Semana é crítica com reunião dos EUA e Rússia sobre Ucrânia após choque para Europa em Munique

Internacional
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O futuro da Ucrânia está em jogo enquanto autoridades americanas vão à Arábia Saudita para iniciar negociações diretas com Moscou sobre o fim da guerra, deixando Kiev e seus aliados europeus em busca de uma estratégia para sua própria segurança.

A França convocou uma reunião de emergência de líderes europeus em Paris depois que o continente ficou atordoado com seu primeiro encontro com a equipe de Trump na Conferência de Segurança de Munique no fim de semana. Líderes europeus ficaram surpresos quando autoridades do alto escalão dos EUA, incluindo o vice-presidente JD Vance, criticaram duramente as nações europeias, deram sinais mistos sobre apoio a Kiev e sugeriram que a Europa não estaria à mesa para negociações sobre a Ucrânia.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky insistiu que Kiev nunca aceitará um acordo feito pelas suas costas e rejeitou uma proposta dos EUA para acesso aos minerais de terras raras da Ucrânia porque estava muito focada nos interesses americanos e não oferecia garantias de segurança específicas em troca.

Líderes europeus estão começando sua semana reunidos em Paris. Zelensky está nos Emirados Árabes Unidos como parte de um giro ao Oriente Médio para angariar apoio, enquanto o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se prepara para um encontro com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.

Aqui está um resumo de como um fim de semana tumultuado em Munique abalou a ordem após Segunda Guerra Mundial e a posição dos principais participantes nas negociações desta semana:

Estados Unidos

Vance surpreendeu com um ataque à Europa sobre o que ele chamou de recuo de valores compartilhados com os EUA, acusando os líderes europeus de não conseguirem impedir a migração ilegal, suprimir a liberdade de expressão e ter medo de seus próprios eleitores.

O general Keith Kellogg, enviado especial de Trump para a Ucrânia e a Rússia, enquanto isso praticamente cortou os europeus de qualquer conversa entre Ucrânia e Rússia.

Rubio chegou na segunda-feira, 17, à Arábia Saudita antes das negociações com a Rússia na terça-feira, 18.

Ucrânia

Zelensky começa a semana nos Emirados Árabes Unidos, mas a Ucrânia não participa das negociações na Arábia Saudita, embora uma delegação ucraniana esteja no país para um fórum empresarial.

Zelensky disse que a Ucrânia não aceitará nenhum acordo que seja fechado por Moscou e Washington acima de Kiev e pediu a criação de uma "força armada da Europa".

Europa

Líderes europeus estão processando discursos do governo Trump sobre questões como democracia e o futuro da Ucrânia em uma cúpula em Paris.

No fim de semana, o chanceler alemão Olaf Scholz rebateu os EUA por interferirem nas eleições de seu país depois que Vance repreendeu os líderes europeus sobre sua abordagem à democracia e se encontrou com o líder de um partido alemão de extrema direita.

Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha, disse que esse é um momento em que a Europa tem que se levantar."

Após o tumultuado fim de semana, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, se tornou um dos primeiros líderes europeus a declarar explicitamente que está considerando enviar forças para a Ucrânia se houver um acordo de paz.

Rússia

O telefonema entre Trump e Putin causou um choque na Europa, enquanto o discurso de Vance em Munique, criticando duramente os valores europeus, foi recebido com alegria em Moscou. O jornal russo Moskovsky Komsomolets disse que "o velho mundo foi derrubado um ou dois degraus" e que a Europa ficou "estupefata" e lutando para recuperar o fôlego, pois foi "amassada pelos EUA abaixo da cintura".

Embora não esteja claro se Putin realmente quer acabar com a guerra, o Kremlin altos funcionários estão indo para a Arábia Saudita para negociações com os funcionários de Trump. Eles discutirão a restauração de laços, Ucrânia e uma reunião - Putin já convidou Trump para Moscou, sugerindo que ele venha em maio.

O Moskovsky Komsomolets brincou na segunda-feira com os leitores sobre as consequências do telefonema de Trump e Putin:

"Trump ligou para Putin. Foi assim:

Vladimir, você tem um país legal, e eu tenho um país legal. Vamos dividir o mundo?"

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Grupo de bolsonaristas deram início na tarde desta terça-feira, 7, a um ato em defesa da anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e demais condenados por tentativa de golpe de Estado. Batizada de "caminhada pela anistia, a manifestação percorre a Esplanada dos Ministérios em direção ao Congresso.

Logo no início do protesto um dos apresentadores admitiu que o público presente não era grande. "Nós sabemos que é uma terça-feira. A gente não teve a intenção de trazer milhares de pessoas. Nós quisemos mandar uma mensagem através dos olhos do brasiliense", disse o locutor do evento do alto de um carro de som.

Um dos primeiros a discursar foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. "Não tem sido fácil. Assim como ele (Bolsonaro) não baixou a cabeça, nós não vamos baixar a nossa cabeça. Vocês, além de testemunhas, são atores ativos em mais um ato pela anistia para que o Congresso ouça a nossa voz, veja as cores que nós carregamos", disse o senador.

Apesar de estar em processo de negociação um projeto que reduz penas de condenados, sem concessão de anistia geral como defendem os bolsonaristas, o senador preferiu dizer aos manifestantes que o projeto de perdão completo está para ser aprovado no Congresso.

"Nós estamos a um passo de conseguir aprovar essa anistia", declarou.

Os parlamentares que discursaram se uniram contra a proposta de dosimetria para redução das penas dos condenados.

"Nós não queremos qualquer coisa. Não queremos qualquer um. Nós queremos Bolsonaro. Nós não queremos dosimetria. Nós não queremos redução de pena. No Brasil já teve muitas anistias", disse a deputada Bia Kicis (PL-DF).

Um dos apoiadores é o pastor Silas Malafaia, que é investigado pela Polícia Federal (PF) em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por coação no curso do processo que condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe.

Em vídeo de convocação dos apoiadores para a caminhada, Malafaia ironizou as manifestações realizadas pela esquerda no mês de setembro que lotaram as ruas de diversas capitais do País com as pautas contra a anistia e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, que foi aprovada na Câmara com apoio do bolsonarismo, mas arquivada no Senado.

O pastor debochou do fato de os atos da esquerda terem contado com a presença de grandes artistas da música popular brasileira, o que, na avaliação do campo bolsonarista, foi o que impulsionou as manifestações. Malafaia afirmou no vídeo de convocação para a passeata desta terça-feira que "os artistas são as famílias das pessoas injustiçadas".

"Agora é a reta final. A anistia vai ser votada na Câmara e os deputados precisam ver a nossa força e nossa voz", afirmou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no vídeo em que tenta atrair apoiadores para caminhar na Esplanada.

Como mostrou a Coluna do Estadão, o bolsonarismo anunciou a caminhada como um ato modesto que não pretende rivalizar com as manifestações recentes da esquerda. A realização durante um dia útil já denota que não haverá grandes massas em Brasília. Segundo Malafaia, havia pouco tempo para organizar um ato grande em um domingo, como geralmente ocorre.

Contudo, eles se valem do fato de no início deste ano terem realizado uma passeata semelhante que reuniu um número considerável de apoiadores também em dia útil.

Os aliados de Bolsonaro viram a esquerda no mínimo igualar a sua capacidade de ocupação das ruas em diferentes Estados contra a PEC da Blindagem e foram obrigados a votar a favor do projeto de isenção do imposto de renda patrocinado pelo governo Lula, que deve ser um de seus principais trunfos na corrida eleitoral do ano que vem.

Somado a isso, o bolsonarismo observa um projeto alternativo ao da anistia ampla, geral e irrestrita ganhar tração. A expectativa é que o texto que vá a votação seja o sob relatoria do deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que deve propor redução de penas em vez de perdão. Caso isso ocorra, Bolsonaro permaneceria preso, mas por menos tempo.

Em mais um revés recentes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu driblar o bloqueio realizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do influenciador Paulo Figueiredo para que ele acesse a Casa Branca, e teve o seu primeiro diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O canal de interlocução aberto entre os dois líderes é negativo para o bolsonarismo porque, além de abrir margem para que Lula reverta as tarifas americanas, Trump tem feito sucessivos elogios à figura do presidente brasileiro. Com isso, os aliados de Bolsonaro veem o seu principal aliado com potencial de fustigar Lula se mostrando aberto ao diálogo e à negociação.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira, 7, que o União Brasil e o PP agem com "pequenez" ao pressionarem pela saída dos ministros André Fufuca (Esporte), Celso Sabino (Turismo) da Esplanada. Segundo o presidente, os partidos querem atrapalhar os auxiliares que fazem um bom trabalho no Executivo.

"Se essas coisas estão dando certo, por que mexer? Tem essa pequenez de achar que atrapalhar um ministro que está fazendo um bom trabalho e deixar de ser ministro, por quê? Por raiva? Por inveja? Por disputa política?", questionou o presidente.

Lula também disse que vai conversar com Fufuca e manifestou não desejar que ele deixe o cargo. O PP quer que ele saia do comando do Esporte até o final desta semana. Já Sabino entregou uma carta de demissão para Lula há duas semanas, mas ainda não deixou o Turismo. Como mostrou a Coluna do Estadão, ele optou por permanecer no Executivo e confrontar o União Brasil.

"Eu quero conversar com o Fufuca, eu não quero que ele saia, eu acho que ele está fazendo um bom trabalho, eu acho que é o equívoco do PP querer expulsar o Fufuca, da mesma forma que eu acho que é o equívoco do União Brasil querer, saber expulsar o Sabino, uma bobagem. Mas, de qualquer forma, eu vou conversar com ele, eles são deputados, eles têm mandato, eles sabem também o que decidir, tem maioridade para isso", disse o presidente.

O presidente também mandou recados para a oposição ao governo, afirmando que não vai implorar para que partidos fiquem do lado dele no ano que vem. Como mostrou o Broadcast Político, diretórios do Nordeste de partidos do Centrão devem abrir dissidências para apoiar Lula na região Nordeste.

"Quando chegar a época das eleições, cara, cada um vai para o canto que quiser, eu não vou implorar para nenhum partido estar comigo, vai estar comigo quem quiser estar comigo, eu não sou daqueles que ficam tentando comprar deputado, não, vai ficar comigo quem quiser, quem quiser ir para o outro lado que vá", declarou Lula.

O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu processo contra os deputados federais Marcos Pollon (PL-MS), Zé Trovão (PL-SC) e Marcel van Hattem (Novo-RS), os últimos a manterem o motim em protesto à prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que impediu o trabalhos da Casa, em agosto. O colegiado também sorteou nesta terça-feira, 7, a lista tríplice para definir o relator de representação por falta de decoro.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) decidiu apensar as três representações apresentadas contra os deputados, o que fará com que o relator sorteado avalie o caso dos três parlamentares. Foram sorteados Castro Neto (PSD-PI), Albuquerque (Republicanos-RR) e Zé Haroldo Cathedral (PSD-RR) para a representação contra Pollon, Trovão e Van Hattem.

Deputados do Novo contestaram a decisão de juntar as representações em uma só. "Recorro dessa apensação, disse Van Hattem. "Vejo que há uma grande cortina de fumaça contra parlamentares que agiram dentro da lei."

Caberá ao presidente do Conselho de Ética, Fabio Schiochet (União-SC), escolher quem será esse relator. Houve ainda um sorteio de outra representação contra Pollon (entenda sobre mais abaixo).

Nesse caso, compõem a lista tríplice Castro Neto, Moses Rodrigues (União-CE) e Ricardo Maia (MDB-BA).

Essa é a primeira fase da tramitação da representação contra os parlamentares. A representação com a sugestão de punições foi enviada pela Corregedoria da Câmara, chefiada pelo deputado Diego Coronel (PSD-BA).

O corregedor pediu a suspensão do mandato de Van Hattem e de Trovão por 30 dias por obstruirem a cadeira da presidência da Casa. No caso de Pollon, Coronel pediu mais 60 dias por ele ter chamado o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de "bosta" e "baixinho de um metro e sessenta".

Segundo as regras do Conselho de Ética, só poderia fazer parte dessa relatoria parlamentares que não são do mesmo partido ou Estado de Eduardo ou do mesmo partido de quem fez a representação.