Alemanha Não vai tolerar interferência externa em eleições, diz Scholz, em resposta a JD Vance

Internacional
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O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, disse que o país não vai tolerar "pessoas que olham a Alemanha de fora interferindo na nossa democracia e eleições". A declaração, dada durante a Conferência de Segurança de Munique, tinha como alvo o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance.

Vance, que no final do ano passado referiu-se ao partido de extrema direita e de origem nazista Alternativa para a Alemanha (Afd) como o único que poderia salvar o país europeu, fez críticas na sexta-feira à existência de barreiras a forças políticas, sem mencionar o AfD. Antes de discursar, porém, Vance havia participado de uma reunião com a chefe do partido, Alice Weidel. O discurso do vice-presidente dos Estados Unidos foi posteriormente elogiado pelo presidente do país, Donald Trump.

Scholz, em sua réplica neste sábado, foi mais direto. Segundo ele, a Alemanha assumiu a missão histórica de nunca mais deixar que o fascismo e o racismo voltem a governar o país. "Nunca mais. Por isso, a maioria esmagadora no meu país resiste resolutamente a quem glorifica o criminoso nazismo. Este compromisso não é reconciliável com o AfD", afirmou.

"É importante entender que a Alemanha é uma democracia muito forte. Temos muito claro que a extrema direita deve estar fora do controle político e do processo de decisão. Rejeitamos qualquer ideia de cooperação com partidos da extrema direita. Há forte consenso entre partidos da Alemanha, e espero que isso dure. Mas é preciso dizer que não cabe aos outros aconselhar que cooperemos com estes partidos - com quem não trabalhamos por boas razões, especialmente quando olhamos a história do nosso país", acrescentou.

Os alemães irão às urnas em 23 de fevereiro e as pesquisas mais recentes apontam queda no apoio a Scholz e um aumento das intenções de voto no AfD. Questionado sobre a perda de popularidade e uma potencial dificuldade de vencer a disputa, Scholz disse que, nas eleições anteriores, as pesquisas mostravam um cenário semelhante, e mesmo assim ele venceu.

Guerra na Ucrânia

O chanceler também marcou posição contrária à possibilidade de mudança nas fronteiras da Ucrânia e a um acordo de paz que faça os Estados Unidos e a Europa divergirem em relação às políticas de segurança. "As fronteiras não devem mudar pelo uso de força", disse o chanceler, referindo-se à guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Ele também disse que mesmo se a Rússia vencesse o conflito, isso não significaria o início de um período de paz.

"Só haverá paz se a soberania da Ucrânia for garantida. Uma paz ditada portanto nunca teria nosso apoio. E não aceitaremos também nenhuma solução que leve a um descasamento entre a segurança dos Estados Unidos e da Europa. O único que se beneficiaria disso seria Putin", disse Scholz, mencionando o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

O chanceler da Alemanha também defendeu que os gastos com defesa e segurança da Alemanha sejam removidos do rol de despesas sujeitas ao limite de gastos previsto na lei do país. "Será impossível financiar 2% do PIB em gastos com defesa sem mudança" que permita aumentar o endividamento, disse ele, acrescentando que a isenção deve ser aplicada permanentemente ou "por um longo tempo".

"Não há países que consigam fazer isso pela defesa sem se financiarem com dívida. Todo mundo no G7 tem uma relação dívida/PIB acima de 100%. Nós estamos indo a 60%. Temos a capacidade econômica para fazer o que é necessário", acrescentou.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil