Zelenski vai à Turquia para negociar fim da guerra: se Putin não aparecer, não quer a paz

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, confirmou que vai viajar a Turquia na quinta-feira, 15, para se encontrar com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e discutir o fim da guerra. O líder russo ainda não confirmou a presença na mesa de negociações, que será intermediada pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Para Zelenski, se Putin faltar as negociações, significa que ele não quer a paz.

O encontro pode acontecer no momento em que Estados Unidos e a União Europeia, principais aliados da Ucrânia, aumentam a pressão para uma trégua no conflito, que começou em fevereiro de 2022. Países com maior interlocução com a Rússia, a exemplo de Brasil e China, que foram a Moscou na semana passada, também apoiam negociações diretas entre os dois países.

A ideia surgiu da própria Rússia. No dia 10, Putin declarou que o país estava disposto a reiniciar os diálogos diretos, paralisados desde 2022, sem condições prévias. Um encontro entre os dois líderes não estava previsto, mas é tentado por Zelenski e aliados europeus para pressionar Putin a demonstrar se tem a intenção real de acabar com a guerra. A Ucrânia também quer o cessar-fogo do conflito para começar a negociar.

Zelenski confirmou a viagem durante uma coletiva de imprensa em Kiev nesta quinta. Ele vai se encontrar com Erdogan em Ancara na quinta-feira e os dois devem aguardar Putin. "(Eu) faria de tudo para concordar com um cessar-fogo, porque é com (Putin) que devo negociar o cessar-fogo, pois só ele pode decidir sobre isso", declarou. "Se Putin não aparecer e fizer joguinhos, o ponto final é que ele não quer a paz."

Até o momento, o russo não confirmou presença. Questionado, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que uma delegação russa estará presente nas negociações, mas que não tem resposta sobre Putin. "Assim que o presidente considerar necessário, faremos um anúncio", disse.

O encontro também pode ter a participação do presidente dos EUA, Donald Trump, que está no Oriente Médio esta semana, na primeira viagem oficial de seu segundo mandato. A presença do americano foi ideia dele mesmo e contou com aprovação de Zelenski, que busca construir uma boa relação entre os dois após um início de ano conturbado, no qual os dois brigaram durante um encontro no Salão Oval da Casa Branca.

Desde que retornou à Casa Branca em janeiro, Trump tem dialogado com Moscou e Kiev para alcançar o fim da guerra. Os EUA chegaram a apresentar um plano de cessar-fogo que inclui reconhecer a Crimeia como território russo, mas o plano foi avaliado por ucranianos e aliados europeus como favorável à Rússia e é rejeitado.

Os EUA sugeriram em março um cessar-fogo de 30 dias na guerra, mas a proposta foi rejeitada pelo Kremlin. Os países europeus voltaram a sugerir o plano na semana passada para possibilitar as negociações e ameaçam impor mais sanções econômicas contra a Rússia, caso não haja uma demonstração real de disposição em acabar com a guerra.

Em Moscou, Peskov minimizou a ameaça de sanções. "A linguagem dos ultimatos é inaceitável - não se pode falar com a Rússia assim", disse às agências russas.

A bola está com a Rússia, dizem autoridades

Com a disposição de Zelenski de viajar para a Turquia, as autoridades montaram uma estratégia que põe à prova as declarações de Putin de que a Rússia está interessada em negociar o fim da guerra. Se ele não for a Turquia, as declarações serão vistas como mentirosas. "A bola está com Moscou", declarou o chefe de gabinete de Zelenski, Andri Yermak.

Kiev afirma querer um cessar-fogo imediato como condição para iniciar as negociações pelo fim da guerra. Moscou, por outro lado, rejeitou essa ideia na semana passada, mas sugeriu o diálogo direto entre autoridades. A confirmação de Zelenski de que sentaria a mesa de negociação com Putin dobrou a aposta, sugerindo que esse diálogo aconteça entre os chefes de Estado. "Não daremos motivos para a Rússia nos acusar de sabotar o processo de paz", acrescentou Yermak.

Em diversas ocasiões, Putin acusou Kiev de manter uma atitude agressiva e não querer o fim do conflito. Kiev sempre rechaçou as declarações.

Os aliados da Ucrânia endossaram as declarações de Zelenski e Yermak e também esperam ver a presença de Putin na quinta-feira como uma prova de interesse pelo fim da guerra. "Ou a Rússia é séria e quer a paz, ou não é séria e temos que impor ainda mais sanções", disse o presidente da França, Emmanuel Macron.

Em Londres, o secretário de Relações Exteriores britânico, David Lammy, afirmou que era hora de a Rússia parar de enrolar. "Este é o momento de Vladimir Putin levar a sério a paz na Europa, levar a sério um cessar-fogo e levar a sério as negociações", afirmou.

O chanceler alemão Friedrich Merz também pediu um cessar-fogo no conflito. "Concordamos que, caso não haja progresso real esta semana, queremos pressionar a nível europeu por um endurecimento significativo das sanções", declarou em viagem à Grécia. "Cabe a Putin aceitar esta oferta de negociações." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Em outra categoria

A Polícia Federal divulgou nota nesta segunda-feira, 10, manifestando preocupação a proposta de alteração no projeto antifacção apresentada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Em nota divulgada no site da corporação, a PF diz que o texto retira atribuições do órgão de investigação criminal.

"A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público", diz a nota.

Segundo a PF, o relatório do deputado Derrite, cujo nome não é citado na nota, "o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime - especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance - poderá sofrer restrições significativas".

A proposta do deputado, aponta a PF, obrigaria a instituição só poderia entrar em investigações a pedido de governos estaduais, "o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado".

"Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros", diz a nota.

A PF diz que, pelas regras propostas pelo deputado, as operações recentes contra o crime organizado não teriam ocorrido se as regras do texto de Derrite já estivessem valendo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou à Receita Federal a regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do ex-deputado federal Daniel Silveira, que pretende obter a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

Atualmente, Silveira cumpre pena em regime semiaberto, já podendo progredir para aberto, pois já cumpriu metade dos oito anos de condenação impostos pela Suprema Corte em 2022. Ele foi condenado por ameaças ao Estado Democrático de Direito e tentativa de interferência em processo judicial.

A liberação do CPF ocorreu após a defesa de Silveira alegar a necessidade de regularização do documento para obter a carteira de trabalho e poder, eventualmente, trabalhar.

Em despacho, Moraes destacou que "considerando que a alegação da defesa é contraditória com a informação obtida junto à Receita Federal, que aponta a situação de regularidade do CPF do apenado, esclareça-se o pedido formulado", dando prazo de cinco dias para resposta.

Além disso, a defesa solicitou a liberação do CPF para inscrição no portal Gov.br e a abertura de conta salário em banco.

Mesmo no regime semiaberto, Silveira segue sujeito a restrições como proibição de uso de redes sociais, monitoramento por tornozeleira eletrônica, passaporte cancelado, comparecimento semanal à Justiça e permanência obrigatória no Estado do Rio de Janeiro.

O ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, apontado como integrante do "núcleo 2" da trama golpista, lançou uma campanha virtual de arrecadação de recursos para custear advogados nos Estados Unidos. A iniciativa foi anunciada no último domingo, 9, em publicação no X (antigo Twitter), feita pelo advogado Jeffrey Chiquini.

Segundo Chiquini, a vaquinha foi criada por um grupo de apoiadores e amigos de Filipe Martins para arrecadar recursos destinados a custear os honorários de advogados criminalistas nos Estados Unidos. Segundo ele, a iniciativa também pretende ajudar nas despesas decorrentes das restrições que o ex-assessor enfrenta "há quase três anos".

Chiquini disse ainda que todo o valor arrecadado será destinado exclusivamente ao ex-assessor de Jair Bolsonaro e defendeu o engajamento dos apoiadores. Ele afirmou que o objetivo é "levar todos os responsáveis pela fraude no sistema migratório americano à Justiça dos EUA" e pediu que as pessoas "acessem o site, ajudem a divulgar e apoiem com o que puderem".

Preso preventivamente desde fevereiro de 2024, Filipe Martins passou seis meses detido no Paraná antes de ser autorizado a cumprir prisão domiciliar, decisão tomada diante do risco de fuga ao exterior. A ordem de prisão foi fundamentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fato de o nome do ex-assessor constar na lista de passageiros da comitiva do então presidente Jair Bolsonaro, que deixou o Brasil rumo a Orlando em 30 de dezembro de 2022.

Desde então, a defesa de Martins argumenta que, embora seu nome apareça na relação oficial do voo, ele não embarcou e permaneceu no País durante aquele período.

A vaquinha foi anunciada após as recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado havia determinado o afastamento da defesa de Martins por perda de prazo processual, mas recuou da decisão dias depois. O episódio gerou reação de perfis da extrema-direita nas redes sociais, que acusaram o STF de "cerceamento de defesa".

Apesar das manifestações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reuniu documentos e depoimentos que, segundo a denúncia, implicam diretamente Martins na tentativa de golpe de Estado.

Uma das principais provas citadas é a reunião de 7 de dezembro de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro teria apresentado aos comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto com medidas de exceção, considerada pela Polícia Federal como base jurídica para a execução do golpe.

Martins é réu no STF e será julgado em dezembro, nos dias 9, 10, 16 e 17, junto com outros integrantes do chamado "núcleo 2" da trama golpista, grupo composto por ex-assessores e aliados diretos de Bolsonaro que teriam sido responsáveis por ações de articulação e apoio logístico ao plano.