Trump arma discussão no Salão Oval com presidente da África do Sul

Internacional
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As reuniões no Salão Oval da Casa Branca costumavam ser protocolares e cordiais. Com Donald Trump, porém, se tornaram episódios de reality show. Nesta quarta-feira, 21, foi a vez do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, cair na arapuca do americano, que mostrou um vídeo e prints de um suposto "genocídio" contra a minoria branca sul-africana.

Há algum tempo o governo americano investe na narrativa de que os brancos são perseguidos na África do Sul. Eles são 7% da população e, até 1993, comandaram o país de acordo com o apartheid, uma segregação racial brutal mantida por leis que consideravam os negros como cidadãos de segunda classe.

Desde a eleição de Nelson Mandela, em 1994, a África do Sul se transformou em uma democracia multirracial e o novo governo empreendeu um gigantesco programa de inclusão dos negros na economia, o que incomodou parte da elite branca nacionalista e conservadora, especialmente na zona rural.

Em 12 de maio, o governo americano recebeu 49 brancos sul-africanos como refugiados - apesar de ter suspendido a política de acolhimento de refugiados de outras partes do mundo. A ideia de um "genocídio branco" é impulsionada por Elon Musk, conselheiro de Trump, que é sul-africano. Não há, no entanto, qualquer prova de perseguição política.

Atrito

Em fevereiro, a Casa Branca suspendeu toda a ajuda à África do Sul, em resposta a uma lei adotada pelo governo sul-africano que abria caminho para a expropriação de propriedades privadas - de brancos ou negros - sob alegação de "interesse público", para desenvolver projetos de infraestrutura ou redistribuição de terras.

Em seguida, Trump emitiu um decreto para "promover o reassentamento de refugiados brancos que escapam da discriminação racial patrocinada pelo governo, incluindo o confisco de propriedades". Com isso, a Casa Branca ficou vulnerável a críticas de que havia suspendido os pedidos de refúgio para latinos, asiáticos e africanos, e concedido aos sul-africanos apenas por serem brancos.

Vídeo

Ontem, era a chance de Trump provar sua tese de genocídio. O encontro com Ramaphosa seguiu o protocolo, com a conversa aberta à imprensa marcada por amenidades sobre golfe e política externa. Mas o clima ficou constrangedor quando o americano mandou reduzir as luzes e exibiu vídeos que "provariam" que há "um banho de sangue" contra os brancos na África do Sul.

A delegação sul-africana assistiu perplexa. Ramaphosa parecia desconfortável, esfregou as mãos no rosto e se remexeu na cadeira, olhando para o chão. Os jornais americanos compararam o momento com o bate-boca protagonizado por Trump e o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, no mesmo local em fevereiro.

"Estes são locais de sepultamento, bem aqui", disse Trump, apontando para a tela - na verdade, as cruzes brancas haviam sido colocadas por ativistas em um protesto contra assassinatos em fazendas. Ramaphosa questionou se o presidente americano sabia de onde eram as imagens. "Não", respondeu Trump.

Durante toda a reunião, Trump não deu ouvidos aos representantes sul-africanos, fazendo caretas quando eles tentavam explicar que crimes brutais também acontecem com os negros na África do Sul. Ele prestou atenção apenas quando dois golfistas sul-africanos brancos - Ernie Els e Retief Goosen - e o bilionário Johann Rupert, também um sul-africano branco, confirmaram que o crime era um problema geral.

No fim, Trump se irritou com a pergunta de um repórter sobre ter aceitado um avião de US$ 400 milhões do Catar, que será adaptado para uso como novo Air Force One. "Desculpe, não tenho um avião para lhe dar", disse Ramaphosa, provocando risadas e quebrando temporariamente a tensão. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Polícia Federal divulgou nota nesta segunda-feira, 10, manifestando preocupação a proposta de alteração no projeto antifacção apresentada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Em nota divulgada no site da corporação, a PF diz que o texto retira atribuições do órgão de investigação criminal.

"A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público", diz a nota.

Segundo a PF, o relatório do deputado Derrite, cujo nome não é citado na nota, "o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime - especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance - poderá sofrer restrições significativas".

A proposta do deputado, aponta a PF, obrigaria a instituição só poderia entrar em investigações a pedido de governos estaduais, "o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado".

"Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros", diz a nota.

A PF diz que, pelas regras propostas pelo deputado, as operações recentes contra o crime organizado não teriam ocorrido se as regras do texto de Derrite já estivessem valendo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou à Receita Federal a regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do ex-deputado federal Daniel Silveira, que pretende obter a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

Atualmente, Silveira cumpre pena em regime semiaberto, já podendo progredir para aberto, pois já cumpriu metade dos oito anos de condenação impostos pela Suprema Corte em 2022. Ele foi condenado por ameaças ao Estado Democrático de Direito e tentativa de interferência em processo judicial.

A liberação do CPF ocorreu após a defesa de Silveira alegar a necessidade de regularização do documento para obter a carteira de trabalho e poder, eventualmente, trabalhar.

Em despacho, Moraes destacou que "considerando que a alegação da defesa é contraditória com a informação obtida junto à Receita Federal, que aponta a situação de regularidade do CPF do apenado, esclareça-se o pedido formulado", dando prazo de cinco dias para resposta.

Além disso, a defesa solicitou a liberação do CPF para inscrição no portal Gov.br e a abertura de conta salário em banco.

Mesmo no regime semiaberto, Silveira segue sujeito a restrições como proibição de uso de redes sociais, monitoramento por tornozeleira eletrônica, passaporte cancelado, comparecimento semanal à Justiça e permanência obrigatória no Estado do Rio de Janeiro.

O ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, apontado como integrante do "núcleo 2" da trama golpista, lançou uma campanha virtual de arrecadação de recursos para custear advogados nos Estados Unidos. A iniciativa foi anunciada no último domingo, 9, em publicação no X (antigo Twitter), feita pelo advogado Jeffrey Chiquini.

Segundo Chiquini, a vaquinha foi criada por um grupo de apoiadores e amigos de Filipe Martins para arrecadar recursos destinados a custear os honorários de advogados criminalistas nos Estados Unidos. Segundo ele, a iniciativa também pretende ajudar nas despesas decorrentes das restrições que o ex-assessor enfrenta "há quase três anos".

Chiquini disse ainda que todo o valor arrecadado será destinado exclusivamente ao ex-assessor de Jair Bolsonaro e defendeu o engajamento dos apoiadores. Ele afirmou que o objetivo é "levar todos os responsáveis pela fraude no sistema migratório americano à Justiça dos EUA" e pediu que as pessoas "acessem o site, ajudem a divulgar e apoiem com o que puderem".

Preso preventivamente desde fevereiro de 2024, Filipe Martins passou seis meses detido no Paraná antes de ser autorizado a cumprir prisão domiciliar, decisão tomada diante do risco de fuga ao exterior. A ordem de prisão foi fundamentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fato de o nome do ex-assessor constar na lista de passageiros da comitiva do então presidente Jair Bolsonaro, que deixou o Brasil rumo a Orlando em 30 de dezembro de 2022.

Desde então, a defesa de Martins argumenta que, embora seu nome apareça na relação oficial do voo, ele não embarcou e permaneceu no País durante aquele período.

A vaquinha foi anunciada após as recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado havia determinado o afastamento da defesa de Martins por perda de prazo processual, mas recuou da decisão dias depois. O episódio gerou reação de perfis da extrema-direita nas redes sociais, que acusaram o STF de "cerceamento de defesa".

Apesar das manifestações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reuniu documentos e depoimentos que, segundo a denúncia, implicam diretamente Martins na tentativa de golpe de Estado.

Uma das principais provas citadas é a reunião de 7 de dezembro de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro teria apresentado aos comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto com medidas de exceção, considerada pela Polícia Federal como base jurídica para a execução do golpe.

Martins é réu no STF e será julgado em dezembro, nos dias 9, 10, 16 e 17, junto com outros integrantes do chamado "núcleo 2" da trama golpista, grupo composto por ex-assessores e aliados diretos de Bolsonaro que teriam sido responsáveis por ações de articulação e apoio logístico ao plano.