Visita de Lula a Cristina domina cúpula do Mercosul na Argentina

Internacional
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A visita de Luiz Inácio Lula da Silva à ex-presidente argentina Cristina Kirchner, em prisão domiciliar em Buenos Aires, dominou a cúpula do Mercosul nesta quinta-feira, 3. Condenada a 6 anos e à perda de direitos políticos em um caso de corrupção, ela ainda é o principal nome de oposição a Javier Milei, anfitrião do encontro.

A visita, que durou quase uma hora, ocorreu após Lula receber das mãos de Milei a presidência rotativa do Mercosul e graças a uma autorização da Justiça argentina, que atendeu ao pedido da ex-presidente e liberou a entrada do brasileiro no apartamento, localizado no bairro de Constitución, em Buenos Aires.

Após a visita, Lula se encontrou com o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, na residência do embaixador brasileiro. De acordo com interlocutores presentes, o presidente disse que "acredita na inocência de Cristina". Na embaixada, Lula tirou uma foto segurando um cartaz que dizia: "Cristina Livre".

"Além de prestar minha solidariedade a ela por tudo que tem vivido, desejei toda a força para seguir lutando com a mesma firmeza que tem sido a marca de sua trajetória na vida e na política", escreveu Lula, no X. "Pude sentir nas ruas o apoio popular que ela tem recebido e sei bem o quanto é importante esse reconhecimento nos momentos mais difíceis. Que fique bem e siga firme na sua luta por justiça."

A ex-presidente foi condenada a 6 anos por contratos superfaturados de obras públicas e fraudes em licitações na Província de Santa Cruz, durante sua presidência. Além de condenada à prisão - que cumpre em casa por ter mais de 70 anos -, Cristina teve os direitos políticos cassados. Ela se diz inocente e vítima de perseguição.

Encontro

Mais cedo, Lula e Milei mantiveram a mesma frieza exibida na cúpula do G20, no Museu de Arte Moderna do Rio, em novembro. Eles posaram para uma foto no Palácio San Martín, sede da chancelaria argentina, e não trocaram muitas palavras, apenas um cumprimento formal.

Durante os discursos, os dois também demonstraram visões opostas sobre a integração regional. Enquanto o presidente argentino torce o nariz para o multilateralismo e faz pressão para negociar tratados comerciais bilaterais fora do bloco, Lula defendeu o Mercosul como forma de inserção em um mercado global cada vez mais competitivo.

"Propusemos que, como bloco, nos movamos para um esquema comercial e regulatório muito mais livre, em vez da cortina de ferro à qual hoje estamos submetidos", disse Milei. "A Argentina não pode esperar, precisamos de mais liberdade, de forma urgente. Os sócios do Mercosul devem decidir se querem ajudar no caminho que iniciamos."

Ao receber a direção temporária do Mercosul, Lula defendeu a força do bloco em negociações comerciais com parceiros externos e na luta contra as mudanças climáticas. "Quando o mundo se mostra instável e ameaçador, é natural buscar refúgio onde nos sentimos seguros. Para o Brasil, o Mercosul é esse lugar", disse o brasileiro.

Livre-comércio

De prático, a cúpula de Buenos Aires celebrou a assinatura de um acordo comercial com a Associação Europeia de Livre-Comércio (EFTA), bloco econômico formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. A negociação com a União Europeia, bem mais complexa, ainda não foi concluída.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil