Ao lado de Lula, primeiro-ministro de Portugal defende acordo entre UE e Mercosul

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O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defenderam nesta quarta-feira, dia 19, a implementação do acordo de associação entre os blocos Mercosul e União Europeia (UE). O governo brasileiro tem expectativa de que as próximas etapas, após a conclusão da fase de negociações em dezembro passado, sejam superadas ainda neste ano.

O premiê português fez um alerta enfático sobre a necessidade de avançar no processo de assinatura e ratificação, sob o risco de a Europa perder espaço para concorrentes. Ele afirmou que o maior trabalho agora é da própria Europa. Objeções políticas e de setores agrícolas em países como França, Itália, Áustria, Polônia e Irlanda podem ameaçar o progresso.

Para o governante português, o acordo abre as portas para uma relação comercial regulada, com confiança nas trocas e "reciprocamente justa", além de formar um mercado com mais de 700 milhões de pessoas. Ele afirmou que defenderá com todos os argumentos a assinatura do acordo comercial e sua ratificação, que passa inicialmente pelo Conselho Europeu e pelo Parlamento Europeu.

"Seremos, como temos sido, defensores intransigentes da obrigação que reputamos ser da UE em implementar o acordo UE-Mercosul", afirmou o primeiro-ministro.

Sem citar a China, que avançou no comércio com a América do Sul nos últimos anos e provocou uma reação da UE com o projeto Global Gateway, o português alertou para perda potencial de mercados.

Montenegro também criticou uma possível "escalada protecionista", a partir das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que poderá trazer dissabores econômicos e aumento de preços a médio prazo.

"É preciso dizer isso olhos nos olhos: se não for implementado, é um espaço que fica aberto a outros blocos comerciais. Se os europeus não tiverem a capacidade de implementar depois não podem se queixar de ver outros blocos comerciais invadirem de forma não regulada e não leal do ponto de vista do comércio internacional o espaço que não tiveram a capacidade de ocupar. Esse é um desafio, mais do que vosso, é nosso", afirmou Montenegro.

O acordo demorou 25 anos de negociação, concluídas no fim do ano passado. O processo de tradução e revisão do acordo deve ser concluído ainda no primeiro trimestre do ano. A expectativa da diplomacia brasileira é que o texto possa ser assinado no início do segundo semestre, passando à fase de ratificação no âmbito da União Europeia até o fim do ano.

"Quando o protecionismo comercial ganha força no mundo, demonstramos o potencial da integração. Não há dúvidas de que o acordo trará benefícios para os dois blocos. Ele significará acesso a bens e serviços mais baratos, aumento dos investimentos e cooperação renovada para proteger o meio ambiente, sem prejuízo da política de neoindustrialização brasileira", disse Lula.

No segundo semestre, o Brasil assumirá a presidência rotativa do Mercosul, após o fim do período da Argentina. Atualmente, a presidência da UE está com a Polônia, abertamente contrária ao acordo - em seguida será da Dinamarca, favorável. O Brasil também vai sediar neste ano uma cúpula com líderes da UE.

Lula também se queixou de Trump, sem citá-lo. O petista afirmou que o país que mais defendia a democracia e o livre comércio no mundo agora ameaça "tomar tudo" e "agora é o que fala menos em democracia e mais em protecionismo".

Acordos bilaterais

Os governos de Brasil e Portugal assinaram 19 acordos, discutiram o avanço do extremismo, sobretudo na esfera digital, e debateram propostas de regulação das big techs e combate à desinformação.

O governo brasileiro confirmou que vai abrir sedes da Apex-Brasil, a agência de promoção de exportações e investimentos, e da Fiocruz, em Portugal. Os países estabeleceram um hub aeronáutico da Embraer com a OGMA.

Lula convidou, e Montenegro confirmou presença na cúpula climática das Nações Unidas, a COP-30, em novembro, em Belém (PA).

"Quando alguns escolhem a competição e a guerra, nossos países apontam o caminho do diálogo e da paz. O futuro do planeta requer que todos, sem exceção, cumpram os compromissos assumidos no Acordo de Paris e alinhem ambição e financiamento."

O premiê destacou que o grupo Vila Galé vai abrir um hotel boutique para a COP-30, na capital paraense, e destacou investimentos de empresas portuguesas no País.

Sobre o processo de privatização da empresa aérea de bandeira nacional TAP, ele afirmou que o caderno de encargos terá como obrigação a manutenção de rotas ligando Brasil e Portugual. "Isso é absolutamente garantido", disse Montenegro, sobre a TAP Air Portugal.

No campo policial, os governos também firmaram uma parceria para combate ao terrorismo e facções criminosas transnacionais, com foco sobretudo no Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). O acordo envolve o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Haverá maior troca de informações e documentos confidenciais, segundo os governos.

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A Faculdade de Direito da USP realizou na manhã desta sexta-feira, 25, um ato em defesa da soberania nacional. A mobilização foi motivada pela decisão do governo de Donald Trump de suspender os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

Segundo a organização, mais de 250 entidades da sociedade civil aderiram à manifestação, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Instituto Vladimir Herzog. Cerca de mil pessoas participaram do evento no Salão Nobre da faculdade, que estava lotado e decorado com bandeiras do Brasil, faixas verde e amarelas e banners com os dizeres "Soberania" e "Democracia".

A convocação foi assinada pelo diretor da Faculdade de Direito, Celso Campilongo, e pela vice-diretora Ana Elisa Bechara. Ana participou da leitura da Carta em Defesa da Soberania Nacional, ao lado da psicóloga Cida Bento, autora do livro O Pacto da Branquitude.

Um dos trechos do documento afirma: "Neste grave momento, em que a soberania nacional é atacada de maneira vil e indecorosa, a sociedade civil se mobiliza, mais uma vez, na defesa da cidadania, da integridade das instituições e dos interesses sociais e econômicos de todos os brasileiros".

Antes da leitura da carta, Campilongo alertou para o risco de violação de princípios básicos do Direito Internacional. "A soberania nacional, o respeito aos direitos básicos do Direito Internacional estão sendo solapados por esta situação de constrangimento, de ameaça, de abuso de poder - de um lado político, mas, juntamente com este poder político, também de um poder econômico."

Estiveram presentes no evento diversas figuras da política brasileira, como Aloizio Mercadante, presidente do BNDES; Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Edinho Silva, presidente eleito do PT; e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O deputado Hélio Lopes (PL-RJ) montou uma barraca na Praça dos Três Poderes em protesto contra as medidas judiciais impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Lopes ainda colocou um esparadrapo na boca sustentando que a liberdade de expressão está ameaçada no País.

O deputado publicou nas redes sociais uma carta aberta em que diz que o Brasil "não é mais uma democracia". "Não estou aqui para provocar. Estou aqui para demonstrar a minha indignação com essas covardias. Não estou incentivando ninguém a fazer o mesmo", disse.

Questionado pela reportagem por que ele resolveu se acampar, ele se manteve calado.

Diante de novas perguntas, o deputado reagiu gesticulando negativamente, manifestando o desejo de permanecer sem falar, com a mordaça na boca, enquanto lia o capítulo de Provérbios, do Velho Testamento da Bíblia.

Apesar de declarar-se em silêncio, a conta do parlamentar nas redes sociais continuaram ativas e, por lá, ele se manifestava: "Muito obrigado pelas mensagens de carinho. Mesmo em silêncio, tenho sentido cada palavra, cada oração e cada apoio que chega de todos os cantos do Brasil", escreveu em sua conta o X.

A manifestação chamou a atenção de poucos transeuntes, em sua maioria bolsonaristas. O primeiro político a chegar foi o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO), que deu um abraço no deputado e disse que irá acampar ao lado de Lopes.

"Estamos procurando uma forma de mostrar ao Brasil o que está acontecendo", disse. Segundo ele, ainda que Lopes tenha dito que não está "incentivando ninguém a fazer o mesmo", num futuro breve poderiam ter outras dezenas de acampamentos na Praça dos Três Poderes.

A Polícia Militar do Distrito Federal acionou a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal, conhecida como DF Legal, dizendo que acampamentos não podem ficar na área da Praça, a mesma que foi invadida nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

O deputado se recusou a sair e policiais discutem qual a melhor estratégia a ser adotada neste momento.

Bolsonaro disse que passaria perto da manifestação de Lopes, mas não iria parar "senão politiza".

Na avaliação do ministro dos Transportes, Renan Filho, a família Bolsonaro tem caminhado cada vez mais para a extrema direita e, por isso, o governo do presidente Lula deve ocupar mais o centro, visando as eleições presidenciais do ano que vem.

Em conversa com a imprensa após participar de um painel na XP Expert, em São Paulo, Renan Filho destacou que "há muita possibilidade" de isolar o bolsonarismo na extrema-direita, principalmente após o deputado Eduardo Bolsonaro ter se licenciado de seu mandato e mudado para os Estados Unidos.

"É um ataque que está sendo feito à própria democracia", disse Renan Filho, em relação às negociações de Eduardo Bolsonaro nos EUA que culminaram na imposição de tarifas de 50% a produtos brasileiros.

Para Renan Filho, é possível "reconstituir uma frente ampla", apresentando um projeto para o País que agregue, além da centro-esquerda, uma parte maior do próprio centro.