrantes do chamado "núcleo 2" da trama golpista, grupo composto por ex-assessores e aliados diretos de Bolsonaro que teriam sido responsáveis por ações de articulação e apoio logístico ao plano.