Tropas de Israel deixam área-chave de Gaza como parte de cessar-fogo

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

As Forças Armadas de Israel se retiraram neste domingo, 9, de um estratégico corredor que divide a Faixa de Gaza, deixando quase todo o norte do território, conforme exigido por um tênue cessar-fogo com o Hamas. A retirada é essencial para o avanço de novas negociações para um acordo mais duradouro.

A saída dos militares do corredor Netzarim ocorreu enquanto o governo israelense enviava uma delegação ao Catar no fim de semana para discutir o próximo grupo de reféns israelenses e prisioneiros palestinos a serem libertados durante a fase inicial do acordo de trégua, que entrou em vigor no mês passado e continua vigente.

Em uma declaração ontem, os militares israelenses disseram que as tropas estavam "implementando o acordo" para deixar o corredor e permitir que centenas de milhares de palestinos continuassem retornando para casa no norte de Gaza. O Hamas também confirmou a saída das tropas israelenses, afirmando em uma declaração que foi "uma vitória da vontade do nosso povo".

Com a retirada, a presença de tropas israelenses em Gaza está agora limitada a uma pequena faixa de terra no sul, perto da fronteira com o Egito, e a uma zona-tampão ao longo da fronteira israelense.

O Ministério do Interior de Gaza, controlado pelo Hamas, alertou ontem aos palestinos que estão retornando que seus veículos ainda poderiam ser inspecionados por empresas de segurança estrangeiras para evitar que armas fossem transferidas do sul.

"Pedimos aos cidadãos que sejam cuidadosos e cumpram a movimentação de acordo com o mecanismo atualmente permitido para sua segurança", disse o Ministério do Interior em um comunicado.

O Exército israelense ordenou uma retirada em massa do norte de Gaza nos primeiros dias da guerra e patrulhou o corredor, em parte para impedir que os palestinos retornassem. As tropas israelenses já haviam se retirado parcialmente do corredor Netzarim no mês passado, deixando combatentes estrangeiros para preencher o vazio.

FASES DO ACORDO

A retirada completa do corredor foi exigida pela primeira fase de 42 dias do acordo de cessar-fogo - que agora está na metade - e necessária para avançar para a próxima etapa e encerrar totalmente a guerra em Gaza.

Novas armadilhas significativas para chegar a um acordo para a próxima fase - que poderia envolver uma retirada militar israelense completa de toda a Faixa de Gaza - surgiram na semana passada, depois que o presidente Donald Trump disse que os EUA poderiam assumir o controle de Gaza e transformá-la na "Rivera do Oriente Médio" ao realocar seus residentes palestinos.

As negociações sobre a segunda fase, que visam à libertação de mais reféns e à retirada completa de Israel de Gaza, deveriam começar em 3 de fevereiro. Mas Israel e o Hamas parecem ter feito pouco progresso, mesmo com as forças israelenses se retirando de um corredor.

Israel enviou uma delegação ao Catar, um mediador-chave nas negociações entre as partes, mas a missão incluía autoridades de baixo escalão, levantando especulações de que não levará a um avanço.

A chance de um acordo mais duradouro é incerta. Israel disse que não concordará com uma retirada completa de Gaza até que as capacidades militares e políticas do Hamas sejam eliminadas. O Hamas, por sua vez, diz que não entregará os últimos reféns até que Israel remova todas as tropas.

REFÉNS

A cena da libertação de três reféns israelenses no dia anterior, aparentemente mais magros e pálidos, fazendo declarações de agradecimentos aos terroristas do Hamas sob ameaça de armas, aumentou a pressão sobre o governo israelense para a extensão da fase atual do acordo.

As famílias dos reféns restantes disseram que o tempo está se esgotando, pois alguns sobreviventes descreveram estar descalços e acorrentados.

"Não podemos deixar os reféns permanecerem lá. Não há outra maneira. Estou apelando ao gabinete", disse Ella Ben Ami, filha de um refém libertado anteontem, acrescentando que agora entende que a situação dos capturados é muito pior do que se imaginava.

PLANO DE TRUMP

Enquanto isso, Netanyahu, que estava nos EUA, onde se encontrou com Trump, elogiou o controvertido plano do republicano de remover os palestinos de Gaza e afirmou que seu país fará o trabalho.

"Acho que a proposta do presidente Trump é a primeira ideia nova em anos e tem o potencial de mudar tudo em Gaza", disse Netanyahu em entrevista veiculada anteontem na Fox News. "Tudo o que Trump está dizendo é: 'quero abrir o portão e dar a eles a opção de se mudarem temporariamente enquanto reconstruímos o local fisicamente'. Trump nunca disse que quer que as tropas americanas façam o trabalho. Adivinhe? Nós faremos o trabalho".

Para o premiê, o problema da proposta é encontrar países que concordem em receber a população palestina, de cerca de 2 milhões de pessoas. Os vizinhos Egito e Jordânia já rechaçaram a ideia. Netanyahu acrescentou que, para serem autorizados a retornar, os palestinos deveriam "repudiar o terrorismo".

A proposta de Trump foi anunciada ao lado do próprio Netanyahu em Washington na semana passada. O plano foi amplamente criticado, tanto por aliados quanto por adversários dos EUA, como uma limpeza étnica. Para a população palestina, uma tentativa de retirá-los de Gaza evoca memórias do que chamam de Nakba (palavra em árabe que em português significa tragédia), como se referem ao deslocamento forçado durante a criação de Israel em 1948. (Com agências internacionais).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

A Polícia Federal divulgou nota nesta segunda-feira, 10, manifestando preocupação a proposta de alteração no projeto antifacção apresentada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Em nota divulgada no site da corporação, a PF diz que o texto retira atribuições do órgão de investigação criminal.

"A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público", diz a nota.

Segundo a PF, o relatório do deputado Derrite, cujo nome não é citado na nota, "o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime - especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance - poderá sofrer restrições significativas".

A proposta do deputado, aponta a PF, obrigaria a instituição só poderia entrar em investigações a pedido de governos estaduais, "o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado".

"Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros", diz a nota.

A PF diz que, pelas regras propostas pelo deputado, as operações recentes contra o crime organizado não teriam ocorrido se as regras do texto de Derrite já estivessem valendo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou à Receita Federal a regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do ex-deputado federal Daniel Silveira, que pretende obter a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

Atualmente, Silveira cumpre pena em regime semiaberto, já podendo progredir para aberto, pois já cumpriu metade dos oito anos de condenação impostos pela Suprema Corte em 2022. Ele foi condenado por ameaças ao Estado Democrático de Direito e tentativa de interferência em processo judicial.

A liberação do CPF ocorreu após a defesa de Silveira alegar a necessidade de regularização do documento para obter a carteira de trabalho e poder, eventualmente, trabalhar.

Em despacho, Moraes destacou que "considerando que a alegação da defesa é contraditória com a informação obtida junto à Receita Federal, que aponta a situação de regularidade do CPF do apenado, esclareça-se o pedido formulado", dando prazo de cinco dias para resposta.

Além disso, a defesa solicitou a liberação do CPF para inscrição no portal Gov.br e a abertura de conta salário em banco.

Mesmo no regime semiaberto, Silveira segue sujeito a restrições como proibição de uso de redes sociais, monitoramento por tornozeleira eletrônica, passaporte cancelado, comparecimento semanal à Justiça e permanência obrigatória no Estado do Rio de Janeiro.

O ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, apontado como integrante do "núcleo 2" da trama golpista, lançou uma campanha virtual de arrecadação de recursos para custear advogados nos Estados Unidos. A iniciativa foi anunciada no último domingo, 9, em publicação no X (antigo Twitter), feita pelo advogado Jeffrey Chiquini.

Segundo Chiquini, a vaquinha foi criada por um grupo de apoiadores e amigos de Filipe Martins para arrecadar recursos destinados a custear os honorários de advogados criminalistas nos Estados Unidos. Segundo ele, a iniciativa também pretende ajudar nas despesas decorrentes das restrições que o ex-assessor enfrenta "há quase três anos".

Chiquini disse ainda que todo o valor arrecadado será destinado exclusivamente ao ex-assessor de Jair Bolsonaro e defendeu o engajamento dos apoiadores. Ele afirmou que o objetivo é "levar todos os responsáveis pela fraude no sistema migratório americano à Justiça dos EUA" e pediu que as pessoas "acessem o site, ajudem a divulgar e apoiem com o que puderem".

Preso preventivamente desde fevereiro de 2024, Filipe Martins passou seis meses detido no Paraná antes de ser autorizado a cumprir prisão domiciliar, decisão tomada diante do risco de fuga ao exterior. A ordem de prisão foi fundamentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fato de o nome do ex-assessor constar na lista de passageiros da comitiva do então presidente Jair Bolsonaro, que deixou o Brasil rumo a Orlando em 30 de dezembro de 2022.

Desde então, a defesa de Martins argumenta que, embora seu nome apareça na relação oficial do voo, ele não embarcou e permaneceu no País durante aquele período.

A vaquinha foi anunciada após as recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado havia determinado o afastamento da defesa de Martins por perda de prazo processual, mas recuou da decisão dias depois. O episódio gerou reação de perfis da extrema-direita nas redes sociais, que acusaram o STF de "cerceamento de defesa".

Apesar das manifestações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reuniu documentos e depoimentos que, segundo a denúncia, implicam diretamente Martins na tentativa de golpe de Estado.

Uma das principais provas citadas é a reunião de 7 de dezembro de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro teria apresentado aos comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto com medidas de exceção, considerada pela Polícia Federal como base jurídica para a execução do golpe.

Martins é réu no STF e será julgado em dezembro, nos dias 9, 10, 16 e 17, junto com outros integrantes do chamado "núcleo 2" da trama golpista, grupo composto por ex-assessores e aliados diretos de Bolsonaro que teriam sido responsáveis por ações de articulação e apoio logístico ao plano.