Trump e Putin iniciam negociação para o fim da guerra na Ucrânia

Internacional
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Donald Trump disse nesta quarta, 12, que começou a negociar o fim da guerra na Ucrânia com o presidente russo, Vladimir Putin. A declaração foi feita após uma ligação entre os dois e sinaliza uma mudança na relação dos EUA com a Rússia. Um exemplo do novo cenário foi a declaração do chefe do Pentágono, Pete Hegseth, feita horas antes, de que restabelecer a fronteira pré-guerra entre os dois países é uma meta "irrealista".

Falando a jornalistas ontem, Trump concordou com Hegseth e disse que "improvável" que as fronteiras voltem a ser as mesmas de 2014. Ele escreveu em sua rede social que ele e Putin haviam "concordado em trabalhar juntos", expressando confiança nas conversas e prometendo que "mais nenhuma vida deveria ser desperdiçada" na guerra. O americano afirmou que os dois também concordaram em conversar pessoalmente - ele recebeu um convite para ir a Moscou, embora a viagem ainda não tenha data confirmada.

A ligação de 90 minutos foi a primeira vez que os presidentes de EUA e Rússia conversaram desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. A conversa ocorreu antes de Trump telefonar para Volodmir Zelenski, presidente ucraniano, e de qualquer aceno para os aliados europeus, um sinal de que a Casa Branca não está disposta a trabalhar com Ucrânia e Europa para encontrar uma estratégia comum de negociação.

"Queremos parar as milhões de mortes que estão ocorrendo na guerra", disse Trump sobre o telefonema com Putin. "Concordamos que nossas equipes iniciem as negociações imediatamente. E começaremos ligando para o presidente Zelenski para informá-lo sobre a conversa."

Com a movimentação de ontem, os EUA jogaram água fria nas esperanças da Ucrânia de garantir sua entrada na Otan e de restaurar as fronteiras de antes da anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014. O anúncio de Trump e as declarações de Hegseth confirmaram os temores de que os americanos suavizaram o cerco a Moscou.

Otan

Em uma cúpula da Otan em Bruxelas, o chefe do Pentágono afirmou que nenhum soldado americano será enviado à Ucrânia e a Europa é que deve fornecer a maior parte da ajuda letal e não letal ao país. "Para deixar claro, como parte de qualquer garantia de segurança, não haverá tropas americanas mobilizadas", disse.

Hegseth falou em obter uma "paz duradoura" para que a guerra não comece novamente, mas jogou no colo da Europa a responsabilidade de garantir a segurança de um acordo. A missão, segundo ele, não pode ser da Otan e não seria protegida pelo Artigo 5.º da aliança, que fala em defesa mútua - um ataque a um país-membro deve ser respondido por todos de forma coletiva.

Diplomatas europeus ainda tentaram, sem sucesso, convencer o governo americano a aceitar a participação da Europa nas negociações. O argumento é que o estado pós-conflito na Ucrânia seria uma parte essencial da arquitetura de segurança da Europa.

Em vez disso, os europeus agora acreditam que serão pressionados a financiar sozinhos qualquer acordo alcançado com a Rússia, incluindo o envio de armas, equipamento e tropas de manutenção da paz.

A Rússia estabeleceu uma posição firme antes de iniciar qualquer negociação, exigindo que a Otan reverta a maior parte de sua expansão após o fim da Guerra Fria no leste da Europa e insistindo que a Ucrânia reconheça a anexação russa de quatro regiões do sudeste e leste do país, nenhuma das quais Moscou controla totalmente.

Moscou

A versão do Kremlin do telefonema foi mais contida do que a da Casa Branca e sugere que a Rússia não pretende flexibilizar suas exigências. Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, disse que o russo concorda que é "hora de trabalhar junto" com Trump em uma "solução de longo prazo", mas advertiu que é "essencial resolver as causas do conflito".

A declaração foi vista como um sinal de que a Rússia não aceitará um simples cessar-fogo e buscará concessões mais amplas, incluindo uma garantia de que a Ucrânia não seja aceita na Otan - exatamente na direção das declarações de Hegseth em Bruxelas.

Peskov confirmou ainda que Putin convidou Trump para ir a Moscou e estava preparado para se reunir com autoridades dos EUA para discutir "questões de interesse mútuo". Os dois também discutiram a cooperação econômica e o programa nuclear iraniano, de acordo com Peskov.

Por fim, o porta-voz disse que a Rússia não aceita trocar território com a Ucrânia, como sugeriu Zelenski, em entrevista publicada na terça-feira pelo jornal britânico The Guardian. A proposta do ucraniano seria abandonar as áreas tomadas por suas tropas na região russa de Kursk, e receber de volta as províncias ocupadas por Moscou no leste e sudeste do país.

"Isso é impossível", afirmou Peskov. "A Rússia nunca discutiu e nunca discutirá a troca de seu território." As forças ucranianas em território russo, segundo o porta-voz do Kremlin, serão destruídas e expulsas do país.

Desprestígio

Em outro sinal preocupante para a Ucrânia, Trump disse que havia indicado como negociadores o secretário de Estado, Marco Rubio, o diretor da CIA, John Ratcliffe, o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e o enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff. A lista não inclui seu enviado para a Ucrânia, Keith Kellogg. A conversa com Zelenski, além de ter acontecido depois do telefonema com Putin, durou apenas uma hora, segundo a Casa Branca.

Em comunicado, Zelenski disse que teve com Trump uma "longa conversa" sobre as chances de paz. O ucraniano relatou que o americano deu detalhes de sua conversa com Putin e falaram sobre "capacidades tecnológicas, incluindo drones e outras produções modernas".

Uma autoridade ucraniana revelou que Zelenski fez uma atualização sobre a situação no campo de batalha e o envio de tropas norte-coreanas para lutar ao lado das forças russas na região de Kursk. Mais tarde, Trump escreveu no Truth Social que a ligação com Zelenski "foi muito boa".

Após três anos da invasão russa, a Ucrânia enfrenta dificuldades na linha de frente e incerteza sobre a continuidade da ajuda dos EUA, depois que Trump voltou à Casa Branca. Os republicanos, que controlam a Câmara e o Senado, estão cada vez mais refratários em financiar a resistência aos russos.

Nas últimas semanas, os três países - Ucrânia, Rússia e EUA - emitiram sinais que apontam para a possibilidade de uma negociação. O fim da guerra foi uma promessa de campanha de Trump. Ele garantiu que o conflito terminaria no primeiro dia após a posse. Depois, pediu mais 100 dias para concluir um acordo de paz.

Nesta sexta, 14, Zelenski se reunirá com o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, durante a conferência de segurança em Munique, na Alemanha. Kellogg, o enviado de Trump à Ucrânia, que ficou encarregado de elaborar uma proposta para o fim do conflito, visitará Kiev na semana que vem.

Troca

Por enquanto, o único acordo entre EUA e Rússia foi uma troca de presos. Na terça-feira, 11, Trump recebeu na Casa Branca Marc Fogel, jornalista americano que foi detido na Rússia em 2021, acusado de posse de drogas. Ontem, o americano afirmou que a Rússia agiu "muito bem" e disse esperar que o gesto de boa vontade seja "o começo de uma relação que possa acabar com a guerra". O Kremlin afirmou que a libertação ocorreu em troca de um cidadão russo preso nos EUA, cuja identidade não foi divulgada. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Os deputados bolsonaristas Hélio Lopes (PL-RJ) e Coronel Chrisóstomo (PL-RO) recolheram as barracas que haviam montado na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), com a intenção de acampar em reação ao que chamaram de "ditadura disfarçada" e "perseguição" ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

A desmobilização ocorreu no fim da noite desta sexta-feira, 25, após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O magistrado determinou a remoção imediata das estruturas e a proibição de acesso e permanência dos deputados em frente ao STF. O ministro intimou pessoalmente o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), a não permitir "nenhum novo acampamento" na Praça dos Três Poderes.

No despacho, o ministro considerou que os deputados bolsonaristas reivindicaram o direito de manifestação com o "confessado propósito de repetir os ilegais e golpistas acampamentos realizados na frente dos quartéis do Exército, para subverter a ordem democrática e inviabilizar o funcionamento das instituições republicanas".

A primeira barraca montada em frente ao STF foi a do deputado Hélio Lopes, que gravou vídeos com um esparadrapo na boca e uma camisa com a bandeira de Israel. Em suas postagens, o parlamentar alegou que optou por entrar em um "jejum de palavras".

Em outro post, Hélio Lopes compartilhou o que chamou de "ofício público" ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), pedindo que registrasse oficialmente sua "manifestação pacífica e silenciosa" como um ato "legítimo de um deputado federal em pleno exercício de seu mandato".

Depois, o deputado Coronel Chrisóstomo aderiu à mobilização e, em suas redes sociais, mostrou outros apoiadores do ex-presidente, vestidos com camisetas da seleção brasileira, que se juntavam à manifestação.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, assinou despacho na noite desta sexta-feira, 25, determinando que a força policial fosse usada para retirar deputados bolsonaristas acampados na Praça dos Três Poderes, próximo ao prédio da Corte. Atendendo pedido da Procuradoria Geral da República, Moraes autorizou a prisão dos parlamentares, caso não aceitassem deixar o local.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi intimado por Moraes para tomar providências. Na decisão, Moraes fala em deputados estariam "participando de possível prática criminosa". Após a ordem, o ministro do STF assinou um complemento da decisão proibindo a instalação de novos acampamentos num raio de 1 quilômetro da Praça dos Três Poderes, da Esplanada dos Ministérios e até mesmo de quartéis das Forças Armadas. Moraes justificou que adotava a medida para evitar um novo 8 de Janeiro.

"Para garantir a segurança pública e evitar novos eventos criminosos semelhantes aos atos golpistas ocorridos em 8/1/2023, determinou a proibição de qualquer acampamento em um ario de 1KM da Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios e, obviamente, em frente aos quartéis das Forças Armadas", determinou Moraes.

O "acampamento" dos deputados começou na tarde de sexta-feira, quando o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) foi sozinho para o local, montou uma barracada, colocou esparadrapo na boca para protestar contra as medidas judiciais impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele recebeu apoio de alguns populares e de outros parlamentares bolsonaristas que também foram para a Praça.

A ordem de Moraes alcançava, além de Hélio Lopes, Sóstenes Cavalcante (PL-AL), Cabo Gilberto Silva (PL-PB), Coronel Chrisóstomo (PL-RO) e Rodrigo da Zaeli (PL-MT).

O governador do DF foi pessoalmente negociar a saída dos deputados para fazer cumprir a ordem de Moraes. Sob risco de prisão, os parlamentares aceitaram transferir as barracas para outro local na Esplanada dos Ministérios, mas fora da Praça dos Três Poderes. Ao desmontar as barracas foram avisados que havia uma nova decisão de Moraes, bloqueando acampamentos no raio de 1 quilômetro da Praça e da Esplanada.

Durante a negociação - feita com o desembargador aposentado Sebastião Coelho, bolsonarista e crítico do STF - Ibaneis admitiu desconforto com a situação. "Eu não concordo com as coisas que estão acontecendo, Sebastião", disse o governador.

Na primeira decisão, Moraes atendeu todos os pedidos do Ministério Público que havia relatado risco à segurança por conta do acampamento dos deputados.

"Defiro integralmente os pedidos da Procuradoria Geral da República, no sentido de:

A) Remoção imediata e proibição de acesso e permanência dos Deputados Federais Hélio Lopes, Sóstenes Cavalcante, Cabo Gilberto Silva, Coronel Chrisóstomo e Rodrigo da Zaeli, assim como de quaisquer outros indivíduos que se encontrem em frente ao Supremo Tribunal Federal participando de possível prática criminosa.

B) Prisão em flagrante com base na prática de resistência ou desobediência ao ato de autoridade pública, a fim de garantir a efetividade das probabilidades e a preservação da ordem pública na hipótese de resistência de indivíduos que, mesmo após intimados, insistirem em permanecer na via pública em manifestação de oposição à ordem.

C) Notificar a Polícia Militar do Distrito Federal e a Polícia Federal para imediato cumprimento da medida, competindo especialmente à Polícia Militar do Distrito Federal a adoção de todas as providências necessárias à efetiva remoção dos referidos indivíduos do local", escreveu Moraes.

Segundo a decisão, a remoção teria que ser feita imediatamente. Ele ainda acrescentou que o governador do DF deveria ser intimado da decisão.

"Nossa luta é pela liberdade. Não temos mais tempo. De poder falar, liberdade ao nosso grande líder Bolsonaro, e queremos votar o PL da anistia. É tudo que queremos", disse o deputado Coronel Chrisóstomo, após desmontar as barracas.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, antecipou ao Estadão a ordem de prisão ao grupo de deputados bolsonaristas. Rocha avisou que estava indo para a Praça para tentar negociar uma saída pacífica, mas se não houvesse concordância, estava autorizando a polícia local a prender os parlamentares.

"Vamos tentar tirar pacificamente. Se não saírem, serão presos", disse o governador ao Estadão. A Praça é considerada área de segurança.

Para reforçar a proteção ao local, o acesso para veículos à Praça dos Três Poderes foi interditado pela Polícia Militar. Na Praça estão os prédios do Congresso, do STF e o Palácio do Planalto.

Mais cedo o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, mencionou o risco de um novo 8 de Janeiro para evacuar os deputados federais Hélio Lopes (PL-RJ) e Coronel Chrisóstomo (PL-RO) que manifestam na Praça dos Três Poderes nesta sexta-feira, 25.

Segundo Avelar, a ideia era que os manifestantes seguissem para a Praça das Bandeiras, na Esplanada dos Ministérios. Já o entorno do STF deveria ser isolado por grades ainda na noite da sexta, segundo o plano.

Movimento sociais de esquerda - como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular - estão planejando manifestações em defesa da soberania nacional para o dia 1º de agosto, data em que a sobretaxa de 50% sobre os produtos nacionais imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, deve entrar em vigor.

Os atos ocorrerão em frente a prédios que representam o governo dos EUA. A UNE anunciou manifestações diante dos Consulado dos Estados Unidos em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e na Embaixada Americana em Brasília (DF).

A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, por outro lado, marcaram ato para às 15h em Salvador (BA) e definiram a soberania nacional como uma das principais pautas.

"O bolsonarismo, mesmo após a derrota eleitoral, segue organizado e alinhado a uma rede global pautada na política imperialista de ataque à soberania dos povos, tal como podemos identificar a partir da recente decisão de Donald Trump de aplicar um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros", escreveu a UNE na carta que divulgou o ato de 1º de agosto contra o tarifaço.

Na manhã desta sexta, 25, a Faculdade de Direito da USP também recebeu um ato em defesa da soberania nacional organizado por 250 entidades. A motivação da reunião se deu pela decisão do governo americano de suspender os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A cassação dos vistos, que ocorreu após imposição de medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é um novo capítulo da escalada de tensão entre o governo dos EUA e o brasileiro.

Os atritos começaram após o presidente americano anunciar que taxará os produtos nacionais em 50% por meio de uma carta que pedia o fim do julgamento de Bolsonaro.

"O modo como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado no mundo, é uma desgraça internacional", disse Trump por meio do documento. "Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", escreveu.

Horários e locais das manifestações da Une, em 1º de agosto

São Paulo - 10h no Consulado dos EUA em São Paulo

Salvador - 15h no Campo Grande

Rio de Janeiro - 18h no Consulado dos EUA

Brasília - 09h em frente a Embaixada dos EUA

Porto Alegre - 18h na Esquina Democrática

Belo Horizonte - 17h na Praça Sete