Escândalo de abuso sexual: 'lista de clientes' de Epstein não existe, diz Justiça dos EUA

Internacional
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O financista Jeffrey Epstein não mantinha uma "lista de clientes", afirmou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos nesta segunda-feira, 7, ao dizer que nenhum outro arquivo relacionado à investigação de tráfico sexual do bilionário seria tornado público, apesar das promessas da procuradora-geral Pam Bondi, que aumentaram as expectativas de influenciadores conservadores e teóricos da conspiração.

O reconhecimento de que Epstein não possuía uma lista de clientes para os quais meninas menores de idade eram traficadas representa um retrocesso público de uma teoria que o governo Trump ajudou a promover, com Bondi sugerindo em uma entrevista à Fox News no início deste ano que tal documento estava "na minha mesa" para revisão.

Ao mesmo tempo em que divulgava um vídeo de dentro de uma prisão de Nova York para provar que Epstein se matou, o Departamento de Justiça também disse em um memorando que estava se recusando a divulgar outras provas que os investigadores haviam coletado.

Durante semanas, Bondi sugeriu que mais material seria revelado, depois que um primeiro despejo de documentos que ela havia promovido irritou a base do presidente Donald Trump por não ter feito revelações. "É um novo governo e tudo virá a público", disse ela em um determinado momento.

Esse episódio - no qual influenciadores de extrema direita foram convidados para a Casa Branca em fevereiro e receberam pastas com os dizeres "The Epstein Files: Phase 1" (Os Arquivos Epstein: Fase 1) e "Declassified" (Desclassificado), que continham documentos que, em grande parte, já eram de domínio público - levou personalidades conservadoras da internet a criticar duramente Bondi.

Após o fracasso da primeira divulgação, Bondi disse que as autoridades estavam analisando um "caminhão" de provas anteriormente retidas que, segundo ela, haviam sido entregues pelo Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos, o FBI. Em uma entrevista para a TV em março, ela afirmou que o governo Biden "guardou esses documentos, ninguém fez nada com eles". "Infelizmente, essas pessoas não acreditam em transparência, mas, infelizmente, acho que muitas delas não acreditam em honestidade", acrescentou.

Mas depois de uma análise de meses das provas em posse do governo, o Departamento de Justiça determinou que nenhuma "divulgação adicional seria apropriada ou garantida". O órgão observou que grande parte do material foi colocado sob sigilo por um tribunal para proteger as vítimas e "apenas uma fração" dele "teria sido divulgada publicamente se Epstein tivesse ido a julgamento".

"Uma de nossas maiores prioridades é combater a exploração infantil e fazer justiça às vítimas", diz o memorando. "A perpetuação de teorias infundadas sobre Epstein não serve a nenhum desses objetivos."

O memorando de duas páginas trazia os logotipos do Departamento de Justiça e do FBI, mas não foi assinado por nenhuma autoridade individual.

Críticas dos conservadores

Os conservadores que buscaram provas de um encobrimento governamental das atividades e da morte de Epstein expressaram sua indignação nesta segunda-feira com a posição do departamento. "Todos nós fomos informados de que mais estava por vir. Que as respostas estavam lá fora e seriam fornecidas. É incrível como essa bagunça do Epstein foi totalmente mal administrada. E não precisava ser assim", postou o influenciador de extrema-direita Jack Posobiec.

O teórico da conspiração Alex Jones escreveu que "em seguida, o DOJ dirá: 'Na verdade, Jeffrey Epstein nunca existiu'", chamando isso de "extremamente doentio". Elon Musk compartilhou uma série de fotos de um palhaço aplicando maquiagem, parecendo zombar de Bondi por dizer que a lista de clientes não existe, depois de sugerir meses atrás que ela estava em sua mesa.

O burburinho sobre a lista de clientes começou quando Bondi foi questionada em uma entrevista à Fox News se o departamento divulgaria tal documento. Ela respondeu: "Está na minha mesa agora para ser revisado".

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, e o porta-voz do Departamento de Justiça, Chad Gilmartin, disseram nesta segunda-feira que Bondi estava se referindo aos arquivos gerais do caso Epstein.

Entre as provas que o Departamento de Justiça disse que tem em sua posse, e que não divulgará, estão imagens de Epstein, "imagens e vídeos de vítimas que são menores ou parecem ser menores" e mais de 10 mil "vídeos e imagens baixados de material ilegal de abuso sexual de crianças e outras pornografias".

O memorando não explica quando ou onde os vídeos foram localizados, quem e o que eles retratam e se foram encontrados recentemente quando os investigadores vasculharam sua coleção de provas ou se já se sabia há algum tempo que estavam em posse do governo.

Bondi chegou a falar para repórteres neste ano sobre a existência de "dezenas de milhares" de vídeos que, segundo ela, mostravam Epstein "com crianças ou pornografia infantil".

Várias pessoas que participaram dos processos criminais de Epstein e da sua ex-namorada Ghislaine Maxwell disseram à agências de notícias Associated Press que não tinham visto e não sabiam da existência de gravações semelhantes às mencionadas por Bondi. As acusações e os memorandos de detenção também não apontam a existência de gravações em vídeo e nem Epstein nem Maxwell foram acusados de posse de material de abuso sexual de crianças, embora fosse mais fácil para os promotores provarem isso do que as acusações de tráfico sexual que enfrentaram.

A AP encontrou referência em um processo civil à descoberta, pelo espólio de Epstein, de vídeos e fotos que poderiam constituir material de abuso sexual infantil, mas os advogados envolvidos nesse caso disseram que uma ordem de proteção os impede de descobrir os detalhes dessas evidências e o Departamento de Justiça não respondeu a uma lista detalhada de perguntas da AP sobre os vídeos aos quais Bondi estava se referindo.

Morte

Epstein foi encontrado morto em sua cela em agosto de 2019, semanas após sua prisão por acusações de tráfico sexual, em um suicídio que impediu a possibilidade de um julgamento.

A informação do Departamento de Justiça de que Epstein tirou a própria vida não é uma revelação, embora os teóricos da conspiração tenham continuado a contestar essa conclusão.

Em novembro de 2019, por exemplo, o então procurador-geral William Barr disse à AP que havia analisado as imagens de segurança que revelavam que ninguém havia entrado na área onde Epstein estava alojado na noite em que ele morreu e expressou confiança de que a morte de Epstein foi um suicídio.

Mais recentemente, o diretor do FBI Kash Patel e o vice-diretor Dan Bongino insistiram em entrevistas na televisão e em podcasts que as evidências eram claras de que Epstein havia se suicidado.

Em outra categoria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), divulgou neste sábado, 8, a pauta da Casa para a próxima semana, com a inclusão do projeto de lei antifacção - texto encaminhado pelo governo ao Congresso na esteira da megaoperação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro. A proposta é relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança de São Paulo.

Motta marcou a primeira sessão deliberativa da Casa da semana para terça-feira, 11, às 13h55. A sessão será semipresencial, conforme decidido pelo presidente da Câmara em atenção a pedido de líderes partidários. Isso significa que os deputados poderão votar a distância nas sessões dessa semana, sem precisarem estar em Brasília.

A pauta também contém outros projetos relacionados à Segurança Pública, como o que aumenta a destinação da arrecadação com jogos de apostas de quota fixa (bets) para o financiamento da segurança pública. O relator de tal projeto é o deputado Capitão Augusto (PL-SP).

Outro projeto na lista de serem debatidos pelos parlamentares é o que condiciona a progressão de regime, a saída temporária e a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva à coleta de material biológico para obtenção do perfil genético do preso. O relator é o deputado Arthur Maia (União-BA).

Ainda consta na pauta a discussão de um projeto que altera o Código Tributário Nacional para tratar de normas gerais para solução de controvérsias, consensualidade e processo administrativo em matéria tributária e aduaneira. A tramitação em regime de urgência da proposta foi aprovada no último dia 21. O relator é o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG).