Lula reencontra Putin, critica Trump e assiste a desfile ao lado de ditadores

Internacional
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Luiz Inácio Lula da Silva assistiu nesta sexta-feira, 9, em Moscou ao desfile militar do Dia da Vitória, que marca o triunfo soviético sobre a Alemanha nazista e é tradicionalmente usado pelo Kremlin como peça de propaganda do regime. Na tribuna de honra, uma lista de ditadores: Xi Jinping, da China, Nicolás Maduro, da Venezuela, e o cubano Miguel Díaz-Canel, entre outros líderes autoritários.

Antes de encerrar sua viagem à Rússia, ele se reuniu com Putin e aproveitou para criticar o presidente dos EUA, Donald Trump. Segundo trecho da conversa, ele afirmou que as últimas decisões do americano "jogam por terra" a ideia do livre-comércio.

"A taxação do comércio com todos os países do mundo de forma unilateral joga por terra a grande ideia do livre-comércio, do fortalecimento do multilateralismo e joga por terra, muitas vezes, o respeito à soberania dos outros países, que temos de ter", afirmou o presidente brasileiro.

Lula foi o mais importante líder de uma democracia ocidental presente na capital russa - a lista de convidados do Kremlin tinha 29 chefes de Estado e governo. Sua viagem foi criticada por simbolizar uma espécie de apoio diplomático tácito a Putin, um autocrata que controla a Rússia com mão de ferro, persegue opositores e invadiu um país vizinho, a Ucrânia, ignorando o direito internacional.

O presidente brasileiro começou o dia na parada militar de 80 anos do fim da 2.ª Guerra. Moscou foi toda decorada com bandeiras vermelhas e grandes painéis de LED com imagens da guerra. Diante dos convidados de Putin passaram tanques, veículos blindados, peças de artilharia, mísseis e homenagens ao Exército Vermelho, além dos caças Sukhoi que cortaram o céu da capital russa.

Críticas

No desfile militar de ontem, como esperado, Putin usou o triunfo soviético para defender a guerra na Ucrânia. "A União Soviética tomou para si os golpes mais ferozes e impiedosos do inimigo. A verdade e a justiça estão do nosso lado. Todo o país, a sociedade e o povo apoiam a operação militar especial", disse Putin, usando o termo preferido do Kremlin para descrever a guerra.

A presença do brasileiro em Moscou irritou autoridades do governo ucraniano, que por meses tentaram levar Lula a Kiev, mas sem sucesso. A interlocução piorou nos últimos meses. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, chegou a afastar o envolvimento do Brasil em negociações diplomáticas, mas depois retomou contato com o Itamaraty nos bastidores.

A viagem à Rússia também tem potencial para desagradar muitos países ocidentais - exceto os EUA -, que tentam um esforço conjunto para isolar a Rússia e pressionar Putin a negociar uma trégua dos combates na Ucrânia.

Plano de paz

A ideia de Lula era tratar novamente com Putin da proposta de negociação de paz que o Brasil apresentou em conjunto com a China, para alcançar um "cessar-fogo abrangente". Lançada em meados do ano passado, a sugestão com seis pontos agradou à Rússia, mas não à Ucrânia. Ela não exigia a retirada das tropas russas do território ocupado, algo considerado fundamental para europeus e ucranianos.

No ano passado, representantes da China chegaram a falar que a proposta tinha apoio de cerca de 100 países, mas somente 11 - além de Brasil e China - endossaram o plano em setembro, durante a abertura da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.

Rússia leva pela 1ª vez à parada militar drones usados na guerra

A Rússia exibiu ontem pela primeira vez no desfile militar da Praça Vermelha, em Moscou, os drones de combate que suas forças usam na guerra na Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, o chinês, Xi Jinping, o brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, além de outros líderes estrangeiros, estavam presentes quando as aeronaves montadas em caminhões passaram pela tribuna de honra.

Os drones Lancet, Geran-2, Orlan-10 e Orlan-30 estavam entre os equipamentos mais modernos que foram exibidos no desfile de ontem para marcar o 80.º aniversário da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista.

O Geran-2 é um drone kamikaze de fabricação russa, desenvolvido pelo Irã. Eles foram usados para atingir a infraestrutura de energia ucraniana. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, acusa Moscou de usá-los para atingir também edifícios residenciais. A Rússia nega que esteja bombardeando deliberadamente civis e garante que os alvos são exclusivamente militares. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) retoma nesta terça-feira, 11, o julgamento que pode cassar o mandato do governador de Roraima, Antônio Denarium (PP), acusado de abuso de poder político e econômico.

Denarium foi condenado quatro vezes pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) em 2023, por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022. Ele permanece no cargo enquanto os recursos são analisados, situação que se mantém devido à suspensão temporária do processo.

O caso já havia sido pautado em agosto, mas a análise foi suspensa logo após o voto da relatora, ministra Isabel Gallotti, em razão de um pedido de vista do ministro André Mendonça.

Em nota, a assessoria do governador afirmou que continua "confiando na Justiça, nas instituições e em todos que, assim como nós, acreditam em um Estado melhor para viver, trabalhar e empreender".

Denarium destacou ainda os avanços do estado: "Um Estado que se destaca no Brasil com o maior crescimento do PIB, a maior redução do número de homicídios, com aumento da área plantada e do rebanho bovino", disse em publicação nas redes sociais.

Na sessão, também será julgado o vice-governador Edson Damião (Republicanos), acusado pelos mesmos crimes. A ministra Isabel Gallotti, apontou que o número de beneficiários do programa "Cesta da Família" aumentou 400% em 2022, passando de 10 mil para 50 mil pessoas atendidas.

Em seu voto, Gallotti destacou ainda o programa "Morar Melhor", voltado à reforma de moradias de famílias de baixa renda, afirmando que ele foi "um engenhoso expediente que culminou na criação de novos programas em ano eleitoral, com dividendos eleitorais em favor do candidato à reeleição ao governo do Estado".

A Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu nesta segunda-feira, 10, em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), a condenação dos deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA) e Pastor Gil (PL-MA), além do suplente de deputado Bosco Costa (PL-SE), por corrupção com emendas parlamentares.

Segundo a PGR, os deputados condicionaram a destinação de R$ 6,67 milhões em emendas ao município de São José de Ribamar, na região metropolitana de São Luís, ao pagamento de R$ 1,67 milhão em propinas. Os parlamentares negam irregularidades.

A Procuradoria afirma que as provas são "irrefutáveis" e que a autoria e a materialidade dos crimes estão comprovadas por diálogos e documentos obtidos na investigação.

"Embora os deputados Josimar e Bosco Costa tenham negado a autoria das emendas, aproveitando-se da baixa transparência dos dados públicos sobre a procedência desses recursos, as provas confirmam serem eles os responsáveis pelas destinações", diz a PGR.

O vice-procurador-geral da República, Hindemburgo Chateaubriand, enviou ao STF os últimos argumentos da acusação no processo. As defesas ainda vão apresentar suas alegações finais, última etapa antes do julgamento. O relator do processo é o ministro Cristiano Zanin.

Além da condenação, a PGR pede a perda dos mandatos e o pagamento de uma indenização por danos morais coletivos.

A PGR afirma que Josimar Maranhãozinho "ostentava a posição de liderança" do suposto esquema e, nessa condição, "coordenava a destinação dos recursos patrocinados pelos demais congressistas" e depois distribuía as propinas.

"Não há dúvida de que os réus, sob a chefia do deputado Josimar, constituíram e integraram organização criminosa", diz a Procuradoria nas alegações finais.

Os repasses teriam ocorrido entre dezembro de 2019 e abril de 2020, de acordo com a denúncia. Na época, o prefeito de São José de Ribamar era José Eudes Sampaio Nunes. A PGR afirma que ele foi "insistentemente abordado para ceder à solicitação de propina".

As defesas vêm pedindo o arquivamento da ação por falta de provas.

O novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (Psol-SP), criticou a escolha do deputado Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Segurança do governo paulista, como relator do projeto de lei antifacção.

"Colocar o Derrite como relator de um projeto do governo para o combate das facções criminosas me soa como uma provocação", disse Boulos, em entrevista depois de um painel sobre resíduos sólidos e crédito de carbono na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

Boulos criticou a escolha argumentando que o deputado está partidária, direta e eleitoralmente comprometido com quem tem se colocado como adversário do governo Lula. "Ele está, inclusive, comprometido com quem foi contra a PEC da Segurança Pública, que é o que permite que o governo federal atue de forma mais eficaz no combate ao crime organizado", disse o ministro.