Israel aceita nova proposta americana para cessar-fogo em Gaza; Hamas avalia

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Israel aceitou uma nova proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo temporário com o Hamas na Faixa de Gaza, informou a Casa Branca nesta quinta-feira, 29. O grupo terrorista, no entanto, ainda está avaliando a proposta americana, com grandes chances de aceitar com ressalvas, segundo jornais israelenses.

Os novos sinais de progresso em direção a uma trégua temporária surgiram depois que o enviado especial do presidente dos EUA, Donald Trump, Steve Witkoff, expressou otimismo no início desta semana sobre a negociação de um acordo para interromper a guerra entre Israel e o Hamas e devolver mais reféns capturados no ataque que a desencadeou.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse a repórteres que Israel "apoiou e aprovou" a nova proposta e que o Hamas está avaliando. O jornal israelense Times of Israel noticiou que o Hamas está inclinado a aceitar a proposta, mas com ressalvas, citando fontes diplomáticas árabes e outra próxima da negociação.

Autoridades do Hamas deram uma resposta fria ao rascunho aprovado por Israel, mas disseram que queriam estudar a proposta mais de perto antes de dar uma resposta formal.

Mais cedo, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu já havia adiantado às famílias dos reféns israelenses que ainda estão na Faixa de Gaza que ele havia aceitado a ideia americana. O premiê vem sofrendo pressões crescentes de familiares de reféns que o acusam de não priorizar a vida de seus entes capturados ao prolongar a guerra.

Segundo o jornal israelense Haaretz, o plano de Witkoff inclui a libertação de 10 reféns vivos e 18 mortos em duas fases de troca de um cessar-fogo de 60 dias na Faixa de Gaza. Ainda há 58 reféns dentro da Faixa de Gaza. Acredita-se que cerca de um terço esteja vivo, embora muitos temam estar em grave perigo com o prolongamento da guerra.

O jornal acrescenta, citando uma fonte israelense, que a nova proposta não inclui uma exigência para que Israel encerre os combates e se retire totalmente da Faixa, mas observou que a redação permitiria ao Hamas entender que o acordo poderia levar a um cessar-fogo de longo prazo na prática.

A Associated Press informou que o Hamas disse ter concordado com Witkoff em uma "estrutura geral" de um acordo que levaria a um cessar-fogo duradouro, uma retirada israelense total de Gaza, um influxo de ajuda e uma transferência de poder do grupo terrorista para um comitê politicamente independente de palestinos.

Impasse

As dificuldades para se chegar a um acordo duradouro são as demandas conflitantes ou desconfiadas.

Netanyahu recusa-se a encerrar a guerra até que todos os reféns sejam libertados e o Hamas seja destruído ou desarmado e enviado para o exílio. Ele afirmou que Israel controlará Gaza indefinidamente e facilitará o que ele chama de emigração voluntária de grande parte de sua população.

Os palestinos e a maior parte da comunidade internacional rejeitaram os planos de reassentar a população de Gaza, uma medida que, segundo especialistas, viola o direito internacional.

O Hamas afirmou que só libertará os reféns restantes - sua única moeda de barganha - em troca de mais prisioneiros palestinos, um cessar-fogo duradouro e uma retirada israelense completa. O Hamas se ofereceu para entregar o poder a um comitê de palestinos politicamente independentes que supervisionaria a reconstrução.

A disputa sobre se deve haver um cessar-fogo temporário para libertar mais reféns - como Israel pediu - ou um permanente - como o Hamas quer - tem atormentado as negociações mediadas pelos EUA, Egito e Catar por mais de um ano e meio, e não há nenhuma indicação de que tenha sido resolvida.

Ainda de acordo com o Haaretz, citando fontes árabes e palestinas, o Hamas considera aceitar o acordo americano, mas está preocupado que Israel retome os combates quando metade dos reféns for libertada, como aconteceu na trégua anterior. Milhares de palestinos foram mortos desde que Israel retomou seus ataques aéreos e operações terrestres após o fim do cessar-fogo em março.

O Hamas está bastante debilitado militarmente e perdeu quase todos os seus principais líderes em Gaza. Na última quarta, 28, Netanyahu anunciou a morte do quarto líder do grupo terrorista, Mohammed Sinwar. O grupo provavelmente teme que a libertação de todos os reféns sem garantir um cessar-fogo permanente permita que Israel lance uma campanha ainda mais devastadora para, em última análise, destruir o grupo.

Israel teme que um cessar-fogo duradouro e uma retirada imediata dariam ao Hamas uma influência significativa em Gaza, mesmo que cedesse o poder formal. Com o tempo, o Hamas poderia reconstruir seu poderio militar e, eventualmente, lançar mais ataques como os de 7 de outubro.

Netanyahu também enfrenta restrições políticas: seus parceiros de coalizão de extrema direita ameaçaram derrubar seu governo se ele encerrasse a guerra cedo demais. Isso o deixaria mais vulnerável a processos por antigas acusações de corrupção e a investigações sobre as falhas em torno do ataque de 7 de outubro.

Uma resolução mais ampla para o conflito parece mais distante do que nunca.

Os palestinos estão fracos e divididos, e o atual governo de Israel - o mais nacionalista e religioso de sua história - se opõe às demandas palestinas por um estado em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios ocupados por Israel na guerra do Oriente Médio de 1967.

As últimas negociações sérias de paz fracassaram há mais de 15 anos.

Em meio a tudo isso estão tanto as famílias dos reféns israelenses que pedem o seu retorno, quanto milhares de palestinos que lutam contra a fome dentro do território.

Terroristas do Hamas invadiram o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrando 251 reféns. Mais da metade dos reféns foi libertada em cessar-fogo ou outros acordos. Israel resgatou oito pessoas e recuperou dezenas de corpos.

A campanha militar subsequente de Israel matou mais de 54.000 palestinos, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.

A ofensiva destruiu vastas áreas de Gaza e deslocou cerca de 90% de sua população de aproximadamente 2 milhões de palestinos, com centenas de milhares vivendo em acampamentos precários e escolas abandonadas.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil