Secretário de defesa dos EUA: objetivo da Ucrânia de recuperar territórios é 'irrealista'

Internacional
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O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, disse nesta quarta-feira, 12, que a adesão da Ucrânia deveria abandonar as esperanças de recuperar todo o seu território atualmente ocupado pela Rússia. Em vez disso, ele sugere, a Kiev deveria se preparar para um acordo de paz negociado com o apoio de tropas internacionais.

Em seu primeiro encontro com ministros da defesa da Otan e da Ucrânia, Hegseth disse que o presidente Donald Trump "pretende encerrar esta guerra pela diplomacia e trazendo tanto a Rússia quanto a Ucrânia para a mesa". Mas, para a Ucrânia tentar recuperar todo o território que a Rússia apreendeu desde 2014, como insiste que deve fazer, "apenas prolongará a guerra e causará mais sofrimento", disse ele.

"Só encerraremos esta devastadora guerra e estabeleceremos uma paz durável ao unir a força aliada com uma avaliação realista do campo de batalha", disse ele.

A mensagem contundente de Hegseth e sua insistência de que a Rússia deveria manter parte do território que a Ucrânia quer de volta ofereceram a visão mais clara até agora de como o governo pensa em acabar com a guerra. Aliados europeus têm esperado ansiosos pelo prometido plano de paz de Trump, que pode ser apresentado na Conferência de Segurança de Munique no fim desta semana. Quando ainda era candidato, Trump dizia que acabaria com a guerra em seu dia 1 no governo.

Horas depois das falas do secretário, Trump escreveu nas redes sociais que teve uma longa conversa telefônica com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e eles concordaram em "iniciar negociações imediatamente" para encerrar a guerra.

Hegseth, na sede da Otan em Bruxelas, disse que Trump espera que a Europa assuma mais responsabilidade financeira e militar pela defesa da Ucrânia. A Europa, disse ele, deve assumir mais responsabilidade por sua defesa convencional e gastar mais dinheiro em suas forças armadas, até 5% da produção nacional, enquanto os Estados Unidos lidam com seus próprios riscos de segurança e o desafio da China. Atualmente, nem os EUA alcançam essa meta de gasto.

Os aliados europeus aumentaram seus orçamentos militares desde que Putin ordenou a entrada de suas tropas na Ucrânia, e estima-se que 23 deles tenham atingido ou excedido a meta do ano passado de gastar 2% do produto interno bruto, mas um terço ainda está aquém.

Trump, acrescentou ele, não apoia a adesão da Ucrânia à Otan como parte de um plano de paz realista.

Após um acordo, "uma paz duradoura para a Ucrânia deve incluir garantias de segurança robustas para garantir que a guerra não começará novamente", mas isso seria responsabilidade, disse ele, de tropas europeias e não europeias em uma "missão não-Otan" desprotegida pelo compromisso do Artigo Cinco da Otan com a defesa coletiva.

Nenhuma tropa americana será enviada à Ucrânia, disse ele, e a Europa deve fornecer "a maior parte do futuro auxílio letal e não letal à Ucrânia".

Ao defender a manutenção das tropas de paz na Ucrânia, o secretário pontuou que elas deveriam ser isentas do Artigo 5 do código da Otan, que prevê que a agressão a um membro e uma agressão a todos, que têm de responder. O Artigo 5 foi ativado apenas uma vez, quando aliados europeus e o Canadá usaram a garantia de segurança coletiva para ajudar os Estados Unidos após os ataques da Al-Qaeda em Nova York e Washington em 11 de setembro de 2001.

Mudança de política

Os comentários de Hegseth não são uma surpresa para os aliados da Otan, mas marcam uma grande mudança em relação à política do ex-presidente Joe Biden de que cabia à Ucrânia decidir se faria concessões em troca de paz - o que até agora significou preservar a soberania ucraniana dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, e apoiar Kiev em seu esforço para expulsar as forças russas de todo o território ucraniano pré-guerra.

Trump disse esta semana que trocaria a continuação da ajuda à Ucrânia por cerca de US$ 500 bilhões em minerais terras raras ucranianos usados na fabricação de alta tecnologia. Ele enviou Scott Bessent, o novo secretário do Tesouro, para fazer a primeira visita de alto nível da administração a Kiev, porque, Trump escreveu nas redes sociais, "esta guerra deve e vai acabar em breve".

A Otan prometeu que a Ucrânia um dia se tornará membro da aliança, mas sem especificar uma data. Os comentários de Hegseth parecem colocar essa data muito distante no futuro imprevisível, se é que ela chega.

Seus comentários criarão dificuldades políticas para o presidente Volodmir Zelenski da Ucrânia e provavelmente agradarão Putin, que apreendeu a Crimeia da Ucrânia em 2014 e lançou uma invasão total em 2022. A Rússia agora ocupa cerca de 20% da Ucrânia.

A Ucrânia, até então, é relutante em aceitar um acordo em que faça concessões territoriais, citando como exemplo e irregular anexação russa da Crimeia. Embora não reconhecida internacionalmente, a Rússia considera hoje a península como parte de seu território e por anos o conflito ficou paralisado sem que houvesse grandes resistências à ocupação.

Porém, em 2022, Moscou promoveu a invasão em larga escala do país, tomando territórios do leste, na região do Donbass. A invasão, argumenta o governo ucraniano, é a prova de que a Rússia não seria confiável e continuaria avançado em um plano de tomar toda a Ucrânia, e seguiria para dentro da Europa.

Putin exige que a Rússia mantenha seus territórios ocupados, que a Ucrânia não se junte à Otan, que sua capacidade militar seja limitada e que a expansão da aliança atlântica seja interrompida. Ele disse estar disposto a entrar nas negociações sobre um acordo com a Ucrânia, mas apenas em seus termos.

Para ajudar a levar Putin à mesa de negociações, Hegseth instou preços mais baixos de energia, "combinados com uma aplicação mais eficaz das sanções à energia".

Gastos militares

"A conversa real começou", disse Camille Grand, ex-secretário-geral assistente da Otan. Após sugestões discretas de oficiais de Trump, Hegseth "agora apresentou o pedido americano e os termos são claros", disse Grand. "Agora os europeus precisam responder".

"Ou os europeus dizem, 'Meu Deus, nós não podemos fazer isso sem vocês americanos', e acrescentam à percepção de Trump de que eles são inúteis e aproveitadores da segurança", disse ele, "ou mais provavelmente, 'Estamos prontos para considerar isso e mobilizar tropas e recursos, mas essas são nossas condições para fazê-lo'".

Então pode haver uma conversa séria sobre a solidez de qualquer cessar-fogo, sobre uma força de paz, comando e controle, cobertura aérea e cenários de pior caso, se a Rússia testar os pacificadores, disse Grand.

Hegseth não questionou o compromisso americano com a Otan, como Trump às vezes fez no passado. Os Estados Unidos "permanecem comprometidos com a aliança da Otan e com a parceria de defesa com a Europa, ponto final, mas os Estados Unidos não tolerarão mais uma relação desequilibrada que encoraja a dependência", disse.

Então, a Europa deve assumir a responsabilidade por sua própria defesa convencional, disse ele, ao mesmo tempo em que implicou que o guarda-chuva nuclear americano que ajuda a proteger a Otan e a Europa permaneceria no lugar.

Ele instou os europeus a manterem seus compromissos com os gastos militares e a aumentá-los. "Desafiamos seus países e seus cidadãos a dobrar a aposta e reafirmarem não apenas as necessidades de segurança imediatas da Ucrânia, mas também os objetivos de defesa e dissuasão de longo prazo da Europa", disse ele.

A Ucrânia atualmente depende igualmente da Europa e dos EUA para cerca de 30% de cada uma de suas necessidades de defesa. O restante é produzido pela própria Ucrânia. Ao longo de quase três anos, os 50 países da aliança forneceram coletivamente à Ucrânia mais de US$ 126 bilhões em armas e assistência militar, incluindo mais de US$ 66,5 bilhões dos EUA, que atua como presidente do grupo desde sua criação.

"Nós ouvimos você", disse John Healey, secretário de defesa do Reino Unido, em resposta aos comentários de Hegseth antes da reunião ser fechada à imprensa.

Falando em uma coletiva de imprensa após a reunião, Healey apontou para objetivos compartilhados com os Estados Unidos, incluindo uma paz duradoura na Ucrânia com garantias de segurança, e um aumento nos gastos militares europeus e responsabilidade tanto para a Ucrânia quanto para sua própria defesa.

Perguntado se Trump agora havia quebrado a unidade ocidental sobre a Ucrânia, Healey não respondeu, mas repetiu esses objetivos compartilhados, enfatizando o compromisso americano com a Otan e se recusando a descartar a adesão da Ucrânia à aliança um dia.

"Esse é um processo que levará algum tempo", ele disse. Mas por agora, "o dever das nações ao redor daquela mesa é garantir que a Ucrânia esteja na posição mais forte possível indo para quaisquer conversações no futuro".

Quanto à Europa assumir a responsabilidade pela maioria da ajuda à Ucrânia, ele observou que a Europa já está fornecendo mais ajuda no total do que os Estados Unidos. "Estamos intensificando o apoio à Ucrânia", disse Healey. "Faremos mais. Faremos isso ao lado dos americanos". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

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A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil