Jacarés, cobras, insetos: passageiros contam como sobreviveram por 36 horas após acidente aéreo

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Foi depois que o pequeno avião caiu na selva boliviana, no início da semana passada, que o verdadeiro calvário começou para os sobreviventes. Após colidir com o solo, a aeronave capotou indo parar em uma lagoa infestada de anacondas e jacarés, mergulhando o piloto e quatro passageiros - incluindo um menino de 6 anos - em angustiantes 36 horas agarrados aos destroços do avião, antes de serem resgatados na sexta-feira, 2, no nordeste da Bolívia.

O médico que tratou dos cinco sobreviventes disse à Associated Press no sábado, 3, que todos estavam conscientes e em condição estável, sendo que apenas a tia do garoto, de 37 anos, permaneceu hospitalizada com um corte infectado na cabeça. Os demais receberam alta e estavam se recuperando de desidratação, queimaduras químicas leves, cortes infectados, hematomas e picadas de insetos por todo o corpo.

"Os jacarés e cobras nos observavam a noite toda"

"Não podíamos acreditar que eles não foram atacados", disse, por telefone, Luis Soruco, diretor do hospital onde os sobreviventes foram levados na província de Beni da Bolívia, após enviar o piloto e duas das mulheres para casa com um forte tratamento de antibióticos.

O piloto, Pablo Andrés Velarde, de 27 anos, contou na sexta-feira, 2, a história que tem fascinado muitos bolivianos. "Os mosquitos não nos deixavam dormir", contou Velarde aos repórteres de sua cama no hospital na capital provincial de Trinidad. Soruco disse que ele estava "surpreendentemente" com boa saúde e ânimo. "Os jacarés e cobras nos observavam a noite toda, mas não se aproximavam."

Surpreso que os caimões, uma espécie da família dos jacarés nativa da América Central e do Sul, não atacassem, Velarde especulou ser o cheiro de combustível de jato derramando dos destroços que havia mantido os répteis predadores à distância. Mas não há evidências científicas de que ele seja um efetivo repelente de jacarés.

Velarde disse que os cinco sobreviveram comendo farinha de mandioca que uma das mulheres havia levado como lanche. Eles não tinham nada para beber, já que a água da lagoa estava contaminada com gasolina.

O acidente

O pequeno avião havia decolado na quarta-feira, 30, da vila boliviana de Baures, com destino à cidade maior de Trinidad mais ao sul, onde Patricia Coria Guary tinha uma consulta médica agendada para seu sobrinho de 6 anos no hospital pediátrico, disse Soruco.

Duas outras mulheres, vizinhas de Baures, com idades de 32 e 54 anos, juntaram-se a eles. Esse tipo de voo é um meio comum de transporte nessa remota região Amazônica cortada por rios. É que chuvas intensas inundam estradas, não pavimentadas, nesta época do ano.

Mas, em apenas 27 minutos, quase na metade do tempo de voo, o único motor do avião parou. Velarde disse que relatou a iminente queda pelo rádio para um colega.

Em entrevistas para a mídia local, ele contou que tinha havia mirado para uma clareira próxima a uma lagoa. "Não havia fazenda nem estrada na rota", disse. "Era apenas um pântano."

Em vez de deslizar pela margem conforme planejado, o avião bateu no chão e virou de cabeça para baixo, ferindo todos a bordo e deixando Coria Guary com um corte especialmente profundo na testa, antes de mergulhar na água. "A aterrissagem foi muito brusca," disse Velarde.

Assim que o avião foi inundado, os cinco conseguiram subir em cima da fuselagem. Ali permaneceram por duas noites aterrorizantes, cercados por caimões e anacondas e atacados por enxames de mosquitos e outros insetos. Eles acenavam com camisas e lençóis em vão e gritavam cada vez que ouviam o som de hélices ou o ronco de um motor de barco.

Na sexta-feira, 2, ao som de lanchas se aproximando, "começamos a acender as lanternas dos nossos celulares e a gritar", disse Velarde. Um grupo de pescadores percebeu e os ajudou a entrar em sua canoa. Eles chamaram as autoridades e entregaram os sobreviventes a um helicóptero do Exército algumas horas depois. "Não aguentaríamos mais uma noite", disse Velarde.

Em outra categoria

Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) fizeram, no domingo, uma série de atos pelo País em defesa do ex-presidente. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram os principais alvos das manifestações - esvaziadas com o avanço da ação penal por tentativa de golpe de Estado da qual Bolsonaro é réu. Entre os governadores bolsonaristas, apenas Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, compareceu.

Impedido pelo STF de usar as redes sociais, de sair de casa aos finais de semana e obrigado a usar uma tornozeleira eletrônica, o ex-presidente falou aos manifestantes por meio de uma ligação para seu filho Flávio Bolsonaro, no Rio.

Especialistas acreditam que isso pode configurar descumprimento da decisão. "Boa tarde, Copacabana. Boa tarde, meu Brasil. Um abraço a todos, é pela nossa liberdade. Estamos juntos", disse Bolsonaro. O áudio foi conectado aos alto-falantes, em Copacabana, e a saudação foi registrada em vídeo e publicada no perfil oficial de Flávio.

O advogado criminalista Matheus Falivene, doutor em Direito Penal pela USP, avalia que a publicação deve reabrir um debate sobre cautelares mais duras ou mesmo sobre prisão do ex-presidente.

Governadores bolsonaristas como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Júnior (PSD), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Jorginho Mello (PL) não foram aos atos pró-Bolsonaro em seus respectivos Estados.

Capitais

Em São Paulo, apesar da presença do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o pastor Silas Malafaia foi o principal orador. O ato na Avenida Paulista reuniu 37,6 mil pessoas, diz o Monitor do Debate Público do Meio Digital, da USP.

O pastor chamou Moraes de "criminoso", cobrou o arquivamento das ações contra bolsonaristas e pediu a Deus para quebrar "a dureza, ambição e vaidade" dos parlamentares e ministros do STF.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) liderou a manifestação em Belo Horizonte e provocou Moraes. "Você é um cara corajoso. Mas sem toga você é nada", disse. "Nós muito bem sabemos que o STF não é o dono do Brasil."

Queda acentuada

À medida que a ação penal contra Bolsonaro avança, o comparecimento aos atos em seu favor vem minguando. A redução do público já foi superior a 90%.

Para compensar a ausência do ex-presidente, seus familiares participaram no domingo em diferentes cidades. Enquanto Flávio esteve no Rio, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro(PL) esteve em Belém (PA, reforçando os atos na região Norte.

As manifestações do domingo foram as primeiras após o anúncio de sanções dos Estados Unidos contra o Brasil, estimuladas por outro filho do ex-presidente, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O governo Donald Trump alegou que Bolsonaro sofre uma "caça às bruxas" e impôs tarifas de 50% às importações brasileiras.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou no domingo, 3, que tem um "limite" na briga sobre o tarifaço com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e que não pode falar o que "acha que é possível, mas o que é necessário". O chefe do Palácio do Planalto participou do último dia da programação do 17.º Encontro Nacional do PT, em Brasília.

"Tenho limite de briga com o governo americano. Não posso falar tudo o que eu acho que posso. Tenho que falar o que é possível, o que é necessário", disse o presidente brasileiro.

Para Lula, Trump "extrapolou os limites porque quer acabar com o multilateralismo". "Eles são um país muito grande, o mais bélico, com mais tecnologia, a maior economia. Tudo isso é muito importante. Mas queremos ser respeitados pelo nosso tamanho. Não somos republiqueta. Tentar colocar assunto político para nos taxar economicamente é inaceitável."

Donald Trump afirmou que o presidente Lula pode falar com ele "quando quiser". A declaração foi dada na Casa Branca, em resposta a pergunta de uma jornalista da TV Globo.

Sobre o fato de as tarifas não parecerem ter ligação com questões comerciais, Trump afirmou que "as pessoas que governam o Brasil fizeram a coisa errada".

Lula reagiu horas depois. Na rede social X, escreveu que sempre esteve aberto ao diálogo e trabalha para responder as medidas tarifárias. "Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições."

Retorno

Formalmente, o evento serviu para a posse do novo presidente do partido, o ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva, e para a dos novos presidentes estaduais. Também marcou o retorno do ex-ministro José Dirceu à direção nacional da sigla. Lula disse que essa volta é "extremamente importante".

Dirceu, que prepara uma candidatura à Câmara em 2026, será um dos 93 membros do diretório nacional e foi um dos mais ovacionados pela militância, com gritos de "guerreiro do povo brasileiro".

Ele voltou a ser considerado elegível em outubro, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que anulou condenação na Operação Lava Jato. O ex-ministro discursou no sábado.

Lula também exaltou a presença do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, outro alvo da Lava Jato que teve condenação anulada.

Edinho

No primeiro discurso como novo presidente, Edinho Silva pediu a união do partido em torno de nova vitória de Lula e disse que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é o "maior líder fascista" da atualidade.

O ex-prefeito também afirmou que o partido precisa pensar no pós-Lula, uma vez que a eleição do ano que vem deve ser a última do político que está com 79 anos. "Na eleição que chega, a gente diz que é a eleição mais importante da nossa vida. Teremos a responsabilidade de construir o PT quando o presidente Lula não estiver mais nas urnas", destacou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Falando para um público de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista neste domingo, 3, o pastor Silas Malafaia deu um recado direto aos governadores que se colocam na lista de herdeiros do capital político do inelegível ex-presidente da República nas eleições do próximo ano.

Afirmando que não iria deixar "passar nada", Malafaia questionou: "Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro? Onde eles estão? Era para estarem aqui!"

Os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o de Goiás, Ronaldo Caiado (União), não participaram de nenhuma das manifestações que ocorreram em diversas cidades do País neste domingo.

Nenhum deles publicou nas redes sociais nada relacionado aos protestos em favor do ex-presidente, réu por golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF), e pivô de uma guerra tarifária iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O norte-americano também puniu o ministro Alexandre de Moraes, da Suprema Corte, com Lei Magnitsky, sanção usada contra ditadores e violadores de direitos humanos.

"Isso prova que Bolsonaro é insubstituível! Vão enganar trouxa! E eu não sou trouxa. Estão com medo do STF, né? Por isso não vieram. Arrumaram desculpa, né? Por isso, minha gente, 2026 é Bolsonaro", gritou o pastor.

Bolsonaro segue inelegível por condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030, portanto, mesmo que não seja preso e se candidate, não conseguirá continuar com a candidatura.

Tarcísio, o melhor colocado da direita nas pesquisas de intenção de voto, afirmou na quinta-feira, 31, que passaria por procedimento médico e por isso faltaria ao evento. Após o fim da manifestação, a assessoria do governador afirmou que a intervenção ocorreu sem intercorrências, que Tarcísio tem alta prevista para esta mesma noite e que na segunda-feira terá agenda interna no Palácio dos Bandeirantes.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), esteve presente e acenou ao público, mas não discursou. Já o vice, Coronel Mello Araújo (PL), indicação de Bolsonaro na chapa com o emedebista, criticou senadores "por não fazerem a lição de casa", justificando as sanções norte-americanas contra o País anunciadas na última quarta-feira como resultado da falta de ação dos parlamentares em pautarem a anistia a Bolsonaro.