Ucrânia diz que desmantelou rede de espionagem húngara que coletava dados militares

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

A Ucrânia disse ter expulsado dois diplomatas húngaros nesta sexta-feira, 9, horas depois de a principal agência de segurança do país anunciar que prendeu duas pessoas sob suspeita de espionagem para a Hungria, por meio da coleta de informações sobre os militares ucranianos no oeste do país.

As alegações de espionagem foram recebidas com raiva em Budapeste, onde o Ministério das Relações Exteriores da Hungria expulsou dois diplomatas ucranianos pelo que disse serem atividades de espionagem da própria Ucrânia.

O Serviço de Segurança da Ucrânia, ou SBU, afirmou em um comunicado que dois suspeitos, ambos ex-militares ucranianos, foram detidos como membros de uma rede de espionagem e que ambos enfrentam acusações de traição, punível com prisão perpétua.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, afirmou posteriormente que dois diplomatas húngaros foram expulsos.

Foi a primeira vez na história da Ucrânia que uma operação de espionagem húngara foi descoberta, disse o comunicado.

As atividades dos supostos espiões se concentraram na região de Zakarpattia, no oeste da Ucrânia, que faz fronteira com a Hungria e abriga uma considerável minoria étnica húngara. Budapeste e Kiev entraram em conflito pelos direitos dos húngaros em Zakarpattia, a maior parte da qual fazia parte da Hungria até o fim da 1ª Guerra.

Sybiha disse em um comunicado que a rede de espionagem foi encarregada de coletar informações sobre a segurança militar da região, procurar vulnerabilidades nas defesas terrestres e aéreas da região e "estudar as visões sociopolíticas dos moradores locais, em particular cenários de seu comportamento se tropas húngaras entrassem na região".

O ministro das Relações Exteriores húngaro, Péter Szijjártó, não negou diretamente as alegações de uma célula de espionagem húngara operando no país vizinho, mas afirmou que as alegações do SBU poderiam ser classificadas como "propaganda anti-húngara" lançada por Kiev em retaliação à recusa da Hungria em ajudar a Ucrânia em sua luta contra a Rússia.

"Não toleramos que a Ucrânia lance continuamente tais ações difamatórias contra a Hungria e o povo húngaro", disse Szijjártó, acrescentando que, em resposta, expulsou "dois espiões que trabalhavam sob cobertura diplomática na Embaixada da Ucrânia em Budapeste".

A Hungria, membro da Otan e da União Europeia, tem adotado uma abordagem adversária em relação à Ucrânia desde a invasão em larga escala da Rússia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, recusando-se a fornecer armamento a Kiev ou a permitir sua transferência através do território húngaro.

O governo da Hungria, liderado pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, também ameaçou bloquear a assistência financeira da UE à Ucrânia, argumentou contra as sanções à Rússia e se opôs às esperanças de adesão da Ucrânia à UE.

Orbán tem as relações mais calorosas com o presidente russo Vladimir Putin entre os líderes da UE, embora tenha reconhecido que a guerra foi resultado da agressão russa.

O SBU afirmou que ambos os supostos espiões eram supervisionados por um oficial de carreira da inteligência militar húngara, cuja identidade também havia sido apurada. Esse oficial forneceu à rede dinheiro e um dispositivo especial para comunicação secreta para apoiar a operação e tentou recrutar outros indivíduos para a rede, informou o SBU.

O Ministério da Defesa Húngaro e o Serviço de Segurança Nacional Militar não responderam imediatamente aos pedidos de comentários./AP

Em outra categoria

A Polícia Federal divulgou nota nesta segunda-feira, 10, manifestando preocupação a proposta de alteração no projeto antifacção apresentada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Em nota divulgada no site da corporação, a PF diz que o texto retira atribuições do órgão de investigação criminal.

"A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público", diz a nota.

Segundo a PF, o relatório do deputado Derrite, cujo nome não é citado na nota, "o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime - especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance - poderá sofrer restrições significativas".

A proposta do deputado, aponta a PF, obrigaria a instituição só poderia entrar em investigações a pedido de governos estaduais, "o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado".

"Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros", diz a nota.

A PF diz que, pelas regras propostas pelo deputado, as operações recentes contra o crime organizado não teriam ocorrido se as regras do texto de Derrite já estivessem valendo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou à Receita Federal a regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do ex-deputado federal Daniel Silveira, que pretende obter a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

Atualmente, Silveira cumpre pena em regime semiaberto, já podendo progredir para aberto, pois já cumpriu metade dos oito anos de condenação impostos pela Suprema Corte em 2022. Ele foi condenado por ameaças ao Estado Democrático de Direito e tentativa de interferência em processo judicial.

A liberação do CPF ocorreu após a defesa de Silveira alegar a necessidade de regularização do documento para obter a carteira de trabalho e poder, eventualmente, trabalhar.

Em despacho, Moraes destacou que "considerando que a alegação da defesa é contraditória com a informação obtida junto à Receita Federal, que aponta a situação de regularidade do CPF do apenado, esclareça-se o pedido formulado", dando prazo de cinco dias para resposta.

Além disso, a defesa solicitou a liberação do CPF para inscrição no portal Gov.br e a abertura de conta salário em banco.

Mesmo no regime semiaberto, Silveira segue sujeito a restrições como proibição de uso de redes sociais, monitoramento por tornozeleira eletrônica, passaporte cancelado, comparecimento semanal à Justiça e permanência obrigatória no Estado do Rio de Janeiro.

O ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, apontado como integrante do "núcleo 2" da trama golpista, lançou uma campanha virtual de arrecadação de recursos para custear advogados nos Estados Unidos. A iniciativa foi anunciada no último domingo, 9, em publicação no X (antigo Twitter), feita pelo advogado Jeffrey Chiquini.

Segundo Chiquini, a vaquinha foi criada por um grupo de apoiadores e amigos de Filipe Martins para arrecadar recursos destinados a custear os honorários de advogados criminalistas nos Estados Unidos. Segundo ele, a iniciativa também pretende ajudar nas despesas decorrentes das restrições que o ex-assessor enfrenta "há quase três anos".

Chiquini disse ainda que todo o valor arrecadado será destinado exclusivamente ao ex-assessor de Jair Bolsonaro e defendeu o engajamento dos apoiadores. Ele afirmou que o objetivo é "levar todos os responsáveis pela fraude no sistema migratório americano à Justiça dos EUA" e pediu que as pessoas "acessem o site, ajudem a divulgar e apoiem com o que puderem".

Preso preventivamente desde fevereiro de 2024, Filipe Martins passou seis meses detido no Paraná antes de ser autorizado a cumprir prisão domiciliar, decisão tomada diante do risco de fuga ao exterior. A ordem de prisão foi fundamentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fato de o nome do ex-assessor constar na lista de passageiros da comitiva do então presidente Jair Bolsonaro, que deixou o Brasil rumo a Orlando em 30 de dezembro de 2022.

Desde então, a defesa de Martins argumenta que, embora seu nome apareça na relação oficial do voo, ele não embarcou e permaneceu no País durante aquele período.

A vaquinha foi anunciada após as recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado havia determinado o afastamento da defesa de Martins por perda de prazo processual, mas recuou da decisão dias depois. O episódio gerou reação de perfis da extrema-direita nas redes sociais, que acusaram o STF de "cerceamento de defesa".

Apesar das manifestações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reuniu documentos e depoimentos que, segundo a denúncia, implicam diretamente Martins na tentativa de golpe de Estado.

Uma das principais provas citadas é a reunião de 7 de dezembro de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro teria apresentado aos comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto com medidas de exceção, considerada pela Polícia Federal como base jurídica para a execução do golpe.

Martins é réu no STF e será julgado em dezembro, nos dias 9, 10, 16 e 17, junto com outros integrantes do chamado "núcleo 2" da trama golpista, grupo composto por ex-assessores e aliados diretos de Bolsonaro que teriam sido responsáveis por ações de articulação e apoio logístico ao plano.