Índia e Paquistão podem entrar em guerra? Aqui está tudo o que você precisa saber

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As tensões entre a Índia e o Paquistão se intensificaram nesta quarta-feira, 7, depois que os militares indianos lançaram ataques de mísseis contra o país vizinho em resposta a um ataque de terroristas na Caxemira controlada pela Índia no mês passado, aumentando os temores de guerra entre os arquirrivais regionais com arsenal nuclear.

Os ataques levaram a região disputada pelos dois países ao maior nível de tensão em décadas, e abalaram o frágil cessar-fogo que tem sido mantido desde 2021. Analistas e diplomatas alertaram para o risco de uma guerra aberta entre os dois países com a escalada no conflito de décadas no subcontinente do sul da Ásia por causa da região de maioria muçulmana da Caxemira. Parte do território é controlado pela Índia e parte pelo Paquistão, embora a área seja totalmente reivindicada por ambos os países.

O ataque aéreo desta quarta-feira está em uma escala muito maior do que em 2019, quando a Índia atacou um único local remoto do Paquistão em resposta a um atentado suicida que matou mais de 40 soldados indianos na Caxemira.

A comunidade internacional, incluindo o governo Trump, pediu a Nova Délhi e Islamabad que diminuíssem a escalada.

Como começou o conflito?

A escalada nas tensões ocorre após um ataque terrorista em 22 de abril contra turistas perto da cidade de Pahalgam, na Caxemira administrada pela Índia.

Homens armados com rifles mataram 25 indianos e um cidadão nepalês. Mais de uma dúzia de pessoas ficaram feridas. O ataque foi o mais letal contra civis desde os ataques de 2008 em Mumbai pelo grupo militante Lashkar-e-Taiba, com sede no Paquistão, que matou 166 pessoas.

Há muito tempo, a Índia acusa o Paquistão de fomentar a violência separatista na Caxemira. O secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, disse nesta quarta-feira que a Índia havia encontrado evidências que ligavam os militantes do ataque a Pahalgam ao Paquistão.

Ele acrescentou que a Frente de Resistência, que a Índia diz ser uma ramificação do Lashkar-e-Taiba, estava por trás dos ataques, com base em postagens de mídia social feitas pelo grupo e contas afiliadas - uma alegação feita pela mídia indiana logo após o ataque, embora a Frente de Resistência tenha negado o envolvimento.

A Caxemira administrada pela Índia é uma zona fortemente militarizada. Uma insurgência armada - que busca a independência ou favorece a adesão ao Paquistão - continuou contra o domínio indiano por mais de três décadas.

O governo nacionalista hindu de Narendra Modi revogou o status semiautônomo da Caxemira em agosto de 2019 e instituiu uma repressão, incluindo a imposição do mais longo desligamento da Internet do mundo em uma democracia.

Prometendo desenvolvimento e investimento, Nova Délhi havia anunciado o retorno a uma paz relativa, citando o aumento do número de turistas na região, uma narrativa que foi derrubada pelo ataque terrorista no mês passado.

Há risco de uma guerra entre Índia e Paquistão?

Analistas e diplomatas levantaram preocupações nesta quarta-feira sobre o "aumento dos riscos de escalada" depois que a Índia lançou ataques aéreos em seis locais em Punjab e Azad Jammu e Caxemira, no Paquistão.

O ataque resultou em 26 mortes de civis e mais de 40 feridos. Em retaliação, Islamabad derrubou cinco jatos indianos. De acordo com o porta-voz militar, tenente-general Ahmed Sharif Chaudhry, vários postos de controle indianos foram destruídos em resposta. Separadamente, o governo disse que o Paquistão não atingiu nenhum civil na Índia em suas ações de retaliação.

Em meio aos acontecimentos atuais, o primeiro-ministro Shehbaz Sharif convocou uma reunião do principal órgão de segurança do país e deve se dirigir à nação em seguida.

Ao site Dawn, maior jornal paquistanês de língua inglesa, o diplomata Maleeha Lodhi disse que "esta é uma crise muito séria provocada pela agressão indiana". Ele ressaltou, no entanto, que "o Paquistão disse que ainda responderá ao ataque indiano, mas quer restabelecer a dissuasão porque, a cada poucos anos, a Índia viola a fronteira para realizar ataques aéreos ou com mísseis".

Mazhar Abbas, analista sênior da questão, disse que "se a Índia quiser avançar com a guerra, nós estamos prontos. "A Índia ainda não apresentou provas do envolvimento do Paquistão no ataque. Sem fazer isso, eles tentaram partir para outra aventura"

No X, antigo Twitter, Michael Kugelman, especialista em política externa, afirmou que "o ataque da Índia ao Paquistão é de escala muito maior do que o de 2019. A resposta do Paquistão, que, de acordo com muitos relatórios, incluiu a derrubada de vários jatos indianos, também excedeu a escala de 2019".

Para ele, isso aumenta a escalada e coloca em risco toda a região. "Eles já estão em um patamar mais alto na escalada do que em qualquer outro momento da crise de 19", disse Kugelman. "São dois exércitos fortes que, mesmo sem armas nucleares como dissuasão, não têm medo de empregar força militar convencional um contra o outro. Os riscos de escalada são reais. E eles podem muito bem aumentar, e rapidamente", alertou.

Onde a Índia atacou no Paquistão?

As forças armadas da Índia disseram em um comunicado que tinham como alvo nove locais no Paquistão, descrevendo os ataques como "de natureza não escalonada".

De acordo com os militares paquistaneses, foram registrados 24 "impactos" em seis locais: Ahmedpur East, Muridke e Sialkot no Paquistão e Kotli, Bagh e Muzaffarabad na Caxemira administrada pelo Paquistão.

Os líderes do Paquistão condenaram os ataques como um ato de guerra, com o primeiro-ministro Shehbaz Sharif dizendo que seu país tinha o direito de "dar uma resposta adequada".

Ahmed Sharif Chaudhry, principal porta-voz militar do Paquistão, disse à mídia local na quarta-feira que o Paquistão havia abatido cinco aviões de guerra indianos, incluindo Rafales de fabricação francesa.

As autoridades paquistanesas divulgaram um vídeo que mostrava fumaça saindo de destroços aparentes que as autoridades alegavam ser de um dos aviões abatidos. As alegações não puderam ser verificadas de forma independente, e o governo indiano não respondeu imediatamente.

Qual é a disputa sobre a Caxemira?

As tensões sobre a Caxemira remontam a 1947, quando o subcontinente indiano, governado pelos britânicos, foi dividido nas nações independentes da Índia, de maioria hindu, e do Paquistão, de maioria muçulmana.

A região montanhosa se estende por cerca de 220 mil quilômetros quadrados do subcontinente entre a Índia, o Paquistão e a China, e seu status tem sido um ponto sensível para as três nações há décadas. Vários acordos levaram aos atuais arranjos de governança, mas cada nação tem reivindicações concorrentes de soberania sobre a Caxemira, ou partes dela.

Conflitos nos quais a área era uma questão central eclodiram entre a Índia e o Paquistão em 1947, 1965 e 1999 e entre a Índia e a China em 1962, com explosões de violência e confrontos ao longo das fronteiras militarizadas que continuam até os dias atuais.

A Índia e o Paquistão também entraram em guerra em 1971, quando o Exército indiano se envolveu em uma guerra civil no Paquistão Oriental. O conflito acabou fazendo com que o Paquistão Oriental se tornasse a nação independente de Bangladesh.

Antes da divisão, a área era um Estado principesco de maioria muçulmana chamado Jammu e Caxemira, que estava sob o domínio britânico. Posteriormente, apesar de seus planos iniciais de independência, o monarca hindu do estado concordou em se unir à Índia, pois enfrentava uma rebelião interna e ataques de tribos do Paquistão.

Surgiu um conflito direto entre as forças armadas indianas e paquistanesas, até que as Nações Unidas supervisionaram um cessar-fogo que dividiu o estado em uma seção noroeste administrada pelo Paquistão e uma seção maior administrada pela Índia. A fronteira não oficial entre as duas é chamada de Linha de Controle.

Uma seção oriental da Caxemira permaneceu sob controle chinês desde uma breve guerra com a Índia em 1962.

Quais são as armas nucleares da Índia e do Paquistão?

A Índia e o Paquistão são nações com armas nucleares, um fator que aumenta o alarme global sempre que há uma escalada na disputa pela Caxemira.

O Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) estima que o Paquistão e a Índia possuem, cada um, cerca de 170 ogivas nucleares.

O papel das armas nucleares na doutrina militar da Índia - que antes se concentrava em dissuadir o Paquistão - parece ter mudado nos últimos anos para combater a China, com uma ênfase crescente em armas de longo alcance, de acordo com um relatório do SIPRI de 2024.

Naquele mesmo ano, o SIPRI disse que o crescente estoque de material físsil do Paquistão e o desenvolvimento de novos sistemas de lançamento sugerem que seu arsenal nuclear provavelmente continuará a se expandir na próxima década.

Nenhum dos dois países é signatário do Tratado da ONU sobre a Não Proliferação de Armas Nucleares. (Com agências internacionais)

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil