Rússia e Ucrânia acertam troca de presos, mas diálogo de paz não avança

Internacional
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Rússia e Ucrânia concordaram nesta sexta, 16, com uma troca de 2 mil prisioneiros, mas não conseguiram avançar na primeira negociação direta de paz desde 2022, realizada em Istambul, na Turquia. O diálogo não teve a presença nem do russo Vladimir Putin nem do ucraniano Volodmir Zelenski.

Sob pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, a Ucrânia defendia um cessar-fogo de 30 dias antes das negociações começarem. Putin rejeitou a proposta, mantendo suas exigências maximalistas, incluindo sérias restrições à soberania ucraniana.

As imagens da reunião foram contrastantes: os delegados russos em ternos escuros sentados diante de representantes ucranianos vestindo uniformes camuflados de guerra, que se tornaram a marca da resistência à invasão.

A reunião foi realizada no Palácio de Dolmabahce, em Istambul, e durou menos de duas horas. O único resultado real foi a troca de 2 mil prisioneiros de guerra - mil de cada lado, a maior já realizada desde o início do conflito, há três anos.

Encontro

Os dois lados chegaram a discutir um encontro entre Putin e Zelenski, mas não chegaram a um acordo. O cessar-fogo temporário, exigido pela Ucrânia, também não avançou, o que mostra a distância entre russos e ucranianos sobre o que é preciso para encerrar a guerra.

De acordo com os mediadores turcos, a equipe russa disse aos ucranianos que, para conseguir o cessar-fogo, eles deveriam se retirar totalmente das quatro regiões no leste da Ucrânia anexadas em 2022 - os ucranianos ainda controlam um vasto território, incluindo duas capitais regionais.

As exigências russas aumentam as suspeitas de que Putin não esteja sendo realista nas negociações e colocam em dúvida se o presidente da Rússia, que afirma estar vencendo a guerra, está de fato disposto a acabar com ela.

Equilíbrio

Putin enfrenta um delicado equilíbrio. Ele quer convencer Trump, que promete uma nova relação com Moscou, de que a Rússia não é um empecilho para a paz na Ucrânia. Ao mesmo tempo, ele busca a capitulação total dos ucranianos, no campo de batalha e na mesa de negociação.

Após a reunião de ontem, Vladimir Medinski, que lidera a delegação de Putin, disse à TV estatal russa que aqueles que exigem um cessar-fogo antes das negociações de paz não conhecem a história. "Como demonstrou Napoleão, guerra e negociações, em geral, sempre acontecem simultaneamente", disse.

Rustem Umerov, ministro da Defesa e chefe da delegação ucraniana, confirmou ontem que os dois lados haviam discutido na reunião a troca de prisioneiros, um cessar-fogo e a possibilidade de organizar uma reunião entre Putin e Zelenski. "Gostaríamos de reiterar que queremos a paz", afirmou. "Somos capazes de continuar lutando, mas de alguma maneira precisamos encerrar essa guerra."

Zelenski, que esteve ontem na Albânia, voltou a desafiar Putin. Ele disse que o presidente russo estava "com medo" de encontrá-lo pessoalmente e havia transformado as negociações de Istambul em um "processo de paz vazio e encenado".

Pressão máxima

O presidente ucraniano também exigiu novas sanções contra o setor energético e os bancos da Rússia, até que Moscou se engaje de verdade em uma negociação séria. "A pressão deve continuar e aumentar até que haja um progresso real", afirmou.

Secretário de Estado dos EUA defende fim de 'massacre' russo

Em uma rara mudança de tom, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que a Rússia deveria interromper o "massacre" na Ucrânia antes que representantes dos dois países se reunissem em qualquer negociação de paz. A posição de Rubio foi revelada pelo porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, e foi dada pouco antes do início da reunião de ontem entre as delegações de Kiev e Moscou, em Istambul (Turquia). (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil