ONU corrige alegação de que 14.000 crianças de Gaza poderiam morrer de fome em 48h

Internacional
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A afirmação amplamente divulgada de que 14.000 bebês em Gaza poderiam morrer em 48 horas foi corrigida pela ONU, que diz que o número se refere a possíveis mortes ao longo de um ano.

A declaração, veiculada no programa Today da BBC Radio 4 e repetida na mídia internacional, foi esclarecida pela BBC como uma deturpação de um relatório humanitário que projetava casos de desnutrição em crianças de seis meses a cinco anos em um período de 12 meses.

O diretor de ajuda humanitária da ONU, Tom Fletcher, afirmou na manhã de segunda-feira, 19, que 14.000 bebês poderiam morrer em Gaza nos dois dias seguintes se Israel não deixasse a ajuda entrar imediatamente, aparentemente com base em um relatório da Integrated Food Security Phase Classification (IPC) Partnership.

A morte dos bebês pode ocorrer em um ano, segundo o relatório independente sobre casos de fome na Faixa de Gaza.

Em entrevista ao programa Today da BBC, Fletcher disse: "Há 14.000 bebês que morrerão nas próximas 48 horas, a menos que consigamos chegar até eles".

Quando pressionado sobre como havia chegado a esse número, ele disse que havia "equipes no local" operando em centros médicos e escolas - mas não forneceu mais detalhes.

Mais tarde, a BBC pediu esclarecimentos sobre o número ao Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (UNOCHA), que disse: "Estamos chamando a atenção para a necessidade imperativa de levar suprimentos para salvar cerca de 14.000 bebês que sofrem de desnutrição aguda grave em Gaza, conforme alertou a parceria do IPC. Precisamos receber os suprimentos o mais rápido possível, de preferência nas próximas 48 horas".

Ele destacou um relatório da Classificação da Fase de Segurança Alimentar Integrada (IPC) que afirmou que 14.100 casos graves de desnutrição aguda devem ocorrer entre crianças de seis a 59 meses de idade entre abril de 2025 e março de 2026.

O relatório do IPC diz que isso pode ocorrer ao longo de aproximadamente um ano - e não em 48 horas.

Quando pressionado sobre os números em uma coletiva de imprensa, o porta-voz da UNOCHA, Jens Laerke, disse: "Por enquanto, deixe-me apenas dizer que sabemos com certeza que há bebês que precisam urgentemente desses suplementos para salvar suas vidas, pois suas mães não conseguem se alimentar sozinhas".

"E se eles não receberem esses suplementos, correrão perigo de vida", disse ele.

Entrada de alimentos

Israel permitiu a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza de "maneira limitada". Na prática, algumas centenas de caminhões entraram no território palestino cercado pelas forças israelenses.

Na quarta-feira, 21, três dias após Israel anunciar que aliviaria o bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza, parecia que pouco ou nenhum alimento, combustível e medicamentos desesperadamente necessários havia chegado aos palestinos famintos.

Dezenas de caminhões transportando suprimentos entraram em Gaza através da passagem fronteiriça de Kerem Shalom, controlada por Israel, segundo o governo israelense. Mas as Nações Unidas até aqui não conseguiram que nenhum caminhão rumasse de Kerem Shalom até armazéns dentro de Gaza, de acordo com dois funcionários da ONU, que pediram anonimato para revelar detalhes sensíveis.

O porta-voz da ONU Stéphane Dujarric afirmou na terça-feira, 20, que equipes da entidade aguardaram várias horas pela permissão israelense para seguir para a fronteira. Mas não conseguiram "garantir a chegada" desses suprimentos aos armazéns, disse ele em uma entrevista coletiva.

Awad afirmou que ele e outros foram informados pelas Nações Unidas de que alguns carregamentos de farinha poderiam chegar nesta quarta-feira. Mas mesmo que chegassem representariam apenas uma pequena redução na fome diária que se espalhou em Gaza sob o bloqueio israelense.

Nesta quinta, 22, uma padaria, no centro da Faixa de Gaza, estava assando pão novamente. Vladimir Jovcev, do Programa Mundial de Alimentos da ONU, disse que "definitivamente não é suficiente, mas esperamos que as fronteiras permaneçam abertas e que possamos levar mais ajuda". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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A Polícia Federal divulgou nota nesta segunda-feira, 10, manifestando preocupação a proposta de alteração no projeto antifacção apresentada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Em nota divulgada no site da corporação, a PF diz que o texto retira atribuições do órgão de investigação criminal.

"A proposta original, encaminhada pelo Governo do Brasil, tem como objetivo endurecer o combate ao crime e fortalecer as instituições responsáveis pelo enfrentamento às organizações criminosas. Entretanto, o texto em discussão no Parlamento ameaça esse propósito ao introduzir modificações estruturais que comprometem o interesse público", diz a nota.

Segundo a PF, o relatório do deputado Derrite, cujo nome não é citado na nota, "o papel institucional histórico da Polícia Federal no combate ao crime - especialmente contra criminosos poderosos e organizações de grande alcance - poderá sofrer restrições significativas".

A proposta do deputado, aponta a PF, obrigaria a instituição só poderia entrar em investigações a pedido de governos estaduais, "o que constitui um risco real de enfraquecimento no combate ao crime organizado".

"Essa alteração, somada à supressão de competências da Polícia Federal, compromete o alcance e os resultados das investigações, representando um verdadeiro retrocesso no enfrentamento aos crimes praticados por organizações criminosas, como corrupção, tráfico de drogas, desvios de recursos públicos, tráfico de pessoas, entre outros", diz a nota.

A PF diz que, pelas regras propostas pelo deputado, as operações recentes contra o crime organizado não teriam ocorrido se as regras do texto de Derrite já estivessem valendo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes solicitou à Receita Federal a regularização do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do ex-deputado federal Daniel Silveira, que pretende obter a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS).

Atualmente, Silveira cumpre pena em regime semiaberto, já podendo progredir para aberto, pois já cumpriu metade dos oito anos de condenação impostos pela Suprema Corte em 2022. Ele foi condenado por ameaças ao Estado Democrático de Direito e tentativa de interferência em processo judicial.

A liberação do CPF ocorreu após a defesa de Silveira alegar a necessidade de regularização do documento para obter a carteira de trabalho e poder, eventualmente, trabalhar.

Em despacho, Moraes destacou que "considerando que a alegação da defesa é contraditória com a informação obtida junto à Receita Federal, que aponta a situação de regularidade do CPF do apenado, esclareça-se o pedido formulado", dando prazo de cinco dias para resposta.

Além disso, a defesa solicitou a liberação do CPF para inscrição no portal Gov.br e a abertura de conta salário em banco.

Mesmo no regime semiaberto, Silveira segue sujeito a restrições como proibição de uso de redes sociais, monitoramento por tornozeleira eletrônica, passaporte cancelado, comparecimento semanal à Justiça e permanência obrigatória no Estado do Rio de Janeiro.

O ex-assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República no governo de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, apontado como integrante do "núcleo 2" da trama golpista, lançou uma campanha virtual de arrecadação de recursos para custear advogados nos Estados Unidos. A iniciativa foi anunciada no último domingo, 9, em publicação no X (antigo Twitter), feita pelo advogado Jeffrey Chiquini.

Segundo Chiquini, a vaquinha foi criada por um grupo de apoiadores e amigos de Filipe Martins para arrecadar recursos destinados a custear os honorários de advogados criminalistas nos Estados Unidos. Segundo ele, a iniciativa também pretende ajudar nas despesas decorrentes das restrições que o ex-assessor enfrenta "há quase três anos".

Chiquini disse ainda que todo o valor arrecadado será destinado exclusivamente ao ex-assessor de Jair Bolsonaro e defendeu o engajamento dos apoiadores. Ele afirmou que o objetivo é "levar todos os responsáveis pela fraude no sistema migratório americano à Justiça dos EUA" e pediu que as pessoas "acessem o site, ajudem a divulgar e apoiem com o que puderem".

Preso preventivamente desde fevereiro de 2024, Filipe Martins passou seis meses detido no Paraná antes de ser autorizado a cumprir prisão domiciliar, decisão tomada diante do risco de fuga ao exterior. A ordem de prisão foi fundamentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no fato de o nome do ex-assessor constar na lista de passageiros da comitiva do então presidente Jair Bolsonaro, que deixou o Brasil rumo a Orlando em 30 de dezembro de 2022.

Desde então, a defesa de Martins argumenta que, embora seu nome apareça na relação oficial do voo, ele não embarcou e permaneceu no País durante aquele período.

A vaquinha foi anunciada após as recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O magistrado havia determinado o afastamento da defesa de Martins por perda de prazo processual, mas recuou da decisão dias depois. O episódio gerou reação de perfis da extrema-direita nas redes sociais, que acusaram o STF de "cerceamento de defesa".

Apesar das manifestações, a Procuradoria-Geral da República (PGR) reuniu documentos e depoimentos que, segundo a denúncia, implicam diretamente Martins na tentativa de golpe de Estado.

Uma das principais provas citadas é a reunião de 7 de dezembro de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro teria apresentado aos comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto com medidas de exceção, considerada pela Polícia Federal como base jurídica para a execução do golpe.

Martins é réu no STF e será julgado em dezembro, nos dias 9, 10, 16 e 17, junto com outros integrantes do chamado "núcleo 2" da trama golpista, grupo composto por ex-assessores e aliados diretos de Bolsonaro que teriam sido responsáveis por ações de articulação e apoio logístico ao plano.