Departamento de Justiça dos EUA informou a Trump que seu nome está nos arquivos de Epstein

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Funcionários do Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA informaram ao presidente Donald Trump em maio que seu nome aparecia diversas vezes em documentos relacionados a Jeffrey Epstein, disseram autoridades do próprio governo ao Wall Street Journal. A informação foi repassada em uma reunião na Casa Branca com a procuradora-geral Pam Bondi, que liderava a revisão do material.

Os presentes disseram ao WSJ que o nome de Trump, assim como o de outras figuras públicas, surgia em relatos considerados boatos não verificados sobre pessoas que socializaram com Epstein no passado. A menção, segundo as autoridades, não indicava qualquer irregularidade. Sobre a reportagem do jornal, o porta-voz da Casa Branca Steven Cheung afirmou que "isso nada mais é do que uma continuação das notícias falsas inventadas pelos democratas e pela mídia liberal", segundo a imprensa americana.

A reunião, descrita como rotineira, abordou vários temas e não teve como foco a citação ao presidente. Ainda de acordo com o WSJ, fontes oficiais disseram que os arquivos contêm centenas de outros nomes e não há evidências que justifiquem novas investigações. Na reunião, Trump foi informado também de que o DoJ não planejava divulgar mais documentos, por conterem pornografia infantil e informações pessoais das vítimas. Ele apoiou a decisão.

Em fevereiro, Bondi havia dito que a chamada "lista de clientes" de Epstein estava "na minha mesa agora para revisão". Em público, no entanto, Trump afirmou na semana passada que Bondi não o havia informado sobre sua menção nos arquivos.

A decisão de não divulgar novos materiais só foi anunciada semanas depois, em 7 de julho, por meio de um memorando publicado no site do DoJ. O texto, sem assinatura, diz que não foi encontrada nenhuma lista de clientes, tampouco evidências para investigar terceiros não acusados. Parte do conteúdo permanecerá sob sigilo para proteger as vítimas e impedir a disseminação de pornografia infantil.

*Com informações da Dow Jones Newswires

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão/Broadcast. Saiba mais em nossa Política de IA.

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O Supremo Tribunal Federal (STF) realizou nesta quinta-feira, 24, os interrogatórios dos réus dos núcleos 2 e 4 da trama golpista. A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022 foi fatiada em núcleos. Ao todo, 13 réus foram interrogados. As sessões permitem questionamentos do juiz, da acusação e das defesas.

Enquanto o núcleo 1, chamado de "crucial", é integrado pelos ocupantes de posições de comando, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o núcleo 2 refere-se aos acusados de operacionalizar a tentativa de permanência no poder. Já o núcleo 4 é formado por acusados de disseminarem desinformação.

Os interrogatórios foram realizados de forma concomitante nas Turmas do STF, em modalidade virtual, e conduzidos por juízes auxiliares do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator das ações penais por tentativa de golpe.

Núcleo 2

Fernando Oliveira: 'Pedi a Torres adiamento de viagem'

O delegado da Polícia Federal Fernando de Sousa Oliveira era diretor de operações do Ministério da Justiça ao final de 2022. Em janeiro do ano seguinte, foi nomeado secretário-executivo da Segurança Pública do Distrito Federal.

Em depoimento, o réu negou ter se omitido durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e disse que discutiu com Anderson Torres, que chefiava a pasta do DF, a possibilidade do adiamento de uma viagem aos Estados Unidos. Apesar do alerta e da preocupação com os atos que vinham sendo convocados para o domingo, 8, Torres manteve a viagem.

"Esbocei (preocupação) e até pedi a reconsideração da viagem", disse Oliveira. "Ministro, será que não seria (o caso de) adiar dois, três dias ali?", contou nesta quinta sobre o que disse quando era secretário-executivo ao seu superior. Apesar do alerta de seu subordinado, Torres manteve a viagem.

Filipe Martins nega minuta do golpe e discute com juiz

O ex-assessor Bolsonaro para assuntos internacionais Filipe Martins negou ter confeccionado uma das versões da "minuta do golpe" e voltou a alegar que não deixou o País ao final de 2022. A saída do ex-assessor foi apontada pela Polícia Federal e motivou a prisão preventiva de Martins em fevereiro de 2024. Em depoimento, ele afirmou que se considera um preso político.

Martins assumiu a autoria de um discurso em que o então presidente Jair Bolsonaro reconheceria a derrota nas urnas. O depoimento do ex-assessor foi marcado por bate-bocas entre réu, juiz, defesa e acusação.

Marcelo Câmara se sentia 'usado' por Cid

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Marcelo Câmara é réu por supostas ações de monitoramento de Alexandre de Moraes. Em depoimento, o coronel atribuiu a Mauro Cid, seu colega na ajudância de ordens de Bolsonaro, a responsabilidade por vigiar o ministro do STF. Câmara disse que se sentia "usado" por Cid.

Ainda segundo Câmara, as informações coletadas por ele não "tinham profundidade e nem são completas em termo de monitoramento".

Mário Fernandes: Plano para matar Lula foi 'pensamento digitalizado'

O general Mário Fernandes assumiu a autoria do esboço que previa o assassinato de autoridades como Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Moraes. O membro do alto escalão do governo Bolsonaro alegou que se tratava de um "pensamento digitalizado".

"Não passa de um pensamento digitalizado. Hoje, eu me arrependo disso, era apenas um pensamento de um militar, que não foi compartilhado com ninguém", declarou Mário Fernandes, que era secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência (SGP) na época dos fatos investigados. O general chegou a assumir a SGP interinamente durante o governo de Jair Bolsonaro.

O general confirmou que imprimiu o plano, mas, logo depois, o "rasgou". "Eu imprimi para não forçar a vista e logo depois eu rasguei. Não compartilhei com ninguém", disse Fernandes.

Marília Alencar nega propósito eleitoral em projeto de BI

Segundo a acusação, a delegada da PF Marília Alencar, que era diretora de inteligência do Ministério da Justiça, realizou um projeto em Business Intelligence (BI), uma linguagem de programação, para identificar as regiões com maior incidência de votos em Lula, adversário de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. De acordo com a PGR, o relatório seria utilizado para intensificar o policiamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em regiões mais favoráveis ao petista.

Marília confirmou ter demandando o projeto de BI, negando que o relatório tivesse propósitos eleitorais. "Pedi (o painel de dados) de todos os municípios, não só do Nordeste, e para todos os candidatos", disse. "Eu nunca pensei em usar esse BI (acrônimo de business inteligence, o painel) para a PRF ou para qualquer que fosse", afirmou a ex-diretora.

Silvinei Vasques nega ordem de blitzes em regiões pró-Lula

Ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques negou ter ordenado blitzes em regiões mais favoráveis a Lula no dia do segundo turno das eleições de 2022.

"Não participei de organização. Fui cuidar da minha vida. Não sei de documento, não participei de nada", disse o ex-diretor da PRF sobre a acusação de tentativa de golpe.

Núcleo 4

Reginaldo de Abreu confirma sugestão de reunião com 'rataria'

Reginaldo Vieira de Abreu, coronel da reserva do Exército, confirmou ter sugerido ao general Mário Fernandes uma reunião "com a rataria" para tratar de um plano de golpe.

Segundo o militar, a mensagem tratou-se de "um desabafo". Abreu era chefe de gabinete de Fernandes. Embora tenha proposto um encontro entre Bolsonaro e a "rataria", Abreu negou ter contato com o ex-presidente.

Giancarlo Gomes confirma buscas sobre parente de Barroso

Giancarlo Gomes, subtenente do Exército, confirmou que, enquanto atuava na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), buscou elos entre um parente de Luís Roberto Barroso, ministro do STF, e a empresa Positivo, que fabricou as urnas usadas em 2022.

A PGR acusa Giancarlo de integrar um "núcleo de contrainteligência", responsável por produzir desinformação contra opositores com o aparato da Abin.

Bormevet diz que nunca teve acesso ao First Mile

O policial federal Marcelo Bormevet também é acusado de integrar o "núcleo de contrainteligência" da tentativa de golpe. Em depoimento, Bormevet negou conhecer Bolsonaro e alegou que nunca teve acesso ao programa First Mile.

"Eu nunca tive acesso ao sistema e meus subordinados não tinham acesso. Mas o Giancarlo tinha acesso ao sistema antes de chegar na minha coordenação", disse. O policial também negou ter produzido desinformação.

Presidente do IVL negou vazamento sobre 'fraude nas urnas'

O presidente do Instituto Voto Legal, Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, alegou que o relatório produzido pela organização sobre as urnas eletrônicas era apenas uma "auditoria técnica" e não pretendia expor "fraudes" no equipamento.

"No nosso relatório não existe desinformação, apenas fatos constatados e documentados sobre o que estava presente na urna", disse Moretzsohn. "Não cabia ao Instituto Voto Legal tratar de fraude ou falhas de programação".

Ailton Barros: 'Choradeira de perdedor'

Ailton Moraes Barros, ex-major do Exército, negou ter pressionado comandantes a aderirem ao plano de golpe. Segundo a denúncia da PGR, o general Walter Braga Netto orientou Ailton Barros a atacar o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, então comandante da Aeronáutica, que negou apoio à trama golpista, e elogiar o almirante de esquadra Almir Garnier, então comandante da Marinha que, supostamente, teria endossado o plano.

"Senta o pau no Baptista Júnior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da pátria. Daí pra frente. Inferniza a vida dele e da família (…) Elogia o Garnier e fode o BJ", teria dito Braga Netto, conforme mensagens interceptadas pela Polícia Federal.

Para Barros, o pedido de Braga Netto era uma "choradeira de perdedor de campanha". "Eu estava entendendo aqui como um desabafo e não tive conduta. Não ataquei general nenhum. Não respondo a essas mensagens", disse o ex-major.

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse nesta quinta-feira, 24, que está nos Estados Unidos. A viagem representa um drible ao Supremo Tribunal Federal (STF), que bloqueou seu passaporte em agosto do ano passado. Em seu perfil no Instagram, o parlamentar declarou que utilizou passaporte diplomático para conseguir entrar no país governado por Donald Trump.

A conta de Do Val na rede social está bloqueada no Brasil por ordem do ministro Alexandre de Moraes, mas pode ser acessada do exterior. A viagem foi publicada inicialmente pelo portal UOL.

Na foto que acompanha a publicação, o senador pelo Espírito Santo aparece segurando o passaporte diplomático brasileiro, que tem a cor vermelha, e na outra mão um passaporte similar ao utilizado por cidadãos americanos.

"Hoje estou aqui, nos Estados Unidos", escreveu o senador. "Na mesma semana em que Alexandre de Moraes teve seu visto suspenso pelo governo americano - um fato que trará graves consequências diplomáticas e pessoais para ele e sua família - os Estados Unidos tomaram outra atitude. Reconheceram, reafirmaram e ampliaram minha função diplomática. E mais: me acolheram oficialmente como cidadão americano", continuou Do Val.

O Estadão não conseguiu confirmar a informação de que ele teve a cidadania reconhecida pelo governo americano.

Marcos do Val teve o passaporte retido pelo STF na Operação Disque 100 sob a suspeita de integrar um grupo que promovia ataques nas redes sociais contra agentes da Polícia Federal que atuam em inquéritos junto ao STF. Na ocasião, Moraes determinou a prisão preventiva dos blogueiros Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, mas as ordens não foram cumpridas por eles viverem nos Estados Unidos e na Espanha, respectivamente.

A decisão sobre Do Val foi confirmada pela Primeira Turma do STF em fevereiro. Desde então, ele recorreu duas vezes ao colegiado na tentativa de reaver o documento, mas ambos os pedidos foram negados - o último deles em março.

O ex-major do Exército Ailton Moraes Barros negou, na manhã desta quinta-feira, 24, a acusação da Procuradoria-Geral da República de que teria articulado com o general Walter Braga Netto - ex-ministro da Casa Civil e da Defesa do governo Bolsonaro, preso desde dezembro - ações para pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao plano golpista para manter o ex-presidente no poder mesmo após a derrota nas eleições de 2022.

Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal, Ailton disse que as mensagens do general para ele eram "choradeira de quem perdeu". Ele negou que tenha feito "ataques aos militares" que não teriam aderido ao plano.

Segundo a denúncia da PGR, Braga Netto orientou Ailton Barros a atacar o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, então comandante da Aeronáutica, que negou apoio à trama golpista, e elogiar o almirante de esquadra Almir Garnier Santos - comandante da Marinha, à época - que, supostamente, teria endossado o plano.

"Senta o pau no Baptista Júnior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feitas e ele fechado nas mordomias. Negociando favores. Traidor da pátria. Daí pra frente. Inferniza a vida dele e da família (…) Elogia o Garnier e fode o BJ", teria dito Braga Netto, conforme mensagens interceptadas pela Polícia Federal nos autos da investigação da trama do golpe.

Na audiência desta quinta, presidida pela juíza auxiliar Luciana Sorrentino, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que atua no gabinete do ministro Alexandre de Moraes - relator das ações do 8 de Janeiro -, Ailton Barros disse que "aquilo ali era lamúria e choradeira de perdedor de campanha".

"Eu estava entendendo aqui como um desabafo e não tive conduta. Não ataquei general nenhum. Não respondo a essas mensagens."

Ao mencionar o nome do ex-major, expulso do Exército em 2008, a denúncia destaca troca de mensagens dele e Braga Netto, em que demonstra ter pedido a militares "kid pretos", das Forças Especiais do Excerto, que "salvassem a democracia" - uma suposta incitação ao golpe.

A denúncia pontua que, em resposta, Braga Netto disse: "Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen. Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente".

Ailton Gonçalves Moraes Barros teria prometido manter a pressão sobre Freire Gomes, ameaçando: "(…) oferecer a cabeça dele aos leões", caso o comandante do Exército mantivesse sua posição. Braga Netto concordou e emitiu a ordem derradeira: "Oferece a cabeça dele. Cagão".

Em sua versão, Ailton narrou que, inicialmente, queria enviar as mensagens para o tenente-coronel Mauro Cid - ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e réu delator na ação do golpe - e, por engano, acabou enviando a Braga Netto.

Segundo ele, não havia um vínculo forte entre ambos. Ainda segundo o ex-major, Braga Netto teria começado a desabafar, e ele percebeu que, ao endossar as afirmações, poderia tentar formar um vínculo político com o general, uma vez que este havia sido o candidato a vice-presidente de Bolsonaro em 2022.

Ao longo da denúncia, a PGR afirma que a combinação entre Ailton Barros e Braga Netto não se limitava a ataques aos comandantes do Exército e da Aeronáutica da gestão Bolsonaro. Um alvo seria o general Tomás Paiva - hoje comandante do Exército, então no Comando Militar do Sudeste -, que, além de negar um plano golpista, teria repreendido o general Villas Bôas e sua mulher, Maria Aparecida, "por conta da sua mobilização em favor do movimento golpista".

A defesa de Almir Garnier alega que a PGR não indicou como ele teria contribuído para a disseminação de notícias falsas.

"Afirmar que ele era responsável por divulgar notícias falsas sem apresentar os meios por onde isso teria ocorrido efetivamente, mesmo após tantos atos de investigação, apenas reforça que o acusado não tinha qualquer participação no ocorrido", disse a defensora pública Érica de Oliveira Hartmann.