Ataque russo mata 9 civis na Ucrânia horas após tentativa de acordo

Internacional
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Um drone russo atingiu neste sábado,17, um ônibus que evacuava civis de uma área de linha de frente na região de Sumy, no nordeste da Ucrânia, matando nove pessoas e ferindo sete, disseram autoridades ucranianas. O ataque ocorreu poucas horas depois de Moscou e Kiev realizarem as primeiras negociações diretas de paz em anos, as quais não resultaram em um cessar-fogo.

O governador local, Oleh Hryhorov, e a polícia nacional da Ucrânia informaram que o ataque ocorreu em Bilopillia, uma cidade a cerca de 10 quilômetros da fronteira com a Rússia. A Associated Press não conseguiu verificar a informação de forma independente e não houve comentários imediatos de Moscou.

O presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, descreveu o ataque como "assassinato deliberado de civis". Ele afirmou em uma publicação no aplicativo de mensagens Telegram que "os russos dificilmente poderiam ignorar o tipo de veículo que estavam atingindo".

Ele lamentou a oportunidade perdida nas negociações de sexta-feira, dizendo que "a Ucrânia há muito propõe um cessar-fogo total e incondicional para salvar vidas".

"A Rússia apenas mantém a capacidade de continuar matando", acrescentou Zelenski.

Em Bilopillia, foi declarado luto oficial até segunda-feira, com o chefe da comunidade local, Yurii Zarko, chamando o dia de "Sábado Negro".

O veículo de comunicação local Suspilne informou que os passageiros do ônibus estavam sendo evacuados da cidade quando o acidente ocorreu. As autoridades estão trabalhando para identificar algumas das vítimas, em sua maioria idosas.

Os feridos foram levados para um hospital em Sumy, a capital regional, e três pessoas estão em estado grave.

Na manhã de sábado, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que suas forças atingiram uma área de concentração militar na região de Sumy, cerca de 50 quilômetros a sudeste de Bilopillia, sem mencionar quaisquer outros ataques ocorridos no local.

Movimentação em Kursk

De acordo com um think tank sediado em Washington, as forças ucranianas têm avançado lentamente em território russo na região de Kursk, ao norte de Bilopillia. Segundo o relatório da semana passada do Instituto para o Estudo da Guerra, as tropas de Kiev avançaram ao sul da vila de Tyotkino, na fronteira com a Rússia.

A Rússia afirmou no mês passado que suas forças haviam recuperado totalmente a região de Kursk, quase nove meses após uma incursão relâmpago de Kiev ter capturado mais de 100 assentamentos na região, e prometeu dar à Ucrânia uma moeda de troca em possíveis negociações com o Kremlin. Autoridades ucranianas alegaram que os combates em Kursk continuam.

Negociação

Não está claro como o ataque deste sábado pode afetar os esforços de paz.

Autoridades russas e ucranianas se encontraram na sexta-feira, 16, na Turquia, para tentar chegar a um cessar-fogo temporário, mas as negociações terminaram em menos de duas horas sem nenhum avanço. Foi o primeiro diálogo presencial entre as duas partes desde as primeiras semanas da invasão em larga escala da Ucrânia por Moscou, em fevereiro de 2022.

E embora ambos os lados concordassem com uma grande troca de prisioneiros, eles permaneceram muito distantes quanto às principais condições para o fim do conflito.

Uma dessas condições para a Ucrânia, apoiada por seus aliados ocidentais, é um cessar-fogo temporário como primeiro passo para uma solução pacífica. O Kremlin tem se oposto a tal trégua, que permanece indefinida.

Zelenski disse ter discutido as negociações com o presidente dos EUA, Donald Trump, e os líderes da França, Alemanha, Grã-Bretanha e Polônia. Em uma publicação no X, de uma reunião de lideranças europeias na Albânia, na sexta-feira, ele pediu "sanções severas" contra Moscou caso o país rejeitasse "um cessar-fogo total e incondicional e o fim dos assassinatos".

Kiev e Moscou concordaram em Istambul em trocar 1.000 prisioneiros de guerra cada, de acordo com os chefes de ambas as delegações, no que seria a maior troca desse tipo . As partes também discutiram um cessar-fogo e uma reunião entre seus chefes de Estado, de acordo com o principal delegado ucraniano, o Ministro da Defesa, Rustem Umerov.

Mas o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, assessor do presidente Vladimir Putin, disse que ambos os lados também concordaram em fornecer um ao outro propostas detalhadas de cessar-fogo, com a Ucrânia solicitando que os chefes de Estado se reunissem, o que a Rússia levou em consideração.

Em Tirana, Albânia, Zelenskyy se reuniu com líderes de 47 países europeus para discutir segurança, defesa e padrões democráticos no contexto da guerra. Entre eles, estavam Emmanuel Macron, presidente francês; Friedrich Merz, chanceler alemão; Keir Starmer, primeiro-ministro britânico; e Donald Tusk, primeiro-ministro polonês.

"A pressão sobre a Rússia deve ser mantida até que a Rússia esteja pronta para encerrar a guerra", disse Zelenski no X, postando uma foto dos líderes durante a reunião, a segunda do grupo desde 10 de maio.

Em outra categoria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).