Os militares das Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos", que figuram como réus no núcleo 3 da ação penal do golpe prestaram depoimento nesta segunda-feira, 28, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e negaram as denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que teriam executado ações táticas na tentativa de ruptura institucional ocorrida em 2022.
Esse grupo é alvo de algumas das acusações mais severas do processo, a exemplo da tentativa de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do STF Alexandre de Moraes, mas todos os réus alegaram que as situações apontadas pela PGR eram menos sérias do que o descrito.
O tenente-coronel do Exército Rafael Martins de Oliveira alegou, por exemplo, que o grupo "Copa 2022" identificado pela Polícia Federal (PF) como responsável por monitorar Moraes com o objetivo de assassiná-lo era, na verdade, para discutir futebol, "afinal era um ano de copa do mundo".
"Nunca participei, nunca vi minuta, nem nada disso nessa ação penal", disse Martins. "Nunca tive conhecimento, vi ou me inteirei do plano punhal verde e amarelo, só após a minha prisão", prosseguiu ao comentar sobre o plano que teria sido tramado no grupo Copa 2022.
De acordo com a PF, os integrantes do grupo no aplicativo Signal usaram codinomes de países, como "Alemanha," "Argentina," "Áustria," "Brasil," "Gana" e "Japão" - em referência à Copa do Mundo daquele ano - para planejar e organizar o rastreamento de Moraes. Os investigadores identificaram que foram utilizados CPFs de terceiros para ativar as linhas telefônicas, o que permitiu aos militares manterem as suas identidade preservadas.
O réu Rodrigo Bezerra, que é tenente-coronel de Exército, repetiu diversas vezes que não seria o usuário "Brasil" e questionou os extratos de Estação Rádio Base (ERBs) juntados pela PGR aos autos do processo, alegando que seriam imprecisos por abranger áreas extensas. O tenente-coronel Martins usou parte do seu depoimento para defender que Bezerra nunca participou de nenhum grupo do qual ele fazia parte.
Os dois militares também negaram ter participado da reunião na casa do general Walter Braga Netto em que teria sido discutido o plano para matar Moraes. Segundo Martins, a participação dele e de outros oficiais no encontro foi um "conto de fadas que ele (Mauro Cid) imaginou".
"A partir do momento que decidiram que Kids Pretos são pessoas que tramam, articulam em redes de articulações, tudo vira uma suposta reunião de golpe", disse.
Martins, contudo, não respondeu se recebeu dinheiro de Cid para executar a tentativa de golpe, conforme foi dito pelo delator. "A incapacidade de produzir uma prova material fala mais alto do que a palavra do delator", afirmou
Reunião para pressionar por golpe seria 'confraternização'
Assim como Martins reduziu o grupo Copa 2022 a um chat futebolístico, o coronel Marcio Nunes Resende Júnior alegou que o grupo de WhatsApp "dossss!!!!" - formado apenas por oficiais militares que, segundo a PF, teriam agido para pressionar autoridades e estimular o golpe - seria apenas de "amizade" e para compartilhar "zoeira".
Resende Júnior afirmou que a reunião realizada no dia 28 de novembro de 2022 realizada no salão de festas do prédio do seu pai teria sido apenas uma "confraternização", um "evento informal" e "uma reunião de amigos". A PF, contudo, aponta que o encontro foi realizado para elaborar a carta que seria entregue ao então comandante do Exército para pressioná-lo a aderir ao golpe de Estado em planejamento.
"Era uma coisa impraticável. A denúncia faz crer que a gente chegaria no general e proporia uma coisa dessas. Seria prisão na certa", disse Resende Júnior. "Militares desse naipe jamais estariam reunidos para algo do tipo", completou.