Brics defende interesses de Irã e Rússia, mas evita embate direto com EUA

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Representantes dos países do Brics condenaram ontem os bombardeios ao Irã e pouparam a Rússia, dois membros plenos do bloco, na declaração oficial da cúpula, ocorrida no Rio. O grupo não mencionou Israel e Estados Unidos, autores dos ataques no Oriente Médio. Também não citou a Ucrânia, invadida em 2022 e acusada pelo Kremlin de praticar "terrorismo" contra civis.

"Condenamos os ataques militares contra a República Islâmica do Irã, que constituem uma violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas", afirmaram os líderes, em sinalização a Teerã, mas usando o exato teor do texto proposto como meio-termo pelo Brasil, como antecipou o Estadão.

O tema havia virado alvo de impasse, dado o desejo da delegação iraniana de elevar o tom. Diplomatas enviados por Teerã exigiam uma declaração mais dura do que uma emitida em junho, como de fato ocorreu. Mas acabaram isolados e não conseguiram emplacar termos como "condenação veemente" e uma atribuição nominal aos "ataques militares realizados por Israel e EUA". Países como Índia, Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos resistiram, por causa de suas relações com Washington e Tel-Aviv.

Por outro lado, o Brics citou sete vezes os termos Israel ou israelense e destinou longos parágrafos à segurança no Oriente Médio, sobretudo, na Faixa de Gaza, Síria e Líbano. A declaração final menciona ainda seu "compromisso inabalável com a solução de dois Estados", referindo-se a um Estado palestino e um Estado israelense. Isso desagradou ao Irã, que não reconhece o Estado de Israel.

"Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas, mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

MEDIAÇÃO. Presidente de turno do bloco, o Brasil queria evitar que o comunicado final do Brics soasse como uma afronta clara aos EUA. Por isso, atuou para reduzir a visão crescente de que o grupo se tornou um polo de contestação ao Ocidente, manobrado politicamente por China e Rússia.

Ainda assim, a declaração do bloco não menciona os ataques aéreos da Rússia contra a Ucrânia às vésperas da cúpula, os mais intensos desde 2022 e ocorridos após uma conversa entre Vladimir Putin e Donald Trump terminar sem avanço. Mas cita ataques ao território russo. "Condenamos nos termos mais fortes os ataques contra pontes e infraestrutura ferroviária que visaram deliberadamente civis nas regiões de Bryansk, Kursk e Voronezh, na Federação Russa, resultando em várias vítimas civis", afirmaram os líderes.

É a primeira vez que o Brics cita ataques específicos em território russo desde a invasão da Ucrânia, em 2022.

CRÍTICA DIRETA. Na abertura da cúpula, Lula criticou a Aliança do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a quem acusou de "instrumentalização" ao evocar a fala de Teerã de que a agência estaria a serviço do Ocidente. Sobre a Otan, o presidente atacou a decisão dos países da aliança que, pressionados por Trump e preocupados com a Rússia, concordaram em elevar a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) os respectivos investimentos em defesa.

Principal resultado da cúpula, a declaração é um documento político com compromissos e propostas. Na esfera financeira, o Brics evitou embates com as políticas de Trump, como o tarifaço e sanções contra Rússia e Irã. No campo comercial, criticou "medidas protecionistas" que impactam as negociações com a União Europeia.

A declaração obteve ainda o compromisso de China e Rússia com a reforma do Conselho de Segurança da ONU no sentido de dar a Brasil e Índia "um papel mais relevante" no órgão, sem usar o termo assento permanente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em outra categoria

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).

O sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier, alertou neste sábado, 8, para a situação fiscal explosiva do Brasil. Com o juro real perto de 11% e o atual nível de endividamento, o País corre risco de quebrar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) for reeleito e não mudar suas políticas. Por outro lado, pode virar a página caso eleja um candidato de centro-direita, escapando do duelo Lula versus Jair Bolsonaro e colocando um ponto final no ciclo pós-ditadura.

"O País quer uma coisa diferente dessa oferta que foi nos dada nos últimos anos, que aponte para o futuro. Chega de Bolsonaro, chega de Lula, está bom", disse Xavier, durante painel na conferência MBA Brasil 2025, em Boston, nos Estados Unidos.

Segundo ele, Lula e Bolsonaro representam um período "do nós contra eles" que o Brasil vive desde o fim da ditadura. "Temos uma alternativa de acabar com esse ciclo já no ano que vem", disse, sem mencionar um candidato específico. Na sua visão, qualquer candidato da direita hoje pode ser a 'cara' do centro-direita nas eleições de 2026, mas que ainda não é hora de se colocar. "Vai apanhar", afirmou.

Xavier prevê uma eleição "super acirrada", em que não será possível saber o vencedor das urnas nem 24 horas antes do pleito. E, nesse ambiente, a situação fiscal d Brasil pode se deteriorar ainda mais, com o governo petista gastando mais para vencer a disputa. Na sua visão, "o Brasil está em risco".

"A gente está criando um endividamento muito alto e que é explosivo. 11% de juro real para um país que já tem uma dívida desse tamanho, a gente quebra", alertou. "A gente está se aproximando muito perto do encontro com a dívida", acrescentou. Uma eventual piora da situação fiscal do Brasil pode levar credor da dívida brasileira a questionar a vontade do País de honrá-la. "Dívida é capacidade vontade. A capacidade está ficando em dúvida e já tem um pouco de dúvida se (o governo) tem muita vontade de pagar mesmo".

Ao falar a estudantes brasileiros de MBA no exterior, ele analisou o histórico dos partidos políticos no Brasil para reforçar a cobrança da sociedade por uma proposta nova. Na sua visão, o PT "morreu", assim como o PSDB perdeu relevância nacional. No entanto, o Partido dos Trabalhadores tem o Lula, que é "muita coisa", mas demonstra um "egoísmo brutal" ao continuar sendo presidente e não dar oportunidade para outros.

"A reeleição é um câncer no Brasil. O incentivo do político é se reeleger. Virou uma profissão", criticou o gestor. "O político deveria servir as pessoas, servir o povo. Não se servir", emendou.

Segundo ele, é importante que o ciclo pós-ditadura termine para que o Brasil aponte para o futuro. Mesmo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha surpreendido para cima nos últimos anos, sob a ótica de crescimento, quando comparado a outros emergentes, o Brasil "ficou para trás", na sua visão. "O Brasil nunca teve horizonte, nunca teve previsibilidade", concluiu.

*A repórter viajou a convite da MBA Brasil