Trump diz que Irã tem 'segunda chance' de chegar a acordo nuclear antes que 'não reste nada'

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

O presidente Donald Trump clamou ao Irã na sexta-feira, 13, para que se chegue logo a um acordo sobre a redução de seu programa nuclear. Enquanto isso, Israel prometeu continuar bombardeando o país.

Trump caracterizou o momento instável no Oriente Médio como uma possível "segunda chance" para a liderança iraniana evitar mais destruição "antes que não reste nada e salvar o que antes era conhecido como Império Iraniano".

O presidente americano pressionou o Irã ao se reunir com sua equipe em um gabinete de crise para discutir o difícil caminho a seguir após os ataques devastadores de Israel ao Irã. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu manter a ofensiva por "quantos dias forem necessários" para destruir o programa nuclear iraniano.

A Casa Branca afirma que não teve envolvimento nos ataques, mas Trump destacou que Israel usou um vasto arsenal de armas fornecido pelos Estados Unidos para atingir a principal instalação de enriquecimento do Irã, localizada em Natanz, bem como os principais cientistas e autoridades para o programa nuclear do país.

Trump disse em sua plataforma de mídia social, a Truth Social, que havia alertado os líderes do Irã de que "seria muito pior do que qualquer coisa que eles conhecem, antecipam ou foram informados, pois os Estados Unidos fabricam o melhor e mais letal equipamento militar do mundo, DE LONGE, e que Israel tem muito disso, com muito mais por vir - e eles sabem como usá-lo".

Poucas horas antes de Israel lançar seus ataques ao Irã na madrugada de sexta, Trump ainda mantinha uma tênue esperança de que a longa disputa pudesse ser resolvida sem ação militar. Agora, ele será testado novamente em sua capacidade de cumprir sua promessa de campanha de livrar os Estados Unidos de conflitos estrangeiros.

Após os ataques israelenses, os Estados Unidos estão transferindo seus recursos militares, incluindo navios, para o Oriente Médio, a fim de se proteger contra possíveis ataques retaliatórios do Irã, de acordo com dois funcionários americanos que falaram sob condição de anonimato à AP.

A Marinha americana ordenou que o contratorpedeiro USS Thomas Hudner começasse a navegar em direção ao Mediterrâneo Oriental e ordenou que um segundo contratorpedeiro começasse a avançar, para que estivesse disponível se solicitado pela Casa Branca.

À medida que Israel intensificava os planos para ataques nas últimas semanas, o Irã sinalizou que os Estados Unidos seriam responsabilizados no caso de um ataque israelense. O aviso foi emitido pelo ministro das Relações Exteriores do país, Abbas Araghchi, enquanto ele participava de negociações com um enviado especial de Trump, Steve Witkoff.

Os ataques de sexta ocorreram quando Trump planejava enviar Witkoff a Omã no domingo, 15, para a próxima rodada de negociações com o ministro das Relações Exteriores do Irã.

Witkoff ainda planeja ir a Omã para conversar sobre o programa nuclear de Teerã, mas não está claro se os iranianos participarão, de acordo com autoridades americanas que falaram sob condição de anonimato.

Trump entra em contato com líderes globais

O presidente fez uma série de telefonemas na sexta para âncoras de noticiários de televisão para renovar seus apelos ao Irã para que reduza seu programa nuclear.

O jornalista Dana Bash, da CNN, afirmou que Trump lhe disse que os iranianos "devem agora sentar-se à mesa" e chegar a um acordo. Trump, por sua vez, disse à NBC News que autoridades iranianas estão "me ligando para conversar", mas não forneceu mais detalhes.

Na sexta, Trump também conversou com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron, além do próprio Netanyahu.

Enquanto isso, os preços do petróleo subiram e as ações caíram devido às preocupações de que a escalada da violência pudesse afetar o fluxo de petróleo bruto em todo o mundo.

Políticos democratas elogiam Trump por diplomacia

Senador do Partido Democrata, Tim Kaine, da Virgínia, ofereceu palavras raras de elogio ao governo Trump após o ataque "por priorizar a diplomacia" e "abster-se de participar" dos ataques militares. O político também expressou profunda preocupação com o que os ataques israelenses poderiam significar para os americanos sitiados na região.

O governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, também filiado ao Partido Democrata, disse que se Israel conseguir atrasar o programa nuclear do Irã com os ataques, "provavelmente será um bom dia para o mundo".

"Mas não se enganem: não queremos uma guerra total no Oriente Médio", disse o governador. "Isso não é apenas ruim para o Oriente Médio, é desestabilizador para o mundo, e é algo que espero que não ocorra."

Israel lançou ataques violentos contra o coração da estrutura nuclear e militar do Irã na sexta-feira, empregando aviões de guerra e drones previamente contrabandeados para o país para atacar instalações importantes e matar generais e cientistas de alto escalão - uma barragem que, segundo Israel, era necessária antes que seu adversário se aproximasse ainda mais da construção de uma arma atômica.

O Irã retaliou lançando dezenas de mísseis balísticos contra Israel, onde explosões iluminaram os céus de Jerusalém e Tel Aviv e abalaram os edifícios abaixo. As Forças Armadas dos EUA ajudaram Israel a interceptar os mísseis disparados pelo Irã no ataque retaliatório.

Governo americano já previa ação de Israel

Nas horas que antecederam o ataque israelense ao Irã, Trump ainda parecia esperançoso de que haveria mais tempo para a diplomacia.

Por outro lado, já estava claro para o governo americano que Israel estava se aproximando de uma ação militar contra o Irã. O Departamento de Estado e as Forças Armadas ordenaram na quarta-feira, 11, a evacuação voluntária de pessoal não essencial e seus familiares de certos postos diplomáticos dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Antes de Israel lançar os ataques, alguns dos mais fortes apoiadores de Trump estavam levantando preocupações sobre o que outro conflito expansivo no Oriente Médio poderia significar para o presidente, que se elegeu com a promessa de acabar rapidamente com as guerras em Gaza e na Ucrânia.

Durante a campanha, Trump criticou o então presidente Joe Biden por impedir Israel de realizar ataques a instalações nucleares iranianas. Agora, Trump se viu clamando aos israelenses para que dessem uma chance à diplomacia.

Trump retirou-se de acordo por programa nuclear

A pressão do governo Trump para persuadir Teerã a desistir de seu programa nuclear veio depois que os Estados Unidos e outras potências mundiais chegaram, em 2015, a um acordo nuclear abrangente e de longo prazo que limitava o enriquecimento de urânio do Irã em troca da cessão de sanções econômicas.

Trump, porém, retirou os Estados Unidos do acordo de forma unilateral em 2018, chamando-o de "o pior acordo de todos os tempos". O caminho a seguir está ainda mais nebuloso agora.

"Nenhuma questão divide tanto a direita atualmente quanto a política externa", publicou no X (antigo Twitter) o analista Charlie Kirk, fundador da Turning Point USA e aliado de Trump. "Estou muito preocupado com base em (tudo) o que vi nas bases nos últimos meses, que isso causará um grande cisma no MAGA e poderá atrapalhar nosso impulso e nossa presidência incrivelmente bem-sucedida", completou Kirk.

*com colaborações de Tara Copp, Seung Min Kim, Matthew Lee, Lisa Mascaro, Chris Megerian, Noah Trister e Jon Gambrell.

Em outra categoria

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira, 10, que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), preserve todas as imagens das câmeras corporais dos policiais civis e militares envolvidos na Operação Contenção, que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha em outubro. Na mesma decisão, o ministro determinou que o governador envie ao STF, em até 48 horas, a relação de agentes envolvidos na operação e também cópias de todos os laudos necroscópicos dos mortos na ação.

Moraes cobrou também os relatórios de inteligência e policiais que embasaram a operação, deflagrada para cumprir mandados de prisão preventiva contra lideranças do Comando Vermelho, gerentes do tráfico e soldados da facção. O ministro vai verificar se havia nos relatórios pistas que indicassem que os alvos dos mandados de prisão estavam no local onde ocorreu a operação.

Moraes pediu ainda que Cláudio Castro informe as medidas tomadas para cumprir a decisão anterior que obrigou o governo e preservar todas as provas, perícias e documentos relacionados à operação. Segundo o ministro, as informações complementares são necessárias "para a análise" da Operação Contenção.

Alexandre de Moraes também determinou a suspensão imediata do inquérito aberto na 22ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro (Penha) para investigar familiares de vítimas por terem retirado corpos da região de mata. O ministro mandou notificar o delegado titular para que ele preste informações ao STF em 48 horas.

O ministro também fez cobranças ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao Ministério Público do Estado e à Defensoria Pública do Rio. Moraes pediu ao Poder Judiciário a relação das pessoas com mandado de prisão que foram efetivamente presas na Operação Contenção e a relação dos demais presos - por mandado ou em flagrante - que não constavam como alvos da ação e a situação processual de cada um. Também solicitou os resultados das audiências de custódia e dos mandados de busca e apreensão.

Ao Ministério Público, o ministro solicitou relatórios e cópias dos laudos feitos pela perícia técnica independente do órgão e da investigação que desencadeou a operação. E, por fim, Moraes pediu que a Defensoria Pública informe se o governo permitiu o acesso da instituição às provas e "procedimentos necessários para o devido acompanhamento e assistência às famílias das vítimas".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.