Trump processa jornal em U$ 10 bilhões por reportagem sobre sua relação com Jeffrey Epstein

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ingressou com uma ação judicial de US$ 10 bilhões (cerca de R$ 55,8 bilhões) contra o Wall Street Journal e o empresário Rupert Murdoch, dono do jornal, após reportagem afirmar que o republicano enviou uma carta "sexualmente sugestiva" ao milionário Jeffrey Epstein, acusado de tráfico humano e abuso sexual de menores.

No processo apresentado à Justiça Federal de Miami, Trump afirma que o jornal divulgou de forma "intencionalmente falsa e difamatória" a carta, que, segundo a publicação, trazia seu nome e foi incluída em um álbum comemorativo dos 50 anos de Epstein, em 2003. Os dois repórteres que assinam a matéria também foram incluídos como alvos do processo. As informações são da agência de notícias AP News.

A ofensiva jurídica acontece no momento em que o governo americano tenta conter a pressão por maior transparência sobre o caso de tráfico sexual envolvendo o antigo aliado republicano. Epstein morreu em 2019.

Nesta sexta-feira, 18, pelas redes sociais, Trump não apenas anunciou que estava processando o jornal, como também alegou que a ação busca "responsabilizar os abusos cometidos pela imprensa" e representa uma reação contra o que chamou de "mídia fake news".

A ação também ocorre em meio à escalada da crise diplomática entre Estados Unidos e Brasil. Trump tem se manifestado publicamente contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que, segundo ele, fariam parte de uma suposta "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado. O presidente americano também acusa a Corte de promover um "regime ridículo de censura", em referência ao julgamento que ampliou a responsabilização das plataformas digitais no País.

Nesta sexta-feira, o governo americano anunciou a revogação dos vistos diplomáticos de ministros do STF, entre eles Alexandre de Moraes, e de seus familiares. A medida foi adotada poucos dias após Moraes impor medidas cautelares contra Bolsonaro, que passou a usar tornozeleira eletrônica por determinação da Corte.

Entenda o caso Epstein

O caso Epstein voltou ao centro do noticiário americano após o Departamento de Justiça dos EUA pedir à Justiça a liberação das transcrições do grande júri sobre o escândalo de tráfico sexual envolvendo o financista. Trump, que já havia sido alvo de críticas por sua proximidade com Epstein, passou a enfrentar desgaste entre seus apoiadores mais fiéis após não liberar todos os documentos do caso, como havia prometido. Ao ser cobrado, chamou os críticos de "fracos" e voltou sua artilharia contra a imprensa.

O presidente americano também tentou proteger a procuradora-geral Pam Bondi dos questionamentos sobre o caso, depois que ela voltou atrás em suas alegações sobre a existência de uma "lista de clientes" das elites que teriam participado dos crimes de Epstein - e chegou a afirmar, sem provas, que os arquivos foram adulterados pelos democratas.

A carta revelada pelo Wall Street Journal foi supostamente coletada pela socialite britânica e ex-namorada de Epstein, Ghislaine Maxwell, como parte de um álbum de aniversário para o financista em 2003, anos antes de sua primeira prisão, em 2006, e da posterior ruptura com Trump.

Proximidade entre Trump e Epstein

O próprio Wall Street Journal divulgou reportagem em que mostra a proximidade entre os dois. Trump já reconheceu que ele e Epstein faziam parte do mesmo círculo social em Palm Beach, na Flórida, décadas atrás.

Existem numerosas fotos de Trump e Epstein. Em 2019, a NBC News divulgou um vídeo de Trump na companhia de Epstein em uma festa de 1992 com líderes de torcida da NFL, a liga de futebol americano profissional dos EUA. Em determinado momento, Trump aponta alguém para Epstein e parece dizer: "Ela é gostosa!"

Em 2002, Trump foi citado em um perfil de Epstein: "Conheço Jeff há quinze anos. É um cara incrível. É muito divertido estar com ele. Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são mais jovens. Não há dúvida: Jeffrey gosta de sua vida social".

Mas, como relatou o The Washington Post, o relacionamento azedou em 2004, depois que os dois disputaram a aquisição de uma propriedade nobre em Palm Beach, uma mansão à beira-mar chamada Maison de l'Amitie.

Trump venceu o leilão, e os registros telefônicos - os registros de chamadas mencionados pelo deputado Ted Lieu (Democrata da Califórnia) no ano passado - indicam que os dois homens não se comunicaram depois disso. Duas semanas após o leilão, a polícia de Palm Beach recebeu uma denúncia de que mulheres jovens foram vistas entrando e saindo da casa de Epstein - o que levou à investigação do caso.

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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira, 10, que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), preserve todas as imagens das câmeras corporais dos policiais civis e militares envolvidos na Operação Contenção, que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha em outubro. Na mesma decisão, o ministro determinou que o governador envie ao STF, em até 48 horas, a relação de agentes envolvidos na operação e também cópias de todos os laudos necroscópicos dos mortos na ação.

Moraes cobrou também os relatórios de inteligência e policiais que embasaram a operação, deflagrada para cumprir mandados de prisão preventiva contra lideranças do Comando Vermelho, gerentes do tráfico e soldados da facção. O ministro vai verificar se havia nos relatórios pistas que indicassem que os alvos dos mandados de prisão estavam no local onde ocorreu a operação.

Moraes pediu ainda que Cláudio Castro informe as medidas tomadas para cumprir a decisão anterior que obrigou o governo e preservar todas as provas, perícias e documentos relacionados à operação. Segundo o ministro, as informações complementares são necessárias "para a análise" da Operação Contenção.

Alexandre de Moraes também determinou a suspensão imediata do inquérito aberto na 22ª Delegacia de Polícia do Rio de Janeiro (Penha) para investigar familiares de vítimas por terem retirado corpos da região de mata. O ministro mandou notificar o delegado titular para que ele preste informações ao STF em 48 horas.

O ministro também fez cobranças ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao Ministério Público do Estado e à Defensoria Pública do Rio. Moraes pediu ao Poder Judiciário a relação das pessoas com mandado de prisão que foram efetivamente presas na Operação Contenção e a relação dos demais presos - por mandado ou em flagrante - que não constavam como alvos da ação e a situação processual de cada um. Também solicitou os resultados das audiências de custódia e dos mandados de busca e apreensão.

Ao Ministério Público, o ministro solicitou relatórios e cópias dos laudos feitos pela perícia técnica independente do órgão e da investigação que desencadeou a operação. E, por fim, Moraes pediu que a Defensoria Pública informe se o governo permitiu o acesso da instituição às provas e "procedimentos necessários para o devido acompanhamento e assistência às famílias das vítimas".

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo, 9, que "a ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe", em um sinal indireto às ameaças promovidas pelo governo dos Estados Unidos contra a Venezuela. Ele afirmou que "democracias não combatem o crime violando o direito internacional".

O governo de Donald Trump tem usado como pretexto para intensificar sua presença militar no Caribe o combate ao narcotráfico. Nos últimos meses, destruiu barcos que trafegavam pela região alegando que se tratava de embarcações de traficantes. Os tripulantes foram mortos.

O discurso de Lula foi feito na Cúpula Celac-União Europeia em Santa Marta, na Colômbia. O presidente brasileiro disse que a América Latina é uma "região de paz" e pretende continuar assim.

"A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais. Somos região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional", declarou.

Segundo Lula, a "democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvaziam espaços públicos e destroem famílias e desestruturam negócios". O presidente brasileiro disse que garantir "segurança é dever do Estado e direito humano fundamental" e que "não existe solução mágica para acabar com a criminalidade". O presidente defendeu "reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas".

Lula citou a última reunião da cúpula Celac-União Europeia, há dois anos, em Bruxelas. Disse que, naquela época, "vivíamos um momento de relançamento dessa histórica parceria", mas, "deste então, experimentamos situações de retrocessos".

O petista criticou a falta de integração entre os países latinoamericanos. Afirmou que "voltamos a ser uma reunião dividida" e com ameaças envolvendo o "extremismo político".

"A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região dividida, mais voltada para fora do que para si própria. A intolerância cria força e vem impedindo que diferentes pontos de vista possam se sentar na mesma mesa. Voltamos a viver com a ameaça do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder muitas vezes solapam a democracia", afirmou.

Em seu discurso, Lula também citou a realização da COP30, em Belém, e mencionou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Disse que o fundo "é solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas" e que a "transição energética é inevitável".

O petista também lamentou o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, e manifestou suas condolências às vítimas da tragédia climática dos últimos dias.

O novo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, afirmou na tarde deste sábado, 8, em São Paulo, que governadores bolsonaristas "preferem fazer demagogia com sangue, ao tratar todo mundo da comunidade como se fosse bandido". Boulos disse que essa é a visão dos governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de outros chefes de Executivo estadual apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ele lançou no Morro da Lua, região de Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, o Projeto Governo na Rua, que tem a finalidade de ouvir a população e levar as manifestações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Boulos declarou também que a questão do combate ao crime é antiga, mas que Luiz Inácio Lula da Silva é quem tomou a iniciativa de tentar resolver com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública e o projeto de lei antifacção. Conforme o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com essas propostas aprovadas, o governo federal terá mais atribuições e responsabilidades para o enfrentamento ao crime.

"A gente acredita que o combate ao crime tem que fazer da maneira correta, como a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, para pegar o peixe grande, não o bagrinho. O peixe grande está na Avenida Faria Lima, não na favela", acredita.