Rússia bombardeia Kiev em retaliação ao ataque com drones ucranianos contra suas bases aéreas

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

A Rússia lançou um enorme bombardeio em toda a Ucrânia na madrugada desta sexta-feira, 6, em retaliação aos ataques recentes de Kiev contra a frota de bombardeiros estratégicos russos.

O bombardeio foi um dos mais violentos da guerra que já estende por três anos, durando várias horas, atingindo seis territórios ucranianos e matando pelo menos quatro pessoas e ferindo cerca de 50, informaram autoridades ucranianas. Entre os mortos estavam três socorristas em Kiev e uma pessoa que foi resgatada dos escombros de um prédio de apartamentos em uma cidade do noroeste.

Kiev foi um dos principais alvos. Os estrondos das baterias de defesa aérea e as rajadas de metralhadoras pesadas ecoavam pela noite na capital ucraniana, enquanto unidades militares que defendiam a cidade tentavam derrubar mísseis que passavam por cima e atacar drones que se aproximavam, com seu zumbido ameaçador percorrendo os bairros.

Ao longo de cerca de cinco horas após a meia-noite, a Rússia lançou 407 drones, quase 40 mísseis de cruzeiro e seis mísseis balísticos por terra, ar e mar contra cidades em todo o país, informou a Força Aérea Ucraniana em um comunicado. Pareceu ser o segundo maior ataque de drones da guerra, depois que a Rússia lançou quase 500 drones no último fim de semana.

"A Rússia não muda de atitude - mais um ataque massivo às cidades e à vida cotidiana", escreveu o presidente ucraniano Volodmir Zelenski nas redes sociais. "Eles atacaram quase toda a Ucrânia".

"A Rússia não está mudando sua caligrafia", escreveu Zelenski em uma publicação no Telegram, que incluía fotos de corpos caídos nas ruas e dos danos causados pelos ataques. "A Rússia precisa responder por isso... agora é o momento em que os Estados Unidos, a Europa e todos no mundo, juntos, podem parar esta guerra, pressionando a Rússia."

O Ministério da Defesa da Rússia disse que os ataques foram uma retaliação aos "atos terroristas" do governo ucraniano, que é como Moscou vem caracterizando a investida de Kiev no fim de semana contra bases aéreas russas.

Dias antes, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia afirmado que seu homólogo russo, Vladimir Putin, lhe disse que responderia ao ataque ucraniano. Também ocorreu horas depois de Trump afirmar que talvez fosse melhor deixar a Ucrânia e a Rússia "lutarem por um tempo" antes de separá-las e buscar a paz. Os comentários de Trump foram um desvio notável de seus apelos frequentes para o fim da guerra e sinalizaram que ele pode estar desistindo dos recentes esforços de paz.

O ataque ucraniano, que envolveu o contrabando de drones para o interior da Rússia e seu lançamento de caminhões, destruiu ou danificou pelo menos uma dúzia de aeronaves, incluindo muitos dos bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear de Moscou. Os ucranianos celebraram a ousadia da operação - batizada de "Teia de Aranha" pelas autoridades -, mas também se prepararam para a retaliação esperada.

"Eles atacaram com bastante dureza", disse Trump na quinta-feira, 5, sobre o ataque ucraniano. "Eles se aprofundaram na Rússia."

Combinado com uma nova ofensiva terrestre no leste, o ataque desta sexta foi parte de uma campanha russa cada vez mais intensa para bombardear cidades ucranianas com uma enxurrada de drones e mísseis para sobrecarregar as defesas aéreas ucranianas.

No geral, a Rússia lançou mais de 1.000 drones por semana contra alvos militares e civis na Ucrânia nos últimos meses, disseram as autoridades ucranianas.

Trump comparou a Rússia e a Ucrânia a duas crianças brigando que precisavam resolver suas diferenças antes que a guerra terminasse. "Às vezes, é melhor deixá-los lutar por um tempo e depois separá-los", disse no Salão Oval enquanto o chanceler alemão, Friedrich Merz, o incentivava a usar o poder dos Estados Unidos para acabar com o conflito.

Trump evitou responder à pergunta sobre se estaria disposto a aumentar a pressão sobre a Rússia. O Kremlin tem resistido repetidamente aos seus apelos por um cessar-fogo incondicional.

No ataque russo desta sexta, caças ucranianos, tropas de mísseis antiaéreos, unidades de guerra eletrônica e sistemas não tripulados e grupos de fogo móvel destruíram 406 dos 452 veículos de ataque aéreo, com ataques relatados em 13 locais, segundo a Força Aérea. Esses números não puderam ser verificados de forma independente.

Três pessoas morreram em Kiev, todas socorristas que se apressaram para extinguir os incêndios, informaram as autoridades ucranianas. O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, também afirmou que 20 pessoas ficaram feridas na capital. Klitschko havia dito inicialmente de manhã que quatro pessoas haviam morrido em Kiev, mas posteriormente revisou o número para três.

Partes do oeste da Ucrânia que não eram alvos frequentes de ataques também foram alvos.

A cidade de Ternopil, que fica a centenas de quilômetros da frente de batalha, sofreu forte ataque, disseram as autoridades locais, com pelo menos 11 pessoas feridas, incluindo seis socorristas.

Em Lutsk, no noroeste da Ucrânia, a Rússia atingiu um prédio de apartamentos e outros locais, matando uma pessoa e ferindo pelo menos outras 27, disseram os serviços de emergência ucranianos.

O exército russo afirmou ter atingido vários alvos militares, embora isso não tenha sido verificado de forma independente. Ao longo da guerra, a Rússia tem repetidamente atacado áreas urbanas, aumentando o risco de baixas civis. O exército ucraniano não divulgou nenhuma informação sobre baixas entre suas fileiras ou danos às suas instalações.

Desde o início deste ano, os militares russos realizaram ataques contra a Ucrânia usando quase 27.700 bombas aéreas, quase 11.200 drones Shahed, cerca de 9.000 outros drones de ataque e mais de 700 mísseis, incluindo balísticos, disse Zelenski na quinta-feira.

"Este é o ritmo dos ataques russos, e eles deliberadamente definiram esse ritmo desde os primeiros dias da guerra em larga escala", disse Zelenski. "A Rússia reestruturou todo o seu Estado, sociedade e economia para poder matar pessoas em outros países em grande escala e com impunidade."

Antes do bombardeio noturno, a Rússia lançou bombas aéreas de alto poder explosivo no centro da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, na manhã de quinta-feira, destruindo parcialmente o prédio da Administração Estatal Regional e danificando diversas estruturas ao redor.

Na noite de quarta-feira, 4, a Rússia atacou a cidade de Priluki, na região nordeste de Chernihiv, matando pelo menos cinco pessoas, incluindo um bebê de 1 ano, disseram autoridades ucranianas.

A Ucrânia também continuou sua campanha para conter os bombardeios, atacando instalações militares russas em território russo. O governador da região russa de Saratov, Roman Busargin, disse que, na noite de quinta-feira, houve um grande incêndio após um depósito de petróleo na base aérea de Engels ter sido atacado por drones ucranianos.

"Até o momento não há vítimas", disse ele.

Uma forte explosão foi relatada em um campo de aviação na região de Briansk, e o governador local, Alexander Bogomaz, afirmou que cerca de 46 drones ucranianos atacaram a área. Ele afirmou que não houve vítimas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Em outra categoria

Três dos quatro ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram pelo recebimento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Eduardo Tagliaferro, que foi assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, será aberta uma ação penal e ele será transformado em réu.

Ele foi acusado de agir contra a legitimidade do processo eleitoral e atuar para prejudicar as investigações de atos como os de 8 de janeiro de 2023. Tagliaferro está na Itália. O governo brasileiro já iniciou um processo de extradição contra ele.

A votação começou no plenário virtual na sexta-feira, 7, e deve ser oficialmente encerrada na próxima sexta-feira, 14. Votaram até agora Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin. Falta o voto de Cármen Lúcia.

O ex-assessor responderá por quatro crimes: revelar ou facilitar a divulgação de um fato que o servidor público tem conhecimento em razão do seu cargo e que deve permanecer secreto; coação no curso de processo judicial; tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito; e tentar impedir ou dificultar investigação contra organização criminosa.

"A participação do denunciado manifestou-se de forma engendrada com a organização criminosa que atuava com o objetivo de praticar golpe de Estado, reforçando a campanha de deslegitimação das instituições mediante vazamento de informações sigilosas e criação de ambiente de intimidação institucional", escreveu Moraes no voto.

Após instaurada a ação penal, as investigações serão aprofundadas, com a produção de provas e o depoimento do acusado, de testemunhas de defesa e de testemunhas de acusação. Ao fim das apurações, a Primeira Turma vai realizar o julgamento final, que pode ser pela condenação ou absolvição do réu.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro disse no sábado, 8, que o Congresso Nacional está "de joelhos em frente ao Supremo Tribunal Federal" e que o Judiciário governa o País. Ela também defendeu o nome do marido, Jair Bolsonaro, como "única opção" para 2026, ignorando o fato de ele estar inelegível.

"A gente tem visto um Congresso de joelhos em frente ao STF, isso é uma tristeza para a gente, porque, hoje, só quem governa é o Judiciário", disse Michelle em um evento do PL Mulher em Londrina (PR). "Os nossos deputados aprovam leis e se não tiver em concordância, eles anulam", concluiu.

No dia anterior, a defesa de Jair Bolsonaro saiu derrotada do julgamento de um recurso à condenação do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Ele deve começar a cumprir a pena de 27 anos e três meses de prisão ainda neste ano.

Herança política de Bolsonaro ainda indefinida

Michelle está cotada para ser candidata a presidente da República em 2026, mas Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre quem será seu herdeiro político. Dentro da família, Michelle sofre a concorrência do senador Flávio Bolsonaro, um dos filhos do ex-presidente.

Com a disputa interna da direita indefinida, a ex-primeira-dama preferiu dizer que "a única opção para presidente da República da direita chama-se Jair Messias Bolsonaro". Ela disse que, se isso não acontecer, será "o verdadeiro golpe que o Judiciário está dando no povo de bem, no povo brasileiro".

No mesmo evento, Michelle disse que o marido "tem vivido dias muito difíceis". Segundo ela, Bolsonaro sofre de soluços desde que passou pela última cirurgia. "Ele chega a exaustão, ele tem vários problemas de saúde decorrente dessa última cirurgia, por ele não ter tido tempo para se recuperar, paz de espírito para se recuperar, um ambiente favorável", afirmou.

Apesar dos lamentos, Michelle demonstrou no discurso esperança com dias melhores. "Um abismo foi puxando o outro. Ele tem vivido dias muito difíceis, tendo todos os seus direitos violados. Mas essa injustiça vai acabar, eu creio", declarou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.